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26/05/2020

Inimaginável

Deus Pai - pintura de Pier Francisco Mola


Francisco Bendl
Esta madrugada não consegui dormir uma hora que fosse.
Coração se bobeando, dores no peito, falta de ar... Pensei que teria chegado a minha hora, depois de setenta anos vivendo nesse planeta belíssimo.
Então me dei conta que chegara o momento da retrospectiva da minha existência, o famoso balanço da vida, e se eu teria mais débito do que crédito ou, ao contrário, chance totalmente nula de ser apurado superávit.
Pensei nos meus pais, que me trouxeram para este mundo;
Me lembrei do casamento e do amor que sinto pela esposa há cinquenta anos de casados, que registramos;
Agradeci muito a Deus os filhos que tive com a minha mulher;
Fiquei pensando de que forma eu poderia dizer a Deus sobre a felicidade dos cinco netos que meus filhos me deram como presente, os mais valiosos que recebi;
Foi com muito carinho que vieram à mente meus familiares que já morreram, e meditar sobre os que estão vivos, e que tanto eu os prezo e os quero bem;
Reconheci os amigos que tive, pessoas espetaculares;
Mas, tentei encontrar uma forma de como eu me explicaria a Ele, se nos encontrarmos, a respeito de eu me desculpar pelos erros que cometi, minhas omissões, falhas, maldades, más intenções, rompantes, arrogância, prepotência, audácia, ofensas...
Como seria o meu encontro com Deus?
O que eu diria ao Todo Poderoso?
Qual seria a minha primeira pergunta ao Criador?
- Deus, tudo bem?
Ridículo!
Quem sabe eu não iniciaria perguntando sobre a salvação?
Eis um tema importante, sem dúvida, ainda mais para quem está precisando acreditar que será salvo!
Mas, para que esse diálogo acontecesse, eu teria de dizer que sempre tive fé, que acreditei na Sua existência, que jamais fui um ateu.
E eu não poderia evitar de perguntar, lá pelas tantas, por que pessoas boas passam por momentos ruins ou por que Ele as leva mais cedo?
Muito menos eu poderia deixar de questioná-Lo sobre o sofrimento da espécie humana?!
Pensando comigo mesmo diante da quantidade de perguntas que eu Lhe dirigiria, seria necessária outra vida só para isso ou, então, que esta minha existência fosse prorrogada, o que me deixaria feliz, evidentemente.
No entanto, Deus não é Deus pelo fato que aceitamos que exista;
Deus não é Deus porque temos fé;
Deus não é Deus, em face de imaginarmos que a salvação seja a meta a ser alcançada.
Muito menos eu poderia pensar quem seria Deus, pois a minha perspectiva de analisar a vida seria infinitamente diferente da perspectiva divina:
A minha ideia de Deus estaria restrita à insignificância da minha mente, enquanto a Dele abrange o Universo, quem construiu o tempo, quem delimitou o espaço, quem deixou trilhões de galáxias, estrelas e planetas, suspensos no ar.
De que forma eu poderia estabelecer uma conversa que motivasse Deus a me ouvir?!
Claro que não descobri fórmula alguma ou elaborei plano de aproximação com o Criador.
O meu receio maior foi de ser chamado de idiota e imbecil, se Ele aceitar se dignar a conversar comigo!
Sabem aquela história de cada macaco no seu galho ou eu aceitar, antes de mais nada, resignar-me à minha própria insignificância?
Bem que eu gostaria de perguntar sobre a morte:
Dói?
A gente volta prá cá depois?
Para onde vamos, se é que vamos, é bom ou será a mesma passagem que na Terra?
Altos e baixos, tristezas e alegrias, realizações e frustrações...
Deus não veio  me ver, como tem sido seu hábito nos últimos milhares de anos.
Mas não deixou de entrar em contato comigo através da minha imaginação, da minha experiência de vida, do que constatei e vivi nessas sete décadas de existo.
Primeiro:
A salvação não é meta, mas um processo de se chegar lá. E deve ser praticado diariamente, e não quando estamos perto de nossa despedida do mundo e dos humanos.
Segundo:
Morrer todos vamos, claro, mas a questão é saber como e quando!?
Terceiro:
O Livre-arbítrio é verdadeiro, sim. Mas confundimos como se fosse apenas uma questão de escolha, porém é maior que nós mesmos, pois acreditar em Deus não é ter fé, mas decorrente desse Livre-arbítrio.
Convenhamos, seria simplório demais – entendo os porquês de alguns colegas me rotularem de simplório, agora – concluir que a fé é crença, ledo engano.
A fé é motivo, pois é o Livre-arbítrio que determina se devo ou não acreditar em Deus. Logo, o ateu pode encontrar a salvação mesmo descrendo de Sua existência, mas seria o mesmo que construir uma casa sem alicerce.
Ela pode ser edificada, mas tomara que os ventos não sejam fortes porque até o telhado vai embora!
O sono, que estava difícil antes, começou a dar sinais que eu deveria ir dormir.
As ideias, a imaginação, o pensar, já não eram tão rápidos. O cansaço se mostrava um obstáculo intransponível nessa conversa fictícia entre mim e o Senhor.
Entretanto, eu queria muito encontrar uma maneira de terminarmos essa “conversa”, esse diálogo, essas conclusões que eu havia obtido, pelo simples fato de eu ter dialogado com Deus, mas como seria?
Quem sou eu para pensar no que Deus pensa ou como raciocina??!!
Antes que meus olhos se fechassem pelo esforço despendido nessa conversa indescritível pela emoção, imaginei o seguinte:
Tive o último suspiro.
Em frações de segundos, eu estava diante da presença de Deus.
Humilhado pelos pecados, pelas falhas, omissões, pelo fracasso de não ter sido ninguém, que eu poderia ser um marido melhor, pai mais presente, avô exemplar, amigo sincero, familiar que amasse os seus com mais vigor, Deus me daria um forte abraço.
Com a sua voz poderosa como se fosse um trovão, diria com um largo sorriso:
- Chicão! Entra na minha casa, vem, e te senta ao meu lado. Eu te perdoo!


