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12/06/2022

Cinzas, cinis, gris, gray...

Fotografia Carlos Monteiro


Carlos Monteiro

Na escala grey da Kodak® não passam de onze. Na obra de E. L. James são cinquenta, na escala Pantone®, uma infinidade, quase, incontável. Vai do 7653 C ao Cool Gray 11 C, passando pelo 409 C. Uma lindeza.

Temos ainda as réguas de impressão, escalas de tintas para arquitetura, pastas para silkscreen, linhas para bordados, crochês e tricô. Uma infinidade de nuances nesta mistura encantadora entre o ébano e o marfim, como as teclas do piano que se fundem em tons musicados. Afinal o cinza é uma cor chique. Na arquitetura, na arte ou na fotografia preto & branco ele romantiza.

É também uma cor estigmatizada; talvez por não fazer parte do ‘Disco de Newton’ ou do arco-íris. É quase uma cor considerada, do ponto de vista preconceituoso, é claro, purgatório.

As meninas não podiam usá-lo lá nos idos dos anos 1960, pois, segundo suas mães e avós, era uma cor para francesas lindíssimas. Com o que, humildemente, não concordo. Como esteta que sou – vem da fotografia, muitos olhos azuis deixaram de embelezá-lo (o cinza), por puro preconceito à cor. Muitas meninas lindas deixaram de desfilá-lo nas calçadas de Ipanema, Copacabana, da Rio Branco ou da Ouvidor. Quantas não foram ao chá das cinco da ‘Confeitaria Colombo’, acompanhados dos deliciosos leques ou casadinhos, na ‘Confeitaria Manon’, com os verdadeiros madrilenhos, na ‘Casa Cavè’ com as almofadas, mil-folhas e Dom Rodrigos e, finalmente, no ‘Cirandinha’ com os deliciosos waffles. Quantos metros de organza, tafetá e crepes deixaram de ser vendidos pela ‘Notre Dame de Paris’, ‘Casa Assuf’, ‘A Imperatriz das Sedas’ ou pela ‘Kalil M. Gebara’? Quantas estilistas deixaram de copiar os moldes encartados na ‘Manequim’, simplesmente porque a cor sugerida era cinza? E os ‘Courrèges’ que deixaram de ser copiados...? Puro estigma, ou quem sabe, astigmatismo.

Fotografia Carlos Monteiro


Os dias têm amanhecido (em tons) cinzas, talvez as cinzas chegadas das dores sem fim, talvez o nublado de mentes apequenadas, que não conseguem perceber o significado da palavra, ou mesmo, do sentimento, amor, paixão, tesão, entrega; sejam elas em qualquer esfera. Mentes equivocadas que deixam escorrer por entre os dedos suas melhores oportunidades em troca das cinzas provocadas e, claudicadas, pela fogueira das vaidades, eternos perdedores encimados em seus pequenos e voláteis “podres poderes”.

Meu santo Pai sempre disse uma coisa interessante: “quando escrever, saiba ser sutil, ao ponto de que vistam a carapuça àqueles a quem não foi endereçado o texto”. Tinha absoluta razão.

Mas há, ainda bem, o Phenix que ressurge das cinzas... borralha... Cedo ou tarde, apesar de se pôr, o Sol brilhará amanhã.

Fotografia Carlos Monteiro


 

07/06/2022

Gentileza gera mais amor por favor

Fotografia Carlos Monteiro

 

Carlos Monteiro

O Profeta Gentileza e sua delicadeza em flores astrais, físicas e espirituais, distribuídas e semeadas, ao longo de anos, pela Cidade Maravilhosa e em terras de Araribóia, foi telúrico, metafórico e visceral. Mostrou ao Rio de Janeiro que, se quisermos “Celacanto não provoca maremoto”, não provoca sismos, não provoca guerras. Muito pelo contrário, a gentileza é agente provocadora de paz e gratidão... era José Agradecido e enobrecido, pura ternura.

Vivemos um momento conturbado em que o coletivo tem tomado muito mais as formas ‘eu’ e ‘meu’, em que as almas têm se trancado em feudos, murados de egos, aflorados em ids, desequilibrados em superegos. Momentos de um ‘venha a nós, deixando ao vosso reino absolutamente nada’. Encimamentos e egocentrismos, os ególatras estão à postos! Afasta-nos desses ó Pai!

Fotografia Carlos Monteiro


Ímpar em sua singularidade, o “eu maior” rege esse império, mesmo que esta monarquia seja protegida por exércitos brancaleônicos fardados em utopias e quimeras. Farrapos existenciais de idolatrias soberbas.

As chamas das fogueiras da vaidade, mais que nunca, são lume do egoísmo, atiçadas pelo mal querer, pelo mal poder e, principalmente, pela má vontade. Vidas já não importam nas câmaras de gás das viaturas. Basta!

Os tentáculos ardilosos da veleidade, fazem imergir ufanismos perversos capazes de afastar, sobremaneira, o que há de melhor em cada um. Apaga o logos. Retém o ódio arraigado.

Aforismos. O amor deve ser pago com amor? Gentileza gera gentileza? Nome-do-pai...? Adágios de realidade em sociedade. Mero apotegma existencial.

Dias difíceis em que a solicitude e prestatividade ficaram em baixa. O lugar comum, “novo normal” suscitou sentimentos divergentes, pintou cenários plúmbeos, deixou a psique à deriva. Generosidade não é mais a palavra de ordem... Talvez Freud explique, quem sabe? Ou não...

A velha esperança de tudo se ajeitar deve brotar no amor sublime e na partição do pão nosso de cada dia.

Fotografia Carlos Monteiro


Por mais tapumes Lerfá-Mur em chão de giz! Por mais ‘Gentilezas’, por mais rosas vermelhas do bem-querer, por mais loucos de amor e malucos-beleza.

Que brotem sementes, frutificando todo sentimento nas metáforas mais sutis e belas, delicadas e deferentes. É dia, eu já escuto os teus sinais. É a bruma leve. Zéfiro em lufadas, límpido páramo. Solidários, serenos, sagrados, sinceros, sóbrios, salutares. Deixa fluir o amor e o sal da Terra! Seremos um Planeta-amor.

 

Fotografia Carlos Monteiro