Escultura em barro - Ana Nunes |
Ana Nunes
Desmanchei
o Natal mais uma vez.
Pelo que sou grata. Muito.
Apaguei as pequenas luzes já com saudade e tristeza. As casinhas brancas em fio
iluminadas voltaram para a caixa transparente sem luzes sem nada. Só vigiadas
pela minha melancolia. Assim também as estrelas em gradezinhas delicadas num
cinza industrial. Para certamente combinar com a árvore meio Torre Eiffel meio
estrela de Davi com apenas três pontas.
As estrelas iluminadas já não são mais. Fecharam as luzes nos votos de Ano Novo
e no até no “ano que vem”. Porque o ano que vem... bem, é o ano que vem. Tem um
resto de passado e um monte de futuro. Ninguém sabe.
As bolinhas também cinzas em buracos de estrela foram soltas de suas amarras de
barbante rústico, tão gostoso de pegar! Guardadas mais uma vez para o descanso
em meio a fitas alaranjadas.
Escada acima escada abaixo, a idade me pega e se faz ver, foram todas colocadas lá em cima no armário complacente, quase elástico. Onde aguardavam as guirlandas em suas caixas e as arvorezinhas de camélias brancas de luzes led. As coroas guirlandas trazem estórias delicadas. Na cerâmica da amiga, nas cores do outono importado, e a de folhas secas eternas feitas para minha mãe. Eternas porque passam perfeitas por todos esses vinte anos e perfeitas porque são dela.
Todo ano novo começa comigo de melancolia do passado sabido e do futuro
desconhecido. Muito mais cheio de saudade esse. Cada estrela apagada trouxe ao
coração o Chicão que partiu depressa em busca de árias novas. Largou comigo sua
escrita vigorosa de rugido de leão dos Pampas e seus escandalosos elogios! E o
nosso gentil Cavalheiro Bortolotto que deixou em páginas virtuais seus
comentários delicados e carinhosos na sua escrita tão peculiar! Tão lindos
eles!
Trouxe também saudade de coração partido dos que apenas se retiraram calados na
calada da noite!
Moacir e suas cruzadas muito além do Mochileiro das Galáxias Marco Polo ou
Gulliver.
Domingos deve estar por aí navegando “qual cisne branco em noite de lua no mar
azul” do Brasil adentro contando aventuras para Vênus.
E o Heraldo, gente? Escrevendo certo por linhas tortas ou certas de poema puro
de bic azul cristal?
O budista Antonio sem acento no o, ele me disse!, e seus ensinamentos de
felicidade e virtudes no caminho do meio em meio às netas e a sua gravurista
preferida!
Tem Carlos Monteiro em montanhas e luas e mares das suas maravilhosas fotos.
Para quem escrevem agora? Quem encantam?
Mas entre melancolias dessas ficaram alegrias de abraços apertados e perfumados da noite de Natal. Abraços dos netos, dos filhos, das noras, das irmãs, da sobrinha quase filha e do marido. Todos lindos vestidos em cores e brilhos, perfumes diluídos nos aromas da ceia borbulhante! Uns vinhos tão deliciosos me deixaram inebriada. Já nem sabia se era vida ou fantasia, amor entre beijos e abraços e ternura!
Desse
Natal já quase todo empacotado deixei fora do armário o meu mundo tristemente
encantado do morro onde ensinei e aprendi e cresci. Achei umas ledzinhas miudinhas
como brilhantes e quando coloquei no meu morrinho de casinhas de cerâmica vi a
Serra iluminada em festa e meu coração se encheu de ternura.
E dormi em paz!