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31/01/2018

O Inferno da Mentira

O julgamento por Yama e os reinos do inferno budista (imagem  www.britishmuseum.org)
Antonio Rocha
Havia no tempo de Buda um praticante muito devoto, tinha muita fé. Quanto mais meditava mais percebia que os poderes que o Senhor Buda emanava, qualquer pessoa também podia adquirir e desfrutar, desde que seguisse o Caminho.
Certo dia, a mãe deste praticante faleceu. Tempos depois, o devoto lembrou-se de que, se estava na Senda, certamente teria os poderes de Sakyamuni, como também o mestre era conhecido, e munido com esta fé, imaginou que a mãe estava no mais alto dos céus, iria pessoalmente conversar com ela, da mesma forma que o Mestre Buda conversava  com a mãe Rainha Mahamaya.
Falou com o Buda, pediu autorização e foi logo ao mais sublime céu, lá no mais alto, entretanto... para surpresa... viu que a mãe não estava... e assim foi descendo na escala dos céus até o mais baixo... são planos espirituais onde residem os espíritos...
Chegou à linha limite dos infernos. Parou e voltou para conversar com o Buda. Buda lhe ensinou como fazer, autorizou novamente. Explicou que a mãe do praticante sempre cuidou do filho muito bem, mas mentia bastante, enganava muita gente, embromava, enrolava, trapaceava e mesmo uma mentirinha de nada é uma energia negativa.
E o devoto, completamente desapontado, foi descendo até que em dado momento chegou a um determinado plano: Inferno da Mentira e encontrou a mãe.
Abraçaram-se, choraram e através da poderosa Energia Búdica da Compaixão ela foi resgatada para um plano melhor, onde iria ser tratada e educada conforme os ensinamentos do Darma Sagrado, onde um dos preceitos é não mentir jamais. E se por alguma fraqueza mentir, corrigir logo mediante as práticas espirituais, sanando o débito e zerando a tal mentira.
Diz o texto sagrado do Mahayana que a mãe do devoto ficou tão feliz que saiu do Inferno dançando.
É e por isso, que até hoje, nos ritos fúnebres do Japão, existe a chamada “Dança de Obon” = cerimônia budista.
Aliás, o grande cineasta japonês Akira Kurosawa começa um de seus últimos filmes com as cenas de um rito fúnebre onde os participantes do sepultamento vão dançando.
Moral da História: mesmo que você vá para o Inferno, fique tranquilo, o Buda vai lhe tirar de lá. Claro..., você tem que fazer a sua parte... estudando e praticando, portanto... relaxe e medite.
Esta história nos foi contada pelo sacerdote da HBS = Budismo Primordial, Jyunshô Yoshikawa, no núcleo do RJ, em São Cristóvão, durante uma reunião mensal.


29/01/2018

O correio e o aviador

Um Laté-28 da Aéropostale como o usado para o France-Amérique (imagem www.memoire-aeropostale.com)


Wilson Baptista Junior

Foi quando era chefe de escala em Cabo Juby, no deserto do sul do Marrocos, perto das ilhas Canárias, que Saint-Exupéry começou a escrever seu primeiro romance, “Courrier Sud” (Correio do Sul), que conta de um voo do correio aéreo que deveria ir, de escala em escala, de Toulouse, no sul da França, até Buenos Aires ou Santiago do Chile, na América do Sul. O voo é usado como a espinha dorsal da história que, na realidade, é a história da vida do piloto Jacques Bernis.
O livro é contado por um narrador, que é justamente o chefe de escala de Cabo Juby, mas não é nele, apesar de falar na primeira pessoa, que Saint-Exupéry se projeta: É em Bernis, o piloto que parte de Toulouse, que o autor embute mais ou menos veladamente algumas de suas experiências pessoais. Que de tempos em tempos o narrador comenta, como se falasse com o piloto, com a compreensão de quem é seu amigo desde a infância.
O caminho de Bernis é contado, no primeiro capítulo, através das mensagens de rádio da estação de Toulouse, cabeça de linha. Desde a primeira,
“Radio; de Toulouse para as escalas: O correio França – América do Sul decolou de Toulouse às 5 h. 45"
o pessoal das escalas, ao longo dos cinco mil quilômetros da linha, ouvindo as mensagens, segue o voo invisível do piloto:
“Correio França – América do Sul decolou de Toulouse às 5 h. 45 ponto passou por Alicante às 11 h. 10"
Às seis horas da tarde,
“Correio aterrissará em Agadir às 21 horas, repartirá para Cabo Juby às 21 h. 30, aterrissará ali com bomba Michelin ponto Cabo Juby preparará a iluminação habitual ponto ordem ficar em contato com Agadir ponto assinado: Toulouse”
E bem mais tarde
“De Dacar para Port-Étienne, Cisneros, Juby: comunicar urgente notícias do correio”
Responde Juby,
“De Juby para Cisneros, Port Étienne, Dacar: nenhuma notícia depois de passar Alicante 11 h. 10”
E diz o narrador:
“Um motor roncava em algum lugar. De Toulouse ao Senegal tentávamos ouvi-lo.”
