Vista aérea de Acari (imagem Job Drone) |
Heraldo Palmeira
Ainda é
agosto em Acari. Não há mais o rebuliço da primeira quinzena, tempo da festa da
padroeira. Chegou a segunda banda do mês, voltou a calmaria tradicional de uma
pequena cidade do interior. A costumeira falta de pressa, o mesmo calor do
semiárido nordestino, a velha contagem progressiva até agosto do ano que vem,
onde faremos tudo de novo para louvar Nossa Senhora da Guia.
Para começar
o dia, um desjejum sertanejo antes do passeio de catamarã pelo açude Gargalheiras,
Paulinho Gargalheiras pilotando e os Dedés de Milton a postos na companhia, fotografias
e profunda amizade – Robertão de Davi não foi localizado, estava comendo
estrada nos afazeres costumeiros. Ocasião de visitar muitos recantos
adormecidos na memória da infância, oportunidade de ver de perto e em outros
ângulos surpreendentes imagens conhecidas sempre avistadas de longe ou
aproximadas pelo zum das câmeras.
A quantidade
de água represada ainda permite atividade pesqueira. As vazantes estão
enfeitadas por pequenos roçados de feijão, batata e capim para o pasto que mantém
pequenos rebanhos leiteiros, os animais sabiamente refestelados próximos à
margem.
No alto
de um dos serrotes de pedras e caatinga da cordilheira, uma grande colmeia que
chamamos de arapuá em razão do nome da abelha que abriga – sem ferrão, louca
por se enroscar nos cabelos de quem chega perto, produz pouco mel (que não
desperta interesse comercial) e cera de odor desagradável. Mais adiante, as
flores de alguns tipos de cáctus demonstram a convivência harmônica entre
aridez e fertilidade.
Os
lugares reservados do grande açude testemunham o milagre da natureza em pleno
viço dos seus ciclos de transformações. Plantas, flores, pássaros, camarão,
tucunaré e outros peixes... Tudo ali, compondo um belo ecossistema.
Um cachorro
da melhor linhagem dos vira-latas nos recebe desconfiado à margem de uma
propriedade sem vivalma. Mas leva pouco tempo para, amparado em algum tipo de
parâmetro insondável, nos considerar confiáveis e passar a nos seguir animado
pelas terras férteis das vazantes. Uma casa de taipa dos velhos tempos é uma
viagem no tempo, inclusive pelo abandono e o estado de semidestruída.
No reembarque,
nosso guardião tomou um belo banho de açude e, por pouco, não subiu na embarcação
para continuar suas mesuras de anfitrião. Ou para aproveitar o encantamento das
novas amizades.
Já em
terra firme, um banho reconfortante e a pequena viagem de carro até Acari. Caminhar
pelas ruas semidesérticas é um bom exercício de reencontro com o silêncio repleto
de memórias. O casario vai passando como cenário do que foi vivido atravessando
tempos ancestrais, inclusive pelos nomes dos velhos moradores que vão surgindo
nas lembranças.
A praça
principal em obras retirou de cena o velho coreto e a sede da difusora onde dei
meus primeiros avisos ainda com voz infantil – palpitações seminais do meu amor
de vida inteira pelo rádio. Reconstruídos, não serão mais os meus, permanecerão
em velhas fotos esquecidas em gavetas e baús.
Mais
adiante, uma casa senhorial enorme, que já representou a opulência dos coronéis
da agricultura e da pecuária. Hoje, celebrando seu primeiro centenário de
construção, peleja para não virar escombro e recuperar um pouco da antiga imponência.
Em busca
de providências de restauração, a velha casa que pede socorro pode esticar o
olho adiante e enxergar uma construção erguida entre 1878 e 1887. Concebida nos
moldes do Brasil Império como Casa de Câmara e Cadeia, juntou no mesmo espaço a
Câmara Municipal (parte superior) e a Cadeia Pública (parte inferior, que
funcionou no local até meados dos anos 1980). O prédio foi tombado em 1964 pelo
IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, coroando o seu valor histórico e arquitetônico. Depois de várias
utilizações como sede de biblioteca, de ações sociais da prefeitura e da banda de
música, hoje abriga o Museu Histórico de Acari.
Dominando
a cena da praça principal a bela Igreja do Rosário, que um dia foi simples
capela. Dizem os historiadores, erguida por exigência da mãe de um senhor de
terras e pecuarista pioneiro, que se instalou quando tudo era sertão inóspito,
incerto e infinito habitado por índios valentes, pouco amistosos e embrenhados
na caatinga.
