Othon Bastos como Corisco, em Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Gláuber Rocha (divulgação) |
Francisco Bendl
Desde que me
conheço por gente gosto de cinema.
Ao longo dos
meus setenta anos assisti a tantos filmes e seriados, que eu não saberia dizer
a quantidade vista nesse meio tempo.
As minhas
observações, no entanto, não se prendem tanto à participação dos artistas, suas
interpretações que dão vida ao enredo do filme.
Interesso-me
pelo país de origem;
O idioma;
O recado que
o filme quer deixar para os espectadores;
O local das
filmagens;
Modos e
costumes regionais;
Tradições das
nações e povos onde se realizaram os filmes;
Comparações
que faço desses países conosco, povo brasileiro, e com o nosso Brasil;
As épocas
que foram realizados e o que traziam de contestação, de contracultura ou de
ampliação de algum movimento;
Os movimentos
sociais, políticos e religiosos.
Dito isso,
se na minha época não havia Bollywood (invasão de filmes indianos e alguns até
mesmo excelentes), muito menos no idioma árabe, em iídiche, filmes finlandeses,
suecos (somente pornôs), dinamarqueses, noruegueses, raros alemães, uma boa
quantidade de filmes franceses, onde alguns foram espetaculares, italianos e
seus renomados diretores e exuberância de suas atrizes, espanhóis, canadenses,
australianos, atualmente as empresas de streaming nos possibilitam uma enorme
variação de filmes e seriados nos idiomas mais desconhecidos para o brasileiro
e locais nunca antes imaginados.
Assisti,
recentemente, um filme no idioma BASCO, realizado no País Basco, na cidade de
Bilbao, Espanha, alguns filmes argentinos excelentes, mexicanos (bons
seriados), uma boa variedade dos filmes turcos e feitos com esmero, filmes
russos e seus dramas;
Também
assisti dois poloneses, um feito na República Tcheca, país dos meus avós
paternos, então a curiosidade, americanos e os nossos, os brasileiros.
E venho
sendo um cinéfilo (cuido muito não errar e escrever cinófilo) desde a década de
cinquenta, a fase ouro dos Estados Unidos, sendo a sequente, sessenta, a
conquista do mundo pelos filmes franceses e italianos, e o surgimento nosso
Cinema Novo.
No entanto,
as diversidades de enredo são incontáveis:
Ficção; Científicos;
Guerras; Guerra fria; Guerra atômica; Guerra em busca da independência das
nações; Melodramas (cinema de lágrimas); O mal-estar dos filmes na década de
sessenta; Filmes latino-americanos; Comédias; Dramas; Românticos; Sagas; Faroeste;
Os filmes “noir”; Biográficos; Comentários; Intimistas; Religiosos; Políticos; Esportes;
Moda; Rebeldes; Musicais; Filmes transpostos de livros famosos (adaptações); Pornográficos;
Sensuais; Futurísticos; Desastres; Tragédias; Sobre a pena de morte; Suspense; Policial;
Terror; Ficção Científica;
A variedade
é tanta que peço perdão se, lá pelas tantas, esqueci de alguma.
Portanto, eu
não poderia abordar essa quantidade enorme de filmes, sob pena de eu cometer um
erro grave, além de ocupar páginas e mais páginas do nosso Conversas do Mano.
Logo,
resolvi dividir os filmes e seus países, abordando nesta crônica o Cinema
Brasileiro, evidentemente na minha ótica, nas minhas observações, nos filmes
que vi ao longo do tempo, consequentemente aceito opiniões em contrário.
Pretendo me
deter no aclamado Cinema Novo, que iniciou justamente na década de sessenta, de
grandes transformações no continente americano e demais nações no mundo.
O cinema
brasileiro teve essa definição porque foi um movimento de renovação da
linguagem cinematográfica no início dos anos sessenta, do século e milênio
passados, quem diria!