22/05/2020

Maria de todos os Nomes

Nossa Senhora do Bom Parto - Florianópolis (imagem Wikimedia)


Antonio Rocha
Na segunda-feira, 18/05/20, em plena quarentena, comecei a semana arrumando os meus livros, papéis e escritos espalhados nas prateleiras da estante e no quarto onde escrevo com o computador.
Então encontrei uma anotação de 18/12/19, Dia de Nossa Senhora do Bom Parto, onde rabisquei a oração:
“Por favor, auxilie minha filha e netinha que vai nascer em 2020”
Ao longo dos meses, vez por outra eu lembrava do pedido acima e reforçava mentalmente a petição. O primeiro parto de minha filha, foi cesariana. Mas desta vez, ela gostaria que fosse natural, ou como se diz, normal. Entreguei o assunto à Nossa Senhora, Ela saberia o melhor caminho.
Minha segunda netinha nasceu domingo, 17/05/20 de parto normal, e tudo na mais perfeita saúde e maravilhosidade.
Então, na terça-feira, 19/05/20, continuando a arrumação, ao encontrar o pedido anotado  escrevi: 
“Funcionou! Gratidão”!
Aprendi a escrever os meus pedidos, orações e afins nas margens dos livros e cadernos outros. E depois anotar o agradecimento e a data.
Alguém poderá dizer que trata-se de mera coincidência, penso que não, levo tais assuntos muito a sério.
Na véspera, sábado, assim que a bolsa estourou e minha filha ia no carro com o marido para o hospital, me enviou mensagem:
“Estou indo para o hospital. Mentalizem”.
Era um recado para eu e Heloisa mentalizarmos e conversarmos com os nossos amigos espirituais para que tudo corresse bem. E assim foi, a neném nasceu na madrugada de domingo.
Gosto muito de Nossa Senhora, a Maria mãe de Jesus, tenho muitas histórias verdadeiras, depoimentos, testemunhos para contar, vou fazendo aos poucos.
Outro alguém, uma outra pessoa poderá questionar:
“Um budista devoto de Nossa Senhora ? ! “
Eu explico que, milenarmente, há no Budismo o culto à uma Divindade Feminina chamada de Kwan Yin, conhecida como a “Mãe de todos os Budas”. É a Energia Feminina da iluminação/santidade (esta coisa difícil de ser comentada, mas é melhor vivenciar).
Kwan Yin tem vários nomes: no Japão chama-se Kanon e aparece de 33 formas e nomes diferentes. No Vietnã é Guan Nin, em tibetano é Tara e aparece em 21 formas e nomes parecidos. Kwan Yin é o nome em chinês ou mandarim, como queiram. Admirada como a Deusa Budista da Misericórdia.
Alguns budólogos e teólogos cristãos afirmam que a Kwan Yin Budista e Nossa Senhora do Cristianismo constituem a mesma Energia, um Espírito Feminino mui elevado, para falarmos em uma linguagem espiritualista. E eu assim creio, assim aceito e assim reverencio-as.
Há um texto canônico budista chamado Sutra Lótus, onde um capitulo nos fala  sobre Kwan Yin:
“Em cada canto do mundo Ela manifesta suas incontáveis formas”.
Formas, nomes, geografias, latitudes, longitudes, Ela aparece de “N” formas para nos ajudar, nós mortais, seres humanos, nós imortais sob o aspecto da reencarnação, que os budistas chamam de renascimento.
Quem procurar no Google encontrará em muitos países da Ásia, imagens, estátuas bem altas de Kwan Yin que, na verdade incentivam o turismo local e internacional, convenhamos uma poderosa indústria que traz recursos os mais diversos para estas nações, atrai também os peregrinos.
E, em 19/05/20, minha filha voltou para casa com a netinha. Recebi ainda há pouco uma foto que me provocou uma das maiores felicidades já sentidas. A neta mais velha de cinco anos, com um sorriso maravilhoso, sentada no sofá, com a irmãzinha no colo.
Momento inesquecível de alegria e eu só posso agradecer à Nossa Senhora do Bom Parto, à querida Kwan Yin que são a mesma abençoada Energia, que eu possa mais adiante, pessoalmente abraça-los e beija-los o quarteto: filha, genro e as duas meninas !
Agradeço ao Blog do Mano, pela oportunidade em compartilhar estas experiências!


