Ana Nunes - aquarela |
Heraldo
Palmeira
A
cidadezinha de Cacimba Seca ficava num fim de mundo perdido, parte de uma
mesorregião onde a vizinha Serra Verde, distante oito léguas, era o centro
político e econômico. O lugarejo era tão pequeno em sua dúzia de ruas que tudo
estava praticamente ao alcance da visão.
A energia
elétrica era fornecida por um velho motor movido a diesel, o motor da luz,
ligado às seis da manhã e desligado às oito da noite de segunda a sábado. No
domingo, parava um pouco mais cedo, ao redor das sete da noite, logo depois que
a missa das seis terminava.
A
escuridão do domingo dependia do tamanho do sermão do padre. Olegário, o velho
homem de pele oleosa e cheiro de nicotina, católico fervoroso que comandava o
equipamento, dava uma margem de quinze minutos depois da bênção final para que
todos tivessem tempo de chegar em casa sob luz firme. Luz firme era uma figura
de linguagem. Pela força do hábito, ninguém mais percebia as pequenas falhas de
corrente que provocavam piscadelas o tempo todo.
Olegário
morava por detrás da igreja e o motor ficava instalado num pequeno galpão pouco
mais adiante, no fim da rua. Depois que ele apertava o botão vermelho do
painel, virava a chave para a esquerda e dava descanso à máquina, os lampiões,
candeeiros e lamparinas eram acesos nas ruelas e casas. Até hoje permanece a
dúvida se o bruxulear das chamas da luz movida a querosene não seria um
capricho insondável para combinar com as piscadelas da outra luz.
O ar
noturno tinha aquele cheiro característico do querosene Jacaré trazido em
galões de Serra Verde e revendido em garrafas na bodega da praça. O negócio era
monopólio antigo de Miudinho, o bodegueiro gorducho e sempre suado, e já tinha
até dado briga quando o mecânico Zé Onça quis entrar na jogada depois de acusar
o outro de batizar o produto. Foi o falecido padre Ademar quem negociou a paz
entre os dois, por recomendação direta do coronel Balbino, o quase dono da
região.
A
economia local era composta por pequenos comércios, agricultura e pecuária
pouco além da subsistência e serviços simples. Exceção de dois ou três “ricos”,
o alcance financeiro de todos era limitado e isso moldava costumes. Jantava-se
cedo e as noites eram curtas para economizar querosene. Depois que o motor
descansava, as pessoas ainda conversavam um pouco nas calçadas iluminadas por
alguns lampiões instalados nos postes, as casas completamente às escuras.
Ao redor
das nove da noite, instalava-se um deserto em que o silêncio só era quebrado
aqui e ali pelo vento agitando as árvores, latidos de alerta ou algazarra de
gatos tentando domar gatas no cio. Às vezes, o zurrado distante de algum jerico
ou um mugido bovino. Os galos ficavam encarregados de acordar todo mundo pouco
antes dos primeiros sinais da aurora, enquanto as galinhas poedeiras, fiofós em
brasa, se preparavam para dar início ao alarido que anunciava ovos fresquinhos.
O bordel
ficava nos cafundós daquele fim de mundo. Saindo da cidade pelo lado do açude,
era tirada de quase légua até uma grande curva, onde estava a casa simples no
meio do nada, na parte da frente de uma gleba de quatro hectares. Caminho
poeirento, o vento se espalhando pelo descampado num açoite quase constante,
deixando tudo e todos com aquele tom de terra seca. Tanto que havia um chiste
quando alguém sumia das vistas: “Fulano foi buscar terra”.
O bordel
sempre desempenhou um papel importante na vida do interior, palco e esconderijo
de amores e mistérios humanos. Aquele de Cacimba Seca era também um ponto
estratégico na beira do arremedo de estrada de chão batido, ponto de passagem
de viajantes. Muitos deles usavam o lugar como entreposto para fazer refeições
e dormir durante seus trajetos naqueles rincões. Não faltava quem preferisse a
animação, a cama limpinha e a cozinha reconhecida. Ainda tinha as meninas… Algo
bem melhor do que a pensão calorenta da cidade.