Posta aos leitores essa incerteza sobre o que aconteceu com o avião, então vai ser contada a história de Bernis.
Que começa com a descrição da minuciosa preparação do piloto e do avião, para garantir que o correio e os passageiros de cada etapa cheguem bem ao seu destino, “a despeito das tempestades, das brumas, dos tornados, das mil armadilhas das molas das válvulas, dos balancins, da matéria”... e a decolagem de Toulouse, numa madrugada de chuva.
O boletim meteorológico que ele recebe no hangar diz: “Céu claro em Perpignan, sem vento. Tempestade em Barcelona. Em Alicante...”
Tudo parece em ordem, e ele espera chegar a Alicante em cinco horas, e à noite na África. E voa pensando na volta da véspera desde Paris, onde empacotou seus livros, selecionou cartas, queimou algumas, cobriu os móveis, embarcou como se fosse para outro continente. Vida de piloto da linha. E a saudade da amante, Geneviève, em que vai pensar tanto durante o voo.
Num flash-back, a sua preparação para a rota do voo. Aqui qualquer dúvida que tenhamos quanto a Bernis ser um alter-ego do autor se dissipa ao ouvirmos o narrador contar de como ensinou ao piloto, para o seu primeiro voo, os segredos da rota por sobre a Espanha, exatamente como, mais tarde, Saint-Ex contaria no Terra dos Homens de seu amigo Guillaumet lhe ensinando o mesmo caminho. Na noite da véspera, no quarto do piloto:
“Quarto de piloto, albergue incerto, era preciso tantas vezes reconstrui-lo. A companhia nos avisava, na noite anterior: “O piloto X foi destacado para o Senegal, ou para América...”. E era preciso, na mesma noite, desatar seus laços, pregar seus caixotes, desnudar o quarto de si mesmo, das suas fotografias, dos seus livros, e deixá-lo para trás, com menos traços do que se tivesse sido habitado por um fantasma”.
Mas agora ele é um piloto experiente. E o narrador diz: “Hoje, Jacques Bernis, atravessarás a Espanha com uma tranquilidade de proprietário (...) Mas me lembro de teus primeiros passos, dos meus últimos conselhos na véspera de teu primeiro voo. Deverias, ao nascer do sol, tomar nos braços as meditações de um povo. Levá-las através de mil emboscadas como um tesouro escondido sob teu casaco. Correio precioso, te disseram, mais precioso do que a vida. E tão frágil. E que um erro dispersa em chamas e espalha no vento”.
Essa era a importância dada ao correio. Às mensagens das pessoas que eram confiadas à Aéropostale para serem entregues mais depressa do que pelos caminhos normais. Era nos tempos em que se escreviam as cartas aéreas em papel de seda e os envelopes eram finos, quase transparentes, para pesarem menos.
O narrador, colega de infância de Bernis, mostra quando os dois tomaram realmente conhecimento de que se tinham transformado em adultos contando a história de quando foram, juntos, fazer uma visita ao seu velho colégio, e encontram seus antigos professores, antes firmes disciplinadores, agora frágeis velhos de cabelos brancos, e os professores bebem as suas histórias com a alegria de quem encontra os novos heróis que ajudaram a formar. E Bernis lhes conta dos perigos, das aventuras, dos segredos de desbravar os caminhos distantes. Mas lhes conta também “das decepções e do gosto amargo do repouso depois da ação inútil”. E, talvez para consola-los de não serem os homens de ação que poderiam querer ser, “como talvez a única verdade seja a paz dos livros. Mas os professores já o sabiam. Sua experiência era cruel porque eram eles quem ensinava aos homens a história”.
O livro continua com Bernis em voo. Na descida para Alicante, a terra, que parecia um mapa plano vista do alto, vai progressivamente tomando volumes e se tornando real até a aterrissagem. Com mais de cinco horas de voo, cansado, o piloto preenche seu relatório de etapa, descansa alguns minutos e decola para a tempestade. “Ela se encarniça contra o avião como os golpes de picareta de um demolidor”. O piloto já passou por outras antes e sabe que vai atravessar, mas de repente os controles se travam e o avião começa a cair em parafuso. E é a descrição da terra, novamente, se tornando real e assassina enquanto espirala cada vez mais perto. Até que Bernis, no último momento, consegue soltar o cabo agarrado com um golpe do calcanhar e retomar o controle do avião. E sai afinal em céu claro sobre o golfo de Málaga.
Bernis está agora quase na metade do caminho até Cabo Juby. Perto de mil quilômetros voados, agora mais uns mil e trezentos até aterrar de novo. Uns cem até Gibraltar, um pulo sobre o mar até sobrevoar Tanger e o resto sobre o deserto.
