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10/12/2019

Os Leonardos Perdidos

Leonardo Da Vinci - Auto retrato (imagem huffingtonpost.com)



Moacir Pimentel
O rebuliço causado pela descoberta de supostos trabalhos de Leonardo da Vinci é sempre emocionante pois nenhum outro artista exerce tanto fascínio quanto ele. Além disso, o número de pinturas desaparecidas de Leonardo é quase igual ao de suas pinturas conhecidas. A sua Leda e o Cisne, por exemplo, um nu mitológico e provocante, é uma das pinturas perdidas mais famosas do mundo.
O que pode ter acontecido com a famosa Leda, a mulher de Tíndaro, rei da Lacônia, tão bela que Zeus assumiu a forma de um cisne para possuí-la, pelo menos no mito grego e nos versos de Yeats?
“Ela assumiu-lhe a ciência junto com o poder,
 Antes que a abandonasse o bico indiferente?”
Sabemos que a pintura estava na lista de posses de Leonardo quando ele morreu, mas só a conhecemos a partir dos esboços preparatórios nos cadernos de Leonardo e das cópias inferiores feitas por outros artistas a partir da obra concluída.
Leonardo Da Vinci - Estudos e pintura final - Leda e o Cisne (imagens leonardo-da-vinci-biography.com, mlahanas.de/Greeks/Mythology/LedaLeonardoDaVinci.html  e  wikiart.org)

A última notícia que se tem dessa Leda pintada por Leonardo sobre madeira, é que fazia parte da coleção de arte do rei francês Francisco I, no seu castelo em Fontainebleau, enfeitando o conjunto de salas que incluía aquela de banhos.
Acredita-se que pintura tenha sido ou destruída por um membro da família real francesa - chocado na sua religiosidade e pudores pelo erotismo da imagem - ou que, mais provavelmente, tenha se deteriorado, numa época na qual as pessoas não tinham a menor reverência para com pinturas danificadas.
Se sobreviveu à censura e à umidade circundantes, a pintura da Leda e do Cisne de Leonardo provavelmente conheceu o mesmo destino de tantas outras obras renascentistas, sendo terrivelmente repintada por cima. Assim, pode ser que a Leda e o seu Cisne estejam hibernando hoje em algum sótão empoeirado da vida, sob um centímetro de hediondo excesso de tinta.
Outra obra supostamente desaparecida de Leonardo que se tornou icônica e mundialmente conhecida é A Batalha de Anghiari que - dizem! - por questões políticas teria sido destruída a mando dos Medici, além, é claro, de uma Mona desnuda, a Mona Vanna, que sumiu da face da Terra sem deixar rastros.
As pesquisas acadêmicas sobre tais pinturas desaparecidas são sempre muito noticiadas e as obras se tornaram lendárias, tão imensas que chegam a eclipsar suas irmãs reais, as obras de Leonardo que realmente existem.
A busca do pesquisador italiano Maurizio Seracini, por exemplo, pelos vestígios do afresco A Batalha de Anghiari que teria sido supostamente pintado por Leonardo no Palazzo Vecchio de Florença, garantiu ao historiador o apelido de “detetive” e até mesmo uma citação no badalado romance “Inferno” da lavra do famoso escritor Dan Brown.
Pode até ser divertido avaliar essa adoração pop de Leonardo da Vinci como uma loucura bizarra divorciada de sua verdadeira arte e vida, mas simplesmente não é verdade que a sua fama seja uma fantasia cultural moderna. Ele vem sendo continuamente reverenciado desde o final do século XV e sua celebridade sempre envolveu um nevoeiro de mistério e especulação.
Mesmo vivo Leonardo já era um enigma. Na sua primeira biografia, escrita pelo pintor e historiador de arte Giorgio Vasari, em 1550, as fábulas de suas obras perdidas que podem ou não ter existido já se entrelaçam com as descrições de suas obras reais, ajudando a criar a imagem mitológica do gênio.
Nós só temos que ver a obsessão dos artistas de épocas posteriores àquela de Leonardo pelos esboços que ele fez da Batalha de Anghiari, para entender como a sua fama é antiga e quão apaixonante continua sendo o seu talento. As poderosas imagens desta batalha desaparecida rascunhadas nos cadernos do pintor têm assombrado a imaginação europeia há séculos.
Leonardo Da Vinci - Estudos para A Batalha de Anghiari (imagens leonardodavinci.cc e wikiwand.com)