Os mais
abastados faziam o trajeto montados. Havia uma hierarquia econômica ascendente
definida pelo meio de transporte utilizado: jerico, mula e cavalo.
As
bicicletas talvez ficassem posicionadas abaixo dos cavalos, ainda mais se
carregassem alguns enfeites e acessórios – campainha, forro acolchoado na sela,
bagageiro traseiro, espelhos retrovisores, fitas plásticas coloridas penduradas
nos extremos do guidão, bolsões laterais traseiros, pneus faixa branca, bomba
de encher pneus presa no quadro, jogo de farol, lanterna traseira e dínamo para
garantir iluminação noturna.
Não raro,
carroças de tração animal passavam carregadas de mercadorias para abastecer as
feiras semanais das redondezas.
Carro por
ali era item de grande luxo e até juntava gente para ver de perto quando
aparecia algum vindo da capital. O trânsito motorizado sobre rodas ficava mesmo
por conta dos caminhões que serviam ao comércio, alguns com espaço também para
passageiros – o famoso pau de arara. E da motocicleta Triumph de um jovem
médico que se instalara em Serra Verde, e se desdobrava caridosamente para
cobrir tanto chão árido. Felizmente, havia a ajuda providencial dos
farmacêuticos locais, os quase médicos que encaravam as queixas mais simples do
dia a dia.
No bordel
havia a luz vermelha “de lei”. Instalada na cumeeira, pouco acima da fachada
principal sem letreiro, sinalizava que “era ali”. Na verdade, um lampião a
querosene protegido por uma manga de vidro pintada de esmalte vermelho. A
pintura foi obra de Gerusa. Era o farol para guiar os navegantes em busca de
perdição e outros amparos.
Cabia a
Neno a tarefa de acendê-lo todos os dias, um tiquinho de tempo antes de o Sol
liberar a escuridão para invadir o fim de tarde e tudo virar noite. Era a hora
em que todos os gatos ficavam pardos. O rapaz decidira pelo lampião, mais
adequado do que instalar uma lâmpada elétrica que se apagaria com o desligar do
motor da cidade.
Ele
montou uma trapizonga que lhe permitia, sem sair do chão, colocar e tirar todos
os dias o lampião da base de madeira e do gancho de fixação instalados na
cumeeira da casa. E a partir das oito da noite, quando o motor da luz descansava
lá longe, o bordel seguia aceso enfeitado pelas labaredas alimentadas por
querosene e outros combustíveis.
Dentre os
fregueses assíduos estava seu João do Motor, responsável pela manutenção de
diversos motores de energia da região, que nunca deixava de bater o ponto
quando passava pelo lugar. Velho amigo de Olegário, o homem mantinha a família
na capital, mas vivia na estrada porque os equipamentos das cidades eram
antigos e cumpriam grandes jornadas de funcionamento diário. Não raro, tinha de
improvisar peças, fazer arranjos engenhosos. Virou craque das gambiarras por
pura necessidade.
Neno –
alguns diziam que se chamava Nazareno –, muito além de acendedor do lampião da
cumeeira, era o faz-tudo do bordel. Fora encontrado recém-nascido e quase morto
numa beira da estrada por um viajante, na metade do caminho de Serra Verde.
Mariquinha, a proprietária, mesmo muito jovem não pensou duas vezes e pegou o
menino para criar com a ajuda das outras mulheres. O tempo passou, ele já era
um galalau e nunca se soube quem era a mãe, imagine o pai!
Habilidoso,
resolvia tudo. Desde o abastecimento da casa, cuidados de saúde – sempre
precária – das meninas, brigas enciumadas e outras broncas que pudessem
aparecer sem avisar. Figura querida, embaixador do bordel nas relações
cotidianas com o resto do mundo.
O local
era muito simples, mas extremamente limpo e organizado. Os quartos não tinham
portas, apenas cortinas feitas naqueles panos leves, estampados e baratos. Aqui
e ali, o vento criava frestas que permitiam ver sombras e movimentos do
interior sempre em penumbra, embora o rígido código de ética desses lugares
desanimasse olhares compridos para o que não era da conta de cada um.
