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31/07/2016

Polegares Estranhos

(imagem: nerdlikeyou.com)


Moacir Pimentel

Na semana passada precisei consultar um otorrino. Na sala de espera do consultório médico encontrei - pelo menos! - umas vinte criaturas, TODAS  às voltas com seus smartphones. Assustador.

O que está faltando - e cada vez mais nas nossas vidas - é a atividade pela qual a maioria de nós aprendeu muito do que sabe do resto do mundo. A força que criou nossos padrões de pensamento e, num sentido importante, fez a nossa civilização. O que está faltando é o venerável hábito da leitura.

Eu tenho certeza que a desaceleração na leitura pode resultar num declínio cultural e político do mundo moderno. Estamos perdendo uma espécie de hábito psíquico, uma lógica, uma sensação de complexidade, a capacidade de simbolizar, de abstrair, de detectar contradições e, é claro, a falsidade.

Eu já não pergunto mais - para não embaraçar meus amigos - o que leram recentemente. Estão trabalhando muito, ou jogando ou assistindo as séries americanas online. As casas raramente têm espaços para a leitura. Aquelas velhas ilhas de calma chamadas bibliotecas, escritórios e antros aconchegantes com uma poltrona ou - quem sabe? - uma rede bem iluminada onde se lia e viajava. Há muito tempo tais recantos passaram a se chamar home theaters e foram invadidos por telas planas, PlayStations e Nintendos. Estantes de livros cederam lugar para outros entretenimentos.

Se fizerem uma pesquisa os resultados provarão que mais pessoas estão lendo atualmente mais livros do que há 50 anos. Então por que todo mundo parece emburrecido? Porque leem cada vez mais sobre cada vez menos. Em uma sociedade onde o sucesso profissional agora exige familiaridade com toneladas de informação, os livros são, muitas vezes, adquiridos para serem consultados. E não lidos. São livros científicos ou técnicos. Esotéricos, de autoajuda, para colorir. Até mesmo os romances, os livros de  ficção e os com temas não-ficção de interesse geral, são livros que ultimamente parecem ter outras funções. Seus autores, muitas vezes, os escrevem como rotas para contratos de cinema. Seus editores analisam cada vez mais esses livros, não como coleções de frases e parágrafos que poderiam ser esclarecedores, mas como produtos que devem ser divulgados e comercializados divididos: volumes 1, 2, 3.

Dado o ritmo da vida moderna, os leitores destes livros fazem sobre eles voos rasantes, para melhorar a "conversa", parecer erudito, ficar bem na foto postada no Instagram. E, sendo assim, os livros têm cada vez mais funções diferentes.

Acho que hoje se lê as resenhas e mesmo assim para decidir se vale a pena ou não assistir ao filme. Revistas parecem ser mais adequadas para as nossas vidas agitadas, mas os blogs estão tomando o lugar das revistas. Perde-se menos tempo na leitura da opinião do blogueiro que, na maioria dos casos e com raras e nobres exceções, é engajado e infalível. Mesmo assim, ferramentas indicam que raros leitores online vão além do segundo parágrafo de um texto.

O futuro de jornais impressos e online parece sombrio. Para onde foi a força do hábito de leitura de um jornal? Estamos desenvolvendo uma geração que não tem interesse em leitura, exceto na medida em que ela lhe é atribuída nas escolas, infelizmente aparelhadas.

Segundo os nossos desgovernantes, nos últimos anos, a educação melhorou "pra cacete". Tanto que quinhentos mil vestibulandos zeraram a redação no Enem. Se a educação não estimula o desejo de ler, como fica o futuro?

Há cem anos atrás, nos dias em que o circo não estava na cidade, as pessoas que procuram entretenimento tinham três alternativas: fazer amor, conversar ou ler. Livros, naqueles dias, tinham o poder único de nos transportar:

"Não há nenhuma fragata como um livro para levar-nos longe das terras."

Agora, é claro, há muitas maneiras mais fáceis de chegar lá. Os da nossa espécie promoveram uma revolução nas comunicações, cujo primeiro passo foi o desenvolvimento de centenas de idiomas há dezenas de milhares de anos atrás; o segundo foi o simbolismo pictórico da arte rupestre; o terceiro - numa mistura das duas abstrações anteriores - foi o advento da escrita e da leitura no Oriente Médio cerca de cinco mil anos atrás; o quarto foi a invenção da prensa de impressão há quinhentos anos atrás.
O quinto passo - o nosso - começou, talvez, com o código Morse, os telégrafos com e sem fios, a lâmpada elétrica, o gramofone, o ditafone, o microfone, o telefone. Filmes, gravações, rádio, telefones, televisão, fotocopiadoras, telexes, aparelhos de fax e computadores fizeram parte dele. Mas, evidentemente, o produto mais potente desta revolução, até agora, e o que tem levantado a maior ameaça para leitura, depois da televisão, foi a internet. E depois, é o que está aí: os 140 caracteres no Twitter, o Facebook, o WhatsApp, os vídeos de um minuto e trinta segundos e por aí vai.