Dona Maria
da Purificação, mãe do desbravador, colocou uma única condição para vir viver com
o filho: ver erguido o primeiro abrigo de Nossa Senhora da Guia, nossa
padroeira, de quem era devota – muitos garantem que ela nunca pisou nossa
terra.
Manuel Esteves
de Andrade, que mandou construir para atender o capricho materno, ganhou a
honraria histórica de fundador da cidade talvez pelo fato de que, naqueles povoados
de outrora, tudo se formava ao redor das igrejas. Ainda mais num povo de
proeminente religiosidade.
Ali ao
lado, razoavelmente conservada, está a casa senhorial do homem que dominou a
atividade do algodão, cujas usinas viraram ruínas e não dizem nada a respeito
da riqueza que geraram há poucas décadas. Até as lendas sobre a devastação da
cultura do “ouro branco” pela praga do bicudo começam a amarelar pelo efeito do
tempo.
Mais adiante,
o ponto onde Toinho do Quentão estaciona todas as noites sua velha kombi branca
– um legítimo food truck muito antes desse conceito virar moda – para oferecer
deliciosos cachorros-quentes e outras coisas ligeiras, sem contar o cafezinho
gentil e gratuito. Quase vizinho de parede-meia imaginária da Barraca de Nossa
Senhora da Teima, que só funciona de manhã, onde Mané de Barnabé vende suas
confecções populares sem deixar a prosa esfriar, quente feito a sopa
espetacular que ele serve em casa para privilegiados como eu.
Reverenciando
esses dois amigos comerciantes embiquei na chamada rua da Matriz, pensando que
o tempo fez o pequeno povoado virar vila e depois cidade, e uma nova matriz foi
erguida no alto do que chamamos “colina sagrada”, exatamente no topo daquela rua.
Até hoje permanece ladeada pelo Grupo Escolar Tomaz de Araújo e o antigo Jardim
de Infância de Acari (agora Biblioteca Maria de Jesus Bezerra, homenagem a uma
das nossas matriarcas e mãe de diversos acarienses ilustres).
Não causa
qualquer desconforto subir até lá pela ladeira suave, que mantém parte do
casario antigo dos dois lados da rua larga onde vivem descendentes das famílias
tradicionais. Apesar das reformas arquitetônicas em algumas das casas, ainda é
possível respirar um resto da história. As árvores do canteiro central oferecem
sombra suficiente, com bancos para um momento de reflexão olhando para o nada
do tempo ou para a matriz majestosa.
Hora de
subir a escadaria do átrio, mandada construir em tempos mais recentes. Talvez porque
as novidades são raras numa pequena vila como a nossa, a obra virou assunto de
todas as rodas de ponta de calçada e redes sociais. Despertou paixões a favor e
contra, gerou toda sorte de opiniões como uma barraca da teima ampliada. Hoje, dá
solenidade ao templo e tem grande eficiência para, nas grandes celebrações campais,
abrigar idosos, pessoas com deficiência e até a banda de música que tanto nos
orgulha.
Entrei na
velha matriz como quem entra em casa, revendo meu lugar solene de oração desde
menino. A mesma beleza, o mesmo silêncio, a mesma sensação de frescor que
acolhe e acalma o espírito – dei sorte, não havia mais ninguém além de mim
naquele momento.
Ainda estamos
processando uma grande mudança. Na verdade, aprendendo a compreender o fato de
nossa matriz ter sido elevada à dignidade de basílica menor pelo papa
Francisco. Sim, somos sertanejos fervorosos, mas essas grandezas litúrgicas
estão distantes do nosso cotidiano simples por natureza.
O que conhecíamos
apenas como a casa de Nossa Senhora da Guia recebeu retoques arquitetônicos –
desnecessário lembrar que o trelelê sobre as obras foi enorme – para
seus novos desígnios de basílica menor. Passou a ser um templo diretamente
ligado à Santa Sé. Levará um tempo para inserirmos tanta pompa e circunstância
ao cabedal de devoções que conhecíamos até aqui.
Para estabelecer
uma sintonia fina com a nova realidade é preciso visitar um corolário – nos diz
o dicionário que corolário “é uma verdade que decorre de outra, que é sua consequência necessária ou
continuação natural”. Uma volta no tempo até 1737, onde os registros históricos guardam a petição assinada por Manuel
Esteves de Andrade para construir a capela de Nossa Senhora da Guia – há versões
dando conta de que obras foram iniciadas dois anos antes e o tal documento
apenas oficializou a realidade.