O Brasil
passava por transformações naquele período, além do impacto provocado pela
Revolução Cubana, criando pela primeira vez um país socialista muito próximo
aos Estados Unidos, alimentando o imaginário de artistas e intelectuais
brasileiros afinados com o pensamento de esquerda, surgindo a possibilidade de
transformar o país pela via socialista, eliminando as contradições econômicas
mediante reformas sociais, a Reforma Agrária, por exemplo.
Os jovens
cineastas brasileiros lançam-se à direção, realizando filmes que extraíam da
precariedade de recursos uma concepção estética.
E elaboram
filmes desesperados, para tratar de uma situação também desesperada:
Fome, seca
nordestina, favelização, exploração no trabalho, temas da chamada primeira fase
do Cinema Novo.
Assim,
explodem na tela imagens contundentes de um Brasil miserável, inóspito,
marginalizado, corpos dilacerados, falas gritadas, planos abertos da paisagem
árida evidenciando o sol, a fome e a seca do Nordeste.
Cinco Vezes
Favela, uma coletânea de cinco filmes de curta-metragem, dirigidos por Cacá
Diegues, Miguel Borges, Marcos Farias, Joaquim Pedro de Andrade e Leon
Hirszman, de 1962, pode ser considerado como o detonador, o estopim desse
movimento.
O ano
seguinte o consolida:
Deus e o
Diabo na Terra do Sol - de Glauber Rocha, Vidas Secas – de Nelson Pereira dos Santos, Os
Fuzis - de Rui Guerra - pode-se afirmar que são as produções que marcam a
explosão do Cinema Novo.
Filmes que
exibem na tela um Brasil pobre, triste, habitado por uma população miserável,
obrigada a perambular em busca de melhores condições de existência.
Pessoalmente
testemunhei essa procura por uma vida menos atribulada quando morei em Brasília
de 1959 até 1967, e diariamente eu via os caminhões chamados de paus-de-arara,
trazendo dezenas de nordestinos em viagens terrivelmente desconfortáveis porque
os “passageiros” iam sentados em
bancos de madeira na carroceria do caminhão, justamente pela chance que a
construção da nova capital brasileira oferecia a quem se aventurasse sair
de seus locais de origem, porém trazendo
consigo a esperança, a determinação!
Filmes que
se destacaram com seus personagens angustiados:
Manoel,
secos e amargos, Sinhá Vitória e Fabiano, em Deus e o Diabo;
Gaúcho, em
Os Fuzis, revoltado com a inércia do povo e país.
Tornam-se
produtos da miséria, da exploração e do abandono.
O sucesso
internacional desses filmes, apresentados em festivais europeus, anima o grupo
e consagra um espírito de coletividade já existente.
Os roteiros
eram debatidos por todos, surpreendentemente, e as funções se intercambiavam.
O diretor
Glauber Rocha torna-se o porta-voz do movimento e de seus objetivos.
Lança, em
Gênova, no ano de 1965, o manifesto “Por uma estética da fome”, propondo uma arte que marcasse a
característica dos países pobres.
“Nossa
originalidade é nossa fome”, dizia o manifesto, que deveria ser exposto sem
qualquer pudor, estabelecendo uma postura ética e estética, “dando ao público a
consciência da própria miséria”.
A queda de
Jango, em 1964, obrigou ao Cinema Novo que mudasse os seus rumos.
A desilusão
causada pela não reação da população à destituição de um presidente eleito
democraticamente, deixa a esquerda estupefata e sem ação!
Vários
diretores repensam o Cinema Novo.
Trabalham,
agora, com temáticas urbanas em que os personagens são da classe média, como
eles, ou seja, voltam-se para o próprio umbigo, numa espécie de mea culpa
por vezes arrastado:
O Desafio, 1965, de
Paulo César Saraceni, quase sempre amargo;
A Falecida, 1965, de
Leon Hirszman;
A Grande
Cidade, 1966,
de Cacá Diegues;
O Bravo
Guerreiro, 1968, de Gustavo Dahl;
O
desesperado Terra em Transe, 1967, de Glauber Rocha.
Na tentativa
de conquistar o público, o Cinema Novo recorre ao musical:
Garota de
Ipanema,
1967, de Leon Hirszman;
A comédia Macunaíma,
1969, de Joaquim Pedro de Andrade.
