Fotografia Carlos Monteiro |
Carlos
Monteiro
Na escala
grey da Kodak® não passam de onze. Na obra de E. L. James são cinquenta, na
escala Pantone®, uma infinidade, quase, incontável. Vai do 7653 C ao
Cool Gray 11 C, passando pelo 409 C. Uma lindeza.
Temos ainda as
réguas de impressão, escalas de tintas para arquitetura, pastas para
silkscreen, linhas para bordados, crochês e tricô. Uma infinidade de nuances
nesta mistura encantadora entre o ébano e o marfim, como as teclas do piano que
se fundem em tons musicados. Afinal o cinza é uma cor chique. Na arquitetura,
na arte ou na fotografia preto & branco ele romantiza.
É também uma cor
estigmatizada; talvez por não fazer parte do ‘Disco de Newton’ ou do arco-íris.
É quase uma cor considerada, do ponto de vista preconceituoso, é claro,
purgatório.
As meninas não
podiam usá-lo lá nos idos dos anos 1960, pois, segundo suas mães e avós, era
uma cor para francesas lindíssimas. Com o que, humildemente, não concordo. Como
esteta que sou – vem da fotografia, muitos olhos azuis deixaram de embelezá-lo
(o cinza), por puro preconceito à cor. Muitas meninas lindas deixaram de
desfilá-lo nas calçadas de Ipanema, Copacabana, da Rio Branco ou da Ouvidor.
Quantas não foram ao chá das cinco da ‘Confeitaria Colombo’, acompanhados dos
deliciosos leques ou casadinhos, na ‘Confeitaria Manon’, com os verdadeiros madrilenhos, na ‘Casa
Cavè’ com as almofadas, mil-folhas e Dom Rodrigos e, finalmente, no ‘Cirandinha’
com os deliciosos waffles. Quantos metros de organza, tafetá e
crepes deixaram de ser vendidos pela ‘Notre Dame de Paris’, ‘Casa Assuf’, ‘A
Imperatriz das Sedas’ ou pela ‘Kalil M. Gebara’? Quantas estilistas deixaram de
copiar os moldes encartados na ‘Manequim’, simplesmente porque a cor sugerida
era cinza? E os ‘Courrèges’ que deixaram de ser copiados...? Puro estigma, ou
quem sabe, astigmatismo.
Os dias têm
amanhecido (em tons) cinzas, talvez as cinzas chegadas das dores sem fim,
talvez o nublado de mentes apequenadas, que não conseguem perceber o
significado da palavra, ou mesmo, do sentimento, amor, paixão, tesão, entrega;
sejam elas em qualquer esfera. Mentes equivocadas que deixam escorrer por entre
os dedos suas melhores oportunidades em troca das cinzas provocadas e,
claudicadas, pela fogueira das vaidades, eternos perdedores encimados em seus
pequenos e voláteis “podres poderes”.
Meu santo Pai
sempre disse uma coisa interessante: “quando escrever, saiba ser sutil, ao
ponto de que vistam a carapuça àqueles a quem não foi endereçado o texto”.
Tinha absoluta razão.
Mas há, ainda
bem, o Phenix que ressurge das cinzas... borralha... Cedo ou tarde, apesar de
se pôr, o Sol brilhará amanhã.