O Estado de Minas de hoje traz uma notícia impressionante sobre um relatório, que se julgava destruído, e que foi encontrado agora nos arquivos do Museu do Índio.
O relatório resume as investigações realizadas em 1967 e coordenadas pelo procurador Jader de Figueiredo Correia, para apurar denúncias da participação de funcionários do antigo Serviço de Proteção aos Índios, hoje substituído pela FUNAI, em tortura, massacres e extermínio de populações indígenas para permitir a ocupação de suas terras por fazendeiros e latifundiários.
Sim, crimes cometidos ou coadjuvados pelos funcionários daquele mesmo Serviço de Proteção aos Índios que teve como seu primeiro diretor, em 1910, Cândido Mariano da Silva Rondon, o sertanista que foi o primeiro branco a estabelecer contato pacífico com tantas tribos de índios e que pautou sua vida pelo lema "morrer se preciso for, matar nunca"!
De acordo com a reportagem, depois de percorrerem 16 mil quilômetros Brasil adentro e visitarem 130 aldeias indígenas, "Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram
a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se
chocaram com a crueldade e bestialidade de agentes públicos".
O relatório denuncia caçadas humanas, para exterminar os índios, com uso de metralhadoras, bombardeamento aéreo com bananas de dinamite, inoculações de varíola (contra a qual os índios, pelo seu isolamento. não tinham desenvolvido a menor resistência) e até a doação de açúcar envenenado com estricinina (o açúcar era um produto muito apreciado pelos índios, que só conheciam o adoçamento com mel).
O então ministro do interior, Albuquerque Lima, foi quem pediu que fosse feita a investigação, e chegou a pedir a demissão de diversos funcionários implicados, mas o resultado da investigação foi abafado pelo governo militar e o pessoal que participou dela exonerado ou transferido. Lembro-me de ter lido umas poucas notícias sobre as atrocidades que chegaram aos jornais da época, e depois não se falou mais do assunto.
O relatório foi dado como tendo sido perdido durante um incêndio no Ministério da Agricultura, e somente agora, quarenta e cinco anos depois, foram encontrados 29 dos seus 30 volumes, num total de perto de 7.000 paginas de investigações.
Uma grande parte da população brasileira não era ainda nascida à época destes acontecimentos, e a maioria dos jovens desconhece a realidade deste brutal processo de genocídio, acha que matar índios para tomar suas terras foi coisa do tempo do Brasil colônia, e subestima a importância das reivindicações dos índios pelo seu espaço natural.
Lancei uma petição pública, através do site Avaaz, pedindo a publicação do relatório, ou ao menos de seus pontos essenciais, para que o povo possa tomar conhecimento. O link, para quem quiser assinar e divulgar, está aqui:
http://www.avaaz.org/po/petition/Publiquem_o_Relatorio_Figueiredo/?cLYEZbb
A reportagem original do Estado de Minas está aqui:
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/04/19/interna_politica,373440/documento-que-registra-exterminio-de-indios-e-resgatado-apos-decadas-desaparecido.shtml
A reportagem teve continuações aqui:
http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/04/22/interna_politica,374713/endurecimento-do-regime-militar-pos-fim-as-investigacoes-das-denuncias-de-genocidio-de-indios.shtml
e para quem quiser conhecer quem foi o Marechal Rondon, de quem o estado de Rondônia leva o nome, está aqui um link para o artigo da Wikipédia sobre ele:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cândido_Rondon
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