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25/11/2020

A Loba Nazareth

 

Fotografia de Carlos Monteiro

Hoje publicamos a primeira colaboração de um novo companheiro, a quem damos as boas vindas. Deixemos que ele mesmo se apresente:

Meu nome é Carlos Monteiro, sou carioca, flamenguista, portelense. Fotojornalista, jornalista e publicitário desde 1975. Trabalhei em alguns dos principais veículos nacionais como: Revista O Cruzeiro, Jornal dos Sports, História e Glória do Rock além de outros como freelancer. No Jornal O Dia publicava a fotogaleria Alvoradas Cariocas, retratando o amanhecer de algum ponto da Cidade. Atualmente sou publicitário na Agência Saravah. Tenho três livros fotográficos, publicados, retratando a Cidade Maravilhosa.

O artigo do Carlos foi escrito no dia 24, façamos de conta que hoje é 24 de novembro, data também do amanhecer que ilustra o post. 😊

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Nasceu maranhense com nome de deusa grega, pelas mãos de Zeus se transformou em pássaro. Seu pai, quando a batizou Alcione, sabia que ela vinha ao mundo para cantar, encantar e acalentar.

Pássaros são para o mundo. Ela cresceu e volitou para o Rio de Janeiro, se transformou em Loba, Mangueirense, “Rainha do Samba”, trompetista. Na noite, embalada no berço da Bossa Nova, cantou no “Little Club”, naquele cantinho especial de rua Duvivier em Copacabana; o Beco das Garrafas.

E, como pássaro que é, alçou voos maiores, atravessou Américas e oceanos. Sem esforço para manter a afinação e com um tom de voz absolutamente peculiar, quase único, não deixou o samba morrer, nasceu com o samba e no samba se criou com muita ginga e um tremendo bole-bole. Não deixará acabar a batida forte do surdo, pulsar do coração, repique do tamborim, choro da cuíca. Enquanto puder sambar, na avenida, no terreiro, nas rodas de samba e na solidão, será compasso do passo do coração.

Esse amor pelo samba ‘envenena’, mas, todo amor sempre vale a pena, para quem, como ela, não tem a alma pequena, viveu amor em gostoso veneno.

E o amor cantou em dores, saudades, alegrias, felicidades e tristezas. Amores correspondidos, platônicos e abandonados. Amores traídos, amados, amantes. Jogou o jogo do amor como um vício, segredo guardado no peito, chama da paixão, perfume do mato, água da fonte, pétalas caídas das rosas se abrindo, exalando perfumes roubados e despetalando no chão.

Cantou o amor, e como cantou. Amores acabados, findados em sonhos grifados num jogo de palavras trocadas, cartas marcadas, dadinhos rolados. Daqueles que pagaram caro por amar demais, estranha loucura que faz o coração doer, se esconder na falta, se encontrar na cama, no doce abraço do abraçar de braços que nada importam, mas, que abrem a porta do coração.

Cantou o perdão ao menino sem juízo, garoto maroto que toma porres, picha muros diz que adora, troca juras secretas, mil loucuras e depois vai embora. Pasárgada talvez. Cantou ao ébano dos lábios de mel, feito a pincel. Cantou meninos danados, moleques levados, daqueles que fazem olhar estrelas achando que é amor, daqueles que viram a cabeça, que tiram do sério.

É gata em pele de loba, é loba em pele de gata, doce, dengosa, polida, fiel, que se entrega de corpo, alma, paixão, toque e olhar sedutor que despe. Que faz a gente sentir saudade, vontade de ficar noite afora, perder a hora, fazer loucuras, que faz dizer: “te amo plurimum. Nequaquam ego amare te.” Quando o coração fica para sempre!

É o que fica dentro do peito em forma de saudade, que faz pensar no jeito, no desejo, no nome que chama em chama, que faz até gostar de alguém, mas amor, amor verdadeiro, distribuídos em sonhos e carinhos...? Só uma estranha loucura que faz perguntar: o que eu faço amanhã sem você?

Alcione é como o Sol, brilha sempre mais uma vez, sua luz chega aos corações, faz o amor ser eterno novamente.

Completou 73 anos muito bem vividos no sábado, veio ‘pra’ cantar. Cumpre seu papel com devoção, com emoção, com o coração.

É loba!