Glauber
Rocha, que fora preso em 1965, deixa o país em 1970, retornando seis anos
depois.
O Cinema
Novo diante das censuras e monitoramento político interrompe a sua trajetória.
Os anos 70
no Brasil serão dominados pela pornochanchada, filmes que exploram cenas de
sexo e piadas de duplo sentido.
Mas, o
reconhecimento do movimento Cinema Novo foi mundial.
Entre 1963 e
1965, os filmes brasileiros conquistaram prêmios em 22 festivais
internacionais.
Até hoje,
Glauber Rocha é admirado e citado por cineastas nacionais e estrangeiros, como
Martin Scorsese, por exemplo.
A temática
da pobreza nordestina ainda surge na tela cinematográfica de filmes nacionais:
Eu, Tu, Eles, 2000, de
Andrucha Waddington.
Faço questão
de deixar registrado algumas informações sobre esses desbravadores do cinema
nacional, que elevaram esta arte a patamares que não podem ser esquecidos, e
que devem ser elogiados e reconhecidos por quem gosta de cinema, que é o meu
caso:
Cacá Diegues. alagoano, Maceió, 19 de maio de 1940.
Alguns de
seus filmes:
Cinco Vezes
Favela – 1962, Ganga Zumba – 1964, A Grande Cidade – 1966, Os Herdeiros – 1969,
Quando o Carnaval Chegar – 1972, Joanna a Francesa – 1973, Xica da Silva – 1976,
Chuvas de Verão – 1978, Bye Bye Brasil – 1979, Quilombo – 1984, Um Trem para as
Estrelas – 1987, Dias Melhores Virão – 1989, Veja Esta Canção – 1994, Tieta do
Agreste – 1996, Orfeu – 1999, Deus é Brasileiro – 2003, O maior Amor do Mundo –
2006, Giovanni Improtta – 2013, O Grande Circo Místico – 2018.
Miguel Borge, piauiense, Picos, 21 de fevereiro de 1937/São Lourenço, Minas
Gerais, 17 de junho de 2013.
Alguns de
seus filmes: O Caso Cláudia – 1979, Pecado na Sacristia – 1975, O Último
Malandro – 1974, As Escandalosas – 1970, Maria Bonita, Rainha do Cangaço – 1968,
Perpétuo Contra o Esquadrão da Morte – 1967, Canalha em Crise – 1965, Cinco
Vezes Favela – 1962.
Marcos Farias, Campos Novos, Santa Catarina, 1935/Rio de Janeiro – Rio de
Janeiro, 1985.
Alguns de
seus filmes: Bububú No Bobobó – 1980, Fogo Morto – 1976, A Cartomante – 1974,
A Vingança dos Doze – 1970, Cinco Vezes Favela – 1962
Joaquim Pedro de Andrade, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 25 de maio de
1932/Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 10 de setembro de 1988.
Alguns de
seus filmes: Garrincha, Alegria do Povo – 1963, O Padre e a Moça – 1966, Macunaíma
– 1969, Os Inconfidentes – 1972, Guerra Conjugal – 1975, O Homem do Pau-Brasil –
1982
Leon Hirszman, Lins de Vasconcelos, Rio de Janeiro, 22 de novembro de 1937/Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 15 de setembro de 1987.
Alguns de
seus filmes: Imagens do Inconsciente – 1983/86, Eles não Usam Black-tie –
1981, ABC da Greve – 1979/1990, Que País é Este? – 1977, Rio, Carnaval da Vida
– 1977, Partido Alto – 1982, São .Bernardo – 1972, Garota de Ipanema – 1967, A
Falecida – 1965, Maioria Absoluta – 1964.
Glauber Rocha, Vitória da Conquista, Bahia, 14 de março de 1939/Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981.