Veio a
inauguração em 1738, com a bênção episcopal. No altar, a chamada “imagem
primitiva”, de estilo barroco popular cujas feições e demais traços indicam que
pode ter sido talhada por algum santeiro paraibano, hoje mantida em pequeno
altar da casa paroquial.
O povoado
começou a se formar ao redor da capela que passou por obras de reforma e
ampliação em 1792, quando adquiriu o belíssimo formato atual, cujo porte
permite avaliar a pujança do lugarejo naqueles tempos.
Em 1833,
a vila de Acari conquistou sua emancipação de Caicó e tornou-se município. Em
1835, com a criação da paróquia de Nossa Senhora da Guia, o templo erguido pelo
fundador foi elevado à dignidade de igreja matriz.
Décadas
depois, o padre Thomás Pereira de Araújo – desde seu ancestral português, o
quarto homem de mesmo primeiro nome na família – era o pároco da comunidade.
Diante da ameaça de o poder público confiscar as propriedades das irmandades
religiosas, ele simplesmente vendeu as fazendas de gado e passou a dispor de bom
capital em espécie nos cofres da paróquia.
Dotado de
grande visão de futuro, fez uma análise econômica do ambiente rural e urbano e vislumbrou
a tendência de crescimento da comunidade. Assim, lançou-se ao empreendimento
mais reluzente do seu legado: a construção da nova matriz no alto da colina
sagrada dos acarienses. A obra, que teria começado em 1853, estendeu-se por
doze ou catorze anos. O visionário ergueu um templo cuja imponência e beleza
impressionam até hoje. É justo deixar os pudores de lado e reconhecer ali uma
das mais belas igrejas católicas do estado.
No Natal
de 1862, quando a capela-mor já se encontrava coberta, foi celebrada a primeira
missa, presidida pelo padre Thomás. A obra foi concluída em 1863 – a data
alusiva está impressa no alto da fachada principal –, “quando ela ficou coberta
e fechada”, conforme crônica da época.
Foram
mais quatro anos de preparação, com a construção dos altares em madeira,
pintura, paramentação (alfaias que permitem o funcionamento pleno de uma grande
igreja, tais como roupas e vasos litúrgicos, toalhas, pia batismal etc.). E,
óbvio, a belíssima imagem de Nossa Senhora da Guia, de estilo barroco,
adquirida especialmente para a trasladação da antiga matriz, ocorrida na abertura
da festa em 5 de agosto de 1867.
Realizada
a cerimônia, a antiga matriz foi dedicada a Nossa Senhora do Rosário. Hoje,
além da condição de a mais antiga do estado que ainda permanece de pé, é mais uma
joia do patrimônio histórico, também tombada pelo IPHAN em 1964.
Em 2013,
foi realizada uma grande reforma na matriz para comemorar o sesquicentenário daquele
1863 que está no alto da sua fachada principal. Para mim, um ano de redobradas
alegrias porque lancei o filme documentário Agosto em Acari, onde a
própria comunidade deixou gravados sinais claros de que a fé dos nossos
antepassados estava preservada numa atmosfera religiosa perene e que vai
atravessando gerações. Valeu cada minuto dos cinco anos que levei para realizar
o projeto.
Também
naquele ano histórico de 2013 ocorreram as primeiras ideias e conversas a
respeito da elevação da matriz à dignidade de basílica. A partir de 2018, o
processo finalmente ganhou corpo.
O
documento foi publicado pelo Vaticano em 19 de março de 2021, dia consagrado a
São José, tão caro a nós sertanejos – ainda mais se chover, sinalizando inverno
e farta colheita nas nossas crenças populares.
No dia 25
do mesmo mês tivemos a solenidade de dedicação, rito de consagração da matriz e
do novo altar, e a publicação do Decreto Pontifício que elevou a nossa matriz à
dignidade de basílica menor. Ali, a paróquia de Acari passava a desfrutar de um
honroso privilégio pontifício, a ligação de seu principal templo por um vínculo
especial de comunhão à Cátedra Romana de Pedro, ao papa atual e seus sucessores.
Fechando
a cerimônia, nos céus de Acari a fumaça da enorme quantidade de fogos parecia anunciar
ao mundo “Habemus basílica!” (Temos uma basílica). Nos demos conta de
que aquela matriz majestosa tatuada em nossos corações é agora a Pontifícia
Basílica Menor de Nossa Senhora da Guia do Acari, a primeira basílica do Rio
Grande do Norte.
