Carlos Monteiro
O Rio de Janeiro
continua lindo"...
Ôooo, Seu Gilberto,
me perdoe, mas tenho que discordar de você meu querido Imortal...
O Rio de Janeiro
tem todas as prerrogativas, todos os encantos naturais e de seu povo que exaltava,
isso mesmo exaltava felicidade. No entanto essa cidade está sofrendo e sofrida,
anda triste e cabisbaixa. Acho que perdeu o tom, pois literalmente perdeu Tom
Jobim. Ele já não senta à sombra da sumaúma que hoje leva seu
nome, ele já não anda pela praia até o Leblon, já não há mais Plataforma e Seu
Alberico e, como diria Drummond, "...já não há...", aliás, Gilberto, andam teimando em roubar seus
óculos, do Drummond, o poeta já não tem mais sossego, vive aos saltos no banco
da praia que, em fotografia imortalizada por Rogério Reis se transformou em
imagem, eternizada em bronze, de suas formas e, pois é, as vezes cansado com
tantas selfies... Poetas também cansam.
Mesmo sabendo que
há inocentes no Leblon ou que “no mar nesta estava escrita uma cidade”.
Pois é, Gilberto,
essa cidade que você mandou abraços já não é mais aquela. Já não tem mais
aquele elan, diria Claude Amaral Peixoto. Queria, eu poder passear com a
minha bike..., "tá" bom, o Ancelmo vai dizer que bike é
o cacete, eu sei, tudo bem, com meu camelo, minha magrela, pelas ciclovias da cidade,
mas, anda meio complicado.
Pela orla até vai,
vejo a paisagem, as meninas coloridas pelo sol, que encantavam Vininha, vejo
meus amanheceres, meus pôr dos sóis, dou aquela paradinha para o mate gelado,
para o Biscoito Globo, mas só chego até o fim do Leblon.
Queria ir até São
Conrado, pois essa era ideia da ciclovia da Niemeyer, queria pegar minhas ondas
no canto da praia, naquele cantinho democrático, onde todos os surfistas são
bem-vindos, onde a galera da Rocinha e os bacanas da Zona Sul se confraternizam
à espera da rainha, a onda perfeita para dropar, para o tubo, para se
exibirem, para compartilharem a felicidade.
Mas Gilberto, agora
não dá, a ciclovia, batizada de Tim Maia, caiu, desmoronou, desabou, tombou,
desintegrou, matou seres humanos. A ciclovia foi derrubada por uma ressaca, não
uma vez, mas algumas vezes. Fiquei imaginando o Tim, deve ter se revirado no
túmulo, deve estar rogando pragas, por ter seu nome atrelado a esta obra até
hoje e o fará por toda eternidade. Não tiro sua razão, afinal o que era belo, o
que era nobre, o que era para ser do Leme ao Pontal, foi interrompido por umas
ressacas, logo umas ressacas que nunca derrubaram o Tim que adorava ver o “azul
da cor do mar”.
Pois é, Seu
Gilberto, a coisa aqui anda feia, já cantava o Francisco, agora, também, anda
difícil.
Sabe Gilberto, ando,
ultimamente, meio triste, queria tanto ver “essa gente bronzeada mostrar seu
valor...”, queria sair às ruas com minha magrela e circular toda cidade, queria
poder sair lá da Penha, do Meier, de Madureira ou, quem sabe, de Ramos e
pedalar até o Pontal e vice-versa.
Sabe Gilberto,
queria muito voltar a ser feliz, queria muito dizer que é FelizCidade,
queria muito receber novamente ‘aquele abraço’.
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