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02/09/2020

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Ana Nunes

Preciso arranjar mais sonhos
Para encher o meu varal vazio.
Sonhos musicados como notas
Presas nas pautas de alumínio.
Letras sussurradas por um anjo
Soltas como bolhas de sabão
Efêmeras como certos sonhos são
Mas presas com pregadores de madeira.
Ou como estrelas brilhantes
Surpreendidas no calor da noite.
Tudo no varal
Que é comprido e vazio.
Preciso de sonhos pendurados como panos
Vermelhos , azuis ou brancos
Desbotados ou recém tecidos
Descorados de tanto lavar
Cheirando a sol, água e sabão.
Esgarçados nas costuras
Com buracos nas casas do botão
Ou pedaços coloridos de mim.
Podem ser de segunda mão
Que esses também têm cor e cheiro
Não importa se já foram sonhados
Porque pendurados assim esvoaçados
Parecem novos intocados
Prontos para se sonhar.


18 comentários:

  1. Léa Mello Silva02/09/2020, 17:13

    Encantada ! Tanta delicadeza ! Só vc para escrever assim
    Com tanta beleza !
    E a aquarela ! Amei
    Por isto preciso sempre de vc ! Como amiga, prima, e principalmente uma poeta !
    Agradeço por trazer aqui um pedaço do varal encantado
    Beijos

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    1. Querida Léa,
      É tão gostoso gostar assim uma da outra! Afaga!
      A aquarela é do nosso tempo de pinturas. Que deixou saudade!
      E o Chicão exagerado incorrigível completa sempre. Aliás, todos completam.
      Os comentários valem outro post postado por vocês.
      E por causa disso, agora sei que é um fato, varal pendurado de roupas mexe com a
      gente. E eu bobinha pensava que era só comigo...
      Um abraço com cheirinho de café com rosca!

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  2. SAbe, Ana, pra mim roupa no varal é sinonimo de lar.

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    1. Querida Tita,
      Gosto tanto de te ver por aqui!
      Redime, como se precisasse, uma vida inteira.
      Varal é mesmo sinônimo de casa, cuidado e carinho. Até mesmo no Cerrado bravo catando fibras para fazer papel encontrei esse aconchego. Era uma casinha branca perdida no vermelho da terra com um varal de roupas penduradas. Surpreendente e lindo!
      Um beijo.

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  3. Francisco Bendl03/09/2020, 10:46

    Para observadores, o varal de roupas diz claramente como está e como vive uma família.
    Tá bem, ricos não sabem o que significa estender a roupa para secar ou colocá-la para quarar, e depois tirar o sabão que enrijeceu.
    Mas, a maioria das mulheres, tem plena consciência sobre o rito de lavar roupas:
    Tábua de lavar, tanque, quarador, prendedor, varal, sabão em barra, escova, balde, e muito muque, muita força nas mãos para lavar bem a roupa do marido e filhos, lençóis e toalhas da casa.

    Há muito significado quando as roupas estão estendidas para secar:
    Não se trata apenas dos esforços despendidos para a ação de limpar, mas lavar e passar a roupa é como se a vida fosse também limpa e ajustada a cada dia que a mulher se destina a botar no tanque as peças de cada membro familiar e do lar, de modo que voltem limpas para vestir seus donos ou serem usadas de novo no dia a dia de uma casa.

    Há uma poesia nessa tarefa árdua;
    Há um ritual, que somente as mulheres entendem;
    Há uma obrigação, que o gênero feminino parece que nasce com o dispositivo para essa função que, no entanto, é feito com disciplina e dias certos, determinação e capricho.

    Logo, a poesia postada pela Aninha, somente uma mulher poderia escrevê-la, compô-la, e mencionar seus pensamentos quando a cada peça que leva ao varal tem a sua história, a sua importância, o seu significado.

    Indiscutivelmente, ela pensa no filho que veste aquela calça; a cueca que é do outro; a camisa do marido, que não pode ser manchada; a sua roupa íntima, que deve ser escondida no meio das demais, para que os vizinhos não saibam o tipo e o modelo que usa.

    Resgatar dessa função extenuante, quase que diária, improrrogável, chova ou faça sol, requer muito carinho, muito afeto, muita consideração pelos seus amados e, logicamente, muito amor.

    Os prendedores que seguram cada vestimenta é como se sustentassem a pessoa que dela se lembra quando a coloca no varal.
    Então, com jeito, com carinho, a roupa é pendurada, enquanto a mulher olha aquela peça com saudade, aguardando o retorno dos barulhentos, dos bagunceiros, das máquinas de sujeiras!