Sabemos que em 1505 Leonardo Da Vinci começou um afresco na mesma parede onde, bem mais tarde, Giorgio Vasari pintaria a sua Batalha de Marciano. E como sabemos disso? De várias fontes históricas.
Ele próprio, nos seus Cadernos, fez aqui e ali além de esboços algumas menções ao afresco da Batalha de Anghiari que pintaria a seguir, um projeto para lá de ambicioso, talvez a mais grandiosa encomenda da vida dele onde eternizaria a vitória dos florentinos sobre os milaneses em 29 de junho de 1440 em um painel de sete metros de altura por dezessete de largura. Escreveu o pintor:
“A mistura de ar, fumaça e poeira parecerá muito mais clara do lado de onde vem a luz que do lado oposto. Quanto mais os combatentes encontrarem-se neste tumulto, menos serão vistos, e menor será o contraste entre as luzes e sombras.”
Além disso nessa altura da conversa aparece outra testemunha histórica do afresco, um personagem chamado Niccolò Machiavelli, que encontrou a fama graças ao seu controverso livro O Príncipe, baseado em grande parte nas suas observações sobre os atos implacáveis de Cesare Borgia.
Na verdade, foi através de Borgia que Maquiavel foi apresentado a Leonardo da Vinci e passou a defender o nome e a perícia do pintor para a mais importante encomenda cívica da época, o afresco da vitoriosa Batalha de Anghiari, o grande orgulho da história militar florentina que Soderini - o então governante da cidade - queria ver pintada no recém construído Salão do Grande Conselho do Palazzo della Signoria, hoje conhecido como Palazzo Vecchio
O papel de Maquiavel na defesa da candidatura de da Vinci é evidenciado pelo fato de que o seu secretário Agostino Vespucci ter oferecido por escrito ao pintor uma descrição detalhada da batalha, traduzida de uma antiga elegia em latim.
Portanto registros históricos comprovam que Leonardo pintou sim um afresco da Batalha de Anghiari que foi – pasme! - a metade de uma competição famosa entre ele e Michelangelo que defronte daquela de Leonardo, supostamente teria pintado mais uma batalha, a de Cascina, também desaparecida exceto pelos esboços iniciais de Michelangelo.
Giorgio Vasari também mencionou com entusiasmo o afresco de Leonardo da Vinci em seu livro Vidas:
“Ele projetou um grupo de cavaleiros lutando, uma obra excelente por causa das idéias maravilhosas que ele teve na composição da batalha. Nela a raiva, a fúria e a vingança são percebidas tanto nos homens como nos cavalos, entre os quais dois com as patas dianteiras entrelaçadas estão lutando não menos ferozmente com seus dentes e cascos do que aqueles que os estão montando”.
Vasari descreveu minuciosamente a força nos ombros dos soldados, como eles esporeavam suas montarias em fuga, suas mãos levantadas manuseando espadas, um velho guerreiro com um gorro vermelho gritando, enquanto com uma das mãos erguia uma bandeira e com a outra uma cimitarra, soldados tombados no chão lutando furiosamente entre as patas dos cavalos, dentes rangendo, punhais sendo enterrados em gargantas, todos fazendo o que podiam para escapar da morte.
Mas o que aconteceu com tais obras de arte?
Não se sabe ao certo mas diz Dona Lenda que Vasari não destruiu a obra de Leonardo, como lhe fora ordenado pelo poderoso de plantão, pintando por cima dela a sua própria Batalha de Marciano, também chamada Batalha de Scannagallo, que rolou a 2 de agosto de 1554 nos vales de Marciano della Chiana, perto de Arezzo na Toscana e resultou na derrota da República de Siena que foi então incorporada ao ducado de Florença.
Em vez de cometer tal idiotia Giorgio Vasari teria construído uma falsa parede e deixado uma lacuna entre o seu novo afresco e a Batalha de Anghiari leonardesca.
Muitos historiadores de arte apostam todas as suas fichas na teoria de que Vasari, por ser um grande admirador de Leonardo, não teria sido capaz de destruir uma obra prima do gênio do Renascimento e mais, que ao esconder o afresco da Batalha de Anghiari com o seu próprio, nele teria deixado uma confissão de seu ato de rebeldia em favor da arte. As palavras “Cerca Trova” ou traduzindo:
“Busca e Encontrarás”.
Giorgio Vasari - A Batalha de Marciano (imagens wikipedia.org e leonardodavinci.cc)