15/05/2020

Palavras ao Meio

Aquarela Ana Nunes


Ana Nunes

Outono ao meio
Meio frio
Meio feio.
Coração ao meio
Metade em casa
Metade em terra
Meio escura
Meio fria.
Meio na mesa
Meio pão
Cortado em quatro
Olhos meio abertos
Barrigas bem vazias.
Meio homem
Meio gente
Rua meio vazia
Meio pedra
Meio mato
Meio flor
Meio espinho
Meio vento
Meio medo.
Meio sol
Meio sombra
Meio esperança
Meio receio.
Meio dia
Loja meio aberta
Gaveta meio vazia
Meio abandono
Meio sem dono.
Meias palavras
Meio sentido
Meio lágrima
Meio riso
Meia volta
Meia rota.
Meia noite
Meia lua.

10/05/2020

Minha querida Nhá Chica

Nhá Chica (acervo Antonio Rocha)


Antonio Rocha
Todo dia 26 eu comemoro e reverencio a Bem Aventurada Nhá Chica (Francisca de Paula de Jesus), foi em 26 de abril de 1810 que ela foi batizada. Ninguém sabe a data precisa de seu nascimento. Só sabemos que nasceu no distrito de Santo Antonio do Rio das Mortes em São João Del Rey, MG e depois foi para Baependi, MG, onde ficou até o final de seus dias fazendo milagres, caridade, orientando as pessoas, aconselhando aqueles que lhe procuravam.
Guardo esta imagem acima como uma relíquia, vejo-a diariamente nos meus pertences. Era filha e neta de escravos, andava sempre com um lenço branco na cabeça e um guarda chuva, pois no verão, serve de para-sol.
Devota de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, ela pedia a Maria que ajudasse as pessoas e, coincidência ou não, o Espírito Iluminado de Nossa Senhora ajudava sempre.
Uma das coisas que me chamou a atenção nela é que algumas divindades budistas, também aparecem com um guarda-chuva, aberto ou fechado. E eu percebi que Nhá Chica é uma grande Bodhisattva (espécie de anjo do budismo), com todo o respeito aos católicos. Torço para o Vaticano reconhece-la como santa, atualmente é Beata, mas eu já recebi inúmeras Graças e sou cada vez mais admirador devoto dela.
Na cidade de Baependi, bem antes do Vaticano decretar a beatitude de Nhá Chica visitei sua antiga casa humilde que virou museu, a igrejinha que ela mandou construir e seu túmulo onde contemplamos o local onde o seu abençoado corpo descansa.
Ali, tive uma experiência espiritual marcante, para o resto da minha vida. Gratidão é pouco, mas eu não tenho outras palavras para agradecer ao tanto que ela me ajuda.
Por isso, pessoalmente, reverencio-a todo dia 26 de cada mês. O Vaticano marcou sua data litúrgica em 14 de junho, um dia após Santo Antonio de Lisboa, meu amigão e xará.
Vamos então pedir e desde já agradecer o apoio e a ajuda destes três: Nhá Chica, Nossa Senhora da Imaculada Conceição e Santo Antonio de Lisboa as devidas proteções nestes tempos de coronavírus.
E, vamos nos lembrar e agradecer, de sua abençoada vida em prol dos seres humanos.
Outra data que os devotos de Nhá Chica também comemoram é o dia 8 de dezembro, Dia de Nossa Senhora Imaculada Conceição.
Nhá Chica com frequência dizia: “As coisas acontecem porque eu rezo com fé”.


