Guache seco - Ana Nunes |
Ana Nunes
Que
abre a porta
sem volta
ou largada na mesa
no toque sutil
da perda irreparável
do fim
Que
levada na bolsa
traz de tarde
o sentido do descanso
o abrir a porta
o sentir o cheiro
do conforto carinho
de se ter a casa
Que
traz nessa mesma tarde
numa outra porta
o desânimo das panelas
da pilha de roupa
dos brinquedos por
guardar.
Que
pressente a cama
na volta da madrugada
intensa
molhada do beber.
Que
aguarda vigilante
pelo caminho escuro
de poucas janelas acesas
a saudade breve do que é
um lar
e a lembrança ainda quente
da conversa amena
dos sorrisos claros
dos amigos queridos
partilhado o pão e o vinho.
Que
a liberdade
da primeira chave
adolescente
do sentimento adulto
ainda que não.
Que
dada no dividir vida
sal sonhos e fantasia
para agora ou para sempre
quem diria.
Que
da volta do futebol
jogado suado e fedido
traz no rosto cansado
o soco merecido
na briga pelo gol
Que
abre a porta
depois do enterro
do desterro
do terror da casa vazia
da dor maior
do medo de encontrar
aquele pedaço que falta
Que
a grávida barriguda feliz
carregou por meses
junto à barriga amarrada
na cordinha
essa chave antiga da porta
azul de duas folhas
e pariu a criança forte
marcada de nascença
vermelho escuro
de uma chave antiga
no final das costas.
Era meu Bro.
Ana
ResponderExcluirVc se supera a cada poema !! E com as chaves a poesia veio nos brindar de novo
A importância do saber usar cada palavra formando este belo texto !!
Eu sou sua fã e invejo sua facilidade em se expressar
Meu abraço 😘
Mistérios insondáveis regem as leis poéticas, mas a Ana tem dado mostras que conhece bem estas leis. Vez por outra nos brinda com belos versos. Parabéns, escreve mais, publique mais novas poesias e ilstre-as om ótimos desenhos. (Se eu conseguir publicar estas linhas, será uma grande vitória para este aprendiz da web) !
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