Fotografia WBJ |
Ana Nunes
De cara o senhor
Editor censurou o título. Tinha alguma coisa a ver com mofo. Será ele alérgico?
Não entendo bem.
Aliás, sábio quem disse “Só sei que nada sei”. Mas fico curiosa.
Apesar de
estar trabalhando muito nos meus afazeres, pintei três quadros 0,80 x 1,00 mais
um pequeno, aquarelas muitas, um grande caderno de folhas pretas quase todo
desenhado em pastel e lápis de cor, duas meninas primaveras para minha Helena,
e outras aquarelas que já nem me lembro, estou sentindo um cheiro de mofo.
Parece que tudo está ficando velho, afoitamente, silenciosamente, sem dar tempo
de perceber.
Os lençóis estão perdendo o elástico que vai ficando frouxo, preguiçoso.
O calendário quase ultrapassado, de repente em Setembro. Nem me dei conta.
Rasguei e joguei no lixo. Já estou errando os dias mesmo!
Os cabelos
brancos crescem como mato em época de chuva. Eu mesma estou cortando, cada pedaço
de um tamanho, em mechas surpreendentes! Na parte de trás da cabeça não sei bem
como vai o procedimento. Talvez mais tamanhos que pedaços. Ah! Se minha cabeleireira me
visse... Rogava praga! Lourdinha querida, eu volto um dia.
Até minha
Flor de Maio depois de uma bela florada de mais de vinte botões deu a louca.
Despertou mais quatro flores! Em Setembro! Tudo bem, vai que chega a Primavera.
Penso que enlouqueceram, esses novos botões,
no frio intenso e repentino de umas semanas atrás. Acharam que era o
inverno chegando de novo.
Pobres meninas! Ganhei eu que espero por um ano inteiro aguando, fofando a
terra e conversando. Ainda bem, ninguém vai, tipo “falar com flores, certo
perdeste o senso”. Tudo muito estranho.
Ainda bem que não sou só eu que estou perdendo o tempo, as plantas também.
Eu, sem dúvida,
sem a Água rejuvenescedora da piscina fria, cloro à parte, e o sol para me dar
cor, me dei a cor do de estar virando fantasma. Branquinha, branquinha!
Preciso comprar umas camisetas roxo batata doce, verde floresta sem fogo, abóbora
sem sementes. Preciso de cor. Whisky , vinho, cerveja e outros que bom não dão
cores. Nem Netflix. Sem dúvida que dão alegria, mas não cores. E a pele sem cor também fica preguiçosa, como
o elástico dos lençóis. Tenho medo de quando sair de novo não vão me dar nem
setenta e um, nem sessenta e oito, vão direto para os oitenta. Bem, troco a máscara
por uma burca. Juro!
Envelheceram
também as palavras vencidas do novo novo, do velho novo, do neo moderno que
seja. Isso é coisa de artista. Não de gente enlutada e lúcida nas dores
esquecidas em flores murchas nos cemitérios, nas covas rasas, no indigente do
nosso povo morrido.
Ainda
encontramos na mídia as falas animadas das receitas (nem temos arroz direito, vale
macarrão a carreteiro?), as lives de música ou de falas, cansei de todas.
Cansei de tudo.
Respiro.
Ainda estou viva!
Estamos vivas !! e envelhecer faz parte
ResponderExcluirSou sempre a primeira a comentar porque gosto
muito dos seus textos
E parece que vc esqueceu mas os dedos são a medida e o espelho para cortar os cabelos
Sua prima é craque no cortar os cabelos
A gente fica independente do salão !!
Nossos pequenos jardins dão esperança de dias melhores e nos encantam com a exuberância
Vc nos deixa ver um pouquinho da sua essência e eu gosto destes pensamentos do dia a dia
Parecem corriqueiros mas nos motivam sempre
Obrigada por compartilhar conosco
Meu abraço à distância 😘
Querida PrimaLéa,
ExcluirPrimeirona de sempre, meu termômetro!
Estamos vivas, velhinhas e sofridas. Mas também com um coração desse tamanhão para caber as tristezas da vida.
A minha essência é meio soturna como dizia uma amiga da Belas Artes, a Clarice lembra?, mas também tem lugar para a dança e a alegria, essas coisas corriqueiras...
Quero compartilhar sempre com você!
Beijo
Minha idola de cabelo cor de rosa e às vezes roxo: velhos estamos todos, mas o mofo pode ficar pra quem gosta. Outro dia estavamos brincando de salão de beleza: Norminha cortando o meu cabelo ( por sinal ficou ótimo) e Raphael e Ravi pintando as minhas unhas (menos ótimas). Quando quiser espantar o mofo podemos marcar. Depois da quarentena.
