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16/04/2020

Teimosia

fotografia WBJ


Wilson Baptista Junior
Uma semana e pouco atrás li um artigo do Reinaldo José Lopes, onde ele fala da responsabilidade, dentro dessa luta de vida ou morte que todos estamos travando, cada um à sua maneira, contra esse vírus mortal que atacou o mundo inteiro, de quem sabe falar de ciência tentar explicar para os que nos rodeiam a importância de acreditar na ciência para procurar o caminho de saída.
Não vou entrar aqui na fala dele, nem no assunto específico dela, porque ele entende disso mais do que eu. O que me fez lembrar agora dessa fala foi que ele comparou no seu texto a coragem, a energia e a tenacidade necessárias agora com o discurso imortal que Shakespeare pôs na boca do rei Henrique V da Inglaterra, quando falou aos seus soldados na noite do dia de São Crispiniano, ou São Crispim, antes de lançar-se à frente deles a uma batalha contra um exército francês quase três vezes mais numeroso e muito bem armado. O discurso é uma das maiores lições de motivação que já foram escritas, enfatiza claramente que a luta será desigual mas que eles podem vencer, que não adianta pensar nos soldados que não têm, e depois de irmanar os seus homens, plebeus e cavaleiros, como “nós os felizes poucos, um bando de irmãos” termina com estes versos:
“And gentlemen in England now abed
Shall think themselves accurs’d for not being here,
And hold their manhood cheap, when somebody speaks
Who fought with us in Saint Crispin’s day”.
Numa tradução livre:
“E cavalheiros que agora dormem na Inglaterra
Sentir-se-ão amaldiçoados por não terem estado aqui,
E sua masculinidade diminuída ao ouvir falar alguém
Que lutou conosco no dia de São Crispim.”
Ninguém sabe de verdade o que o rei Henrique disse ou não aos seus soldados na véspera da batalha, mas gosto de imaginar que foi alguma coisa parecida com as palavras que Shakespeare pôs depois em sua boca, porque no dia seguinte ele saiu para o combate à frente dos seus homens e juntos venceram a batalha que parecia impossível de vencer.
Dias depois, na minha caminhada diária que agora só pode ser feita em volta do lado de dentro dos muros do prédio onde moramos e estamos confinados numa quarentena que não sabemos quanto vai durar, vi essa plantinha corajosa e persistente que se obstina em ignorar os obstáculos das pedras, do tijolo e do concreto no seu caminho para o sol.
Nesses dias de medo e incerteza em que estamos enfrentando um inimigo invisível e sorrateiro que nos sitiou a todos, não importa onde estejamos, olhando para essas folhinhas verdes que representam a vitória do impulso da vida contra os obstáculos que pareciam invencíveis, respirei fundo e continuei a caminhada com passos mais firmes pensando que na verdade as coisas não mudaram tanto, nada jamais garantiu o segundo seguinte das nossas vidas, e o único passaporte que sempre tivemos para a frente é a coragem e a disposição de continuar lutando, como o velho cavalheiro de algum lugar da Mancha, de lança pendurada na parede e adarga antiga, contra os moinhos de vento, reais e imaginários, em nossa volta ou na nossa alma.
E saber que, conosco ou sem, as plantinhas renascerão.
 
fotografia WBJ


11 comentários:

  1. Esperança sempre, Mano. Por mais difícil que pareça, sempre teremos esperança.

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    1. Wilson Baptista Junior21/04/2020, 15:01

      Tita, sim, sempre teremos. Um beijo.

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  2. 1)Bom texto Wilson, boa reflexão

    2) Estamos todos no mesmo barco...

    3) Remar e tocar para a frente.

    4) Abraços !

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    1. Wilson Baptista Junior21/04/2020, 15:01

      Mestre Antônio, remar sem esmorecer.
      Nessa corrente não podemos simplesmente nos deixar ir.
      Um abraço.