De certa forma é um milagre que a gente consiga encontrar tempo para ler, mesmo o pouco que fazemos. Ler está em declínio. Quantas crianças hoje - com nós ontem - terminam de ler livros, graças à luz de uma lanterna, escondidos debaixo das cobertas? Em vez disso, a leitura - como comer brócolis - agora se tornou algo que os jovens sentem que deveriam fazer. Um mau sinal.

Uma das características de qualquer revolução tecnológica é a nostalgia da velha ordem. Sócrates, que viveu poucas centenas de anos após a invenção do alfabeto grego, e foi testemunha da transformação da escrita na cultura grega, tenazmente defendeu a superioridade da cultura oral que estava sendo substituída. Segundo Platão - em relatos escritos! - Sócrates previra que o uso da escrita enfraqueceria memórias e privaria os aprendizes da chance de questionar o que lhes estava sendo ensinado.

Tais saudades dos métodos de tradição oral - memorização, retórica etc., - os mantiveram vivos nas escolas até o século passado. Agora faço aqui essa defesa da leitura contra as incursões de novas tecnologias. Posso estar redondamente enganado.

Mas, por enquanto, sigo convicto de que os efeitos da leitura em nossos pensamentos são profundos. Não é que as pessoas analfabetas - ou quase! - sejam menos inteligentes do que nós. Elas simplesmente pensam de forma diferente, ou seja, pensam circunstancialmente. Quando as palavras são escritas, e não apenas enunciadas, elas estão livres de situações e experiências subjetivas, podemos brincar com elas, analisá-las, reorganizá-las em categorias, fazer correspondências, ligações ou contradições entre as várias declarações, se cuidadosamente examinadas.

Ou por outra, graças a elas exercitamos o nosso sistema de lógica - a nossa capacidade de encontrar princípios que se aplicam independentemente das situações. Esta lógica, que remonta aos egípcios, hebreus e gregos, nos levou à matemática e à filosofia. E escreveu a História. Entre as suas realizações está a nossa cultura. Na qual nossos pensamentos cresceram mais abstratos, ou seja, mais gerais, mais abrangentes, mais distantes das situações específicas nas quais nos encontrávamos. Superstições, preconceitos e personagens lendários - como dragões e fadas - tiveram dificuldades de serem encaixados nestas linhas retas. A revolução científica e o Iluminismo foram ambos produtos da imprensa.

Que a leitura foi fundamental para a nossa cultura está fora de questão. A questão é como nós deixaremos a Idade da Impressão para as águas desconhecidas dessa nova era eletrônica, onde corremos o risco de perder muito do que a leitura nos permitiu ganhar. Pois estas novas tecnologias de comunicação tanto nos oferecem quanto nos tiram muito.

Os recentes desenvolvimentos em arte, educação, religião, jornalismo e política - todos os quais, na minha opinião, estão a perder a seriedade e conteúdo intelectual - me parecem mais  um show business para atender às  necessidades de mídia eletrônica.

Essa história de sentar, ficar quieto e concentrar-se forte o suficiente para decodificar um sistema de símbolos e seguir argumentos prolongados está fora de moda. Recomendar a leitura está a cair em ouvidos conectados a fones de ouvido. A televisão e seus irmãos eletrônicos e, sobretudo, a web  são muito menos rigorosos e chatos. Tudo que tais invenções demandam é o nosso olhar, e diante dele desfilam colagens deslumbrantes de imagens e ritmos, montadas apenas para abrir nossas pálpebras um pouco mais. Principalmente nos intervalos comerciais.

Lembra dos imperadores romanos virando os polegares para baixo quando os espetáculos os entediavam? Da mesma forma nós simplesmente pressionamos, com os nossos polegares, os nossos  controles remotos, e zapeamos  qualquer cena, exposição ou argumento, que leve muito mais do que uma mísera  fração de minuto para se desenrolar,  para bem longe de nós.

Pensar para quê?

Como diz o Mestre Heraldo,“vamos convivendo com esse fenômeno mais visível nas grandes cidades: livrarias cheias. De zumbis. Exemplares primitivos de uma espécie que, não demora, terá polegares diferentes, próprios para teclar em dispositivos cada vez mais minúsculos – como o resultado que geram”.


30/07/2016

Boa-Noite

imagem yosh3000
Heraldo Palmeira

As figuras populares e anônimas que vivem nas cidades me chamam a atenção. Embora familiares, delas pouco se sabe. Estão o tempo todo ali em seus pontos territoriais, fazendo parte da vida de todos, quase sempre sem serem notadas. Formam uma presença forjada em ausências.