ResponderExcluirQuerida Tita,
ExcluirAh! Como já disse antes, tão bom te ver aqui!
E depois da quarentena certamente espantaremos o mofo num super encontro.
Seu salão de beleza me deixou cheia de inveja. O Pedro não deixa os meninos nem me abraçarem nem subirem aqui. Ficamos todos na garagem curtindo aquela saudade de coração e de corpo.
Seu comentário me deixou feliz!
Gratidão.
Beijo
Que bela fala! Pensamento e sentimento indo à frente do reparar.Se as flores estão perdidas e enganadas pelo correr do tempo acontecido, imagine nós perdidas num tempo não vivido! Me encontrei na sua fala, naveguei nos pensamentos porque também ando não gostando de nada. De tão guardada fui buscar a vitamina na farmácia. Nem o Sol conseguia me tirar do descanso pra esquentar os meus gostos. Também cansei! Continue compartilhando conosco.Bjs Ana.
ResponderExcluirReginaldo querida,
ExcluirQue surpresa mais boa!!!
Estamos perdidas mesmo mas,de vez em quando, entra assim um raio de sol como o seu comentário e nos achamos achadas de novo.
Volte sempre.
Um beijo carinhoso.
Mas aqui tbem te achei minha cunhã querida!
ResponderExcluirQuerendo participar, vontade de ver vc, vontade de conversar!
Não de tomar uma dose, pq dela nem sei gostar, mas uma cerveja gelada, e na sua área ia fumar!
Saudade de reunir, e tentar adivinhar que cores serão as mechas que irá pintar!
Da gente poder sorrir e tantas coisas lembrar!
E programar pro futuro qtas flores irá desenhar, seja pra nossa Helena, ou pra Vicente poder olhar,
A cunhã banana tanta coisa pra te contar!
Acho que vou me embrulhar em um saco de plástico e aí chegar!
Esperar nada pandemia passar!
A gente coloca a máscara!
E vamos nos encontrar!
Se ai ficar difícil, na tia Paula pode rolar!
Leila cunhada querida,
ExcluirAmiga de tempos alegres e tempos tristes, de mortes e de nascimentos.
Vou preparar meu saco azul de lixo e as luvinhas combinando e vamos nos ver e abraçar e matar a saudade! Toma tento!
Adorei seu comentário.
Beijo.
Prezada Autora Sra. ANA NUNES,
ResponderExcluirNeste seu "Estranhezas de flores e de falas", ilustrada por linda foto de vosso Estúdio de Autoria do seu Esposo, nosso Editor/Moderador Sr. WILSON BAPTISTA JUNIOR, lemos as suas impressões desses seis meses de Isolamento Social que a Pandemia Covid-19 nos impôs.
Ainda bem que a senhora é Artista Plástica, e excelente Escritora, (como eu gostaria de escrever tão bem como a Sra. ANA NUNES), e uma produção neste período de três Quadros de 0,80 m X 1.00 m,( um da sua Irmã ), mais um menor, Aquarelas muitas, um grande caderno de folhas pretas quase todo desenhado em pastel e lápis de cor, duas meninas primaveras para sua HELENA, e outras Aquarelas, além de várias Crônicas/Poesias, algumas publicadas aqui, todas de ótima qualidade, não é pouca coisa.
Mesmo sendo leigo em Artes Plásticas, sabemos apreciar o Belo, e o seu Trabalho é muito Belo.
Fiquei com vergonha de inquirir o que seriam esses quadros "Meninas Primaveras para minha HELENA" que suponho ser sua Filha ou Neta? Perdoe-me, mas a curiosidade me venceu.
Mesmo com toda essa produção Artística, mais alguns trabalhos de casa, a senhora diz que parece que o tempo passado em Isolamento Social foi bem maior do que é, produzindo até "mofo". Mas achei tão ensolarado e iluminado seu Estúdio que esse "mofo" só pode ser metafórico.
Apesar dos "milagres" das Comunicações atuais, a "preocupação" de evitar contágio do Covid-19, mais até de contagiar os outros, tira a naturalidade de nossas vidas. Mas já passamos do "pico", dentro de três meses teremos Vacinas anti-Covid-19, e então tudo volta ao normal.
Parabéns, escreva mais, e receba Nossas Saudações.
Querido Flávio,
ExcluirNão se avexe de perguntar pela Helena, minha sobrinha neta. Ela é linda! Nasceu em plena primavera e ainda não tem um ano. A mãe me pediu um desenho florido. Fiz duas aquarelas pequenas com todas as flores que sei desenhar para colorir a vida dela, joaninhas para a sorte e borboletas para viajar nas asas. Tem lagarta nos caules. Realismo que me persegue!