Falta ainda uma hora para que ele veja o farol de Tanger. E, em voo calmo, Bernis imerge nas suas lembranças, que constituirão a segunda parte do livro, mas contadas pelo narrador.
- o -
 “Devo voltar atrás, contar desses dois meses passados, senão o que restaria? Quando os acontecimentos de que vou falar tiverem pouco a pouco alisado sua fraca esteira, seus círculos concêntricos, sobre os personagens que eles simplesmente apagaram, como a água se fecha novamente em  um lago, quando amortecerão as emoções pungentes, depois menos pungentes, depois doces que eu devo a eles, o mundo me parecerá seguro outra vez. Não posso, já, passear por onde deveria ser cruel a lembrança de Geneviève e Bernis, sem que me fira, de leve, o arrependimento?”
O porquê desse arrependimento do chefe de etapa só o saberemos depois do desenrolar de toda a história.
E nessas lembranças começamos a conhecer a vida do piloto da linha, os lugares que não são nunca permanentes mas sempre provisórios, as voltas que são sempre para partir de novo:
“Esse mundo, nós o reencontramos a cada vez, como os marinheiros bretões reencontram sua aldeia de cartão postal e a sua noiva fiel demais, apenas um pouquinho mais velha a cada volta. Sempre parecido, uma gravura de um livro de infância (...) Pouco a pouco, durante sua volta, uma paisagem já se construía em volta dele, como uma prisão. As areias do Sahara, os rochedos da Espanha, eram retirados pouco a pouco, como trajes de teatro, da paisagem verdadeira que ia transparecer”.
E Bernis pouco a pouco se entedia, e um dia escreve ao narrador: “... não falo de minha volta: eu acredito ser senhor das coisas quando as emoções me respondem. Mas nenhuma despertou. Eu estava como o peregrino que chegou com um minuto de atraso a Jerusalém. Seu desejo, sua fé, acabavam de morrer: ele não encontrava mais do que pedras. Esta cidade aqui: um muro. Quero partir de novo”.
Pouco a pouco vamos conhecer Geneviève. A menina que foi companheira deles na adolescência, dois anos mais velha do que ele, e pela lembrança de quem os dois se apaixonaram enquanto viravam homens, longe, nos confins do mundo:
“Enquanto os outros levavam ao altar uma mulher já feita, foi de uma garotinha que Bernis e eu, do fundo da África, ficamos noivos (...) Vivias para nós um conto encantado e entravas no mundo por uma porta mágica, como num baile à fantasia, um baile de crianças – disfarçada de esposa, de mãe, de fada...”
E foi ela que Bernis foi reencontrar, casada, mãe, mulher de sociedade. E olhava de fora o novo mundo dela, procurando onde estaria a garotinha que conheceu.
Até que um dia a criança adoece, e Geneviève vela-a desesperadamente por três dias e três noites, até perder todas as suas forças, desmaiar em frente ao médico  e ele lhe ordenar que ao menos vá dar uma volta, para respirar o ar livre.
Ela vai, e ao voltar, encontra o marido furioso que lhe pergunta, aos gritos, como podia fazer uma coisa destas com o filho doente. Era preciso que vocês lessem a descrição que Saint-Ex faz do marido para entender sua postura; um homem bem sucedido financeiramente que na verdade ostenta para os outros uma imagem de si cuidadosamente construída; que amava o exterior da mulher sem e preocupar com o que lhe ia por dentro. E, ao término da briga, o casamento se acabou na alma de Geneviève:
“Ele a soltou enfim com um sentimento estranho de impotência e de vazio. Ela se afastou sem pressa, como se realmente não tivesse mais porque temê-lo, como se alguma coisa a levasse de repente para fora do seu alcance. Ele não existia mais. Ela demora, refaz lentamente seu penteado, muito ereta, e sai.”
O menino doente termina por morrer. E, deseperada, no meio da noite, Geneviève vai procurar Bernis para lhe contar.
Depois do enterro, o marido parte numa viagem de negócios na qual ela deveria ir encontrá-lo mais tarde. Em vez disso, ela vai viver com Bernis.
E o narrador sente que não vai dar certo, e pensa, esperando a chegada de Bernis em Cabo Juby:
“Estes costumes, estas convenções, estas leis, tudo isso de que não sentes necessidade, tudo isso de que fugiste... É isso que dá a ela sua moldura. Para existirmos, é preciso haver à nossa volta, realidades que durem. Mas, absurda ou injusta, tudo isso não passa de uma linguagem. E Geneviève, levada por ti, será privada de Geneviève (...) vais esvaziar a sua vida como se esvazia um apartamento de mil objetos que não víamos mas que o compunham”.
E um dia ela se vai. E Bernis retorna a Toulouse. E parte.
- o -
Málaga, a primeira estação depois de Agadir, espera a passagem do piloto, que não deve aterrissar. Continuará, voando bem baixo, até Tanger, entre as nuvens e o mar ainda agitado pelo que restou da tempestade.