De fato no seu afresco Vasari pintou tais palavras em uma pequena bandeira verde nas mãos do exército rebelde lutando contra Florença. Trata-se de um famoso provérbio italiano que geralmente é usado em referência a alguém procurando por problemas, como uma espécie de lembrete das consequências de suas ações.
Mas seriam as palavras no afresco de Vasari uma pista para que se faça uma caça ao tesouro escondido de autoria de Leonardo?
Muitos são de opinião de que, mesmo que Dona Lenda tenha razão e mesmo se houver uma lacuna entre a tal parede afrescada por Vasari e o anterior afresco de Leonardo por ela emparedado, com o passar dos séculos e graças à umidade e diferenças de temperatura nada mais restaria das tintas e do gesso.
Em 2012 foram feitos alguns testes, usando tecnologias avançadas e, através de pequenos buracos feitos no trabalho de Vasari, foram encontrados pigmentos que seriam compatíveis com aqueles usados por Leonardo Da Vinci em outras obras.
O certo é que as palavras “Cerca Trova” recentemente correram o vasto mundo. O escritor Dan Brown, em seu último romance, usou a mensagem oculta na Batalha de Marciano de Vasari como uma pista para que seu herói e protagonista - o famoso professor Robert Langdon - resolvesse um mistério. Quem leu o livro ou viu o filme lembra que, quando Langdon acordou naquele hospital florentino, a misteriosa doutora Sienna Brooks lhe disse que ele repetira várias e agoniadas vezes, enquanto dormia, duas palavras: “very sorry”.
Elas significam “sinto muito” mas se pronunciadas por um americano da gema soariam mais ou menos assim: “vasari”. Ainda no primeiro capítulo do Inferno, o professor Langdon se recorda de mais um detalhe: de uma mulher estranha e velada sussurrando-lhe as palavrinhas mágicas: “Busca e Encontrarás”.
O certo é que as imagens da batalha perdida de Leonardo, que só conhecemos através das pretinhas e tintas alheias e dos desenhos que o artista deixou em seus cadernos, estão por todos os lados. A Galeria Nacional de Londres tem uma ampla coleção desses esboços de Leonardo, repleta de alusões enigmáticas a essa batalha que foi sem ter sido.
Veja como o rosto do velho guerreiro da pintura de Leonardo ressurge gritando de angústia no canto esquerdo inferior da Alegoria que Bronzino inventou para Vênus e Cupido, e note como a Caça ao Leão de Rubens é uma reformulação sangrenta da luta dos guerreiros de Anghiari.
Bronzino - Alegoria do Triunfo de Vênus (imagem tonykospan.wordpress.com) /
Rubens - Caça do Leão (imagem wikimedia.org)