Minha toca é mesmo ensolarada e na árvore que vem invadindo a janela vejo macaquinhos listados, pássaro Alma de Gato de rabo comprido, e Bemtevis.
Imito os guinchos dos macaquinhos e eles ficam me procurando. Apareceram de novo agora, sumidos na época da febre amarela. Até parece que moro no paraíso! Pura ilusão. A rua é movimentada, barulhenta, escoamento de bairro e de butecos mineiríssimos. O que era bom quando podíamos sair para um chope gelado. Bom também que filhos e irmã reabastecem sempre nosso estoque de cervejas e vinho. Também fazem parte da minha sobrevivência.
Gratíssima.
Ate mais.
Aprecio as reflexões da Ana porque possibilitam que também pensemos a respeito da sua interpretação, e modo como encara o cotidiano.
ResponderExcluirTalvez seja a rotina o mal maior para quem possui larga experiência de vida, e merece estar em casa descansando, depois de muito tempo dando duro no trabalho e lutando por um lugar ao sol.
A perda da atividade, do objetivo, de metas a serem alcançadas, muitas vezes não encontram os mesmos correspondentes em afazeres domésticos, por mais que esses sejam variados, agradáveis, lúdicos, e ajudam a passar o tempo.
Mais uma vez Aninha me surpreendeu sobre como ficar em casa, aproveitando o tempo com tarefas que lhes alimentam a existência, a sua vida rica em emoções, sensações, sentimentos oferecidos e recebidos.
Então ela não só é pródiga nessas definições, nessas suas imaginações, nessas suas alusões entre a realidade e ficção, como apresenta para nós, os homens, um pouco da mente brilhante feminina, a sua sensibilidade que jamais conheceremos, a sua visão sobre o dia a dia que nunca entenderemos, a sua capacidade de sobrepujar a rotina, o cotidiano, que homem algum consegue vencer!
Pintar, plantar, escrever, arrumar, lavar, passar, cozinhar, cuidar do marido, ouvir música, ver TV, ler jornais e revistas, para a Aninha ela poderia fazer mais, ter mais atividades, sair de casa, nadar, desnecessariamente cuidar da aparência pois uma mulher bonita – permissão Mano, para eu elogiar a tua esposa como se tratando de uma bela mulher!
No entanto, Aninha, minha amiga, o teu mundo é tão vasto, tão ilimitado, tão grandioso, tão colorido - pois as cores são por nós acrescentadas de acordo como aceitamos o nosso viver, a nossa casa, funções, filhos, cônjuges, parentes, amigos e conhecidos -, que se tornam vivas porque não temos os movimentos interrompidos, nossos olhos enxergam a beleza do mundo e do que nos rodeia, nossos braços acalentam quem precisa de carinho, nossa fala acalma o preocupado, nosso olfato pressente algo ruim que poderemos realizar, e nosso tato sente a pele de quem tanto amamos e desejamos.
Vou mais adiante nas minhas ridículas elucubrações, na vã tentativa de enaltecer a tua postagem em tela:
Não há como guardarmos a dor do mundo;
nossos lamentos não vão ajudar;
a hora, Ana, é de aproveitarmos o tempo que ainda nos resta, e da melhor forma possível;
não temos o direito de deixar preso o nosso amor pelos que amamos;
muito menos de olhar pela janela e concluir que o tempo passou, enquanto temos outro tanto pela frente;
muitas flores que murcharam darão lugar a novas, maravilhosas e coloridas, feitas pela Natureza;
podemos e devemos nos remodelar, nos adaptarmos ao desconhecido, às surpresas, devidamente preparados e bem acompanhados;
e agradecer aos deuses que podemos pensar, refletir, imaginar, criar, e vencer os obstáculos que nos deixam tristes, acabrunhados, desanimados, pelo fato que somos as cores de nós mesmos, o brilho que damos ao que somos, a aparência como nos apresentamos mas, principalmente, minha querida amiga, pelo fato que somos agentes de felicidade!
O resto é o resto, Aninha, dado este poder que temos e tão simplório de exercitar, de concretizar, de realizar, e de trazer para junto de nós nossos amores, que ornamentarão as nossas vidas em formas indescritíveis de beleza e de significado:
AMAR!
Magnífico texto, Aninha.
Digno da tua perspicácia, sabedoria, capacidade extraordinária de transcreveres teus pensamentos, e de nos fazeres pensar seriamente após lermos a tua mensagem, o teu recado nas entrelinhas de uma crônica interessante, que retrata com fidelidade a rotina, o cotidiano, e como podemos nos desvencilhar da mesmice, da repetição, de momentos onde não rimos, mas que temos como substituir as nostalgias por alegrias, a tristeza por realizações, o desânimo porque derrotado pela felicidade que o amor nos propicia e que somos seu gerador, seu propulsor!
