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09/08/2012

O Curiosity - um smartphone em Marte?

Na noite de 5 para 6 de agosto o jipinho Curiosity (que tem o nome oficial de Mars Science Laboratory) pousou com sucesso em Marte, depois de uma das manobras mais complexas já tentadas na exploração espacial. O alvo escolhido para ser atingido depois de uma viagem de mais de quinhentos e sessenta milhões de quilômetros foi uma área de quatro por vinte quilômetros, no fundo da cratera Gale. Pesando quase uma tonelada, o jipinho começou a descida dentro de uma cápsula que atingiu a atmosfera de Marte a mais de vinte e um mil quilômetros por hora. A atmosfera marciana, cento e sessenta vezes mais tênue do que a da Terra, causa atrito capaz de destruir uma espaçonave que a atinja no ângulo errado de entrada, mas por outro lado não é densa o suficiente para depois permitir uma descida de paraquedas suave para uma massa como a do jipinho, mesmo se utilizasse airbags como foi feito com as sondas anteriores, bem menores. O processo de descida, então, teve que ser feito utilizando uma sucessão de técnicas diferentes, algumas das quais nunca  tentadas antes, e com a complicação adicional de que não podia ser controlado aqui da Terra, porque a distância daqui a Marte no momento da chegada era tão grande que os sinais de rádio levavam quatorze minutos, viajando à velocidade da luz, para atravessar de um planeta para outro. A nave tinha sete minutos para passar da entrada na atmosfera, a vinte e um mil quilômetros por hora, até a parada do jipinho na superfície. Entrando na atmosfera, a nave seria freada pelo atrito durante pouco mais de quatro minutos, e enquanto isso seria dirigida por pequenos foguetes direcionais para manter a orientação certa; quando a velocidade caísse para perto de mil e quatrocentos quilômetros por hora, dispararia um paraquedas que em mais dois minutos a frearia até uma velocidade de queda de duzentos e noventa quilômetros por hora. Mas se a nave atingisse o chão nessa velocidade o jipinho seria destruído. Então nesse momento, a pouco mais de um quilômetro e meio de altitude, ela deveria soltar o jipinho, carregado por uma estrutura (que a NASA chamou de "Guindaste do Céu") dotada de motores foguete que seriam acionados primeiro para se desviar lateralmente, saindo de baixo do paraquedas, e depois para frear a queda e descer até perto do solo. Mas a estrutura não poderia pousar com os foguetes, porque a fumaça, a poeira e os detritos que eles levantariam do solo marciano danificaria os equipamentos do jipinho. Então, ainda no ar, o guindaste teria que descer o jipinho na ponta de oito metros de cabos, colocá-lo no solo, soltar os cabos e subir de novo com os foguetes para ir cair bem longe, onde o seu impacto não pudesse prejudicar a sonda. O processo, como vocês podem ver, era mesmo muito complexo, com uma enorme quantidade de coisas que poderiam dar errado, e teria que ser todo conduzido de modo automatizado e controlado pela própria nave, porque a distância impedia qualquer possibilidade de intervenção. Por isso a NASA chamou estes sete minutos de "Os Sete Minutos de Terror".

                                             Diagrama do processo de descida (imagem da NASA) 
Com toda essa a complexidade e essas coisas que nunca haviam sido tentadas, tudo funcionou perfeitamente, e o jipinho, com propulsão nuclear, está agora terminando um ciclo de testes para começar sua exploração em busca de sinais de vida em Marte, que deve durar vinte e três meses. As primeiras imagens de suas câmeras já chegaram à Terra.
Ao lado de tudo o que essa exploração pode trazer de conhecimento, um dos aspectos mais importantes, talvez, do sucesso dessa missão, e do qual ninguém falou por aqui, é que a NASA agora tem uma tecnologia capaz de enviar cargas de uma tonelada e colocá-las suavemente em Marte numa área predefinida. Isso quer dizer que ela pode, agora, mandar quantidades de suprimentos, água, alimentos, oxigênio, e estocá-los num local determinado da superfície de Marte, preparando o caminho para a expedição tripulada cujo planejamento tem sido sucessivamente adiado pelos cortes de verbas do orçamento americano.  Quem sabe?
Bom, mas afinal porque o título deste post é "um smartphone em Marte"?
É que o jipinho, com toda a sua tecnologia, suas 17 câmeras, seus lasers de exploração, suas perfuratrizes e seus instrumentos de coleta e análise de material, é controlado por um computador com um processador de 200 megahertz de velocidade, com 256 megabytes de RAM e dois gigabytes de armazenamento flash - alguma coisa como metade da capacidade de processamento de um bom smartphone atual :)
Para quem quiser saber mais, o site oficial da missão na NASA, com muita coisa interessante, está aqui:
http://www.nasa.gov/mission_pages/msl/index.html





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