-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

11/03/2021

Whisky, nada mais.

 

Ana Nunes

Johnny Walker alerta meus sentidos como velho amigo de usos e abusos. I keep walking, don’t worry.        
Glenfiddich alerta meu olfato, aromático que é, e engana meus sentidos com seu sotaque forte.     
Jack Daniels, bourbon que o Mano trouxe no enxoval e depois ganhou uma fazendinha de uma polegada quadrada na cidade da destilaria.
Bulleit Bourbon alerta meus sentidos na novidade que o mundo ainda pode me trazer.      
Forte! Masculino eu acho! Minha irmã me iniciou.    
The Dalmore 15 anos e Glenmorangie 18 Highland Single Malt Scottish Whisky que ainda não sei o som e o gosto, presente que foram dos filhos pelas bodas de ouro. De ouro devem ser as notas musicais que eles deixam na gente! Doidinha para saber. Soon, soon, me diz a vida! É o desejo de saber!
Tem outros conhecidos, da ralé e da burguesia. Mas com história vem esse.

O Swing embola meus sentidos na lembrança terna do meu pai e sua garrafa dançarina. Naquelas noites frias domingais, que dominicanas é de freiras e padres, em que eu fugia da casa da sogra querida deixando lá tudo que eu tinha, marido filhos e carro. E pegava um taxi lá no fim da ladeira íngreme pra casa dos pais no rumo de uma maratona de jogo de buraco! Ô sôdade!    
Foi lá que aprendi a gostar de whisky entrecartas que nos esquentava na sala fria no bairro Sion. Meus pais, minha cunhada e eu naquele embate feroz vigiando os mais velhos craques no roubar. Meu pai sentava em cima de alguma carta e minha mãe tinha sempre “uma carta na manga”! E fica esperta!

E assim madrugada afora quando voltava sorrateira para casa. Esperando aquela bronca! Marido compreensivo, não posso negar. Mas descrente de carteado. E... ficava sempre em mim aquela culpa da educação católica.    
Além disso, a sogra querida mas atenta que me pega na saída fugida e diz: “Não faça isso!” E eu respondo que há horas peço ao marido para irmos embora que o domingo acaba e eu com ele. Mas entre mil folhas de jornais diversos ele fica e fica. E eu fujo!

Aventura nova essa fuga.

Serviu além da audácia de enfrentar o conjugal e o tudo que traz, como almoços. infindáveis de domingo, a lição educativa de que leituras sucessivas de jornais variados não faz bem à saúde.

Preciso confessar: minha bebida preferida é a cerveja. Sou da plebe!

  

10 comentários:

  1. Francisco Bendl12/03/2021, 08:09

    Reminiscências, reminiscências ...

    Carteado, uísque, companhia de familiares, um querendo ser mais esperto que os demais para vencer o jogo ... lembranças deliciosas que nos impulsionam seguir em frente.

    Curioso, mas quanto mais avançamos no tempo e tais recordações ficam mais longe, elas permanecem conosco como se os episódios fossem recentes, da semana passada, do mês que se foi, do ano que não está mais em curso, mas poderosamente guardados na memória porque indeléveis e porque fizeram parte importante de nossas vida.

    No meu caso, se a Aninha me permitir, a minha memória alcança recordações distantes através do cheiro, do odor do café sendo moído.

    Há 65, 67 anos, morávamos ao lado de uma padaria em Porto Alegre que, invariavelmente, duas vezes por dia, moía café naquelas máquinas de tubos enormes, e por onde os grãos iam sendo devorados pela moedeira.
    Quando fui servir o Exército, há 52 anos, o mesmo cheiro do café moído vinha de uma padaria ao lado do quartel, que facilmente aguçava o meu olfato reportando-me à infância, à primeira moradia, às primeiras lembranças.