Correndo
os olhos pelo decreto Domus ecclesiae (Casa da Igreja) da Congregação
para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, onde estão listadas as
normas para concessão do título de basílica menor, encontramos outras pistas
importantes para tamanha conquista:
“A igreja,
para a qual se pede o título de basílica, deve ser dedicada a Deus com o rito
litúrgico e tornar-se, na diocese, um centro de atividade litúrgica e pastoral,
sobretudo para as celebrações da Santíssima Eucaristia, da penitência e dos
outros sacramentos, sendo exemplar quanto à preparação e desenvolvimento, fiéis
na observância das normas litúrgicas e com a ativa participação do povo de
Deus.”
“A igreja
goza de certa fama em toda a diocese […] ou ainda porque se venera em modo
particular alguma imagem sacra. Se considerem também o valor da igreja, ou
seja, a importância histórica e a sua beleza artística […] pede-se ainda um
suficiente número de ministros e um apropriado coral, para favorecer a
participação dos fiéis também com a música e com os cantos sacros.”
A
presença do acariense Eugenio de Araújo Sales na história recente da Igreja deve
ser considerada com relevo. É inegável que ele deu conhecimento à Santa Sé do
nome da cidade e sua fervorosa e secular vivência religiosa.
O
trabalho virtuoso e incansável, bem como a serenidade dos sacerdotes Fabiano
Dantas, Flávio Medeiros e Raimundo Sérvulo, dos quais sou feliz testemunha,
ergueram e acomodaram cada cristal do projeto no devido lugar e sem nenhum
trincado.
E o
corolário volta ao ritmo cronológico pelas mãos do padre Emanuel Medeiros, que
está sendo acolhido agora pela comunidade como novo pároco da cidade. Quem achou
que ele teve sorte por chegar com a obra da basílica pronta ainda não entendeu
o rumo dessa prosa.
Caberá a Emanuel
ratificar o fervoroso trabalho de Fabiano e conduzir o primeiro tempo de sedimentação
da nova relevância do nosso templo diante do povo de Deus. Operar como pastor para
que a chama da fé nos permita fazer a conexão espiritual da matriz que
guardamos por séculos com a plenitude do seu significado de basílica. Que ninguém
se iluda, um trabalho tão hercúleo quanto foi o de quem colocou tijolo sobre
tijolo do edifício da nossa fé, desde aquele longínquo ano da graça de 1737. Ou
até antes, quando o sopro divino parece ter tocado o espírito de dona Maria da
Purificação criando o ponto zero do nosso corolário religioso, que caberá a
cada vigário transmitir ao seu sucessor e assim por diante.
O mais
firme alicerce sempre esteve na comunidade, que transformou Acari numa
referência litúrgica a partir do fervor que nos guia desde os tempos dos
desbravadores. Somos o povo que, acostumado a desafios, vai honrar mais e mais
a dignidade que nos foi concedida pelo santo padre. Não há o menor perigo de
ser diferente.
Findei minhas
orações e permaneci absorto na observação da parte interna da basílica. De
repente, começou a entrar pelas enormes portas e janelas o aroma que saía das
cozinhas das casas ao redor, sinal definitivo de que a hora do almoço sertanejo
era chegada. Claro, eu também sou filho de Deus, merecia prato, talheres e copo.
Levantei-me
devagar de um banco qualquer no meio da nave central, onde sempre costumo ficar
durante minhas orações – como também é bom uma igreja vazia! Já de costas para
o altar, olhei para o alto e, na balaustrada do mezanino do coro, enxerguei o
brasão da basílica, boa fonte de tradução da nova realidade daquele templo.
Fui correndo
a vista de alto a baixo, lembrando do que me ensinaram sobre ele o padre
Fabiano Dantas e Canindé da Igreja Medeiros.
Brasão da Basílica de Acari (imagem: divulgação da paróquia) |
Umbrelino
basilical: em listras vermelhas e amarelas que representam as cores do
pontificado, é uma insígnia exclusivamente pontifícia e presente em todas as
basílicas, sempre ao lado do tintinábulo (sineta). Nas antigas liturgias eram
utilizados quando o papa em pessoa participava de uma procissão, a umbrela para
lhe proteger do sol ou da chuva e o tintinábulo para anunciar sua presença. As basílicas,
por sua dignidade, recebem esses dois símbolos visíveis para designar sua profunda
comunhão com o sucessor de São Pedro e representar sua prontidão para receber o
santo padre.