Aquela figura miúda é parte integrante do cenário, postada ao lado da entrada de serviço de um restaurante mineiro encrustado numa das alamedas dos Jardins. Falante, entrosada com todos, sempre com um isopor carregado com comestíveis postado no chão e uma garrafa térmica com um café famoso nas redondezas, vive cercada de pessoas, conversas e sorrisos. Manobristas, garçons e outros funcionários da casa são fregueses de carteirinha. Passantes como eu, também.

Certo dia, depois de uma daquelas chuvas ligeiras de Sampa, uma mulher caiu na calçada depois de escorregar numa tampa de bueiro. Prontamente, a figura miúda entrou em cena para socorrer e ajudar a outra a se recompor. Providenciou cadeira, conforto moral, guardou a bolsa, perguntou a quem da família deveria chamar e providenciou o táxi.

Guardo perguntas a respeito daquela figura miúda. Quem é e como vive a mulher pobre, negra, de certa idade, com todas as marcas de luta pela vida espalhada no corpo musculoso, que se veste com capricho em roupas para esportistas, sempre alegre, comunicativa?

A mente ágil garante respostas rápidas e agudas às brincadeiras provocativas. Todos a conhecem simplesmente por Boa-Noite, já que ela distribui esse cumprimento a qualquer hora do dia.

A mim, concedeu a senha da proximidade, trocar a hora do dia no cumprimento: boa-noite durante o dia, bom-dia durante a noite. Sem que eu saiba por que cargas d’água, sempre que arrisco um boa-tarde, Boa-Noite responde com um muxoxo engraçado – nunca ouvi dela qualquer reverência à tarde, nem mesmo àquelas que terminam em dourado.

De repente, me dei conta de que fazia algum tempo que eu não via nossa personagem. Resolvi perguntar aos manobristas, dois senhores grisalhos que emolduram a entrada do restaurante com extrema simpatia, e com quem troco chistes todos os dias quando passo na calçada.

Ficamos em silêncio, lembrando de Boa-Noite. Ela simplesmente não veio certo dia e em nenhum mais depois daquele. Ninguém sabe nada a respeito dela, onde mora, se tem família. Fazia parte do cenário, acomodada naquele cantinho ao lado do portão de serviço do restaurante. Quando e como chegou, desde quando estava ali ninguém sabia.

Senti no coração um ar de boa-noite definitivo e caminhei até em casa com a estranha sensação de despedida sem direito a adeus. Sem bom-dia. Sem boa-tarde. Sem Boa-Noite.


29/07/2016

Um poema de García Lorca

Capa da edição original - desenho de García Lorca


Antonio Rocha

Quem diria que o grande poeta espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936) simpatizava com o Budismo, ou era Budista, não sabemos.

A poesia abaixo é muito pouco conhecida. Foi encontrada em um manuscrito, datado de 1918, quando o poeta tinha 20 anos, na residência em que nasceu e que hoje está transformada em Casa-Museo de Fuente Vaqueros.

(O link da matéria é   www.librosbudistas.com, site em espanhol da linhagem AOBO – Amigos da Ordem Budista Ocidental)


Buddha

El palacio en sombra
Enseña brumoso sus oros bruñidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas y azules.
Lloran los chacales en junglas perdidos.

En el estanque lotos sangrientos
Lirios de agua, palmas, umbrías
En los jardines altas palmeras
Se inclinan lánguidas y severas
Acompasando sus melodías

Dulces magnolias majestuosas
Dan su fragancia sobre las cosas.
Noche de luna. Raro consuelo.
Arturo llora su luz de cielo
Flores, divinas... Piedras, preciosas.

(una cuartilla falta aquí)

Abriole la puerta de calma infinita
después esfumose. Siddhartha medita.
Una voz celeste suave musita
"Tú eres Tathagatha, puro, sin igual".

En fondos dorados entre rosas blancas
Lució sus encantos la diosa Verdad
El iluminado quedose hierático
Aspirando triste un perfume enigmático
Que manaba lento de la eternidad.

El cuerpo sin alma subió al aposento
Yashodara y el niño dormían
Siddhartha sintió un agobio violento
Corazones en sombras yacían...
Grave palpitaba el firmamento.

Se arrancó la flecha que le lanzó Mara
Traspasando salió de la estancia
Dulce el corazón se durmió en la fragancia
Que la luz del cielo le dejara.
Y marchó con la Bienaventuranza

Siddhartha solloza. El palacio lejano
Enseña entre ramas sus oros bruñidos
La cálida noche derrite sus tules
Entre las estrellas rojizas y azules.

Lloran los chacales en junglas perdidos.


28/07/2016

O Equilíbrio

imagem tinybuddha.com

Francisco Bendl

Diariamente somos convocados a buscar dentro de nós mesmos o equilíbrio para certos momentos. Apesar de mais gostarmos de exigir dos outros que sejam equilibrados, detestamos quando nos criticam por termos agido desequilibradamente.