    Dito isso, quando penso que a Aninha não poderá mais me surpreender com suas crônicas, pois lá vem ela com suas surpresas, com as suas cartas na manga, e posta um artigo onde não me recordo de alguma escritora ter abordado o uísque como uma espécie de máquina do tempo, que a tenha transportado ao passado e relatar agradáveis e furtivos momentos de prazer individual e, mais ainda sentidos, pelo fato de o maridão, compreensivo e meio preguiçoso (heheheheheheh), preferia ficar em casa ... dormindo, mázzzzáaaa parceiro!

    Pelo menos que acompanhasse a esposa e dormisse no sogro, mas nem isso, que barbaridade (nessas alturas, a Aninha me deixou confuso porque não sei se mais está arraigado à sua mente o carteado, sorver o uísque ou deixar o Mano dormindo e ... “não sei que horas volto para casa”, em absoluto comportamento rebelde, de independência, de deixar claro que não haveria quem pudesse impedi-la de se divertir com os seus país e irmãs, pois não estava em jogo o amor pelo esposo, mas passar um tempo alegre e descomprometido com seus familiares, um pequeno gesto egoísta, exclusivo, próprio.

    Afora o primor da narração mesclada com marcas de uísque, o clima ora divertido ora tenso do carteado na ânsia de vencer a parada, Aninha foi corajosa em escrever que deixava o Mano em casa e ... “tchau e bênça” (não teria sido a Aninha quem primeiro usou o Boa Noite Cinderela, e o seu cônjuge a primeira vítima)??!!
    Sei não, sei não ...

    Parabéns, Aninha, por mais este artigo saboroso de viagens ao passado, de recordações que jamais serão apagadas ou ofuscadas pelo tempo.
    Nada mais lírico, poético, romântico, que as reminiscências de passagens divertidas, alegres, e que ainda nos fazem rir décadas após os seus acontecimentos, e ocasionam que suspiremos fundo pela “sôdade” que nos envolve.
    Como dizia o poeta, “ a saudade é como se fosse o espinho cheirando a flor”.

    Abração, Aninha.
    Obrigado pela suave e doce diversão, que também me fez lembrar das minhas recordações mais amenas e alegres.
    Saúde e paz, extensivo aos teus amados e, especialmente, ao dorminhoco do Mano!




    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido Chicão,
      Essas memórias únicas e deliciosas são nossa melhor bagagem!
      E com esse cheiro de café então...me vejo à noite, bem menina pequena , na casa dos meus avós tomando café no pires para esfriar depressa. Me lembro até da luz fraca da época (ou era só na casa deles?) e do conversê alegre da gente grande ao redor da mesa.
      Essas coisas enternecedoras e alegres são jóias preciosas. Até as doloridas com o tempo se tornam doces pelo que foram. Como se dissessem, é o que temos!
      Obrigada carinhoso exagerado, pelo exagero de sempre nos elogios, pelas " recordações mais amenas e alegres", pela saúde e pela paz.
      E como espinho cheirando a flor vou escrevendo miudezas envergonhadas nessas quase três mil mortes diárias.
      Até mais.

      Excluir
  2. Heraldo Palmeira12/03/2021, 13:07

    Ana,
    Ah, o velho mundo das nossas coisas comezinhas, adoráveis, indispensáveis. E um bom trago acompanhando tudo, dando tom e sabor. Marcas famosas dos filhotes da Escócia, até o Swing que, consta, foi desenvolvido para o mundo naval.

    O problema estava nas garrafas tradicionais, que corriam riscos porque não se sustentavam direito nas prateleiras quando o mar impunha balanços mais firmes aos navios. O próprio Alexander Walker, sensibilizado com o problema durante uma viagem, tratou do projeto de uma garrafa com fundo convexo, capaz de se manter de pé.

    A partir daí, o mercado das grandes viagens em transatlânticos estava conquistado e o Swing virou algo associado a esse ambiente refinado. E para dar ainda mais charme, a composição desse uísque é mantida em delicado segredo.

