-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

01/02/2022

A princesa e a torre

 



Ana Nunes

Parece conto de fadas
Mas não é. 
Parece Rapunzel        
Mas não é. 
Parece princesa presa na torre  
De marfim
A reluzir em ouro       
Mas não é. 
Não é Rapunzel das tranças        
Porque seus quase nada cabelos
Nas cores acaju 
Ganharam peruquinha na cor    
Para compor o rosto  
E completar o resto   
Por que não é princesa       
Nem fada.  
É velhinha, velhinha  
Feinha, feinha.   
Presa na torre   
Que não é torre 
Nem tem marfim        
Nem reluz a ouro.      
Fica no alto da escada gasta        
Exaustiva no subir da idade       
Sem floresta nem nada       
Nem vista da cidade. 
Só árvore com maritacas   
E minúsculas flores brancas       
Que perfumam a noite solitária.
Não tem príncipe       
Nem cavalo branco.   
Lá no alto  
A colocaram, a velhinha     
E trancaram a porta  
E levaram a chave.     
Ela perdeu tudo, a velhinha        
Perdeu suas caminhadas de legumes 
Perdeu seu caminho para a igreja.      
Sobrou o fogão e seus aromas    
E cresceu-lhe a barriguinha        
De birra sem caminhada.   
Mais nada.
Velhinha, velhinha     
Pela janela não vê floresta 
Nem príncipe     
Nem cavalo branco.   
Nem lembra o passado       
Porque traz estórias  
De bêbado de doido   
De fugido e de histérica.     
Nem sonha com futuro       
Porque não lhe traz nada.  
Só pensamentos obscuros.
Triste pobre velhinha
Que no fim
A vida só lhe trouxe idade.
  

6 comentários:

  1. Léa Mello Silva01/02/2022, 10:07

    No alto da torre também estou encastelada
    Quantas velhinhas e velhinhos estão presos nas suas torres!! Uma alegoria à solidão !!
    Mas sonhamos ainda e temos um mundo colorido pelas ilusões
    Ana, vc sabe dos sonhos de todos nós neste mundo árido
    Está Rapunzel perdeu as tranças mas sabe sonhar ainda
    Uma poesia triste mas real
    Meu abraço

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prima Léa querida,
      Rapunzel perdeu as tranças mas ainda sabe sonhar!
      Saberemos todos depois de tudo?
      Você eu sei que sim, alegre sonhadora da vida!
      Um cafezinho e seu mundo se colore de novo!
      Um beijo. E continue sempre assim.

      Excluir
  2. 1) Oi Ana, respeito os seus versos, mas penso que a personagem está triste, tudo bem.

    2) Aprendi com o Mestre Buda que tudo passa. E a tristeza também passa. Que a alegria da personagem venha logo e ela vai ver que tem muito a agradecer...

    3) Sabe ler, sabe escrever. Já viveu bastante, aprendeu muita coisa.

    4) Acho que esta velhinha é uma sábia !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido Antonio,
      Queria pensar como você, ser tolerante como você e esperançoso como você.
      Mas sou muito humana sabe, carne e osso. E pouco iluminada.
      E pior, falava com a minha mãe querida e não por causa dela - que essa sim, era iluminada - que os velhinhos são cruéis, assim como as crianças.
      Não sou um monstro, são só pensamentos principalmente depois de trabalhar na clínica psiquiátrica.
      Conversa comigo!
      Um abraço para você e a Heloisa que vi fazendo ioga na praia.
      Sua casa deve ser o paraíso!
      Atē mais.



      Excluir
  3. Velhinhas estamos todas, mas continuamos a caminhada porque somos teimosas como só a gente sabe ser.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tita querida,
      Ando omissa nas listas mas adoro ver você por aqui, conversando comigo. E assim vou resgatando partes do meu mundo.
      Somos velhinhas e teimosas! Graças!!!!
      Vamos brigar até o último momento. Combinado?
      Um beijo.

      Excluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.