Frederic Leighton - Solitude (1890) |
Francisco
Bendl
Não
entendo como a maioria das pessoas ignora a situação atual do Brasil, e
consegue viver isoladamente suas existências como se não fossem com elas os
problemas graves que nos assolam recentemente.
Sei que o
Mano proíbe textos que versam sobre política em seu extraordinário blog, sei
disso.
No
entanto, fugir dessa realidade é impossível pois, admitamos ou não, queiramos
ou não, somos envolvidos pelas circunstâncias e efeitos devastadores
originários de administrações incompetentes e corruptas.
Encontramo-nos
demasiadamente distantes do número de pessoas que foram imoladas pela pandemia,
no que tange não nos solidarizarmos com tais tragédias e não lhes darmos o
devido valor.
As
aglomerações, o desrespeito da população para consigo mesma, independente do
desprezo que demonstra o governo federal pelo cidadão nesse momento, impedem
que tenhamos uma existência “normal”, por mais que nos esforcemos para que
assim seja.
Não há como
nos fecharmos em copas e seguirmos com as nossas vidas desse jeito, que o vírus
não irá nos atingir e que, ali adiante, a pandemia irá se dissipar.
Não vai,
e estamos à mercê da contaminação e, sabe-se lá, se não nos juntarmos com
aqueles que não estão mais entre nós!
Dito
isso, a meu ver não encontro meios para aliviar a tensão, a tristeza, a
frustração, e o sentimento de impotência porque só nos resta a confinação e
aguardarmos pela vacina.
Diversão,
lazer, viagens, festas, praias, bares, restaurantes, cinema... é até mesmo
falta de consideração pelos milhares de pacientes em hospitais e que estão
recebendo respiração artificial nas UTIs, e com sérios riscos de perderem suas
vidas.
Se não sofremos
tanto como acontece com os parentes dos que morreram e se encontram baixados,
certamente a morte de algum parente ou amigo ou conhecido já bateu em nossas
portas.
O mundo
registra dois milhões e seiscentas mil vítimas fatais.
Só nos
EUA temos quinhentos e trinta mil mortos, mais que a soma dos que pereceram nas
duas guerras mundiais, Coréia e Vietnã!
Mais trinta
dias ou pouco mais, e os americanos ultrapassarão os mortos na Guerra da
Secessão, seiscentas mil vítimas em quatro anos de revolta civil.
Conosco,
se somarmos as vítimas de todas as revoluções, invasões de holandeses e
franceses, participação nas guerras mundiais, Guerra do Paraguai, as revoltas
no império e depois na República, o resultado não alcança a metade dos imolados
que perdemos para o Covid19!
Se,
anteriormente, a AIDS foi o acontecimento que mudou o comportamento do ser
humano e de muitas sociedades no mundo, e que registra milhões de mortos, cerca
de trinta milhões, esta doença é possível de ser evitada e possibilita
convivermos com os contaminados lado a lado.
O Covid19
é diferente:
Além de
se alastrar pelo ar, o contágio é quase absoluto, se estivermos próximos de um
afetado pela pandemia.
Ou seja,
este vírus é mais sorrateiro, traiçoeiro, perigoso, pois pode estar dentro de
nossa casa sem sabermos até surgirem os sintomas característicos.
Definitivamente,
tal mal deste século e milênio, mais uma vez mudará o comportamento das
pessoas, que jamais terão o controle sobre suas vidas, pois permanentemente
aguardando ser alvos de males onde não há como se esconder ou deles fugir.
Convenhamos,
a vida se tornou ruim, sem perspectivas, sem maiores alegrias, a não ser
aquelas que nossas famílias nos proporcionam, e que não bastam, haja vista a
ausência de convívio social, de novas amizades, outros relacionamentos, de
namoros, de procurarmos por novos amores.
Se me
perguntarem, então fazer o quê?
Respondo
e, até mesmo, de forma simplória:
Temos
muito mais que agradecer por estarmos vivos e saudáveis, que pedir por bênçãos
que nos salvem de hospitais e respiradores artificiais.
