Todas as fotografias, de Carlos Monteiro |
Carlos
Monteiro
Foi numa
manhã veraneada, onde o Sol não deu muito as caras, mas fez bonito por entre as
nuvens, em mais um amanhecer numa empoeirada e calorenta Brasília - capital do
país -, por falta de chuvas que já acumulavam ausência por tantos quinze dias,
em janeiro de 2019, que percebi o São Francisco de BSB.
Encontrávamo-nos tomando café da manhã numa daquelas padarias tradicionalmente deleitosas, assiduamente frequentada por ele, aquela em que todos te dão bom-dia te chamando pelo nome e conhecem os seus gostos especiais, ali na SQN, após uma sessão de fotos da alvorada brasiliense. Havíamos chegado, ainda na madrugada, no Congresso Nacional, para registramos os primeiros sinais do Astro-Rei junto às metades abobadadas sonhadas e realizadas por Oscar Niemeyer, de quem o Britinho, como é chamado carinhosamente pelos mais chegados ou Orlando Brito, como são assinados seus trabalhos, é fã incondicional.
Aboletados,
confortavelmente, em cadeiras na área externa vermelho-alaranjadas,
acompanhadas por mesas fazendo par de jarras, ricamente adornadas por
porta-guardanapos em verde-neon, oferecimento da marca de goma de mascar Trident,
papeávamos sobre amenidades, política, que ele conhece como ninguém. Estava na
Capital Federal em sua inauguração ainda menino. Cobriu, praticamente, todas as
posses presidenciais por lá; foram muitas, catorze ao todo, inclusive durante a
ditadura militar, de Costa e Silva a Bolsonaro.
Estávamos
preparando o roteiro de visitas a alguns pontos turísticos e a ida até o Vale
do Amanhecer, na cidade de Planaltina em Goiás, que abriga a Doutrina do
Amanhecer, religião espiritualista cristã, para registrar uma ‘função’. Lá conheceu,
pessoalmente, Tia Neiva, sua fundadora, trazida, alegadamente, pelo espírito de
São Francisco de Assis - nada é por acaso –, reverenciado nesta doutrina como
‘Pai Seta Branca’, no ano que este, que vos escreve, nascia - 1959 e mantém
amizades sinceras com os assessores de imprensa e frequentadores.
Após pedirmos a tradicional média, em copos americanos, com pão na chapa – ele optou pelo café puro coado como bom mineiro de Janaúba que é -, migalhas do pão torrado, deliciosamente ‘confeitado’ por generosa camada de manteiga das Gerais, começaram a se desprender daquela guloseima de encher os olhos de qualquer gourmet. Eram pequenas, porém gigantescas para os pardais que começaram a cercá-lo. Como um ‘santo’ Brito começou a alimentá-los e a cada momento mais vinham e o cingiam à pequena distância. Havia um diálogo mental, uma troca de gestos, piados, olhares. Pairava no ar uma enorme sinergia, algo absolutamente astral em momento telúrico. Estávamos assistindo a um espetáculo sem par com exclusividade como são as imagens que produz. Quanto mais se aproximavam, os passarinhos, mais, propositadamente, era esfarelado o pão, trigo renovador da natureza, alimento energético com doses lautas e borbotoantes de amor e carinho.
Brito
está e estará infinitamente vivo em meu coração, em nossos longos diálogos às
sextas à tarde e no almoço dos sábados no Piantella, em suas incríveis
histórias de jornadas fotográficas pelos rincões desta imensa Terra Brasilis,
na grandiosa vivência, em setenta e dois anos, de existência terrena. Da sua
‘implicância’ para que ficássemos sempre em sua casa, onde cedia a suíte, por
si habitada, em nossas estadas na Capital, e das ‘brigas homéricas’ se assim
não o fizéssemos.
Das
narrativas acerca do trabalho magnânimo de Lúcio Costa, Burle Marx, Athos
Bulcão e, o seu preferido, Niemeyer. Das citações e contribuições de Juscelino Kubitschek
para a grandiosidade deste país-continente, do ‘círculo de fé’ do Templo da Boa
Vontade e da incrível foto junto ao anjo nos vitrais, ângulo perfeito
descoberto por ele, da visita ao Mosteiro Budista e o retine do címbalo em
horas exatas que ele guardava de cor e salteado, da Capela a Nossa Senhora de
Fátima pérola alada, da pirâmide em homenagem a Dom Bosco, das ‘cobranças’ de
minhas crônicas para seu portal, “Os Divergentes”, do carinho e cuidado que
tinha para sugerir alguma correção em alguma imagem ou texto.
Brasília
não é mais a mesma sem vê-lo de Sol a Sol, segunda a segunda na lida
fotográfica, nenhuma coletiva terá o mesmo sabor. O Brasil não é mais o mesmo
sem as suas imagens grandiosas, quer sejam documental, política, indígena ou de
paisagens paradisíacas.
Britinho
é daqueles seres humanos tão únicos que O Criador dispensou a fôrma e só Ele
tem a fórmula, guardada a sete chaves, cujo fiel depositário é São Pedro. Em
paráfrase da querida fotógrafa Marlene Bergamo: “Brito e Dida (recém-falecido)
devem estar agora planejando como fotografar Deus e dar um furo intergaláctico.
Vocês fazer falta por aqui, meninos.” Nada traduz melhor estes sagazes rapazes
latino-americanos.
Orlando Brito: o ser humano que alimenta e encanta pardais, como São Francisco de Assis, no Planalto Central. O Poeta da Luz que escreve com suas Leicas a história deste país. O amigo incondicional que gargalhou inúmeras vezes conosco e nós com ele. Brito: sinônimo de fulgor e paz!
Carlos, não tive a sorte de conhecer o Brito pessoalmente, mas conheci-o muito pelas fotografias e reportagens ao longo dos anos. Um grande fotógrafo e, como você acaba de nos mostrar, um grande ser humano. Tenho certeza de que, esteja onde estiver, ele gostará de sua crônica. Um abraço do Mano
ResponderExcluirDiante do que li, prefiro n comentar. Não saberia fazê lo. ❤️
ResponderExcluirEm semanas diferentes já tentei elogiar e publicar comentário na crônica do Conversas do Mano.
ResponderExcluirNão consigo, recebo a informação que o Firefox não pode abrir a página, mas por favor, transmita ao autor que gostei muito do texto e gosto demais de Brasília, onde passei a minha adolescência.