    Bela, sensível, lírica, delicada ... a poesia que a Aninha nos brindou.

    Pois, essa senhora, que tem seus afazeres domésticos, a cada trabalho seu nos encanta com a sua inteligência, seus pensamentos muito além dos nossos, por ter o dom de extrair do cotidiano o que ele tem de útil, de bonito, de atraente.

    Aninha tem a magia de transformar um varal de roupas em uma poesia meiga, suave, onde ela imagina situações que a sua mente prodigiosa exige que a coloque em um papel, e entregue para um público sedento de qualidade, de essência, de colocações, que nos fazem admirar as mulheres não só pelas suas atividades incontáveis, mas pela grandiosidade de suas almas, de seus corações, de seus sentimentos incomparáveis, e do seu amor absoluto pelo ser humano.

    Obrigado, Aninha, pelo momento terno e encantador enquanto eu lia a tua poesia, tentando encontrar as palavras que eu pudesse qualificá-la de acordo com a sua beleza, ternura e delicadeza.

    Um grande e fraterno abraço.
    Muita saúde e paz, extensivo aos teus amados.
    Te cuida, menina!

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    1. Querido amigão Francisco Bendl,
      Chamando assim parece sério demais não é? Mas é que acho seu nome bonito.
      Pois é Chicão, meu amigo exagerado incorrigível, a gente é assim sem se conhecer! Imagine se...
      Seu comentário é outro post. E como sempre, você glorificando as mulheres.
      Ou você é um eterno apaixonado ou um sem vergonha de carteirinha!
      Obrigada de coração.
      Seu comentário é um post ao meu.
      Seu carinho é reconfortante.
      E seu elogios me tornam criança outra vez. Pulando de alegria e corando de vergonha!
      Um abraço.
      Até mais.

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    2. Francisco Bendl05/09/2020, 05:27

      Morto por ter cão, morto por não tê-lo!

      Depois da qualificação que a Ana postou no seu comentário, em resposta às minhas palavras verdadeiras quanto ao seu talento para a poesia, " ...Ou você é um eterno apaixonado ou um sem vergonha de carteirinha!" ... fiquei preocupado se, lá pelas tantas, a Ana não percebe honestidade no meu reconhecimento às suas habilidades culturais.

      Penso daqui, penso de lá, cheguei à seguinte conclusão:
      Meus próximos textos serão assinados com SANGUE, e devidamente autenticado por um laboratório, de modo que não seja confundido com tinta vermelha!

      Este, de agora, depois que li a maneira como a poetisa me considera, o sangue que jorra do meu coração, já dilacerado por males que o deixaram frágil, inicia esse processo de eu provar que não sou um sem vergonha, muito menos de carteirinha ou qualquer outra identificação.

      Mesmo assim, apesar dessa forma de tratamento a mim concedida, sinto-me honrado e feliz de ver o meu nome sendo mencionado pela talentosa, inteligente e sensível escritora e poetisa.

      Outro abraço, Ana, respeitoso, evidentemente.



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    3. Flávio José Bortolotto05/09/2020, 11:41

      Prezado Colega Sr. FRANCISCO BENDL,

      No "Conversas do Mano", podemos conversar. Me permita dar interpretação as palavras da Poetisa Sra. ANA NUNES, ao senhor, mas que valem para todos nós Homens: "Nossas emoções vão de eternos apaixonados pela Beleza Feminina, até a sem-vergonhice (malandragem) de carteirinha".
      Que a Profa. D. MARLI não saiba, e que fique isso só entre nós dois, mas quando se vai para a frente da casa, para ver o desfile da Bonitona que trabalha na Fábrica, de manhã, de meio-dia e de tardinha, e não acontece isso só com o senhor, a Poetisa sabe o que diz.
      Eu tenho um medo que me pélo do Poder sedutor da Beleza FISICA Feminina, que já seduziu muitos mais sábios e fortes que nós. Mas o senhor é mais arriscão do que eu, e as vezes chega perto da chapa do fogão vermelhona.
      Enfim a Poetisa Sra. ANA NUNES quis dizer que " Não somos Santos". Mas ela sabe também que o Eterno nos dá força para superar o terrível Poder da Beleza FISICA Feminina, Até porque a verdadeira BELEZA é a Integral.