Nós mesmos colaboramos para dificultar que haja harmonia e sensatez, paz e equilíbrio em nossas vidas, a ponto de preferirmos elogiar alguém equilibrado que ser como ele; apreciamos e aplaudimos decisões equilibradas, mas não nos peçam para decidir desta forma.

Somos atraídos inapelavelmente pelo imã do repente, do inconseqüente, do impensado.

O trânsito nos mostra a todo instante motoristas desequilibrados, agressivos, perturbados; os jornais publicam o desequilíbrio de certas facções políticas e/ou religiosas que levam seus adeptos radicais à morte; o cenário político brasileiro mostra nossos “representantes” sempre em desequilíbrio, ora pendendo para um lado ora pendendo para o outro, em busca sempre de suas conveniências pessoais, notadamente em contraste à honestidade; uma aeronave com seu peso e velocidade não condizente despenca pelo desequilíbrio entre ambas; um navio sem lastro aderna e com muito lastro afunda, ambas situações estavam em desequilíbrio com a distribuição do peso em seus compartimentos, e por aí vai...

Nós vivemos este intrincado problema de desequilíbrio geralmente com muita dificuldade, sem conseguir solucioná-lo muitas vezes.

Isto porque somos dotados de um corpo físico, portanto, limitado. Ele pode ser pesado, medido, calculado a sua envergadura, enfim, qualquer área do nosso físico pode ser determinada.

Mas a nossa mente, como medi-la, calculá-la?

A nossa imaginação, quem pode dimensioná-la?

Nossos pensamentos, quem pode invadi-los, descobri-los?

Vou me tomar como exemplo:

Como posso equilibrar o meu corpo pesado, limitado, com a mente que me faz voar mais rápido que a velocidade da luz?

Como exigir equilíbrio quando a imaginação me transforma em rico quando sou pobre?

Quando me faz pensar que sou bonito e nenhuma mulher me olha?

Como obter uma equalização quando uma dessas partes – ou mente ou corpo – adoece e aprisiona a outra?

Como fazer com a mente que me faz sonhar e meu corpo acusar que não passo de um pesadelo?

Como aplacar a mente que martela os ouvidos me dizendo haver possibilidades inúmeras de sucesso e meu físico sentir que não tenho mais tempo?

Meu imaginário clamar por um grande amor e eu me encontrar só e abandonado à noite?

Pensar que posso reencontrar o equilíbrio na vida, mas o vício não me abandona?

De que forma explicar à mente que assegura eu poder superar obstáculos se eu não subo uma escada?

Que meus sonhos mais me atormentam que me ajudam?

Complicado encontrarmos uma sintonia para corpo e mente ou convivermos com forças tão antagônicas às vezes.

Certamente esta questão é crucial para nosso desenvolvi mento como seres humanos, isto é, aceitarmos melhor nossas deficiências e enaltecermos as virtudes, e nos analisarmos de forma mais condescendente e com menos rigor e exigências.

Também me pergunto se lá pelas tantas esta autoconcessão não iria acarretar resignação ou acomodamento ou permitir que se ficasse lamentando as circunstâncias que impediram que se atendesse ao apelo de planos realizáveis ou, até mesmo, deixar de lado o desenvolvimento espiritual.

Abraham Lincoln (1809-1865), décimo sexto presidente dos Estados Unidos da América, que presidiu esta nação durante a sua guerra civil (Secessão), um homem de grandes qualidades políticas, desenvolveu para si uma espécie de equilíbrio em vida muito interessante. Dizia ele:

“Não estou sempre pronto para vencer, mas estou sempre pronto para ser autêntico. Não estou sempre pronto para ter sucesso, mas estou sempre pronto para viver à altura da luz que tenho.”

Essas dificuldades de se conseguir que corpo e mente sejam solidários um com o outro, que se apóiem quando necessário, que consigam ampliar nossos horizontes de uma forma que se torne a vida factível, possível, enseja em mim uma relativa angústia porque constato, aos 60 anos, diferenças abismais entre querer e poder; da possibilidade de ter sido e não ter atingido o ideal; de ter deixado lacunas na realização profissional.

Não posso me deixar ser inoculado pelo ânimo da possibilidade neste momento se ela não se concretizar, aumentando em demasia minhas frustrações. Na minha idade todo o cuidado é pouco com relação às desilusões, ou porque o reservatório já se encontra cheio delas, o que me preocupa muito, ou porque ainda sobra espaço, o que me aterroriza!

Enfim, sem querer jogar a toalha à vida e a novas emoções, atingir objetivos é bem mais difícil na minha faixa etária e, muito mais intrincado, seria colecionar derrotas, decepções a esta altura da existência.

Meu momento passou, contento-me.

O que eu tinha de fazer conforme as condições que eu possuía e construí para mim mesmo à época foi feito.