Assim como Bronzino e Rubens o foram, muita gente ainda é fascinada pelos trabalhos perdidos de um Leonardo que, em vida, esbanjou da capacidade para criar mistério sobre si mesmo.
O mesmo mistério que fez com que há cinco anos atrás, cinco séculos depois de ter sido pintada, fosse montado um show midiático em torno da apresentação oficial de mais uma pintura do grande artista florentino – o Salvator Mundi sobre quem depois conversaremos.
Ainda é Leonardo agitando a imaginação humana, enquanto os especialistas debatem uns com os outros para ter certeza se o trabalho da vez pode ou não ser mesmo atribuído a ele.
Nos tempos modernos a mídia sem dúvida ajuda Leonardo a tornar-se um fenômeno pop. Suas obras perdidas alimentam esse culto que, por sua vez, adiciona não só mais glamour e brilho mas valor - $$$$!! - às obras do mestre renascentista.
Haverá mais descobertas?
A resposta é sim. Um desenho perdido de Da Vinci retratando São Sebastião acaba de ser encontrado na França por acaso entre os papéis que uma família levou à casa de leilões Tajan. Os especialistas pensaram a princípio se tratar do desenho de outro artista florentino do século XV, até verificarem que no verso do papel se encontravam dois esboços científicos e duas anotações em “escrita especular” – aquela que só é legível no espelho - técnica usada com frequência por da Vinci. O esboço do mártir acaba de ser avaliado em quinze milhões de euros.

            E ainda há pouco um retrato de Nicollò Machiavelli, aquele que, como dissemos atrás, defendeu que Soderini escolhesse Leonardo para pintar o afresco da Batalha, foi descoberto no Castelo de Valençay e um registro antigo nos arquivos do castelo diz que foi pintado pelo florentino. Um estudo detalhado está sendo levado a efeito por especialistas para saber se realmente deve ser, ou não, atribuído a ele.
Provavelmente manuscritos e desenhos e pinturas continuarão a emergir, mas as chances são cada vez menores de que tenham sido cometidos pelo gênio renascentista, porque as pessoas ficaram espertas para tais tesouros faz tempo.
Tanto que a penúltima atribuição de uma pintura a óleo à Leonardo da Vinci aconteceu no início do século XX, quando foi encontrada e reconhecida unanimemente uma de suas lindas Madonas. Quando da aparição do Salvator Mundi, fazia mais de um século - mais exatamente cento e sete anos - que a Madona Benois ressurgira das telas mortas para ser atribuída ao artista.
Mas a Madona já será outra conversa...


16 comentários:

  1. Alexandre Sampaio11/12/2019, 09:32

    Pimentel,
    Ultimamente Leonardo da Vinci tem aparecido bastante nos jornais porque faleceu há 500 anos atrás. Mas ninguém poderia contar melhor que você a história das suas obras desaparecidas começando pela mitologia grega, passando pelos mínimos detalhes de uma batalha histórica e prometendo mais pinturas religiosas. Parabéns e obrigado por mais uma leitura agradável e informativa.

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 10:25

      Sampaio,
      Tenho consciência de que a síntese não é o meu forte e peço-lhe desculpas pelos meus looooooongos e prolixos textos. Mas "em minha defesa", como tecla o Bendl, sucede que quando estou lendo verifico que são exatamente os detalhes descritivos que me ajudam a recriar as experiências narradas, que me possibilitam uma percepção mais concreta do tema e me transportam para uma determinada cena.
      É importante lembrar que os bichos homens aprendem sobre o mundo usando os cinco sentidos. Portanto, a escrita que mais me encanta é aquela que me oferece cor, som, cheiro, toque e sabor do que estou lendo.
      Obrigado pelas boas palavras e abração

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  2. Flávia de Barros11/12/2019, 10:40

    Moacir,
    Fiquei feliz de saber você vai escrever sobre a pintura do Salvador do Mundo. As explicações sobre Leda e a batalha são preciosas e a expressão do rosto do velho guerreiro é indescritível. Você conseguiu demonstrar perfeitamente a influência de Leonardo da Vinci nas obras dos artistas que viveram depois dele. Mas o ditado “Busque e Encontrarás” não é italiano. Faz parte da sabedoria popular universal.
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 10:29

      Flávia,
      Antes tarde do que nunca com certeza conversaremos sobre o Salvator Mundi (rsrs) Mas hoje não vou cometer mais nenhum spoiler dos próximos capítulos além do que mora no texto, certo? E falando em ditados o meu avô, um sujeito muito namorador, costumava alertar os netos sem noção para ter muito cuidado porque “mulher quando procura termina achando” (rsrs)
      Outro abraço para você

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  3. Mônica Silva11/12/2019, 12:24

    Todo mundo tira sarro dos filmes de Dan Brown. Pois eu gosto muito deles e não estou nem aí para as críticas. Beijinho no ombro e viva a cultura pop! Se eu não tivesse assistido Inferno como ia poder entender seu artigo? Ia viajar na maionese 'leonardesca' mais desorientada do que Tom Hanks quando acordou desmemoriado no hospital kkk Adorei a aula sobre os quadros. Obrigada!