Havia um
baixio nas cercanias, que se vestia de verde na época das chuvas. Era onde Neno
mantinha as vazantes de feijão, milho, batata e melancia para abastecer a
despensa. Tinha por lá até umas laranjeiras, limoeiros, mamoeiros e bananeiras.
Nos tempos das águas, a cantoria dos sapos se espalhava pelas noites.
No
quintal, um chiqueiro repleto de galinhas, um pequeno curral com duas vaquinhas
de leite e uma área considerável para cultivo de hortaliças, legumes e frutas.
Caçote era o vira-lata magro e ágil, caçadorzinho danado! E seu grande amigo
Mimoso, o gato preto macio, garantia ratos e pequenos insetos bem longe. Os
dois tinham trânsito livre pelos cômodos e jamais se soube de qualquer
comentário inconveniente deles a respeito do que viam e ouviam.
Os casais
começavam os amassos na sala, um ambiente que vivia sempre à meia-luz e tinha
algumas mesas e o bar. Um velho rádio servia de trilha sonora enquanto havia
energia. Para garantir bebidas geladas por mais tempo, Neno mantinha o interior
da velha geladeira protegido por uma cortina de plástico grosso transparente,
que impedia a entrada de ar quente quando a porta era aberta.
Sobre a
porta que dava acesso ao corredor dos quartos havia um aviso imponente: “Favor
não limpar o pau nas cortinas”. Nada mais justo, para isso havia em cada
aposento um conjunto de jarra e bacia de ágata, água fresca, sabonete e uma
pequena toalha, instalados num móvel de madeira feito sob medida por Nicanor, o
carpinteiro mais afamado da região – também frequentador e sempre usuário dos
serviços de Dinara. E ainda havia o banheiro coletivo, na parte final que dava
acesso ao quintal, com direito a privada, tanque e caneco de lata para os
banhos com água fria de bater queixo.
Neuza
estava aposentada das funções amorosas do salão há uns dez anos, mas continuava
trabalhando no bordel. Assumiu o comando da cozinha e era afamada nos quitutes
e nas refeições – nas festas do padroeiro São Ladislau, sua barraca no oitão da
igreja era a mais concorrida. Não era à toa que Neno pensava, no futuro, montar
um restaurante separado da casa, para atender no almoço viajantes dos paus de
arara, inclusive mulheres e crianças. Andara fazendo uns rabiscos onde a
cozinha seria ampliada para atender aos dois locais e facilitar o trabalho da
amiga.
A
cozinheira ainda cobria de afetos um único cliente, o carteiro Pontaria – todo
mundo dizia que aquilo era amor antigo e verdadeiro. O homem ganhou o apelido
porque tinha a pálpebra do olho esquerdo caída, como se estivesse fazendo mira
para atirar. Lotado em Serra Verde, ele aparecia uma vez por semana quando
vinha fazer o serviço postal em Cacimba Seca. Sempre ficava para dormir, o trabalho
lhe dava álibi perfeito para apresentar em casa.
Coronel
Balbino era o homem mais rico da região. Vivia dedicado à pecuária numa grande
fazenda nos arredores de Serra Verde, onde estava a serra que dava nome à
cidade e diziam ter minério. Controlava as principais atividades econômicas da
região, incluída a distribuição de alimentos, bebidas e todos os combustíveis.
Também era o dono das bancas de jogo e cobrava participação nos bordéis a troco
de proteção.
Costumava
pagar a conta em todos os lugares que frequentava, mesmo nos seus
estabelecimentos. Dizia que não era bom misturar as coisas. Nada mal, o
dinheiro apenas trocava de bolso na calça. Na verdade, sua palavra era lei.
Para fechar o cerco completo, era grande benemérito da Igreja em todas as
paróquias. E escolhia os delegados de polícia, que mantinha submissos e
amedrontados por seus jagunços.
Quando
vinha ao bordel era festa grande e faturamento garantido. Generoso, costumava
pagar rodadas de bebidas a quem estivesse por perto. Circulava o boato de que
ele havia desonrado Mariquinha, filha de um vaqueiro seu, quando ela tinha
apenas catorze anos. A menina engravidou tempos depois e, quando o menino
nasceu, reza a história contada em tom baixo que ele obrigou Jerônimo, o avô, a
criá-lo como filho. Foi motivo para que ela fosse expulsa de casa e caísse no
mundo e na vida.