Às oito da noite, Málaga telegrafa: “Correio passou sem aterrissar”. E Casablanca se prepara para recebê-lo, acende os holofotes, e o avião pousa. Mas as comunicações de rádio estão interrompidas, e todas as estações esperam ansiosas pelas notícias do avião.
Quando enfim se restabelecem, Casablanca avisa as outras estações:
“Correio decolará para Agadir às vinte e duas horas”.
E Agadir consulta Cabo Juby:
“Correio chegará a Agadir a meia noite e trinta ponto Poderemos fazê-lo continuar até aí?”
Mas Cabo Juby responde: “Neblina. Esperem o dia”.
E avisa às estações seguintes:
“Correio pernoitará em Agadir”.
Em Casablanca Bernis, cansado de mais de dez horas de voo e chuva, em cabine aberta, assina as folhas de registro e discute com o chefe da escala que o manda continuar. O chefe sabendo já que não lhe exigiria isso, o piloto sabendo que pediria para partir. “Mas cada um dos dois queria provar a si mesmo que a decisão era apenas sua”.
E quando o chefe lhe diz, “Bom. Concordamos. Fique” o piloto se acalma, e sabe que partirá em vinte minutos.
Bernis decola novamente dentro da noite. Mas depois de algum tempo as nuvens se fecham em volta dele. Desce abaixo das nuvens, mas lá em baixo também tudo está coberto.
E Bernis voa, às cegas, em cima do mar, entre os dois tapetes de nuvens, dentro da chuva, corrigindo o desvio estimado do vento pela bússola e sabendo que entre ele e a planície estão as montanhas do Atlas, ocultas nas nuvens.
Mas, de repente, o céu clareia, a lua ilumina a terra e ele vê ao longe as luzes do campo de Agadir.
Em Cabo Juby, o pessoal da escala espera pelo avião. Que partiu às cinco da manhã de Agadir. O dia vai passando, o avião não chega. E devagarinho chega a hora em que o combustível do avião deve ter acabado. E agora vem o medo de que o companheiro tenha caído no território dos mouros revoltosos.
Agadir não responde ao telégrafo. O operador escuta os trilos do código Morse entre as estações. Até que capta um fragmento de uma mensagem de Agadir para Casablanca: “...terrado  às seis e trinta. Decolou de novo às...”
Então, se ele teve que voltar às seis e trinta, não se sabe se por mau tempo ou pane, não pode ter  decolado antes da sete. Está ainda em tempo.
- o -
E o narrador, enquanto espera o amigo, para quem quando ele chegar vai abrir uma lata de conserva e uma garrafa de vinho enquanto ele descansa os vinte minutos regulamentares, volta a falar de sua infância até que o avião chega. E insiste com Bernis, contra a vontade do piloto, que lhe fale de Geneviève.
Bernis então conta que, entre Paris e Toulouse, saltou do trem na estação perto da casa de menina de Geneviève. E, chegando lá sorrateiro, entrou pela porta sempre aberta e se assentou numa sala escura. E ouviu, na sala vizinha, vozes cheias de dor que falavam de uma doente em estado grave.
Subiu, no escuro, pelo caminho conhecido até o quarto de solteira de Geneviève. Encontrou-a no leito, ela o reconheceu fugazmente, e depois não mais.
Bernis percebeu então que o tempo dos dois estava terminado. E foi embora para não voltar nunca mais.
O trecho em que ele conta ao narrador seu sentimento de que ele tinha tentado levar a amada para um mundo que era só dele, e com isso ela perdeu o dela, é de uma grande delicadeza e emoção profunda. Quando conta essa ocasião em que tentou voltar para ela, diz: “Quando, mais tarde, tentei ainda reencontrá-la, eu poderia ter me aproximado dela, poderia tê-la tocado. Não havia mais espaço entre nós. Mas havia mais. Não sei te dizer o quê. Um milhar de anos. A gente está tão longe de uma outra vida...”
E é hora de decolar outra vez.
Bernis voa sobre o Saara imenso, perto da costa, vendo a areia e o mar azul. Dois mil quilômetros ainda até Dacar. Da altura em que está, a paisagem parece não mudar. “Port Étienne, primeira escala, não está inscrita no espaço mas no tempo, e Bernis olha seu relógio. Seis horas ainda de imobilidade e de silêncio, depois a gente sai do avião como de uma crisálida”.
E se lembra das panes que já sofreu, como os outros, da mudança desse mundo para o mundo pesado dos pés nas dunas de areia, e dos camaradas que o salvaram.
O voo continua.