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  3. Léa Mello Silva18/04/2020, 06:44

    A força e a coragem desta pequena planta nós faz pensar na esperança apesar de todos os fatores adversos
    Uma foto a nos ensinar a lutar
    A beleza da vida !!! que renasce
    Um grande abraço

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    1. Wilson Baptista Junior21/04/2020, 15:01

      Léa, que saibamos renascer como ela.
      Um abraço do Mano

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  4. Francisco Bendl18/04/2020, 16:00

    Um forte abraço, Mano.

    Saúde, extensiva aos teus amados.
    Te cuida!

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    1. Wilson Baptista Junior21/04/2020, 15:02

      Chicão, sabes bem que precisamos não parar de lutar.
      Um abraço do Mano

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  5. Flávio José Bortolotto19/04/2020, 19:46

    Prezado Autor Sr. WILSON BAPTISTA JUNIOR,

    Nesta época de emergência de Saúde, quando para evitar o colapso do Sistema de Saúde-SUS e Privado, nos vemos na contingência de Isolamento Horizontal dos Trabalhadores Indispensáveis ( +- 60%), até pelo menos o Pico da Propagação ( +- 10 Maio), lemos com Esperança sua Crônica "Teimosia", exemplificada na foto da plantinha crescendo no meio do concreto.

    Muito sugestivo a comparação do Rei Inglês HENRY V contra os Franceses em Agincourt, este também em emergência pois enfrentava um Exército +- 3 vezes mais numeroso e composto em maioria de bem treinada Cavalaria Pesada,cavalos e Homens com lanças bem protegidos. Na noite véspera do Combate no dia de São CRISPIN, chovia muito mas o Rei HENRY V, excelente General mesmo assim visitou todos os seus Batalhões para animá-los com o excelente Discurso que o grande WILLIAM SHAKESPEARE pôs em sua boca, mas que não deve ter sido muito diferente.
    Soube HENRY V que na Turquia se obteve bons resultados ao se enfrentar Cavalaria, protegendo os Arqueiros com eriçado estaqueamento de pontas afinadas.
    Escolheu HENRY V o local da batalha, entrincheirou-se em colinas próximas da passagem do centro, e protegeu muito bem seus quadrados de Arqueiros com boa muralha de estacas pontudas eriçadas frente ao inimigo. Com isso impedia o inimigo em superioridade numérica de atacar em toda a frente, ainda mais no meio do barro, ao mesmo tempo e seus arqueiros bem protegidos fizeram excelente trabalho, quando não acertavam no Cavaleiro, acertavam no cavalo e o Cavaleiro caído com todo o peso da armadura, etc, no meio do lodaçal era um Homem já meio morto. Aliás na frente da batalha muitos Cavaleiros Franceses morreram esmagados pelo peso dos que caíram por cima, cavalos e Cavaleiros. A vitória Inglesa que começou a Guerra dos 100 Anos, foi completa.
    Nós também na nossa Guerra a pandemia de Covid-19 temos que escolher bem o terreno "reforçando nosso Sistema imuno-Defensivo" mel, alho, Vitamina C, Banho de sol, Orações, etc, proteger nossos Arqueiros com eriçada estacada pontuda, " Remédios que diminuem a Carga Viral que deram resultado até agora no Mundo Todo", e nossos Arqueiros de Ataque "será a Vacina Covid-19)" que deve vir até o fim do Ano.

    Que o Anjo do Senhor nos proteja a TODOS.
    Abração.







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    1. Wilson Baptista Junior21/04/2020, 15:02


      Caro Bortolotto,
      Sim, que nem a chuva nem o medo nem a superioridade numérica do inimigo amorteçam nossa coragem e nossos esforços.
      Usemos pois todas as nossas armas contemos com a proteção do alto para nos manter juntos.
      Um abraço do Mano

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  6. Flávio José Bortolotto20/04/2020, 00:15

    Corrigindo: Isolamento Horizontal dos trabalhadores Dispensáveis ( +- 60%).
    Muito Obrigado.

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