    Eu sempre gostei dele, faz parte da minha lista de terra firme. E confesso que tomei durante uma viagem marítima às Bahamas, onde tratei de colocar a imaginação a serviço da lenda. Mas as louras geladas jamais foram abandonadas em tempo algum, of course, Até mais!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá querido Heraldo,
      Você é como lua cheia, de vez em quando aparece. Cheio de estórias para contar. Coisas que de que falo e você historeia colocando no tempo e no espaço, colocando como a garrafa do marujo, no melhor escrito da sua Bic Cristal.
      Venha sempre colocando sua imaginação a serviço das lendas. Quem ganha somos nós!
      E viva as louras!
      Grata pelo comentário.
      Até mais.

      Excluir
  3. Flávio José Bortolotto12/03/2021, 16:32

    Esse é o segredo da felicidade conjugal. Nosso Editor/Moderador gosta de Leitura, Fotografia, Trabalhos artesanais mecânicos, entre outros gostos.
    A Autora de "Whisky, nada mais", sua esposa a Artista Plástica Sra. ANA NUNES, gostava mais de no final da tarde de Domingo, se reunir com seus Pais e irmâs e jogar baralho, ficando de olho porque os Veteranos qualquer descuido Zap, Bati. Quando o tempo estava meio frio, Belo Horizonte -MG tem boa altitude, tomava-se Whisky, para esquentar a Caixa do Corpo.

    Depois da janta, a Sra. ANA NUNES voltava para a casa do Sogro, e entâo iam descansar em sua Residência.

    E assim sabiamente, cada um cedendo um pouco, cada um fazia o que gostava mais.

    Parabéns e Nossas Saudaçôes.





    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querido cavalheiro,
      Sinto desapontar você mas fugi da casa da minha sogra já no finzinho da tarde por que o Sr. Redator ficava lendo TODOS os jornais que o pai assinava e que não tínhamos em casa, e não adiantava pedir para irmos embora, ele enrolava dizendo só mais essa folha, só mais essa notícia. Aí fugi! Ele voltou para nossa casa " triste e abandonado", segundo ele, com os meninos. Eu voltei com a madrugada para encontrá-los dormindo como anjinhos. Lindos e amados!
      Era tão bom jogar com meus pais, rir com eles, bebericar com eles, aguentar a zanga do pai quando perdia...Nossa, quando penso nisso tudo , no ontem e no hoje vejo como sou feliz!
      Muito obrigada pelo seu comentário delicado.
      Até mais.

      Excluir
  4. Léa Mello Silva12/03/2021, 20:46

    Ana,

    menina conhecedora das várias marcas de whisky ! Mas ainda fica com a cerveja !!
    E como é divertido ler suas peripécias para desfrutar um jogo de buraco com os pais e irmãs
    Me lembrei das muitas vezes que compartilhei estas jogatinas em meio a conversas e risadas
    Com saudades lembrei destas ótimas reuniões
    Lembranças que às vezes vem nos surpreender !!
    Como sempre suas crônicas são cheias de sentimento e envolve a nossa memória afetiva
    Meu abraço agradecido e amigo ❤️


    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Léa,
      Jogamos muito e nos divertimos mais ainda, não foi? Nesses jogos teve até o Wilmar dizendo que se tirasse tal carta iria comê-la. Dito e feito, comeu a carta entre dois pedaços de goiabada. E lá se foi o baralho! Cara sortudo êle!
      E eu lá, nos meus quatorze anos, de peão caso faltasse alguém.
      Dizem sempre que sempre fui mais velha que a idade real.
      Beijo querida prima.

      Excluir
  5. Antonio Carlos Rocha14/03/2021, 10:24

    1) Oi Ana, um brinde ao seu seu belo artigo.

    2) Em Portugal, no inverno, aprendi a saborear o irish coffee:café, uísque e açúcar mascavo. esquentava legal.

    3) Tudo de bom !

    ResponderExcluir
  6. Querido mestre nosso de todo dia,
    Obrigada pelo brinde, totalmente aceito e felicitado.
    Ainda não tomei esse Irish coffee de sabores tão atraentes mas vou tomar, prometo!
    Gratidão pelo comentário.
    Até mais, com muita saúde.

    ResponderExcluir

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.