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27/02/2023

Marx reencontra Jenny

 

Karl Marx e Jenny Von Westphalen

Antonio Carlos Rocha

Assim que Karl Marx faleceu o espírito de sua esposa Jenny o recepcionou do outro lado:

- Oi meu querido, seja bem-vindo – abraçaram-se enquanto almas, espíritos

- Oi Jenny amada, no fundo eu sabia que existia vida desse lado

- Ué, foi isso que você aprendeu quando criança lá na Igreja Luterana, quando ia aos domingos com o seu pai

- E os nossos filhos?

- Estão bem, na condição de espíritos estudiosos das verdades eternas, mas tem uma que reencarnou no Brasil e hoje é parlamentar, deputada federal

- Mas por que, Brasil?

- Ah! vai entender querido... coisas do carma que ela adquiriu nessas décadas

- E qual a sua função aqui? Desse lado da vida ou pós-vida?

- Continuo sendo a mãe de vocês, cuidando e aprendendo muito. Venha, vou lhe apresentar o nosso preceptor. Ele é um espírito de muita luz, uma espécie de diretor do plano espiritual onde vivo

- Salve Mestre ! – cumprimentou Jenny

- Muito prazer, o sr. tem Mestrado? – perguntou Marx

- É um tipo de liderança espiritual que temos por aqui. Aos poucos você vai entender

- Venha querido, sua cama já está pronta, você vai ter que descansar muito, dessa longa travessia – declarou Jenny para o esposo alma.

 

15/02/2023

A Chave

Guache seco - Ana Nunes


Ana Nunes

Que

abre a porta

sem volta

ou largada na mesa

no toque sutil

da perda irreparável

do fim

Que

levada na bolsa

traz de tarde

o sentido do descanso

o abrir a porta

o sentir o cheiro

do conforto carinho

de se ter a casa

Que

traz nessa mesma tarde

numa outra porta

o desânimo das panelas

da pilha de roupa

dos brinquedos por guardar.

Que

pressente a cama

na volta da madrugada intensa

molhada do beber.

Que

aguarda vigilante

pelo caminho escuro

de poucas janelas acesas

a saudade breve do que é um lar

e a lembrança ainda quente

da conversa amena

dos sorrisos claros

dos amigos queridos

partilhado o pão e o vinho.

Que

a liberdade

da primeira chave adolescente

do sentimento adulto

ainda que não.

Que

dada no dividir vida

sal sonhos e fantasia

para agora ou para sempre

quem diria.

Que

da volta do futebol

jogado suado e fedido

traz no rosto cansado

o soco merecido

na briga pelo gol

Que

abre a porta

depois do enterro

do desterro

do terror da casa vazia

da dor maior

do medo de encontrar

aquele pedaço que falta

Que

a grávida barriguda feliz

carregou por meses

junto à barriga amarrada na cordinha

essa chave antiga da porta azul de duas folhas

e pariu a criança forte

marcada de nascença vermelho escuro

de uma chave antiga

no final das costas.

Era meu Bro.