05/05/2020

O Mestre-Sala dos Mares partiu!

Desenho de  Nando Motta

Heraldo Palmeira 
Não quero lhe falar, meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos. Quem misturou tudo foi Elis. Foi tanta coisa! Meu profano amor, eu prefiro assim. Glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história não esquecemos jamais. Contando mentiras pra poder suportar aí. Sentindo frio em minh’alma, dois pra lá, dois pra cá com tanta gente que partiu num rabo de foguete. Um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos... um brilho de aluguel pra noite do Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil. Eu esqueço sempre nesta hora minha velha fuga em todo impasse, quanto me custa dar a outra face. A sala cala e há um corre-corre, acaba sempre no melhor pedaço e o urubu sai voando, manso. Meu pirão primeiro é muita marmelada! Diz um diz que viu e no balaio viu também um pega lá no toma-lá-dá-cá. Quando ele fere, fere firme e dói que nem punhal, quando ele invoca até parece um pega na geral. Tá lá o corpo estendido no chão. Em vez de rosto, uma foto de um gol. Em vez de reza, uma praga de alguém e um silêncio servindo de amém. Fechei minha janela de frente pro crime. Jogava o Flamengo, eu queria escutar. Chegou, mudou de estação, começou a cantar. O amor sempre foi o causador da queda da trapezista pelo motociclista do globo da morte. O amor é de morte! Se Vênus me ajudar, virá alguém. Eu sou de Virgem e, só de imaginar, me dá vertigem. Minha pedra é ametista, minha cor, o amarelo. Batidas na porta da frente, é o tempo. Calado, ele ri porque sabe passar e eu não sei. 
Caía a tarde feito um viaduto. Aldir tinha a dignidade de um mestre-sala, fazia irreverências mil pra noite do Brasil. Não sabia mesmo o nome do irmão do Henfil quando escreveu a letra, apenas que ele era exilado político no exterior. E só conheceu Betinho posteriormente. O primeiro encontro deu-se na porta do banheiro do Canecão e o quase santo homem da Ação da Cidadania foi direto: “Sou o irmão do Henfil. Eu não ia voltar, eu tinha me planejado todo para não voltar, mas ouvi a sua letra para a música do João e resolvi voltar, seu filho da puta!”. 
Por isso, a charge com Aldir chegando ao céu com a esperança equilibrista na corda bamba, de sombrinha, sustentada por um Betinho instalado numa nuvem gritando “Henfil, vem ver quem chegou!”, é poesia pura pronta para arrancar todas as lágrimas doridas pelas músicas que deixarão de ter as letras celestiais de Aldir Blanc. 
Diante desse elenco que vai se formando no terreiro do Criador, cada vez mais peço humildemente a Deus que eu tenha merecimento para ir viver lá quando não puder mais ficar aqui. Vou me conformar, sem questão, em ficar na última fila da plateia. Mas, se Ele me conceder a graça e uma vaguinha na equipe de produção, tô prontinho para ir-me embora. Amém!