Alguns de
seus filmes: Barravento – 1962, Deus e o Diabo na Terra do Sol – 1964
(Indicado à Palma de Ouro, Festival de Cannes), Terra em Transe – 1967
(Indicado à Palma de Ouro, Festival de Cannes), O Dragão da Maldade Contra o
Santo Guerreiro - 1968 (Vencedor como melhor diretor, Palma de Ouro, Festival
de Cannes), Cabeças Cortadas – 1970, O Leão de Sete Cabeças – 1971, Câncer –
1972, Claro – 1975, A Idade da Terra – 1980 (Indicado ao Leão de Ouro, Festival
de Veneza).
Ruy Guerra, Maputo, Moçambique, 22 de agosto de 1931.
Alguns de
seus filmes: Os Cafajestes – 1962, Os Mendigos – 1962, Os Fuzis – 1964, Os
Deuses e os Mortos – 1970, Aguirre – 1972 (ator), A Queda – 1976, Erêndira –
1983, Ópera do Malandro – 1986, Kuarup – 1989, Estorvo – 2000, O Veneno da
Madrugada – 2004, Quase Memória – 2015.
Nelson Pereira dos Santos, São Paulo, São Paulo, 22 de outubro de
1928/Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 21 de abril de 2018.
Alguns de
seus filmes: Rio 40 Graus – 1955, Mandacaru Vermelho – 1961, Boca de Ouro –
1962, Vidas Secas – 1963, Fome de Amor – 1968, Como era Gostoso o Meu Francês –
1971, Tenda dos Milagres – 1977, Memórias do Cárcere – 1984, Jubiabá – 1987, Brasília
18% – 2006,
Recomendo
que assistam alguns desses filmes originários do Cinema Novo.
Vale a pena reverenciarmos
ideais contidos nos filmes que impactaram o brasileiro, e deixaram excelentes
impressões em outras nações.
Curiosamente,
se foi a miséria do Brasil a causa desse movimento onde a estética era a fome,
o abandono do povo, o seu desespero, afirmo, categoricamente, que após sessenta
anos do surgimento de um Brasil real nas imagens cinematográficas, caso esses
notáveis diretores, roteiristas, atores, tivessem condições de nos brindar com
as suas criatividades, talentos, uma visão de país verdadeiro, encontrariam as
mesmas condições do passado, lamentavelmente.
A fome, a
miséria, a seca do Nordeste, a favelização do povo, o analfabetismo absoluto e
funcional, a pobreza, acrescidas pelo consumo de drogas e bolsões de
dependentes químicos, as cracolândias, demonstrando a total incompetência e
descaso do governo com essas pessoas que sofrem, e perderam as suas vidas, pois
esses nomes célebres, de gente idealista, de propósitos definidos, encontrariam
um campo muito maior que o utilizado à época quando criaram o movimento Cinema
Novo.
Eu até
ousaria denominar a restauração desse movimento como Cinema Velho, onde eu
apresentaria filmes que se contrapusessem com os da década de sessenta com a
época atual, de modo a comprovar a revolta do Gaúcho no filme os Fuzis, ao se
deparar com a estagnação que ainda nos encontramos!
Quem sabe,
se o Mano autorizar e concordar com o tema, na próxima vez eu aborde os filmes
nacionais que tiveram a maior bilheteria até hoje e, em um outro momento, a
riqueza dos filmes regionais, Mazzaropi, Teixeirinha, e alguns documentários
específicos, realizados nas Regiões desse imenso país...
1) Parabéns Bendl. Vc tem um acervo impressionantes de filmes.
ResponderExcluir2) Pode, daqui para frente, além dos nacionais falar tb de filmes estrangeiros, os países mais distantes etc.
3)Boa semana !
Caro amigo e professor, Rocha,
ExcluirNão tenho este acervo que mencionaste, em princípio, mas uma pequena parte.
Comecei a gostar do Cinema Novo, que à época - década de sessenta - não era assim conhecido, pelo fato de eu morar em Brasília, DF, onde havia o Cine Bruni no Plano Piloto, e o meu Paranoá, em Taguatinga.
Ora, como a população do DF era composta na sua maioria pelos irmãos nordestinos, quando esses filmes passavam lá ia eu com meus amigos assisti-los.
Já taludo, percebi que o cinema brasileiro era melhor que o americano no confronto entre os "bang bang" e os filmes nossos, que mostravam as agruras da seca, da fome e do cangaço.