Muito pouco adiantaria agora certos êxitos, pois o tempo que me resta não me deixará usufruí-los.

Está na hora de eu valorizar o que tenho, o que obtive, o que conquistei.

Viver mais com os filhos (incomodar, quero dizer); compartilhar o crescimento das minhas netas, conversar mais com a minha esposa, ter mais tempo para abraçá-la e reconhecer através de atitudes e gestos ter sido ela a mulher da minha vida; reverenciá-la diariamente, pois ela me deu sentido à existência, tanto quanto homem quanto pai e avô.

Uma vez que eu consegui o equilíbrio na vida pessoal e familiar – no que tange às realizações profissionais tento me equilibrar entre o fracasso e a mediocridade - procuro me adaptar entre não ter sido ninguém de sucesso, de grandes obras, patrimônio invejável, mas reconhecido pela família como um lutador (em várias ocasiões mais teimoso e rebelde que efetivamente um desbravador).

Aliás, neste aspecto, eu gostaria que ao morrer colocassem na minha lápide o seguinte epitáfio:

“Aqui jaz um rebelde”.

Questionado pelos meus filhos as razões pelas quais eu escolhera algo tão sem sentido para o primogênito, desnecessário para o do meio e inconsequente para o caçula – minha mulher deu uma gostosa gargalhada sobre a minha “rebeldia” após tantos anos de casado com ela, quatro décadas - lembrei-lhes solenemente de Machado de Assis (1839-1908), o mais importante escritor da literatura brasileira, um trecho do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas:

“Gosto dos Epitáfios: eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.”

Tento encontrar dentro de mim, então, o devido equilíbrio de alguém que justifica a sua vida colaborando com a realização de outras que não ter conseguido sequer ter sido útil, tanto para si quanto aos demais.

Se alguém julgar os meus conceitos sobre a existência e me condenar como pessimista, resgato Ernest Hemingway (1899-1961), notável escritor norte-americano, sobre uma frase do seu livro O Velho e o Mar, que lhe rendeu o prêmio Pulitzer de 1953:

“Mas o homem não foi feito para a derrota. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado.”

Pois bem, convido a todos para que nos equilibremos nessa corda bamba que é a vida e suas surpresas para que possamos compreender melhor esse complexo corpóreo limitado em consonância à ilimitação de nossa mente e não aumentar o desequilíbrio entre ambos; tratemos de amenizar a violência que somos jogados entre a realidade e desejos, sobretudo conciliar que fomos forjados pelas circunstâncias do meio que nascemos e bagagem hereditária que recebemos que nos deu as formas físicas, e que precisamos criar a nossa própria vida  e elaborar a nossa existência e conviver com altos e baixos.

Vamos lá, compreender porque nascemos, compreender o que não se sabe, compreender a nós mesmos!

Como dizia São Paulo:

“Eu morro todos os dias – e é por isso que eu vivo.”

Não me lembro direito o poeta que disse “a vida é uma metáfora”, talvez Pablo Neruda, não sei, peço perdão se estou enganado, mas humildemente eu completaria o pensamento afirmando que se “a vida é uma metáfora”, a existência é um paradoxo.  


27/07/2016

O Pintassilgo, em letras e tintas

Moacir Pimentel

Sinto me cansado e desanimado. Quero o básico, o elementar, o essencial, o que não precisa de explicação. Como dizia o poeta, a vida já está muita dita e o mundo muito pensado. Chega um ponto em que tudo se torna muito e ficamos cansados demais para lutar. Nós desistimos. É quando o trabalho real começa. Para encontrar esperança onde parece não haver absolutamente nenhuma.

Sei lá como, renovavam-se em mim a fome de conhecer pessoas e as paisagens delas, o apetite de entender as minhas próprias imagens, a fissura de ver, tocar, cheirar e comer da vida um quase tudo. É como beber o mar e não encher a alma funda. Não sei, mas essa minha alma, sempre na falta, entende.

Lógico que tem dia que é de noite, e tem noite que é comprida. Mas tudo passa, não é mesmo? E a gente vai ficando, meio torto, mas tudo bem.Talvez não o bem que a gente queira, mas bem de todo modo.E então, como era sábado, fui à minha livraria predileta. E comprei um livro da escritora americana Donna Tartt, chamado O Pintassilgo. Trata-se da história de um adolescente órfão, das suas perdas, das suas dificuldades de estabelecer intimidade emocional, de uma grande e improvável amizade, tudo isso rolando no mundo da arte.

Comprei o livro por vários motivos. Uma das críticas, por exemplo, jurava de pés juntos que o velho Fiódor Dostoiévski era presença constante naquelas páginas. Sucede que sou maluco pelos escribas russos, todos peritos na personificação de suas próprias obras, o que faz com que nós, leitores, consigamos enxergar um pouco do que eles são por dentro. E essa é uma experiência impagável.

