Ana Nunes
Parece conto de fadas
Mas não é.
Parece Rapunzel
Mas não é.
Parece princesa presa na torre
De marfim
A reluzir em ouro
Mas não é.
Não é Rapunzel das tranças
Porque seus quase nada cabelos
Nas cores acaju
Ganharam peruquinha na cor
Para compor o rosto
E completar o resto
Por que não é princesa
Nem fada.
É velhinha, velhinha
Feinha, feinha.
Presa na torre
Que não é torre
Nem tem marfim
Nem reluz a ouro.
Fica no alto da escada gasta
Exaustiva no subir da idade
Sem floresta nem nada
Nem vista da cidade.
Só árvore com maritacas
E minúsculas flores brancas
Que perfumam a noite solitária.
Não tem príncipe
Nem cavalo branco.
Lá no alto
A colocaram, a velhinha
E trancaram a porta
E levaram a chave.
Ela perdeu tudo, a velhinha
Perdeu suas caminhadas de legumes
Perdeu seu caminho para a igreja.
Sobrou o fogão e seus aromas
E cresceu-lhe a barriguinha
De birra sem caminhada.
Mais nada.
Velhinha, velhinha
Pela janela não vê floresta
Nem príncipe
Nem cavalo branco.
Nem lembra o passado
Porque traz estórias
De bêbado de doido
De fugido e de histérica.
Nem sonha com futuro
Porque não lhe traz nada.
Só pensamentos obscuros.
Triste pobre velhinha
Que no fim
A vida só lhe trouxe idade.