Deus Pai - pintura de Pier Francisco Mola |
Francisco Bendl
Esta
madrugada não consegui dormir uma hora que fosse.
Coração se
bobeando, dores no peito, falta de ar... Pensei que teria chegado a minha hora,
depois de setenta anos vivendo nesse planeta belíssimo.
Então me dei
conta que chegara o momento da retrospectiva da minha existência, o famoso
balanço da vida, e se eu teria mais débito do que crédito ou, ao contrário,
chance totalmente nula de ser apurado superávit.
Pensei nos
meus pais, que me trouxeram para este mundo;
Me lembrei
do casamento e do amor que sinto pela esposa há cinquenta anos de casados, que
registramos;
Agradeci
muito a Deus os filhos que tive com a minha mulher;
Fiquei
pensando de que forma eu poderia dizer a Deus sobre a felicidade dos cinco
netos que meus filhos me deram como presente, os mais valiosos que recebi;
Foi com
muito carinho que vieram à mente meus familiares que já morreram, e meditar
sobre os que estão vivos, e que tanto eu os prezo e os quero bem;
Reconheci os
amigos que tive, pessoas espetaculares;
Mas, tentei
encontrar uma forma de como eu me explicaria a Ele, se nos encontrarmos, a
respeito de eu me desculpar pelos erros que cometi, minhas omissões, falhas,
maldades, más intenções, rompantes, arrogância, prepotência, audácia, ofensas...
Como seria o
meu encontro com Deus?
O que eu
diria ao Todo Poderoso?
Qual seria a
minha primeira pergunta ao Criador?
- Deus, tudo
bem?
Ridículo!
Quem sabe eu
não iniciaria perguntando sobre a salvação?
Eis um tema
importante, sem dúvida, ainda mais para quem está precisando acreditar que será
salvo!
Mas, para
que esse diálogo acontecesse, eu teria de dizer que sempre tive fé, que
acreditei na Sua existência, que jamais fui um ateu.
E eu não
poderia evitar de perguntar, lá pelas tantas, por que pessoas boas passam por
momentos ruins ou por que Ele as leva mais cedo?
Muito menos
eu poderia deixar de questioná-Lo sobre o sofrimento da espécie humana?!
Pensando
comigo mesmo diante da quantidade de perguntas que eu Lhe dirigiria, seria
necessária outra vida só para isso ou, então, que esta minha existência fosse
prorrogada, o que me deixaria feliz, evidentemente.
No entanto,
Deus não é Deus pelo fato que aceitamos que exista;
Deus não é
Deus porque temos fé;
Deus não é
Deus, em face de imaginarmos que a salvação seja a meta a ser alcançada.
Muito menos
eu poderia pensar quem seria Deus, pois a minha perspectiva de analisar a vida
seria infinitamente diferente da perspectiva divina:
A minha
ideia de Deus estaria restrita à insignificância da minha mente, enquanto a
Dele abrange o Universo, quem construiu o tempo, quem delimitou o espaço, quem
deixou trilhões de galáxias, estrelas e planetas, suspensos no ar.
De que forma
eu poderia estabelecer uma conversa que motivasse Deus a me ouvir?!
Claro que
não descobri fórmula alguma ou elaborei plano de aproximação com o Criador.
O meu receio
maior foi de ser chamado de idiota e imbecil, se Ele aceitar se dignar a
conversar comigo!
Sabem aquela
história de cada macaco no seu galho ou eu aceitar, antes de mais nada,
resignar-me à minha própria insignificância?
Bem que eu
gostaria de perguntar sobre a morte:
Dói?
A gente
volta prá cá depois?
Para onde
vamos, se é que vamos, é bom ou será a mesma passagem que na Terra?
Altos e
baixos, tristezas e alegrias, realizações e frustrações...
Deus não
veio me ver, como tem sido seu hábito
nos últimos milhares de anos.
Mas não
deixou de entrar em contato comigo através da minha imaginação, da minha
experiência de vida, do que constatei e vivi nessas sete décadas de existo.
Primeiro:
A salvação
não é meta, mas um processo de se chegar lá. E deve ser praticado diariamente,
e não quando estamos perto de nossa despedida do mundo e dos humanos.
Segundo:
Morrer todos
vamos, claro, mas a questão é saber como e quando!?
Terceiro:
O
Livre-arbítrio é verdadeiro, sim. Mas confundimos como se fosse apenas uma
questão de escolha, porém é maior que nós mesmos, pois acreditar em Deus não é
ter fé, mas decorrente desse Livre-arbítrio.
Convenhamos,
seria simplório demais – entendo os porquês de alguns colegas me rotularem de
simplório, agora – concluir que a fé é crença, ledo engano.
A fé é
motivo, pois é o Livre-arbítrio que determina se devo ou não acreditar em Deus.
Logo, o ateu pode encontrar a salvação mesmo descrendo de Sua existência, mas
seria o mesmo que construir uma casa sem alicerce.
Ela pode ser
edificada, mas tomara que os ventos não sejam fortes porque até o telhado vai
embora!
O sono, que
estava difícil antes, começou a dar sinais que eu deveria ir dormir.
As ideias, a
imaginação, o pensar, já não eram tão rápidos. O cansaço se mostrava um
obstáculo intransponível nessa conversa fictícia entre mim e o Senhor.
Entretanto,
eu queria muito encontrar uma maneira de terminarmos essa “conversa”, esse
diálogo, essas conclusões que eu havia obtido, pelo simples fato de eu ter
dialogado com Deus, mas como seria?
Quem sou eu
para pensar no que Deus pensa ou como raciocina??!!
Antes que
meus olhos se fechassem pelo esforço despendido nessa conversa indescritível
pela emoção, imaginei o seguinte:
Tive o último
suspiro.
Em frações
de segundos, eu estava diante da presença de Deus.
Humilhado
pelos pecados, pelas falhas, omissões, pelo fracasso de não ter sido ninguém,
que eu poderia ser um marido melhor, pai mais presente, avô exemplar, amigo
sincero, familiar que amasse os seus com mais vigor, Deus me daria um forte
abraço.
Com a sua
voz poderosa como se fosse um trovão, diria com um largo sorriso:
- Chicão!
Entra na minha casa, vem, e te senta ao meu lado. Eu te perdoo!