Obrigado pelo comentário, meu caro.
Um forte abraço.
Saúde.
Chicão, o Cinema Novo foi uma época (se assim podemos chamar) onde alguns dos filmes foram obras primas que vão sempre ficar na memória de quem os assistiu. Um período onde vários desses filmes tiveram uma força, uma conexão com uma realidade brasileira até então relativamente pouco mostrada, feitos por grandes diretores e grandes atrizes e atores.
ResponderExcluirEsperamos, é claro, seu post com mais coisas sobre o nosso cinema; os filmes do Mazzaropi, especialmente, a princípio considerados apenas diversão sem compromisso, foram belos retratos de uma alma do brasileiro simples do campo, por um dos nossos atores que melhor o compreendeu.
Um abraço do Mano
Caríssimo Mano,
ExcluirO cinema brasileiro tem dois personagens regionais muito importantes:
Mazzaropi e Teixeirinha, RS.
Enquanto o primeiro abordava o matuto, porém honesto, trabalhador, simples, mas inteligente, sagaz, esperto, e do jeito que o matuto falava, se comunicava, se vestia, incluindo a maneira muitas vezes espirituosa de levar a vida, o gaúcho mais se fixava na terra - o sulista é muito telúrico -, nos costumes, nas tradições do Rio Grande do Sul, cujo roteiro era mesclado com as músicas compostas e cantadas pelo célebre Teixeirinha, que chegou a fazer sucesso nacional.
Pretendo comentá-los, sim, se me permitires.
Obrigado pelo comentário.
O teu texto me animou a seguir em frente com esta temática, onde deixo para os especialistas as atuações dos atores, pois mais aprecio o filme em si, o que traz de novo, de interessante,onde foi feito, razões, causas, recados que pretende deixar, história ... enfim, que eu saiba sempre um pouco mais, principalmente pelas imagens do local, da terra, que desconheço pessoalmente.
Um forte e fraterno abraço.
Saúde, muita saúde junto aos teus amados.
Prezado Autor Sr. FRANCISCO BENDL,
ResponderExcluirMuito interessante esse Artigo sobre a arte do Cinema em geral e particularmente do Cinema Brasileiro.
O Cinema Norte-Americano (Hollyhood) teve/tem grande influência no Brasil porque os Norte-Americanos dominaram em +- 95% a Distribuição de Filmes no Mercado Brasileiro. E sendo as maiores Distribuidoras associadas aos grandes Estúdios Americanos, só passavam aqui o que lhes era mais lucrativo.
Eles distribuíam Filmes Ingleses, Franceses, Italianos, Alemães, etc, mas só uma minoria, logicamente a grande maioria eram Filmes Americanos.
A meu juízo manejamos mal o Mercado da Distribuição de Filmes no grande Mercado Brasileiro.
A Indústria de Filmes Brasileira que nasceu principalmente dos Filmes do Estúdio Atlântida ( Rio de Janeiro-RJ) e Estúdio Amácio Mazzaropi (Campinas-SP), e outros pequenos Regionais, por motivo de não se transformarem em poderosas Sociedades Anônimas terminaram se acabando com a morte de seus geniais Fundadores.
Tivemos a fase do Cinema Novo, já muito subsidiado pela Embrafilmes, Estatal financiadora que nunca gerou um Cinema de Massas, pois financiava só Temas de interesse Político do Governo, muitos Temas de Vanguarda e não se sobrevive no Mercado só de Filmes de Vanguarda.
Quem fez sucesso comercial foi a Dramaturgia da Rede Globo que aproveitou grande parte dos Artistas formados no Estúdio Atlântida, Estúdio Amácio Mazzaropi, dos Estúdios Menores Regionais e Teatro. Não discuto aqui a qualidade Artística das Novelas da Globo, mas que foram grandes sucessos Comerciais, foram.
Aguardamos a sequência sobre Cinema, especialmente o NACIONAL, com os Filmes de maior bilheteria.
Um abração do seu tamanho.