Havia
quem dissesse que foi o coronel quem montou o bordel para ela, com a condição
de que não deitasse com nenhum homem além dele. O diabo atentou e ela
apaixonou-se por Valdevino, viajante que negociava couros. Até que Balbino
chegou de surpresa exatamente numa noite em que o rapaz estava na casa. Foi a
última vez que foi visto na região. Um dos jagunços da comitiva de viagem do
patrão andou soltando entre cachaças que até queimaram o corpo depois dos
corretivos aplicados.
O tempo
passou e até hoje o vento e a poeira sussurram pelo descampado que “colocaram
coisa” na bebida dos cabras. A própria Mariquinha teria dado a facada no
coração do velho enquanto ele dormia, tingindo seu paletó de linho branco com o
carmim do próprio sangue. E Neno fez queimada fora de época no mato do baixio
preparando a terra para plantação.
O
desaparecimento por encanto do coronel e seus jagunços? Não era a primeira vez.
Eles haviam saído de Serra Verde para mais uma jornada ao Oeste, no prumo da
fronteira com Bolívia e Paraguai, viagem de mais de mês para comprar boiada
grande. Tem quem jure que viu os quatro no destino, onde o patrão se apaixonou
por uma cabrocha novinha com cara de índia e resolveu esticar a temporada.
Ficaram todos, sabe-se lá quando voltariam.
Ainda
tinha um resto de história que dava conta que Neno era o filho de Mariquinha,
providencialmente encontrado na beira da estrada pelo viajante Valdevino. O avô
Jerônimo queria entregar o neto à filha, mas não teve coragem de chegar perto
dela e largou a criança ao relento. O povo fala demais, Ave-Maria!
O
delegado Saldanha andou investigando o sumiço dos homens só porque foi obrigado
pela lei. Seu amor por Mariquinha era muito maior do que as humilhações que
sofria do coronel Balbino. E se pudesse, ele mesmo mataria aquela jagunçada
desgraçada. Ainda por cima, tinha Neno como filho.
Era uma
investigação difícil. Que vestígios? Ninguém viu ou ouviu nada de anormal. Na
verdade, ninguém lembrava de Balbino e seus jagunços terem passado por lá antes
de seguirem para o Oeste, até porque nem era caminho. Aliás, faz tempo que não
se sabe deles, as notícias pararam de chegar. O coronelzinho até já assumiu os
negócios.
Como
assim, peixeira? Aquela que Neuza usa somente para cortar carnes na cozinha?
Quem é doido de mexer nos apetrechos de Neuza? Cinzas no meio daquele vento e
poeira? Se alguém encontrar…
Os sacos
de cal que Neno comprou na bodega de Miudinho? A casa foi toda caiada, ficou
branquinha como algodão com a nova pintura, e o delegado até convidou o
bodegueiro para uma noitada. O suarento, especialista em obras, ficou
impressionado com a qualidade do serviço.
Como
alguém pode dizer que um mato verdejante daquele no baixio tinha sido queimado?
Nem era época de queimada. Quem disse que a autoridade levou mais de seis meses
para empreender as primeiras diligências? Além disso, para que a pressa? Ora,
era quase certeza que o coronel e seus jagunços estavam aproveitando a vida na
casa de chapéu. O povo fala demais, Ave-Maria!
Padre
Diego, que viera do estrangeiro para assumir a paróquia em razão da doença do
vigário, garantiu durante um sermão da missa de domingo que havia conversado
muito com padre Ademar em seus últimos momentos de vida. A respeito do sumiço
do amigo coronel e seus cabras, o velho sacerdote foi profético: “O que sabemos
é uma gota, o que ignoramos é um oceano”.
Dias depois,
noite de Lua cheia, a roda de conversa da praça estava animada. Biró, o homem
do leite, lembrou daquela pregação do padre e disse que as palavras eram
bonitas demais, mas não tinha entendido direito. Ramiro, o sacristão ladino,
adorava repetir frases alheias com solenidade e explicou que era um pensamento
de um tal de Newton, homem sabido do estrangeiro. E que padre Ademar tinha
perdido a fala bem um mês antes da chegada de padre Diego.