Sempre me intrigou, também, a estreita ligação emocional que a maioria desses inventores de personagens não lineares em série, sentem em relação à Mãe Rússia, às suas raízes nacionais, ao seu passado, à sua cultura, aos seus lugares de origem, aos anexos que carregam com eles pela vida afora, independentemente de onde o destino os arremesse. Quem sabe eu não sinta uma inveja das bravas?

Porém foi o prefácio do livro que me conquistou ao prometer que, quando o leitor chegasse ao fim do romance, seria transportado a um lugar para além das páginas - "um mundo de razão e se magia", onde a autora também o reinventaria. Gostei.

Sim, eu rejeito o cogito de Descartes, tão limitado na sua primeira pessoa do singular, já que todos nós, uns mais e outros menos, somos inventados pelo outro e o inventamos. Da mesma forma, um livro não termina no seu epílogo. Nós continuamos a escrevê-lo e a narrá-lo adiante, da forma como o lemos e entendemos. Ou seja, nós lemos como somos, nos projetamos nas nossas leituras.

O que os livros nos ensinam, de saída, é que os lugares existem mesmo que não estejamos neles. Porém, fazer -nos ver com os seus olhos, fazer-nos imaginar o que ele pensa ou sente, é apenas o triunfo de um grande artista, escritor ou pintor. Quando a gente imagina - pessoas, coisas, lugares - tem a crença vã de que se apropria do que foi imaginado, passa a ter a sensação de que tudo aquilo que se criou, está aqui dentro da gente e que, portanto, nos pertence, num espaço fechado. E isso é mágico.

E, por fim, comprei o livro porque o seu protagonista - O Pintassilgo - é um pequeno quadro REAL, que retrata um passarinho castanho, com cores mais brilhantes apenas nas asas, contra um fundo liso e claro, pintado por Carel Fabritius, um artista que foi aluno de Rembrandt - e pasme! - professor de Vermeer. Ou seja, o elo perdido entres dois gênios.

Na real, o quadrinho mora no Museu Maurititshuis, a Casa de Maurício. Sim, ele mesmo, o príncipe alemão Maurício de Nassau que governou as terras conquistadas pelos holandeses no Nordeste brasileiro, no século XVII. Nesse pequeno grande museu, em Haia, a antiga capital da Holanda, O Pintassilgo tem a companhia de muitas outras maravilhas, como a fantástica Aula de Anatomia de Rembrandt, os incríveis meio sorrisos da Velha e do Menino pintados por Rubens e, last but not least, a joia da coleção, a linda Menina do Brinco de Pérola de Vemeer. Ou seja, eu e o passarinho do livro, somos velhos amigos.

Por enquanto, o gênero do livro permanece um mistério. Ainda não decidi se se trata de um thriller psicológico, de um romance policial ou de uma reportagem. Não interessa. É um bom livro sobre um menino que começa se encantando pelo pássaro e termina se apaixonando pela maneira como ele foi pintado.

A pintura é só a despretensiosa imagem de uma pobre ave acorrentada pelo tornozelo fino a um poleiro que, por sua vez, está preso à parede. Pelo que li, no século XVII, os pintassilgos eram animais de estimação muito populares, porque eles podiam ser treinados para tirar água de uma bacia, com um miniatura de balde - assim do tamanho de um dedal - no bico. Eles divertiam, com essa habilidade, a malta ignara.
A primeira coisa que se nota, ao contemplar O Pintassilgo de Fabritius, é que se trata de um exemplar europeu da gema, conhecido como dourado. Os pintassilgos americanos - apelidados de cardinals – têm os corpos vermelhos e as cabeças negras, enquanto que os brasileiros são amarelos vivo, com as cabeças e as asas pintadas de preto e branco.



Eu gosto deste ser alado aí na tela, capturado em uma luz brilhante e refletindo-a nos olhos. Apenas a cabeça do bicho e a malvada corrente foram elaboradas minuciosamente. O resto é sugestão. Acho que nessa minúscula tela luminosa Fabritius foi mais o professor de Vermeer do que o aluno de Rembrandt, o mestre da escuridão.

Se a gente olha para o quadro com atenção percebe que as sombras suaves lançadas pelo corpo do passarinho, tanto sobre o poleiro quanto na parede, bem como os reflexos de luz nos dois aros curvos de madeira polida do pedestal, e muito principalmente, as sombras densas lançadas pelo poleiro na parede, tudo isso, ajuda a criar a ilusão convincente de que estamos, de fato, observando um pintassilgo acorrentado.

O pássaro de Fabritius é uma obra inesquecível, precisamente por causa da sua extrema simplicidade. O quadro me encanta porque é apenas um passarinho. Mais nada. Que se cumpre porque nos convence. Nós quase podemos ouvi-lo cantar. Mas se ele cantasse aí começaria a confusão. Pois qualquer canto ecoa o que habita aqui e alhures, dentro desses humanos que, à vezes, estranham até mesmo as suas próprias almas cuja "bondade inversa não é boa nem é má".