      Que o Eterno ilumine toda Equipe Médica e que logo o senhor esteja com "Nova turbina de hélice variável acoplada nesse poderoso Motor V-12, para continuar escrevendo tão bem como sempre, e sendo Feliz junto com Vossa ilustre Família".

      Abração.

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    4. Bravo, Flávio Bortolotto!

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    5. E vc, senhor Francisco Bendl, nada de sangue, "faça amor não faça guerra",

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    6. Francisco Bendl05/09/2020, 13:18

      Mestre Bortolotto,

      A Ana sabe brincar com as palavras.
      E conhece o gênero masculino com o poder que as mulheres têm sobre nós.

      Claro que ela estava sendo espirituosa, mas eu quis retrucá-la, apelando justamente para a parte frágil desse ser humano superior, que enalteço e reverencio diuturnamente, a mulher, e que seria o sentimento nobre que ela tem sobre a humanidade.

      Imagina, assinar os comentários com sangue!

      Imaginei que a Ana jamais concordaria com essa medida, ou seja, ou acredita nos meus elogios porque verdadeiros e legítimos ou exige que eu autentique os meus textos com o meu sangue!

      Agora, mestre, se elas sabem que não somos santos;
      se elas sabem que sucumbimos à sedução da mulher;
      se elas têm pleno conhecimento do poder que exercem sobre o homem, convenhamos, mas a mulherada nos manipula, brinca conosco, e nessa sua aparente emotividade, ela ri de nós internamente!

      Certamente quando a Ana escreveu a frase que motivou eu postar outro comentário, ela sabia que eu iria responder, e se divertiu antecipadamente com a situação!
      Mais:
      que haveria um cavalheiro que daria uma outra interpretação às suas palavras e que, diretamente, concordaria com ela, me alertando que eu agradecesse à poetisa de ter pegado leve comigo!!!!

      Mestre, as mulheres são sábias em demasia.
      Se tu tens um medo que te pelas do poder de sedução delas, eu tenho pavor do poder que elas têm de ler as nossas mentes, e de se anteciparem quanto às nossas intenções e planos!

      Em solidariedade ao nosso amigo, Mano, eu e tu temos de avisá-lo que ele se mantenha sempre comportado, que não olhe para o lado, que seja um homem que não tenha olhos para a beleza feminina, caso contrário, pobre dele!

      A Ana vai torturá-lo com tamanha crueldade e sadismo, que ele ainda terá de beijar-lhe os pés porque pensará que a sua esposa lhe dá carinho e atenção.
      Na verdade, ela o está punindo e se divertindo com a nossa mente tão limitada, quanto o desconhecimento que temos de suas superioridades a respeito da nossa espécie.

      Esquecemos, mestre Bortolotto, que são elas que nos botam nesse mundo, logo, somos manipulados VERGONHOSAMENTE por elas, e não nos damos conta dessa capacidade de persuasão!

      Valeu, meu caro, essa nossa troca de informações sobre as mulheres; que de nada adiantam também, pelo fato que somos dependentes delas; não sabemos viver sem elas; não encontramos sentido à vida sem tê-las ao nosso lado, por mais que nos chamem de sem-vergonha!

      Abração, mestre Bortolotto.
      Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
      Te cuida, meu!
      (Ah, que o Mano fique atento! Ele tem ao seu lado uma mulher poderosa, mágica, que mais o conhece do que ele sabe de si mesmo. Pobre amigo e parceiro, tsc, tsc, tsc)!


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  4. Léa Mello Silva03/09/2020, 11:36

    Ana com sua poesia e o Francisco completando muito bem nos seus textos
    Gosto deste encontro com todos vcs nos brindando com sabedoria e encanto
    Vamos ajudar a encher este varal com nossos sonhos !!
    Ajudar a criar uma realidade mais suave

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  5. 1) Parabéns Ana, já falei parecido... vc deve investir mais nessa área poética, escreva sempre.

    2) Sucesso.

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    1. Querido Antonio,
      Gratidão por suas palavras.
      Escrevo sim mas está difícil sair algo que valha a pena. São tempos amargurados!
      Se escrevo insolado e leve soa terrivelmente injusto. Se escrevo sombrio destila amargor. Como equilibrar?
      Penso que até o "caminho do meio" está um pouco contaminado.
      Um abraço.
      Em tempo: ando pensando muito, e não sei porque ( talvez por estar trabalhando muito enchendo o confinamento com desenhos e tintas), nos bordados da Heloisa.
      Ela não gostaria de me mostrar alguns? Ficaria contente de ver um bordado feito por uma gravadora! Devem ser lindos! Também um abraço para ela.
      Atē mais.