No dia
seguinte, o delegado Saldanha desembarcou do pau de arara que vinha de Serra
Verde e foi direto à sacristia, onde Ramiro estava dando polimento nos cálices
e patenas da liturgia.
– Você
andou chamando padre Diego de mentiroso, Ramiro?!
– Deus me
defenda, seu delegado! Sou doido, não! Deve ter sido problema do sotaque do
padre Diego. Até porque, já dizia o poeta Antônio Mesquita, “Sotaque é o
rebolado da voz”.
– Ah,
bom! Deve ter sido isso. Esse negócio de língua solta e sotaque estrangeiro é
complicado de misturar, né não? Você bem que podia explicar isso melhor lá na
praça. A gente não precisa de mais confusão do que já tem.
– Sim,
senhor! – o sacristão estava apavorado.
O
delegado ajustou o coldre deixando o revolvão à mostra e foi saindo em busca da
praça, enquanto Ramiro andou apressado na direção do banheiro. Ainda na calçada
da igreja, o homem da lei acendeu um cigarro de palha e deu uma tragada
profunda como quem busca um bálsamo de paciência.
Saldanha
desceu a ladeirinha cumprimentando as pessoas com cordialidade e parou na
bodega de Miudinho. Achou de bom tom verificar se a pintura do bordel
continuava como peça de propaganda da qualidade da cal. Também gostava da vista
da praça. Colocou o chapéu panamá de abas largas que ganhara do coronel em cima
do balcão e tomou um refresco para espantar o calor.
Chamou
Punhetinha, o menino de recados do comércio, e pediu que fosse buscar Ventania,
o alazão da polícia que ficava guardado aos cuidados do amigo Olegário. Daqui a
pouco, lá se vem o menino todo fagueiro, montado no cavalão bonito, o rifle
enfiado no coldre ao lado da sela. Era a autoridade em pessoa!
Saldanha
deu umas moedas com um sorriso maroto no canto da boca, enquanto o menino
batia-lhe continência. Montou e seguiu na direção do bordel. Cavalgou em ritmo
rápido pois a tarde já ia começar a cair e estava bonito para chover. Dobrou a
curva da chegada a tempo de avistar Neno já tratando de colocar a luz vermelha
na cumeeira.
– Eita
menino que eu quero bem! – murmurou numa distância segura para não ser ouvido.
O
delegado resolvera pernoitar. Não precisava de álibi em casa quando estava em
diligência. Tomou banho, jantou com gosto, bebeu umas cervejas geladas e foi
dormir nos braços de Mariquinha. Ficar tinha sido mais prudente do que se
arriscar naquelas estradas noite adentro.
Era noite de segunda-feira, dia de pouco movimento. Os poucos clientes tinham ido embora e Neno fechou o bordel, armando sua rede na sala, onde gostava de dormir. As meninas se recolheram aos aposentos. A chuva batia nas telhas e a temperatura ficou muito agradável. Ventania estava protegido dentro da parte coberta do pequeno curral dos fundos da propriedade. Caçote se acomodou no chão, do lado que o delegado ocupava na cama. Mimoso esticou-se na prateleira do móvel, embaixo da bacia de lavar pau, quase tocando os pés de Mariquinha. O revolvão repousava sob o travesseiro, o rifle debaixo do colchão. Todos dormiram o sono dos justos até os galos anunciarem um novo dia.
Beleza de história, Heraldo! Pior é que pode muito bem ter acontecido, com dizia o velho Fandango, personagem do Érico, nesse mundo velho sem porteira...
ResponderExcluirEstamos esperando pelo resto das histórias das casas de luz vermelha. Que sejam todas tão boas como essa.
Um abraço do Mano
Caro Mano,
ExcluirSempre muito bom estar aqui no Conversas. Sim, a luz vermelha está em todos os lugares, com mais e menos opulência, revelando histórias e personagens fantásticas. A missão de escrever mais está em curso.