Mestre Bortolotto,
ExcluirRepito:
Muito me honra teus comentários sobre as minhas postagens, graças à bondade e paciência do nosso amigo comum, o Mano.
Consta na minha "agenda", fazer uma pesquisa rigorosa sobre os filmes nacionais de maior bilheteria, mas não só no aspecto de valores arrecadados e espectadores, mas o que foi este filme que levou tanta gente para assisti-lo.
E, posso afirmar, mestre Bortolotto, que o Brasil fez filmes excelentes nesse meio tempo, razão pela qual a frequência e valores obtidos.
E pretendo incluir algumas das chanchadas que também eram sucesso de público, como a dupla Oscarito (Oscar Lorenzo Jacinto de la Imaculada Concepción Teresa Dias) e Grande Otelo, depois o divertidíssimo Ankito.
E o que me dizes do corpo escultural de Renata Fronzi, argentina, sim, que veio para o Rio de Janeiro com dois anos de idade, e foi casada com César Ladeira, por vinte anos?
Que espetáculo!
Pois esta belíssima mulher povoava a mente da gurizada em idílios amorosos um tanto quanto impublicáveis.
Muito obrigado, mestre Bortolotto, pelo comentário.
Um forte e fraterno abraço.
Saúde, e vida longa.
Olá querido FBendl, Chicão dos Pampas,
ResponderExcluirAdorei seu post.
O Cinema Novo, ainda éramos jovens e bem jovens, me impressionou muito. Muitas vezes me deixou angustiada talvez por pensar não ter entendido ou pela pobreza refletida. E esse não ter entendido fui processando vida afora. Das cenas de cangaço revi no livro Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço, de Adriana Negreiros.
E essa angústia me acompanhou também nos movimentos dessa estranha e bem vinda impaciência com o cinema velho nos paises europeus: Bergman e Bibi Anderson, Godard e Anna Karina, Fellini e Anita Ekberg e Julieta Masina, Pasolini.
Inclassificáveis!!!
Falam de um consciente coletivo que provoca esses movimentos artísticos generalizados. Hoje com tudo tão rápido não sei se se fazem notar.
Com seu texto fiquei sabendo mais do nosso Cinema Novo. Dele faz parte o Castelo dos Anjos? Gostei muito de Deus e o Diabo na Terra do Sol,imperdível, música idem, O Padre e a Moça, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, Eles não usam Black-tie , adorei! E outros, estou tipo pão de forma, casca dura e miolo mole.
O crime dos filmes brasileiros é o som. Tem melhorado mas ainda é ruim.
Dos mais recentes, gostei demais de Cinema, aspirinas e urubus, gênero road movie.
Nunca esquecido o Alto da Compadecida e um outro onde o diabo veste terno de linho. E lógico, Central do Brasil com a impagável Fernanda Montenegro. Eu, tu ,ele, sem sombra de dúvida.
Quero mais, Chicão.
No aguardo.
Minha querida amiga, Aninha,
ResponderExcluirConcordo plenamente que o problema dos filmes nacionais tem sido o som. Ora estridente, ora ininteligível, ora com eco ... lá pelas tantas, penso que a aparelhagem dos cinemas pode ser a causa.
O Cinema Novo contribuiu decisivamente para o povo - aqueles que podiam ir ao cinema, claro - tomar conhecimento da realidade do nosso país naquela época, final da década de cinquenta e a de sessenta integralmente.
Quem era do Sul, passou a ver um Nordeste com seus problemas que jamais imaginava que seriam tão absurdamente dramáticos, como a fome, a miséria, a seca, e o cangaço.
Seus diretores, que eram partidários de uma política de esquerda, e mais ainda quiseram enaltecê-la depois da Revolução Cubana, tinham como ideia mostrar um Brasil que o mundo o desconhecia.
Não éramos somente carnaval, futebol, indígenas, mulheres sensuais e com pouca roupa, não, havia um pedaço enorme desse país que tinha sido abandonado, deixado para trás, condenado à pobreza.