“De Port Étienne para Cabo Juby: correio chegou bem às 16 h 30“
“De Port-Étienne para São Luís: Correio decolou de novo às 16 h 45“
“De São Luís para Dacar: Correio partiu de Saint-Étienne às 16 h 45 ponto Faremos continuar à noite“
Bernis decola de Port-Étienne com tempo calmo, mas encontra uma tempestade de areia que bloqueia o radiador do motor. Em pane, consegue pousar perto de um fortim francês no deserto. O sargento que comanda a guarnição de vinte senegaleses recebe-o como a um irmão. As últimas pessoas de fora que viu foram o capitão e o tenente que passaram por ali já faz cinco meses, o correio só vinha de seis em seis meses.
O encontro do piloto com o velho sargento é uma bela página. Depois do jantar, do terraço do forte, olha para as estrelas que era só o que ele podia ver do forte isolado, e conta a Bernis da conversa com o tenente:
“Ele me explicou as estrelas...”
“Sim”, disse Bernis, “ele as confiou à sua guarda”.
Na manhã seguinte, ajudado pelo sargento, o piloto conserta a pane.
“- Veja, sargento, não era nada, eu vou partir.
O sargento contempla um jovem deus, vindo de lugar nenhum para voar de novo. Que veio para lembrá-lo de uma canção, de Tunis, dele mesmo. De que paraíso além das areias descem sem ruído estes belos mensageiros?
- Adeus, Sargento.
- Adeus...
O sargento move os lábios em silêncio, não se reconhecendo. O sargento não teria sabido dizer que guardava no coração uma provisão de amor para os próximos seis meses”.
- o -
“De São Luís do Senegal para Port-Étienne: Correio não chegou a São Luís ponto. Deem notícias com urgência”
“De Port-Étienne para São Luís: Não soubemos de nada depois da partida ontem às 16 h 45 ponto. Começaremos as buscas imediatamente”
“De São Luís do Senegal para Port-Étienne: Avião 632 decola de São Luís às 7 h 25 ponto. Suspendam sua decolagem até que ele chegue a Port-Étienne”.
- o -
“De Port-Étienne para São Luís : Avião 632 chegou bem às 13 h 40 ponto Piloto disse que não viu nada apesar da boa visibilidade ponto Piloto estima que teria visto se o correio estivesse na rota normal ponto Necessário um terceiro piloto para buscas escalonadas em profundidade”
“De São Luís para Port-Étienne: De acordo. Vamos dar as ordens"
“De São Luís para Juby: Sem notícias do França-América. Venham com urgência a Port-Étienne”.
 “De Juby para Port-Étienne: Avião 236 decolou de Juby às 14 h 20 para Port-Étienne”.
É o narrador quem pilota esse avião. Em Port-Étienne organizam as rotas de busca, e decidem parar no fortim ao chegar a noite.
“- Então, sargento, você o viu?
 - Ele decolou de manhã cedo...
- Sargento, pela manhã encontrarei meu camarada. Onde acha que ele esteja?
O sargento, seguro de si, me mostra todo o horizonte.
Uma criança perdida preenche o deserto”.
De manhã, viajantes mouros chegam esgotados e contam que um rezzou de trezentos fuzis surgiu do Leste e massacrou sua caravana. Os pilotos resolvem orientar as buscas na direção do rezzou.
- o -
Meu camarada...
Era aqui então o tesouro; e o buscaste!
Sobre essa duna, os braços em cruz e virado para esse golfo azul escuro com cidades de estrelas, essa noite pesavas muito pouco...
Em tua descida para o sul quantas amarras desfeitas, Bernis já aéreo por não ter mais do que um amigo: apenas uma fina teia de aranha ainda te prendia.
Essa noite pesavas menos ainda. Uma vertigem se apossou de ti. Na estrela mais vertical brilhou o tesouro, ó fugitivo!
Só a teia de aranha da minha amizade ainda te prendia; pastor infiel, devo ter adormecido.”
- o -
“De São Luís do Senegal para Toulouse: França-América encontrado a leste de Timéris ponto O inimigo partiu quando nos aproximamos ponto Piloto morto avião destroçado correio intacto ponto Continua para Dacar”
- o –
“De Dacar para Toulouse: Correio chegou bem a Dacar ponto”

- o -

27/01/2018

Personagens da vida

Émile Vernon - Jeune fille aux roses (imagem Wikimedia Commons)

Francisco Bendl
Não é novidade que viajei muito durante a minha vida.
Desde que nasci me botaram dentro de automóveis, ônibus, aviões, carroças, e lá ia eu sacolejando de um lado para outro.
Até os dezessete anos, eu já havia perambulado por milhões de quilômetros, sem exagero, pois nesta idade eu retornara de Brasília após seis anos e meio residindo no Planalto Central desde 1959, e lembro que sou gaúcho.
Quando fui servir à Pátria, em 68, eu era um indivíduo muito experiente em termos de ter absorvido modos e costumes de várias regiões do Brasil.
Ao dar baixa, quatro anos depois, Cabo, da Polícia do Exército, voltei a viajar, pois casado e tendo de sustentar a família, a profissão de vendedor-viajante era aquela que melhor remunerava , haja vista que o profissional precisava ter carro próprio e, naquela época, início dos anos setenta, não era assim tão simples.