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 10:39

      Mônica,
      Convenhamos que esse “Inferno” teve mais alucinações apocalípticas e perseguições desenfreadas do que se consegue digerir sem perder o fôlego. Isso sem falar das ideias para lá de controversas sobre sustentabilidade do jovem bilionário suicida. Mas concordo com você: Viva a cultura pop! Ler/assistir as estórias do Brown é divertido. Usando como GPS a pintura Mapa do Inferno, de Sandro Botticelli – uma obra inspirada na Divina Comédia de Dante - o autor consegue sim segurar a nossa atenção e nos obriga a procurar através de Dona Arte as coisas de sempre - mensagens secretas, passagens escondidas, algo misterioso cuja importância é de vida ou morte com o objetivo de salvar a humanidade. Tudo isso em belos cenários: os Jardins Boboli e o Palazzo Vecchio, em Florença, a Basílica de São Marcos, em Veneza, a Hagia Sophia e a Cisterna da Basílica, em Istambul.
      O certo é que o escritor continua vendendo bem demais sua ficção e vale a pena perguntar por quê? Talvez por que lendo/vendo as tramas dele a gente tenha a impressão de estar aprendendo alguma coisa sobre a História e/ou a Arte ou sobre a questão climática que ameaça a preservação da vida na Terra. Todo mundo gosta de aprender e fazer isso em um contexto de conspirações e assassinatos “em seguidinho “ é uma delícia (rsrs) Acho que os gregos chamavam ISSO de catarse.
      “Obrigado!” e abração

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  4. Márcio P. Rocha11/12/2019, 16:26

    Muito bom. Não sabia que Leonardo da Vinci gostava de nus femininos. Vivendo e aprendendo. Se não for abusar da sua boa vontade eu gostaria de saber onde pode ser contemplada esta cópia inferior mas sarada da Leda, rs

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 10:50

      Márcio,
      A Leda foi esboçada várias vezes pelo Mestre nos Cadernos dele, a partir de 1504. Além do rosto Leonardo fez detalhados estudos e esboços para pintar uma Leda sentada no chão com suas crianças à sua beira, uma das quais seria a famosa Helena de Tróia (rsrs) Dizem que ele teria pintado uma composição diferente do mesmo tema : essa Leda nua de pé, abraçando o cisne, com bebês também nus dentro de cascas quebradas de ovos. Como eu teclei, a pintura original se existiu, está perdida. No entanto dela sobreviveram muitas cópias, das quais a mais antiga provavelmente é a Leda Spiridon, cometida por um aluno e que agora mora na Galeria Uffizi, em Florença.
      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/98/Spiridon_Leda.jpg
      Porém existe outra senhora seminua desenhada misteriosamente sorridente e, portanto, muito parecida com a Mona Lisa, que dizem pode ter sido inspirada em um outro trabalho do gênio renascentista. Ou parcialmente cometida por ele.
      https://i.guim.co.uk/img/media/6f44205dac8e7177b29290fa2e5edc7693f25de3/289_546_6371_7962/master/6371.jpg?width=1920&quality=85&auto=format&fit=max&s=a4dc6a6abf118b268f69f1ae0a2e7323
      A Monna Vanna - ou "Mona Lisa nua" - como o desenho a carvão é apelidado - foi atribuída originalmente a Leonardo quando o Duque d'Aumale, filho do último rei da França, Louis-Philippe, o comprou em 1862 para a coleção do Museu Condé. Desde então a moça tem morado no palácio de Chantilly ao norte de Paris. Porém, análises posteriores, no início do século XX, levaram os especialistas a concluir que um dos pupilos de Leonardo a tinha cometido porque a parte superior do desenho foi feita por uma pessoa destra. Mesmo assim, é claro, outros especialistas consideram que, para outras partes dele - como as mãos, por exemplo - uma atribuição potencial a Leonardo seria plausível.
      Cerca de vinte pinturas de mulheres nuas, primas legítimas da Mona Lisa, são exibidas ou armazenadas em museus em todo o vasto mundo. Uma das mais famosas, a Monna Despida, se encontra no Hermitage, em São Petersburgo.
      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/30/Donna_Nuda_%28Hermitage%29.jpg
      Obrigado por perguntar (rsrs)