Chaves
petrinas: uma amarela, uma prata, cruzadas, guarnecem o escudo central
demonstrando a sintonia da basílica com o papa e a Igreja universal. O cordel
vermelho que as mantém atadas representa o sangue que o vigário de Cristo deve
se dispor a derramar pela Igreja.
Cadeia de
montanhas: na cor prata e na posição de proeminência no topo do escudo, faz
referência ao território de Acari com as cordilheiras que representam a
fortaleza natural dada por Deus em nossa geografia. A parte verde (mais abaixo)
remete aos tempos de chuva e à exuberância da natureza em viço, conforme consta
nas segunda e terceira estrofes do hino da padroeira.
- Desde o
serrote florido até o rio corrente [...] se o campo em festa floresce, se o
perfume a flor derrama.
Ondeado: em azul
e prata, é uma referência ao rio Acauã que banha nossas terras e guarda as
origens de Acari. No campo espiritual revela as águas batismais que fazem brotar
inúmeras gerações para o louvor católico de Deus.
Estrela
de seis pontas: em amarelo, aplicada sobre a cadeia de montanhas,
representa Nossa Senhora da Guia. O fundo prata sobre o qual está aplicado também
representa a aurora de Deus.
Monograma
mariano: em amarelo, coroado, e calçado pela lua prateada, faz alusão à
própria Virgem Maria no Livro do Apocalipse e igualmente na invocação de sua
novena. O fundo azul, na arte cristã, remete à virgindade de Maria.
Cristograma: em
amarelo, representa a presença de Jesus Cristo como rei e centro, princípio e fim
de todas as coisas. O fundo vermelho representa o sacrifício na cruz como meio
de salvação.
Listel: em
letras pretas sobre fundo prata, traz a inscrição “DEVOTIO MARIAE ACARYENSIS
GLORIA” (Devoção a Maria, glória do acariense), que reproduz trecho da homilia
proferida pelo acariense cardeal Eugenio de Araújo Sales na missa de 15 de
agosto de 1995, celebrando os 160 anos da criação da paróquia de Nossa Senhora
da Guia.
Devemos aprender
e compreender o significado da basílica como uma coroação histórica. O ato de
transmitir tamanho valor à nossa posteridade será uma forma de gratidão aos
nossos antepassados, um meio de manter viva a história religiosa que eles
começaram e que é nosso papel dar seguimento.
Uma nova
realidade provavelmente se instalará, Acari poderá virar destino de
peregrinações e turismo religioso. Que Nossa Senhora da Guia, de sua basílica,
nos dê sabedoria para manter nossa tradição de religiosidade e de acolhimento cristão
a quem chega. E que nos guie para operar as mudanças em benefício da obra
pastoral e da comunidade que vimos construindo desde que o pequeno povoado foi
se formando ao redor da capelinha erguida por Manuel Esteves de Andrade.
Os coroinhas
começaram a chegar para, liderados por Canindé, grande sacristão que formou
gerações deles, iniciarem a salva do meio-dia. Hora dos avisos paroquiais bradados
pela voz alegre dele nas difusoras instaladas nas torres frontais e na parte mais
alta do fundo da basílica – parte integrante do grande projeto de sonorização
que desenhei, ajudei a comprar (com outros três devotos) e instalei (com técnicos
especializados que trouxe de São Paulo e Brasília) na grande reforma de 2013.
Estava próxima
a hora de o campanário oferecer o belo ritual da linguagem dos sinos. Fui saindo
devagar e desci a escadaria solene. Restava o tempo certo de chegar à mesa do
almoço e ouvir o sinal da fé sertaneja espalhado sobre nossa comunidade em
ondas sonoras. Por coincidência, o som do carro começou a tocar algo que pareceu
coisa combinada.
Já bate o sino, bate na
catedral
E o som penetra todos os
portais
A igreja está chamando
seus fiéis
Para rezar por seu Senhor
Para cantar a ressurreição
Já bate o sino, bate no
coração
E o povo põe de lado a sua
dor
Esquece a sua paixão
Para viver a do Senhor
Agradecimentos a Adriano Campelo,
Canindé Medeiros, Fabiano Dantas, Jobel Araújo, Maria Izabel Medeiros e Netinho
de Pinta.
Trechos de:
Hino de Nossa Senhora da Guia (Felinto Lúcio Dantas-Palmira Wanderley)
Paixão e fé (Tavinho Moura-Fernando Brant)