Com o início do regime de exceção, iniciado em 64, o Cinema Novo se viu diante da censura mas, mesmo assim, ofereceu à plateia filmes extraordinários.
O Palácio dos Anjos, que mencionaste, de Walter Hugo Khouri, 1.970, foi uma produção franco-brasileira, logo, não pertenceu ao Cinema Novo, pois este era fundamentalmente brasileiro.
Os demais títulos que citaste, de filmes excelentes, sem dúvida, surgiram depois desse movimento, que trazia consigo o recado político como pano de fundo.
Com a censura agindo impiedosamente naquilo que entendia como "subversivo", a tesoura corria solta.
Pretendo abordar os filmes que citaste, pois foram importantes à época de suas produções.
O interessante é que mesmo com parcos recursos à realização dessas produções cinematográficas, o artesanato brasileiro se mostrava criativo, o pensamento dos diretores e produtores na maioria das vezes era voltado para o aspecto social, a grande chaga nacional até os dias de hoje.
E não podemos, Aninha, esquecer das pornochanchadas, que marcaram época no país, que levaram muitas pessoas ao cinema, e com a participação em um deles, de Erasmo Carlos, o lado "mau" do seu amigo Roberto Carlos, um célebre "careta", mesmo durante o inesquecível e importante movimento chamado Jovem Guarda.
Lembro que a década de 60 caracterizou-se pelo fortalecimento dos movimentos de esquerda nos países do Ocidente, tanto no plano político, quanto no ideológico.
No Plano cultural o movimento da contracultura irá dominar. O surgimento do feminismo e os movimentos civis em favor dos negros e homossexuais irão dar a tônica para as reivindicações nos anos seguintes.
Foi assim que movimentos como os hippies, contrários à Guerra Fria e do Vietnã, surgem para encabeçar os ideais pacifistas da época.
Um conjunto de manifestações surge em diversos países. Essa manifestações decorrem dos movimentos pelos negros (black power), dos movimentos pelos gays (gay power) e pela igualdade de estatuto entre os gêneros (women's lib).
Sem espanto, a rebeldia dos anos 60 terá seu ápice em 1968 quando diversos movimentos estudantis pelo globo tomam conta das ruas para contestar a sociedade vigente.
O cinema não poderia ficar distante desse momento.
O brilhantismo dos nossos geniais diretores captou com precisão a maneira como que deveríamos apresentar o Brasil, e fazer parte dessas contestações em nível mundial.
Há muito assunto ainda, Aninha, sobre o cinema brasileiro. Caso o Mano concordar, pretendo apresentar mais um que outro artigo a respeito.
Os filmes de maior bilheteria, o melhor em termos de roteiro, aquele que transmitiu o seu recado de modo mais eficaz, enfim, algumas peculiaridades nossas.
Muitíssimo obrigado pelo teu comentário.
Auxiliou-me ampliar a ideia de como apresentar outra etapa do cinema brasileiro que, espero, seja do agrado de todos.
Um forte e fraterno abraço, minha querida amiga, Aninha.
Saúde, muita saúde junto aos teus amados.
Prezado Bendl,
ResponderExcluirAgradeço-lhe por esse informativo post sobre o Cinema Novo, um tema que infelizmente conheço muito pouco porque na década de sessenta era um pirralho e passei a de setenta e os primeiros anos oitenta pelo mundo. Desse seu impressionante acervo cinematográfico confesso que vi poucos filmes, entre eles Vidas Secas, Memórias do Cárcere, Macunaíma e Quarup que, na minha modesta opinião, não conseguiram traduzir toda a força dos livros dos mestres contadores de história Graciliano Ramos, Mário de Andrade e Antônio Callado. Não vou comentar os filmes citados que assisti de 1984 em diante porque sabendo que você se aprofundará no assunto – e faz muito bem! – não gostaria de cometer spoilers (rsrs)
Apesar da minha imensa falta de informação não acho que a guinada urbana que o cinema brasileiro deu foi em direção aos umbigos classe média de seus diretores. Era o Brasil mudando e os caras tentando conversar tanto com a real quanto com o prezado público. Note que em 1960 a Sinhá Vitória, o Fabiano, os “minino” maior e o menor eram a cara do Brasil retirante, um país brutalmente rural. Há alguns anos atrás, no filme Que Horas Ela Volta? protagonizado por Regina Casé essa cara já mudara: passara a ser a da Val, uma nordestina batalhadora que migra para São Paulo e arranja trabalho de empregada doméstica com uma família classe média, cria o filho deles e é considerada “da família” até a chegada da sua própria filha para fazer vestibular. O cenário é urbano, mas a crítica social é a mesma.