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  5. Francisco Bendl12/12/2019, 09:25

    Em defesa do meu desconhecimento sobre artes, no caso pinturas, esculturas, poesias ... eu sempre tive comigo muitas dúvidas a respeito de como os críticos dessas matérias concluíram quem seriam os grandes mestres e as grandes obras pintadas ou construídas ou elaboradas.

    Indiscutivelmente a educação de cada um de nós, mesmo neste oásis cultural, é diferente; a vida foi e é diferente; a experiência obtida também não é igual; as idades, da mesma forma, acusam os mais idosos e os mais jovens; a maneira que elegemos o que seria importante para nós, obedeceu critérios ainda mais incongruentes.

    Logo, temos os apreciadores dessa arte, que Pimentel a representa com a sua reconhecida qualidade, mas existem aqueles que não analisam o talento humano com os mesmos olhos aguçados e admirados pelos que entendem deste tema.

    Dito isso, foge da minha capacidade de observação e de avaliação sobre obras de artes, pois nada sei sobre o assunto, em razão de que jamais me interessei em estudá-las ou sequer me informar a respeito.

    Foi a partir das postagens de Pimentel sobre os mestres da pintura e seus quadros mais famosos, e os notáveis escultores e suas peças valiosíssimas, que passei a conhecer superficialmente o talento humano neste sentido.
    Se eu continuo alheio a conhecer sobre este tema, por outro lado, volto a repetir que tenho arquivado em pastas especiais o trabalho do nosso expert sobre essas artes mencionadas, inclusive a de hoje, que se reporta a quadros desaparecidos do célebre pintor em tela.

    Agradeço ao Pimentel por mais este trabalho apresentado, e compartilhar conosco seus admiráveis conhecimentos neste particular.

    Abração.




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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 10:56

      Prezado Bendl,
      Em defesa do meu conhecimento de pinturas e esculturas, esclareço que o fato da avó dos meus netos cursar História da Arte quando a conheci mudou a minha estrada (rsrs) Agora imagine o Sr Editor casado há mais de cinquenta anos com uma artista plástica formada? Com certeza “nossas vida, experiências e critérios para escolher o que seria importante” foram e são diferentes (rsrs) E isso é muito bom. É aquela velha história: “o que seria do amarelo se todos gostassem do azul”?
      Agradeço-lhe de coração pelo honroso arquivamento de meus posts de arte mas repito que mais importante do que conhecer as grande pinturas da humanidade é entender a importância de Dona Pintura, algo que começou a ser praticado pelos bichos homens há muitas dezenas de milhares de anos atrás, antes que eles aprendessem a escrever, que inventassem a agricultura, a sociedade, o Estado, a Filosofia, o Direito e, há meros quinhentos anos, a Ciência.
      Lembra dos seus filhos e netos enquanto borravam papéis de tinta, colavam coisas sobre os borrões, borrifavam glitter por todos os lados e ficavam felizes da vida sem ter consciência do que estavam fazendo? Pois é. É da criação de algo, do processo criativo em si, da oportunidade de se expressar e não do produto final que os pirralhos gostam. À medida que as crianças manipulam lápis e pincel suas habilidades motoras melhoram, contando peças e cores, elas aprendem o básico da matemática, quando experimentam materiais começam a se interessar pela ciência.
      Promover ISSO, a criatividade, não apenas aumentará as chances dos filhos do Brasil de se tornarem os próximos Leonardos e Picassos: valorizar a criatividade em todos os campos os ajudará a se desenvolver mental, social e emocionalmente.
      Criar arte aumenta a capacidade de interpretar o mundo ao nosso redor e de analisar e resolver problemas. Porém mais importante, talvez, é que por se sentirem bem enquanto criam, as crianças se tornam capazes de experimentar e cometer erros e ficam à vontade para, sem medo, inventar novas formas de pensar, que se estenderão muito além das salas de arte que deveriam existir ao lado das salas de “tecnologia” em todas as decantadas e inexistentes “escolas públicas integrais” se é que almejamos um Brasil melhor e menos desigual.
      Abração