Sem ter a técnica tão apurada do Pimentel para as observações quanto ao estilo arquitetônico das casas, prédios e instituições, eu me fixava às vezes nos personagens mais conhecidos das cidades, aqueles considerados folclóricos, invariavelmente com alguma perturbação mental, mas pessoas pacatas, calmas, divertidas.
No auge do Senna, década de oitenta, uma cidade do meu Rio Grande do Sul tinha um jornaleiro que se vestia como o inigualável piloto brasileiro:
Macacão vermelho, capacete de moto que pintara de amarelo, o macacão com os dizeres McLaren e F1, vendia jornal na esquina mais movimentada da cidade.
A questão era que o jornal era entregue na quadra seguinte.
Explico:
A pessoa comprava o jornal com o carro parado na sinaleira ou farol, e o Senna corria na frente para entregar o jornal na outra sinaleira ou farol, e dizendo esbaforido para o motorista que ele vencera a corrida!
E, ele mesmo saía cantando o Hino da Vitória, quando não alguns carros que tinham a fita, as entoassem para gáudio do Senninha.
Dois, três anos depois voltei àquela cidade e perguntei pelo Senninha.
Ele havia sido morto atropelado por um carro, certamente um Alain Prost, que não suportava mais ouvir que Senna foi o melhor piloto de todos os tempos!
Um outro personagem muito interessante que encontrei nas Missões, no Rio Grande do Sul, foi um pipoqueiro.
Quando viajei para esta cidade pela primeira vez, em 1972, assim que dei baixa da PE, o pipoqueiro já existia, com o seu carrinho em alumínio, bem feito, higiênico, e o indefectível cheiro da pipoca, um dos melhores remédios para o desânimo, já perceberam?!
Na condição de fã da pipoca, eu comprava dois saquinhos de papel, e ia devorando as deliciosas pipocas enquanto andava com o carro.
Todas as vezes que eu chegava na cidade, lá ia eu para aquela esquina comprar a pipoca, de tão gostosa que era.
Fizemos amizade, em face da minha fidelidade como cliente e fora do local, então eu ganhava uma concha a mais de pipoca, e, claro, quando dava eu pagava um pouco mais pelo “produto”.
Houve a circunstância de eu mudar de região, e fiquei sem ir à cidade do meu amigo pipoqueiro por uns cinco ou seis anos, mais ou menos.
Fui ao encontro da sua carrocinha e não a encontrei no local de costume.
Perguntei para alguns pedestres o paradeiro do Heitor, nome do pipoqueiro, e me disseram que morrera queimado um mês antes!
Perguntei como, e me responderam que ele era sozinho, que morava em um barraco.
Com o frio, colocara álcool numa tampa de panela para se esquentar e adormecera.
Possivelmente o combustível derramara e ateou fogo ao chão, de madeira, e Heitor deve ter ido aos céus sem saber, mas que deve estar fazendo pipoca isso é inevitável!
Comecei a pensar que os personagens conhecidos das cidades tinham todos eles o mesmo fim trágico, que me entristecia, mas eu exagerara nessa conclusão.
No Sul do estado, Rio Grande, onde fica o nosso superporto, a cidade me encantava porque o meu roteiro era completado de barco!
Eu tinha de deixar o carro no cais, pegar uma balsa para São José do Norte, atravessar o canal, que levava meia hora, e atender ao cliente do outro lado do mar.
São José é a única cidade no Brasil que tem uma HIDROVIÁRIA, pois não tem como se chegar ao outro lado do Rio Grande que não seja por balsa.
Às vezes o mar estava com ondas fortes, então o serviço era interrompido por segurança, mas, em outras ocasiões, mesmo com ondas maiores que as normais, a balsa fazia o transporte dos passageiros, pois a carga ia em outra embarcação, que aportava e saía fora da Hidroviária.
Numa dessas idas, aconteceu o contrário.
Saí de Rio Grande depois do almoço, fui a São José, e o tempo virou de uma hora para outra!
Não saia balsa nenhuma, e o horário da última embarcação era às 17h, de modo que o timoneiro visse o canal, evidentemente.
Aguardei na hidroviária que qualquer balsa fizesse o percurso de volta, pois passar a noite em São José não seria problema, a questão era o meu  carro no cais em Rio Grande com a minha mala de roupas!
Foi quando conheci o personagem mais engraçado que eu tivera oportunidade na vida:
O cara do alto falante, aquele que anunciava as mortes das pessoas ANTES de elas ACONTECEREM!!!
O sujeito era mesmo um tanto desmiolado.
Alguém com más intenções dera um alto falante para essa pessoa brincar, cantar, berrar, enfim, se divertir, mesmo atazanando os ouvidos dos demais cidadãos.