Tratemos
de amar com mais intensidade nossos pais, filhos, netos, sobrinhos, primos,
tios, avós ...
Vamos
agir da mesma forma com amigos, conhecidos, mantendo contato, escrevendo,
falando por telefone com eles, sem os esquecermos ou abandoná-los.
Amizade - Fotografia de Mathias Klang, Gotemborg, Sweden - Wikimedia Commons |
Direcionemos
nossas existências para a união, à amizade, ao relacionamento conjugal,
paternal, fraternal, e teremos objetivos poderosos para seguir em frente no
meio desta pandemia sem maiores lamentações, mas pelo fato que precisamos
mostrar valentia e determinação contra a doença, e transmitir aos nossos amados
o ânimo e incentivos necessários para terem condições de enfrentar os desafios
desta época de graves acontecimentos contra a Humanidade, sem nos
transformarmos numa era de infelizes!
Meu caro amigo Mano,
ResponderExcluirMuito obrigado pelas fotos que ilustram o texto.
Belíssimas, delicadas, cada uma delas com extraordinária identidade com os parágrafos escritos.
Parabéns pelo bom gosto e sensibilidade em captar a mensagem que desejo transmitir:
se precisamos nos manter confinados, por outro lado temos de enaltecer a vida e o que ela tem de mais precioso:
O Amor!
Abração, parceiro.
E te cuida, meu!
1) Chicão mais uma vez nos brindando com suas reflexões, parabéns pela sensibilidade e demonstração de amor ao próximo.
ResponderExcluir2)Penso que cada um tem um jeito próprio de se defender do Covid.
3) Parentes ligados à Ciência me disseram que o mais certo é nos preparamos para nos cuidarmos até 2024.
4) Até lá só nos resta orar, cada um na sua Fé, ou emanarmos ondas de Luz, de Paz, de Harmonia com a Natureza.
Rocha, meu amigo e professor,
ResponderExcluirQuem dera que eu sobresse meditar como os budistas, em princípio, e soubesse depois colocar no papel os pensamentos adequados em tempos crises como estamos vivendo.
Grato pela tua participação e comentário, invariavelmente em apoio a esse teu parceiro do RS, que estará sempre à tua disposição.
Um forte abraço.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Querido Chicão,
ResponderExcluirIntrospecção ( ou introspeção , estamos antigos?) nessa época difícil é o que não nos falta. Introspecção que traz luz e sombras porque junto vem a impotência do nada poder fazer.
Tem gente que me fala que nós fazemos nossa parte ficando em casa, usando a máscara e mantendo o distanciamento. E o que isso faz pelos mais de mil mortos díários e suas famílias?
Com você disse é impossível fugir dessa realidade tristemente politizada. Não me lembro direito se foi Bertold Bretch que disse que não podemos fugir da política, que tudo é política. Mas nunca, isso digo eu, manipulados por ela. "Morte e vida severina" usados como pleito. Devo parar por aqui ou o Sr. Editor cassa meus direitos! Seria um caso de política ou democracia?.....
Ē sempre bom ler você, gosto de como e do que escreve. Mesmo textos cinzas.
Obrigada querido amigo por mais esse texto.
Continuemos nossa luta porque tambēm disse o cara:
"Há homens que lutam por um dia e são bons,
Há homens que lutam por um ano e são melhores.....
Mas há aqueles que lutam a vida inteira e são os indispensáveis."
Até mais. E mais.
Minha querida amiga Aninha,
ExcluirObrigado pelo comentário, que me honra e alegra, pois egresso de uma mulher inteligente, experiente, dinâmica, sensível, escritora, poetisa, artista plástica, esposa, mãe, avó, irmã ...
Acho que foi o célebre intelectual espanhol Ortega y Gasset, emérito pesquisador do conhecimento, que disse a seguinte frase:
“O homem é o homem e suas circunstâncias”.
Não é possível considerar o ser humano como sujeito ativo sem levar em conta simultaneamente tudo o que o circunda, a começar pelo próprio corpo e chegando até o contexto histórico em que se insere.