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  6. Flávio José Bortolotto12/12/2019, 22:35

    Como sempre, tudo o que grande Escritor e Viajante do Mundo Sr. MOACIR PIMENTEL escreve, é interessante e muito agradável.

    Este Artigo, "Os LEONARDOS perdidos" não é exceção, sobre as Obras de Arte, principalmente pinturas do grande LEONARDO DA VINCI.

    Sob os olhos de um Observador atento como o Sr. MOACIR PIMENTEL nós vemos detalhes importantes que passariam batidos, além de complementar com detalhes importantes de "D. Lenda".

    Como nosso Colega Sr. FRANCISCO BENDL não sou muito versado nas Artes, mas os Artigos do Sr. MOACIR PIMENTEL ensinam muito de forma elegante e compreensiva.

    Muito Obrigado e um Abração.

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 11:04

      Prezado Bortolotto,
      Coloquei os meus pés em uma escola estrangeira pela primeira vez em 1969, aos quatorze anos. Tratava-se de uma High School pública, da única escola secundária de uma cidadezinha de vinte mil habitantes no coração das plantaçoes de milho do estado americano de Iowa, então, um dos mais atrasados do país. Só que durante oito horas por dia a escola já oferecia a seus alunos a oportunidade de participar de uma banda musical, de um coral, de publicar um jornal quinzenal, de montar uma peça teatral a cada semestre letivo, de ter aulas teóricas e práticas de artes plásticas e de aprender o que no currículo era denominado de “Speech”, a oratória tão necessária para que aprendamos a colocar juntas as palavras, a traduzir nossos pensamentos, a argumentar, a criticar, a nos comunicar e exercer eficiente e eficazmente a nossa cidadania.
      Não, nós não temos como ser “versados nas Artes” e talvez seja por isso que, meio século depois, ao ver nas nossas praias as artes deixadas de lado e a “cultura” ridicularizada eu fique muuuuito incomodado. Como estamos atrasados! Sem valorizar a contribuição das artes para a sociedade, sua relação simbiótica com a educação e, sim, sua influência na produtividade e ao fim e a cabo na Economia, não iremos longe. Eu chamo isso de círculo virtuoso, algo que é, por definição, holístico. Mas disso tenho consciência que você entende muito mais do que eu.
      Muitíssimo obrigado pela leitura atenta e pelo seu gentil comentário
      Abração

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  7. Olá Moacir,
    O que dizer que não tenha sido tão bem dito - bendito! - nos comentários da sua galera?
    Um tema interessante, um escritor interessado, dominante dos achados e perdidos, com dom das pretinhas. Até o que já sei fica muito melhor quando você explica.
    O que arrepia é saber que esses poderosos da pintura reutilizaram muitas telas e paredes para repintar outros interesses. Rembrandt fez isso, Picasso fez isso e quantos outros tantos. Até discípulos e outros mestres se apropriaram de trabalhos de outrem. Ou ainda, com os novos proprietários no passar do tempo, uma mãozinha de verniz aqui, outra acolá. E aí, como você costuma dizer, danou-se!
    Vi e ouvi muito disso no Cecor, departamento de restauração da Escola. Uma barbaridade!
    Cerca, trova também pode ser usado entre nós como procura de encrenca - quem procura, acha. Como disse a Flávia, é universal.
    Tão bom de ler! Adivinha, acabou antes da hora. O jeito é ficar na escuta.
    Grata.
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel13/12/2019, 11:12