A essa altura do livro e da cena, os seus dois protagonistas, o menino órfão e o pintassilgo se fundiram e me veio à mente um versinho de Pessoa em Hora Absurda, um dos maiores poemas da humanidade:

"Tu és a tela irreal em que erro em cor a minha arte... "

O que leio nos poemas e vejo nas telas, são testemunhos de seres humanos que extrapolam a geometria cotidiana, que a transbordam, que se libertam, em acasos literários e pictóricos, dos limites das suas existências e deixam aflorar dentro de si uma inconformidade adormecida nos "normais", uma força estranha que os impulsiona a entrar nos trens de si mesmos e a viajar em busca dos seus pedaços desconhecidos que precisam ser cumpridos.

Para mim as pretinhas e as tintas, nada mais são do que uma busca ontológica de sentido, propósito e plenitude. Nas páginas e nas telas dos grandes mestres eles permanecem vida, soprada até mesmo para além da fronteira da morte, como se as abstrações, como se a arte, nos permitisse vislumbrar tudo o que neles existia, como se tivessem tido a chance de experimentar mais do que conseguiram ser.

Penso que dentre milhares de ações, as centenas de encontros e desencontros, os milhões de percepções, pensamentos, sentimentos e sensações que temos, apenas somos capazes de traduzir uma percentagem mínima, a qual, por sua vez, quase nunca é escrita, pintada, musicada e compartilhada. É como se o melhor de nós permanecesse mudo, oculto, mesmo sendo aquilo que dota nossas existências de forma, som, cor e sentido.

E então desejo com vontade absoluta que - a exemplo dos passarinhos - conservemos aladas as nossas almas para que possamos findar "não do espinho na garganta mas da flor na boca".


26/07/2016

Treino Rimado





Hoje o Antonio nos confessa suas predileções esportivas:


Antonio Rocha

Minha Terra tem Palmeiras
onde torço pelo gol
também torço por qualquer
futebol show.

Só verde e branco
Qualquer divisão
Estado ou País
Torcida coração.

Não importa
Ganhar ou Perder
Faz parte da Vida
Arte é Torcer.

Com desapego
Prefiro ganhar
Não sendo possível
Mais vale amar.

Verde e Branco
Qualquer Esporte
Eis minha sina
Bela mina de Sorte !

25/07/2016

O Tempo

(imagem ypu.manchester.ac.uk)

Francisco Bendl

O tempo, assim como a dor, é extremamente difícil de ser definido. Seu significado tem sido explorado por filósofos, físicos, matemáticos, astrônomos, curiosos, desde a Antiguidade até os dias de hoje.

O filósofo alemão, Immanuel Kant (1724-1804), dizia que:
“...o tempo é uma das pré-condições de todo o conhecimento humano; tido como uma categoria a priori.”

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), matemático, literato e filósofo alemão, apregoava:

“O tempo é uma sucessão de eventos ligados por uma cadeia de casualidade.”

O escritor e filósofo francês, Jean Paul Sartre (1905-1980), explicava:

“...mas o tempo é grande demais, ele se recusa a se deixar ser preenchido.”

Palestrantes na área de vendas abordam sistemas de como usar o tempo, pretensiosamente; administradores falam em como organizá-lo, como se fosse possível; banqueiros demonstram a cada balanço de suas instituições a arte de ganhar muito dinheiro em tão pouco tempo, pelo menos no Brasil; jogadores de futebol possuem a magia de, em segundos, decidir uma partida e fazer a alegria – ou tristeza – durar uma eternidade para os torcedores; nós, taxistas, nos tornamos senhores do destino quando transportamos passageiros que estão atrasados para embarcar em seus ônibus, aviões, ou para chegarem em seus trabalhos ou colégios ou faculdades ou compromissos de toda a ordem e nos pedem para que possamos abrir uma janela no tempo para deixá-los onde nos pedem antes de perderem seus horários; um encontro amoroso há muito tempo aguardado, mesmo que perdure por um dia, impressiona pela rapidez de ter sido apenas por segundos; enquanto o tempo de uma alegria é fugaz, a tristeza não termina nunca.

Jorge Luís Borges (1899-1986), argentino, um dos maiores escritores do século XX, com muita propriedade dizia que:

“O tempo é a substância da qual sou feito.
O tempo é um rio que me leva,
Mas eu sou o rio;
É um tigre que me despedaça,
Mas eu sou o tigre;
É o fogo que me consome,
Mas eu sou o fogo.”

Enfim, o que é o tempo?

Diz o autor desconhecido da frase que, “a roda do tempo não pára.”