“O amor procura e o entendimento encontra”, é a circunstância do momento e que envolve a todos nós.
Ou fazemos parte de um todo ou, se nos deixarmos fragmentar, seremos derrotados pelo isolamento, surgindo situações que não conseguiremos enfrentá-las porque fragilizados diante da vida.
Que choremos a morte das milhões de pessoas que foram imoladas pela pandemia, mas alegremo-nos pelos que estão sadios e que foram
curados pelas equipes médicas em hospitais, que puderam recebê-los e devolvê-los à sociedade.
Não podemos é perder esse vínculo que nos une ao próximo, e cuja extensão forma o tecido social, que nos protege justamente da sensação de impotência, desespero, abandono, e que nos leva irreversivelmente à derrota física e mental.
Temos o direito de ficar entristecidos pelos acontecimentos atuais não apenas com relação à saúde, mas da mesma forma com a situação nacional, que possibilitou o aumento da miséria, pobreza, desemprego e violência desmedida.
Convenhamos, um fardo muito pesado para carregar, se não tivermos do nosso lado quem se ofereça para dividir conosco a condução desse pacote durante o caminho que escolhemos para nós mesmos, e que não sabemos se longo ou curto, se aplainado ou em desnível, se alegre ou decepcionante.
Pensemos na gravidade do momento porque passa a humanidade, porém estendemos nossas mãos para as demais pessoas, de modo que suportemos com mais determinação e decisão as amarguras e desencantos, que podem nos conduzir para depressões irreversíveis, enquanto temos condições de expandir nossos sentimentos para os mais fracos, e transformá-los também em partes desse alicerce somente construído e sólido, se for através do amor, do entendimento, da compreensão, e pelo fato de “homem algum é uma ilha”, conforme dizia Teilhard de Chardin, autor desta célebre frase; no men is an island, significando que o homem não consegue viver isoladamente e precisa um dos outros para a sua sobrevivência.
A natureza nos ensina que esta é uma lei que vale para todos.
Um forte e fraterno abraço, Aninha.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Triste realidade ! Ainda acho inacreditável termos chegados a esta pandemia mundial
ResponderExcluirÓtimo texto para refletirmos sobre tudo isto
Obrigada
Léa, minha querida amiga
ExcluirConcordo contigo que, volta e meia, não acreditamos estar à mercê de uma pandemia, e que já levou embora mais de 2,6 milhões de seres humanos, e que podemos estar nessa lista amanhã ou depois!
Precisamos nos fortalecer;
precisamos nos irmanar;
precisamos uns dos outros;
mas, precisamos antes de qualquer outra atitude, utilizar o único sentimento que somente possui o ser humano, o amor.
A humanidade está numa encruzilhada:
ou ela pensa em se integrar em si mesma ou não vencerá não somente a pandemia, como seus efeitos colaterais, que são o isolamento, a tristeza, a introspecção, a depressão, e de renunciarmos viver.
Aliás, Léa, Conversas do Mano está contribuindo para reagirmos ao vírus.
As postagens feitas pelo Wilson, nossos comentários, opiniões, pensamentos nos mantém unidos, coesos, capazes de nos fazer suportar as mudanças drásticas em nossas vidas e, principalmente, oferecer aos mais experientes ou aos mais idosos a oportunidade do relacionamento amistoso, social, de solidariedade, e de auxílio mental e espiritual.
Obrigado pelo comentário, Léa.
Um forte abraço, fraterno e caloroso.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Amigo Chicão,
ResponderExcluirmuito pouco há a acrescentar ao que bem e certeiramente disseste sobre a pandemia, sem correr o risco de trazer para este nosso espaço de boas conversas a polarização imoral, nefasta e, de tempos para cá, mortal em que o discurso político se tornou no nosso país. Apenas uma linha: Que continuemos a tomar todos os cuidados que pudermos e não nos esqueçamos que as nossas responsabilidades são também para com os outros.
Obrigado e um abraço do Mano