Mas, não sei porque cargas d’água, o mancebo entendeu que mais divertido seria se ele saísse dizendo os nomes das pessoas que conhecia, e quando e como que elas morreriam!!!
Então ele falava assim:
- João Carlos, alto e bom som, João Carlos, tu vais morrer engasgado!
Cinco minutos e ele berrando o nome do João Carlos.
- Doralino, tu vais morrer de frio pescando!
Mas, o divertido era quando ele botava os podres do pessoal para fora, pois astuto, observador, ele sabia os segredos noturnos da localidade.
- Adroaldo, tu vais morrer na cama da Esmeralda!
- Etelvira, tu vais morrer com o Joaquim, pois a mulher dele vai matar vocês dois!
As risadas e gargalhadas na hidroviária ecoavam, pois certamente algumas dessas pessoas eram conhecidas do público.
Ninguém sabia o nome dele, apenas que era o cara do alto falante.
Jamais voltei a São José do Norte, depois de atender a cidade por três anos e a cada três meses, mas o personagem um dia eu disse para mim mesmo que eu iria escrever a respeito.
Ah, voltei no mesmo dia para Rio Grande, na última lancha, pois uma pessoa adoeceu e precisou baixar hospital urgentemente!
Indiscutivelmente não há cidade grande, média ou pequena, que não tenha um indivíduo meio adoidado.
Não agridem, não ofendem, transitam por entre as pessoas sem problema.
Uma cidade do interior do Rio Grande do Sul na década de setenta, tivera da prefeitura a ideia de ter um hospício.
As cidades circunvizinhas aproveitariam este estabelecimento para colocar os seus cidadãos mais prá lá do que prá cá nas suas dependências, e essas localidades se livrariam dos personagens se, divertidos e pacatos, por outro lado, inconvenientes.
O Zé era o mais famoso deles, e residia na fronteira com a Argentina, Uruguaiana.
Esperto, mandão, ficava sério se o desobedecessem.
Mas, em seguida, ria e dizia que estava brincando.
Um ano depois e de reunirem cerca de quinze pessoas nessas condições, o hospício foi inaugurado na região da Campanha.
O Zé estava entre eles.
Eu trabalhava em laboratório de medicamentos, e um dos meus produtos era exatamente para esse tipo de paciente, logo, o hospício seria meu cliente natural.
O médico que me atendia era muito solícito, e contava os casos dos pacientes mais criativos e divertidos, mas impressionava o Zé, de personalidade forte, comandante, inventivo.
Disse-me o psiquiatra, que nos primeiros dias o Zé quis marcar o seu território, ou seja, quem manda aqui sou eu!
E inventou a brincadeira da laranja madura.
Saiu a berrar o nome dos colegas pelo estabelecimento, colocou-os em fila, e disse que brincariam de laranja madura.
Havia na propriedade um cinamomo gigante, uma árvore frondosa, que emitia aquelas bolinhas verdes em cachos que se usava nas fundas, bodoques e estilingues.
Pois mandou que cada um deles subisse na árvore, escolhesse um galho para si, e de acordo com o número que o Zé, embaixo da árvore pronunciasse, o sujeito no galho responderia laranja madura e se atirava lá do alto!
- João, laranja um, berrava.
O João então respondia:
- João laranja madura, e se jogava árvore abaixo!
Evidente que o João, assim como dois ou três dos seus colegas se machucavam. Ou torciam o pé, ou o braço, a queda era forte!
- Laranja 5, o Zé chamava.
- Laranja cinco madura, e plaft!
No entanto, se o Zé era expansivo, havia o Raúl, inibido, olhar amedrontado, sempre observando e se cuidando.
Quando chegou a vez dele, o João que adorava a brincadeira, claro, berra:
- Raúl, laranja 7!
- A laranja 7 ainda está verde, chama a oito!!!
O médico se contorcia de tanto rir desse episódio, que deixou o Zé sem jeito, a ponto de acabar com a brincadeira.
Sem contar que são verdadeiras as cenas hoje compondo o anedotário nacional, sobre o telefone:
- Alô, é do hospital?
- Não. Aqui nem tem telefone!
Ou:
Ambos doentes viajavam de trem, e um disse para o outro:
- Olha, as árvores andam mais depressa!
- Na próxima vez vamos de árvore!!!
Mas, a personagem mais interessante, mais extraordinária que eu tive a chance conhecer, que mais me perturbou, que mais me impressionou, foi de uma florista.
A cidade se localiza na serra gaúcha, famosa, acolhedora.
Faz um frio de ranguear cusco no inverno, como se diz no Rio Grande do Sul, pois neva muito, e as temperaturas descem facilmente para abaixo de zero!
Foi a primeira cidade que visitei como profissional, pois antes eu estivera várias vezes a passeio, logo, os meus objetivos eram outros, e não observar as pessoas como foi desta vez.
No cruzamento de duas avenidas das principais dessa cidade, havia uma senhora com a sua filha, que vendiam rosas.