Forte, carinhoso e fraterno abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Te cuida, por favor, e do Mano.
Querido Chicão, meu enorme e grande amigo FBendl.
ExcluirGrande no tamanho, enorme de coração, exagerado nos elogios. Ainda vou me acostumar com isso. Confesso, gosto que gosto! Gosto também que você seja assim, não poderia ser de outro modo. E ainda capricha no vozeirão que sai da caixa.
O meu mundo não é tão vasto nem ilimitado como você pensa. Mas é a minha sobrevivência. É lá que encontro o equilíbrio, o caminho do meio como diz e aconselha o Antonio. Apesar de que aproveito também dos acostamentos, saio pelas direitas, subo nas pedras, no mato, até encontrar uma cerca que me barre. Aprendi com a minha mãe que fez isso com a Rural verde e branca (a mesma em que meu pai me levou de noiva para casar) num passeio de férias no litoral. E lå ficamos os sete na beira do caminho. Culpa do meu pai que mandou que ela ultrapassasse pela direita!
Coisas de DNA!
Gratidão por sermos nós.
Atē mais.
Onde brotam as flores
ResponderExcluirNão está sendo fácil...por várias questões, não mesmo...
Normalmente entendo que o dia a dia, que nem montanha russa com seus altos e baixos, tem repetido mais baixos que altos...isso não e bom... aí dá pra se fazer usando umas das soluções costumeiras: não “penso” sobre o assunto, aí não o “alimento” ficamos cá os dois a “olhar um pro outro” como em cadeiras de sala de espera, no máximo com um soslaio ao redor, ou a olhar revistas, quase sempre todas velhas, ha ver quem se levanta ou é chamado primeiro... duelo surreal... rs...
O destino se mete na história, e me “chama”. Ótimo, levanto o olhar pra este texto no fim de mais uma dolorida semana... coisa boa, engraçada...daquele umbilical tipo de humor entre a gente...
Minha mãe não aguentou e foi cortar seu cabelo. Estava crescido, mais na parte de trás, ao ponto dela começar a “brigar” com grampos e algumas amarrações para contê-lo. A cada dia e mês nesta “prisão” o via crescer e trazer à tona uma memória esquecida. Ha mais de 30 anos que não o via tão grande em minha mãe...
Silenciosamente achava bom... mas não teve jeito. Nesta manhã de quinta ela, mascarada, foi à rua, e lá deixou suas madeixas no salão. À sombra, assim, voltaram as imagens que de novo continuarão a desbotar, seja em fotos velhas, ou como naquela cor preta dela que há décadas foi tomada pelo branco, cuja herança cultivo às minhas próprias madeixas...
Ironicamente, por algum motivo, numa similaridade resolvi a noite cortar os meus cabelos. Sim, uma ação semelhante com minha mãe, mas por ser eu a cortar, outra semelhança com minha... “mãe”... descoberta agora, numa publicação lida no dia seguinte.
Outro dia estava a pensar se estava a produzir artisticamente. O texto me alegrou ao relatar seus afazeres. Calor bom no coração. Diz ela que cansou de lives, ah “mãe” como adoro “ouvir” isso, pois cansei delas mesmo antes de existirem. Nem sei porque, em mais de 180 dias pode se contar nos dedos das mãos as que acompanhei... Netflix pior ainda a contabilidade... até eu mesmo me assusto desta condição... mas não me importa muito, mesmo nas descidas da “montanha russa”...
Pra quer falar tanto, se como todos, o que quero é abraçar e bebericar junto... obrigado “soturna”, pois outra similaridade no seu jardim, já que floriu aqui no peito o aconchego do teu texto.
Rebellious Son
P.S. Gracias ao Mano por cuidar deste jardim
Rebellious Son, querido,
ExcluirVocê ē um carinha especial.
E gato, assim com madeixas prateadas.
E esse sorriso macio e largo, de rosto inteiro!
Seu comentário inesperado , doce surpresa, aconchegou no meu peito e não me abandonou pelo dia inteiro. Nem vai.
Se existe distância, a gente quase não se dá conta. Porque para nós existem similaridades e coincidências e carinho sempre, lá"onde brotam as flores"!
Não falo muito nas mídias mas adoro te ver por lá. É lá que vejo seu sorriso. Quem diria, tão bravinho na Escola....
Sua mãe cortou suas lembranças mais antigas quando saiu mascarada. Mas essas você já tem guardadas. A imagem de hoje ē para curtir agora porque nós, as mães, acabamos um dia. E essa lembrança é a que vai ficar.
Também quero muito abraçar e bebericar junto.
Um abraço para a Luci. Cuide dela!
Um beijo da "mãe" soturna.