Ana Nunes
Daqui eu só via
a saia como um sino
e as sandálias de borracha.
E as pernas grossas
como tronco de abajur.
Me tampavam o rosto
os fios e as ramas verdes.
Estava ali parada
como à espera
que da comida a quilo
viesse uma surpresa
que o cheiro estava bom!
Da outra ponta da rua
lá da subida forte
desceu um sem teto
ainda meio vestido
ainda um pouco limpo
ainda calçado em tênis
e o cabelo espicaçado.
Às costas a mochila
traz os cacos colados.
Na mão
uma sacola sem indícios
e, na outra, um copo
de café com certeza
que bebia pouco a pouco
com prazer bastante
em goles seguidos.
Assim se encontraram os pares.
Ele parou
ela se achegou.
Disseram palavras perdidas.
Depois ele se assentou no meio-fio
um cigarro uma fumaça.
E ela sumiu um pouco.
E pouco depois ela voltou
e ficou a postos.
Ele se levantou
e como chegou foi embora.
E é mesmo assim
É só ter papel à vista
e um lápis disponível.
E lá se vão
letras tiradas à janela
num sábado perdido
no céu de junho
azul azul como sabe ser,
sem nuvens ou cores supérfluas.
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