O cruzamento era distante do cemitério, portanto quem comprava as flores era quem evidentemente desejaria enfeitar a casa ou dá-las de presente para alguém.
De carro não percebi a maneira como vendiam o produto, mas um dia eu tive de deixar o veículo em um estacionamento e fui a pé visitar o meu cliente, passando pelas duas mulheres que vendiam as flores.
Ao me aproximar, a pergunta que me dirigiram era inevitável:
- Moço, rosas para levar para a sua esposa?!
Quem me questionara foi uma jovem do rosto mais lindo que eu conhecera!!!
Cabelos pretos ou pelo menos a ponta deixada pelo lenço que usava em razão do vento, olhos de um azul penetrante, forte, inigualáveis, e um sorriso que desmancharia qualquer não à aquisição de uma ou duas flores.
A voz era maviosa, calma, bela, cantada, como se a venda das rosas fosse uma função celestial!
Estanquei, sem dizer nada.
Acho que devo ter gaguejado quando perguntei o preço, e levei duas para o comprador (o que ele pensou de mim nessa ocasião não me interessa, mas as rosas eu as adquiri e dei de presente)!!!
A beleza daquela moça me impressionara, e eu não esperava pelo momento de vê-la de novo quando eu fosse pegar o carro no estacionamento.
Quando ela me viu e sem as flores, foi inevitável:
- Que rápido que deste de presente as rosas. Deves ter muitas admiradoras!
Meio que “tastaviei”, pois se existe um cara que nunca se sentiu bonito sou eu, pelo contrário, feio, grande, fora de moda, pobre, ortodoxo, desajeitado ...
- Não, não tenho admiradoras, mas tão somente perseguidoras quando não entrego os meus pedidos em dia, respondi.
Ela riu – aliás, sorriu com os dentes mais espetaculares que eu vira!
Mesmo as pessoas que eram usadas para divulgar creme dental não tinham uma dentadura igual!!!
Meio sem jeito, eu lhe perguntei por que uma moça tão bonita vendia rosas, e não trabalhava em uma loja ou banco ou, enfim, que não fosse dentro de um estabelecimento e não na rua?!
Disse-me o seguinte:
- Moço, as flores é que são lindas, e são por intermédio delas que  os seus olhos assim me veem!!!
Peguei o carro e quando retornei ela e a mãe tinham ido embora.
No dia seguinte, lá estavam vendendo as rosas.
Eu não podia comprá-las de novo, afinal de contas ela poderia pensar algo indevido, além de haver muita gente comprando as flores, e marmanjos, certamente pela beleza da moça.
Mas, à tarde, criei coragem e voltei à esquina das rosas.
Se eu comprasse as flores eu as daria para a camareira do hotel ou a primeira mulher que eu visse.
Ambas se ajeitavam para parar por aquele dia, quando perguntei do carro se havia alguma rosa, ainda.
A bela prontamente me respondeu que somente havia as rosas já murchas, que não seriam mais tão bem recebidas quanto as frescas.
Mas, que a vida era exatamente como as rosas, que, colhidas no pé eram exuberantes, e desabrochavam com o dia, para irem diminuindo com o tempo, perderem o viço e serem jogadas fora!
Acenou-me, e me disse que eu voltasse cedo, se quisesse as rosas bonitas.
Não voltei mais.
Eu era recém casado, e não queria que o meu coração tivesse tamanho desafio.
Jovem, imaturo, quem sabe eu não fraquejasse diante de tão bela mulher!
No entanto, ela me ensinou muito naqueles dois dias que eu a conheci:
Temos de regar as rosas que nos cercam, que vivem conosco, ou seja, temos de cuidar das pessoas, dar-lhes carinho, atenção, e quando é nossa esposa ou namorada ou companheira, evitar que rapidamente o encanto se desvaneça, que a beleza que tiveram quando as conhecemos não se vá tão rápido, então o amor será o componente desse rejuvenescimento permanente, sólido, e que nos acompanhará até o fim da vida!
Do alto dos meus sessenta e oito anos e quarenta e sete de casado - ah, mas eu cuido da minha rosa, da minha amada, da minha esposa!
E ela ainda se encontra viçosa, bela, maravilhosa, me cuidando também, e me pedindo que eu jamais esqueça de dar-lhe água e um magnífico vaso, que entendo ser a troca de ideias, de  pensamentos, falar dos filhos, dos netos, dos amigos, e relembrar o quanto já perfumamos o ambiente e o adornamos nesse tempo de quase meio século juntos!
Comprem um buquê de rosas, meus caros amigos, e deem de presente às suas esposas ou para quem desejarem, assim, de repente, sem uma data ocasional.
E por mais que a frase decadente e brega – rosas para uma rosa – seja imbecil e até mesmo idiota, quem pode atestar que os bons momentos não são mesmo imbecis e idiotas, e são aqueles que mais nos lembramos durante a vida?!