Concordo. Na verdade o tempo é inexorável, inevitável, implacável, irreversível.
Indiscutivelmente o agente mais poderoso e imparcial que se conhece, pois não leva em conta raça, cor ou credo, simplesmente nada o resiste.

Quanto mais avança mais deteriora a tudo e todos. Conosco, seres humanos, o tempo é ainda impiedoso e cruel.

O nosso convívio com o tempo de forma cronológica que se traduz por um lado como aquisição de experiência, maturidade, avanço da inteligência, conhecimentos, certezas, convicções, discernimentos, escolhas, posições, coragem, desafios, maior domínio de nossas emoções e controle do comportamento, capacidade, eficiência... por outro lado acarreta perda de forças, desânimo, indisposições, rugas, pele seca, osteoporose, reumatismos, artrites, tendinites, insuficiência renal, deficiência hormonal, menopausa, andropausa, teimosia, esquecimento, Parkinson, Alzheimer, solidão, abandono, dores, perda de entes queridos, saudades, despedidas da vida e, desta forma, vamos nos deteriorando, definhando...

Haja vista o tempo ser indomável e infinitamente mais forte que qualquer ser existente – o tempo, por acaso, é Deus? -, mesmo que tentássemos nos aliar a ele conforme orienta a estratégia, de pouco adiantaria porque as pessoas morrem, envelhecem, mas ele sobrevive e, escancaradamente, proclama-se Senhor da Vida do indefeso ser humano (o mote de algumas religiões que prometem a vida eterna não estaria justamente nesta questão que o tempo é absoluto e até mesmo o Deus não pode impedi-lo? Não quero ser herege, longe disso, mas não consta na Bíblia ou qualquer outro livro de importância religiosa que Deus tenha feito para o tempo alguma vez, ao contrário, criou a tudo e a todos no tempo de seis dias e no sétimo descansou).

Na razão direta que o tempo passa para todos, muitos não estão preparados para enfrentá-lo. Muito mais complicado elaborar proteção para aqueles que estão despojados de suas defesas naturais (saúde) ou sem reservas econômicas (casa, emprego, estudos), condições, enfim, que foram confiscadas pelas circunstâncias ou desatinos pessoais.

Estando o ser humano desprotegido para enfrentar o tempo, este inimigo abominável – mesmo com proteção não seria possível impedir a sua ação devastadora, mas seria menos traumática ou sofrida -, o homem se vê à mercê dos acontecimentos que o tempo irá lhe proporcionar (doenças e dificuldades) e ocasionar (desilusão, desencanto, menos tempo de vida).

Mensurar este prejuízo físico e mental que o tempo nos exige é impossível (e ainda dizem que existe o inferno?).

Dimensionar a extensão das frustrações, fobias, neuroses, em decorrência, seria mera especulação.

Tentar se estabelecer uma justificativa para este tempo que conduziu o ser humano para um tipo de existência moldada de acordo com seu enfraquecimento e velhice, ou seja, tributos que se pagam ao tempo para que possamos viver (estou dizendo em condições isentas de tragédias ou dramas pessoais que ceifam a vida prematuramente de quem quer que seja), seria o mesmo que definir a dor, todos os tipos de dor, e o que é o tempo, todos os exemplos de ganho e perda de tempo.

Minha curiosidade é despertada sobre qual seria a definição de tempo pelo morador de rua, do empresário, do padre, do rabino, pastor, pai de santo, do monge. Do desempregado, do político, dos que residem em asilos, os que moram em casas ou apartamentos alugados, dos motoristas em suas várias funções. Como o turista definiria o tempo? E os que foram abandonados à própria sorte? E as pessoas envolvidas em uma guerra, sejam civis ou soldados? De que forma seria o conceito de tempo por um paciente em estado terminal? Uma jovem e bela mulher como explicaria o tempo? E um homem idoso? O que diria um jogador de futebol sobre o tempo?

Mário Lago (1911-2002), compositor de grandes canções, dizia sobre o tempo:

“Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo:
Nem ele me persegue, nem eu fujo dele.
Um dia a gente se encontra.”

Nós, taxistas, vivemos vários tempos durante o dia. Ao transportarmos crianças, jovens, adultos, pessoas de meia idade e na terceira idade, constatamos as fases que já vivemos ou percebemos as etapas que ainda teremos pela frente.

Quando penso a respeito, lembro um passado que eu poderia ter vivido diferente, que eu reunia condições de realizar mais e, assim, ter sido melhor.

Ao me ver na terceira idade, sessenta anos, verifico estar deficiente em vários aspectos: por não ter feito melhor no passado deixei de construir as bases necessárias que iriam me amparar na velhice; agora é tarde!

Uma profunda nostalgia me invade o coração.
O tempo também não permite retornos na vida.
Volto para o Ponto, magoado e decepcionado, arrependido e triste comigo mesmo.

Penso:


Nós existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós?