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Imagem The Mirror UK |
Francisco
Bendl
Sabemos
que as mulheres têm qualidades intrínsecas, próprias, exclusivas.
Apaixonamo-nos
por elas também por essas condições que lhes são inatas, principalmente a
respeito da capacidade de perdão que elas possuem, elevando a mulher a
patamares em níveis de santidade!
Em
consequência, o homem abusa de sua paciência, provoca, atiça, cutuca a onça com
vara curta, às vezes usando um pequeno graveto.
Pois,
então, a fera se mostra no seu esplendor, e o que tiver ao seu alcance joga no
imprudente, ou seja, no marido, namorado, noivo, amante, companheiro, quem
estiver ao seu lado ou próximo de sua pontaria infalível!
Certamente
os programas existentes em armas de longo alcance, de modo que acertem o alvo
necessário, as mulheres foram as suas inventoras. Os homens plagiaram a
invenção, e ficaram quietos.
Uma
relação entre homem e mulher é caracterizada de várias formas:
Arrulhos,
juras de amor, apelidos os mais divertidos – quiquinha, preta, moio, ximbica,
bombom, minha flor, adorada, minha velha, tesouro, céu da minha vida, minha
estrela, minha isso e minha aquilo ...
No
entanto, assim como as doces palavras são pronunciadas, as mulheres utilizam
outro expediente para nos avisar que estão insatisfeitas ou não gostaram ou
foram ofendidas ou maltratadas ou desvalorizadas ou se sentiram traídas:
O que
tiverem nas mãos atiram no pobre coitado!
Tenho cinquenta
anos de casado.
A minha
mulher possui várias maneiras de me punir quando escorrego, ultrapassei algum
limite, neguei-me a fazer o que me pediu, deixei de colaborar com ela em
qualquer situação:
A sua
primeira medida é me deixar sem almoço.
Não que
ela deixe de cozinhar, mas não me serve a refeição;
A outra é
ficar me atazanando sem parar, conversando sobre o episódio que a desgostou. O
pior é que ela traz assuntos de trinta, quarenta anos passados, para darem mais
ênfase e razão ao que está afirmando a meu respeito, e aumentando as suas
lamentações e queixas por horas a fio.
Mas, o
tempo que estamos juntos que, além de nos unir para sempre e com muito amor
“ainda”, também tem sido o responsável pela minha esposa ter desenvolvido meios
mais práticos e contundentes para me ferir fisicamente ou demonstrar o seu
descontentamento imediato por algo que não fiz ou disse sem maiores cuidados.
A Marli
inventou o chinelo com GPS!
Isso
mesmo, aquele que ela joga em mim e não erra a pontaria jamais!
Na
primeira vez que ela me acertou, a distância era de cinco a seis metros, um
espaço largo e que me pegou no ombro, levei na brincadeira porque achei que ela
teve sorte.
Dias
depois, eu ainda pensando se ele teria a mesma pontaria, testei se o petardo
anterior fora mesmo ocasional.
Cometi,
deliberadamente, uma das maiores ofensas que um homem pode fazer às mulheres:
- Tu não
gostarias de ir a um salão de be ...
Não tive
tempo de proferir o resto da frase.
O chinelo
me acertou em cheio, deixando a marca estampada na minha testa ... “ianas”.
E
confirmei que a sua pontaria era mesmo especial quando, imediatamente, após a
chinelada que levei no quengo, gritei:
- Tu
precisas ir ao salão ...
Mesmo eu
tendo me esquivado do projétil em forma de chinelo, ele fez uma pequena curva e
me acertou com força no peito!
Sabem
aquela falta que o jogador de futebol acerta o gol porque a bola foi em curva?
Apesar de
o chinelo não ter a propriedade aerodinâmica de uma esfera, o que a Marli tem
foi instalado um GPS que ela programa mentalmente e, ainda por cima, me acerta
onde eu estiver!
Na
segunda-feira passada, eu já esquecido desse detalhe de o chinelo fazer curvas,
parábolas e corrigir o rumo em voo, cometi um deslize meio involuntário.
O Mano me
pergunta via whatsapp como estavam meus
dois filhos. O primeiro porque fizera uma cirurgia cardíaca, colocando três
pontes de safena e uma mamária, e o segundo contaminado pelo Covid19.
Comentei
que a recuperação do primogênito está lenta, que eu o achava meio desanimado,
que, a meu ver, ele estava precisando do colo da mãe.
Mas, de
modo a explicar que a Marli fosse visitá-lo, escrevi que a minha mulher, mãe
dele, ir... o chinelo me acerta o nariz passando entre mim e o computador com
precisão cirúrgica.
- Chico,
que história é essa que sou a mãe “dele”! Por acaso tens outras mulheres que
são mães de mais filhos teus?!
Não tive
tempo sequer de esboçar um sorriso, quanto mais explicar a minha “explicação”
ao Mano, pois o segundo chinelo me acerta as costas!
Faz dois
dias que tento um diálogo com a cônjuge, pelo menos, porém ela se mostra
irredutível.
Hoje,
sabe-se lá se não queria me testar, ela se dirige a mim e exclama:
- Chico,
me leva até o centro, preciso comprar uns novelos de lã.
- Pega um
táxi, tô com preguiça de sair de ca...
Foi
tardia a minha lembrança ainda dolorida do chinelo eletrônico. Tentei ainda me
esquivar, me abaixando para o tiro passar por cima, em vão.
O maldito
chinelo me acertou na orelha, e me trazendo o seguinte aviso:
- Chicão,
olha, se eu fosse tu eu a levava porque ela inventou o chinelo com GPS e,
agora, com BUMERANGUE.
Acenei
com a fronha branca do travesseiro que eu queria paz, apesar da ameaça que
outro chinelo “smart” estaria a caminho.
Na volta
das compras que fizera no centro, eu dirigindo o carro com ela ao meu lado
contente porque fui “convencido” devidamente a levá-la, olhei de soslaio que a
Marli fazia cálculos e mais cálculos numa folha de papel de embrulho.
Escrevia,
apagava, escrevia, corrigia, escrevia mais ora menos ...
- Marli,
que rabiscos são esses?
- Tu não
vais querer saber!
- Por que
não?
- Quero
desenvolver o mesmo sistema em algumas panelas que tenho.
Convidei-a
para jantar, prometi flores, refiz as minhas juras de amor eterno, que eu
amava, e que ela não precisava se incomodar em criar essa panela e, se ela
quisesse, eu contrataria uma cozinheira!
Percebi
um sorriso discreto no canto da sua boca.
Não sei
se era de satisfação pelo prometido ou pela cena sensacional que imaginou,
acertando a panela em mim.
Pensando
nessa possibilidade real, meio que tastaviei, ou seja, quase que perdi o rumo
de casa andando sem direção por uns minutos, querendo eu calcular o que me
aconteceria se a panela estivesse com alimento dentro, e me acertasse alguma
parte do corpo.
Portanto,
deixo um recado aos homens:
Evitem de
todas as maneiras que elas comprem chinelos, diante da facilidade de se
adicionar GPS, e suas habilidades incomparáveis na pontaria, razão pela qual as
mulheres não vão às guerras como combatentes, já notaram?
Elas são
enfermeiras, burocratas, secretárias, telefonistas, médicas, cozinheiras,
motoristas... mas soldadas não.
A
resposta é simples:
Como
sabem que são exímias em acertar o alvo não haveria vencidos ou vencedores.
Era a
guerra ser declarada e encerrada no mesmo dia.
A cena da
trégua:
Uma
mulher mostrando o chinelo para outra, e esta fazendo o mesmo para aquela ou
ambas acenando com panelas numa das mãos e chinelo na outra, mostrando que
estão muito bem armadas e preparadas!