      Caríssima Donana,
      Tão bom de ler!” digo eu das suas pretinhas tão generosas para um “explicador” amador. Torço para que aos seus olhos os meus rascunhos possam continuar “terminando antes”. Obrigado.
      Mas sinceramente? Não me angustio com a certeza do muito de arte que foi perdida. Prefiro curtir os seus pedaços sobreviventes e, a partir deles, imaginar o todo inteiro e desaparecido (rsrs)
      No caso dessa batalha entre as Batalhas de Leonardo , a Anghiari, e a de Michelangelo, a Cascina, faz bem à alma imaginar as duas imensas paredes do Salone dei Cinquecento do Palazzo Vecchio, uma defronte da outra, tomadas pelas imaginações poderosas desses dois gênios. Sabemos muito mais sobre a pintura de Leonardo, porque além de esboçá-la ele descreveu-a fartamente nos Cadernos. Mas se pode ter uma ideia da de Michelangelo porque ele fez um desenho da composição pretendida que supostamente teria sido copiado.
      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d3/Battagliadicascina.jpg
      Sim, eu sei que essa batalha de “peladecos” parece muito estranha à primeira vista (rsrs) Mas é que o prezado Buonarroti Simoni, um expert no corpo humano, escolheu para pintar o começo da batalha, quando os bravos soldados florentinos estavam desarmados se banhando no Rio Arno e foram surpreendidos e cercados pelos inimigos. Alguns dos esboços preparatórios- feitos comprovadamente por Michelangelo para a pintura - explorando várias posições de corpos que saltam energicamente para a ação são, com certeza, mais belos do que teriam sido se tivessem sido pintados.
      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/77/Battle_of_cascina3.jpg
      “Até sempre mais”

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  8. 1)http://www.christianrosenkreuz.org/rc_leonardodavinci.htm

    2) Não sei se o prezado Pimentelji conhece o texto acima, mas os Rosacruzes dizem que o grande Leonardo da Vinci era um iniciado da Fraternidade Rosacruz.

    3) Saudações nas três pontas do Triângulo Místico Rosacruz !

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  9. Moacir Pimentel16/12/2019, 10:36

    Antonioji,
    Li o link disponibilizado mas infelizmente nada sei sobre a galera da Rosacruz. Há que tomar cuidado com o que lemos sobre o gênio do Renascimento pois as lendas sobre ele não começaram com a tese do Código Da Vinci, que o descreve como um artista dedicado ao "feminino sagrado". Essa foi apenas a versão mais recente de um empreendimento literário que começou há muito tempo com Giorgio Vasari, o primeiro biógrafo de Leonardo no século XVI. Sucede que enquanto ele preserva nas suas pretinhas informações factuais básicas sobre o pintor que, de outra forma, teriam sido perdidas, ele mente adoidado. Por exemplo, Vasari nos diz que Leonardo morreu nos braços do rei da França. Não é verdade! De acordo com registros históricos o rei estava em outro lugar naquele dia. O livro está repleto de fábulas! É nas páginas de As Vidas que mora o início da narrativa que Leonardo seguia uma "filosofia natural" e secular, que tinha a tendência de deixar suas obras inacabadas, que padecia de melancolia e por aí vai. Muitos outros “biógrafos” deram continuidade ao “romance” até se chegar ao perfil contemporâneo do artista: um cara com a fé de um alquimista às voltas com códigos ocultos dos segredos mais íntimos da natureza. Fascinados pela aura misteriosa de Leonardo, os romancistas lhe atribuem vidas interiores diversas, uma profunda meditação sobre arte e religião, facetas pagãs e cristãs, conflitos e dúvidas, insatisfação com o que fazia e uma "ansiedade" modernosa. Até Sigmund Freud pegou carona e afirmou que o pintor era obcecado pelo sorriso da Mona Lisa porque botava o pai na frente e a mãe ausente idealizada nas telas (rsrs) Mas nada disso mora no único documento absolutamente credível sobre o artista/engenheiro/cientista: os seus próprios Cadernos.
    Um dos benefícios incontestáveis ​​dessas estórias é que elas inspiram a gente a abrir o livro e o link seguintes sobre esse enigmático, inquieto, heterodoxo, profano, e como Vasari diria, "divino" pintor.
    Obrigado e Namastê!

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