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  6. Heraldo Palmeira03/09/2020, 16:30

    Ana,
    O varal é um símbolo forte na minha vida. Quando criança, ainda no interior, acostumei a vista a uma espécie de espetáculo das lavadeiras fazendo seu trabalho à beira de açudes. Levavam na cabeça trouxas de roupas acondicionadas em lençóis, que lhes emprestava um molejo característico no andar pela busca de equilíbrio. E os lajeiros eram seus tanques. Levavam sabão em barras e porretes para "bater a roupa" depois de ensaboada. Outras pedras iam servindo de quaradouro. E tudo aquilo se dava quase sempre sob sol escaldante, pelo que as mulheres usavam chapelões de palha.

    Aquele espetáculo do trabalho pesado atingia o ápice quando as lavadeiras começavam a entoar seus cantos, ora litúrgicos ora profanos. Eu começava a entender certos maneirismos da danada da música e ficava abestalhado com os vocais que elas abriam em quase todas a peças daquele repertório. Eram pérolas que estão por aí, esquecidas ou semidesaparecidas - você não faz ideia do quanto eu gostaria de produzir álbuns com esse cancioneiro popular brasileiro, contando com o auxílio luxuoso de grandes músicos.

    Adulto, acostumei a viver sozinho por longas temporadas e, obviamente, passei a ser um grande operador de máquinas de lavar roupas. E mantive a proximidade com aquela arte das lavadeiras, mesmo eu tendo talento suficiente apenas para apertar botões e colocar sabão em pó e amaciante nos respectivos recipientes embutidos na geringonça eletrônica.

    Parte final, o varal cheio de cores, o aroma da limpeza, "pedaços coloridos de mim" pacientemente pendurados à espera do vento da beira de açude que não chega na cidade grande. Fazendo um mea-culpa por ter amontoado tantos prédios que cortam o vento, o homem inventou a tal da secadora, um ícone da impaciência urbanoide.

    Talvez por estarmos vivendo tempos de símbolos tão etéreos, o varal cheio sempre me traz a sensação de haver limpado tudo para recomeçar. É como se aquelas cores todas formasse a aquarela dos próximos sonhos. Até mais!

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    1. Heraldo querido,
      Você é tão poético e delicado nas coisas do cotidiano! À vezes, para não dizer quase sempre, inibe,assim, essa escrevinhadora de pé quebrado,sabia?
      Suas lavadeiras do passado merecem um post de destaque.
      E suas mãos nos botões da máquina são sinais dos tempos. "Ainda bem que nessa casa tem Brastemp", Samsung,LG, Consul ou Eletrolux! Porque seria bem difícil lavar nossos pecados guardados nas fibras do linho, do algodão, do lençol ou do guardanapo na beira de um riacho.
      E lavar "é mesmo recomeçar" . Nos coloridos do dia, na serenidade dos sonhos.
      Que dias melhores estejam por vir.
      Obrigada.
      Até outros mais.

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  7. Flávio José Bortolotto04/09/2020, 13:49

    Prezado Autora Sra. ANA NUNES,

    Sua Poesia "Anúncio Urgente", solicitando inspiração das Musas para arranjar mais sonhos para preencher seu varal de roupas meio vazio, é pura modéstia.

    E realmente, um varal cheio de roupas tremulando ao vento, cada peça representando um sonho fugaz, sinalizam que tem um Lar ali, e que a Dina da Casa, se esmera na Limpeza e na Higiene.
    Também uma fumaça saindo do chaminé nos diz que Alguém ali dentro está fazendo um aromático café de Minas.

    Felizes são os Artistas, que escrevem pintam Quadros, criam Cerâmicas, fazem Obras de Arte que se perpetuam no Tempo.

    Parabéns junto com nossas Saudações.

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  8. Querido Flávio,
    Assim é, um varal com roupas, uma chaminé soltando fumaça, uma xícara fumegante, uma panela borbulhante no fogo, tudo lembra calor humano, amizade, cuidados.
    Mas nada como uma mesa rodeada de gente, mais gente do que lugar, uma sopa dividida e um pão partilhado. Pode ser um aniversário, um encontro inesperado de amigos. Pode ser até a volta de um enterro cheio de dores onde um ampara o outro como pessoas mutiladas que são.
    Feliz sou eu por tantos comentários gostosos de ler.
    Obrigada.
    Até mais.

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