Concordo com você que as desigualdades contaram e continuam contando a nossa história: o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Mas discordo que nas últimas décadas elas não tenham mudado e penso que para se criar filmes capazes de retratá-las e políticas públicas capazes de minimizá-las há que se ter uma foto ampla do país, uma análise desapaixonada dele como um todo, uma síntese de seus números. Recomendo-lhe a leitura de um livro de nome “Trajetórias das Desigualdades: Como o Brasil Mudou nos Últimos 50 anos” o qual demonstra, baseado nos dados coletados pelos últimos seis Censos realizados pelo IBGE, quais foram as transformações que rolaram nas nossas praias e pampas - para melhor e para pior - como, porque e onde.
Abração
Prezado Pimentel,
ResponderExcluirOs teus comentários sobre uma que outra postagem minha me deixam orgulhoso, alegre, pois estou sendo criticado por um expert a respeito da cultura e suas variações.
Jamais me atreverei a questionar os teus pensamentos, ideias, conclusões, pareceres, interpretações, pelo fato que a distância que tens de mim quanto ao teu aparato de conhecimentos é oceânica.
Enquanto sou uma canoa a remos, és um transatlântico moderno e movido a energia atômica!
Dito isso, torna-se evidente que as minhas análises devidas às minhas parcas ideias, à minha mente dotada de poucas luzes e fracas, constata um Brasil diferente do teu, que afirma ter havido melhoras, enquanto eu digo o contrário, que pioramos!
E parto do seguinte princípio:
Se os avanços científicos e tecnológicos hoje existentes, e que sequer imaginávamos 50 anos atrás que algumas dessas invenções seriam realizadas – celular, por exemplo, transplantes de órgãos, TV de tela plana e Smart ... -, este nosso país varonil aumentou o número de pobres e miseráveis!
Ora, ora, a população brasileira na década de sessenta era de 71 milhões de habitantes e, a década de setenta, 94 milhões.
Atualmente, temos um número de habitantes que atinge 210 milhões de almas mas, em contrapartida, pobres e miseráveis, analfabetos absolutos e funcionais, atingem a população inteira das duas décadas que citei!
E passa longe dos 94 milhões de pessoas, caso eu mencionar a estatística dos trabalhadores e aposentados que vivem com um salário mínimo:
120 milhões de brasileiros!!!
Continuo:
A violência imola 60 mil pessoas a cada ano;
Em 2018, Pimentel, somente as estradas federais, deixando de fora as estaduais e municipais, ceifaram a vida de 54 mil pessoas, ou seja, se somarmos as demais rodovias, a soma saltará para mais de cem mil mortos!
A saúde pública só com os casos de pressão alta e cardiopatias, enterra trezentas mil pessoas, surpreendentemente.
O nível salarial do brasileiro decaiu assustadoramente;
O nosso ensino está sempre na rabeira das comparações com outros países;
A má educação, o desrespeito, os casos de estupro, pedofilia, latrocínios, assassinatos, os crimes de corrupção ... decididamente não podem configurar um Brasil melhor, mas não mesmo.
(continuo)
Observa o estado das Universidades Públicas. Uma atrocidade. Não são estudantes que lá estão, porém vândalos!
ResponderExcluirQuem acredita na política nacional?
Até a “Velhinha de Taubaté” desistiu!
E quem acredita nos poderes constituídos?
Nem eles mesmos confiam em seus pares!
Não, não, não, o Brasil não melhorou, piorou!
Talvez para as pessoas que estudaram, que tiveram um berço adequado, pai e mãe sempre unidos, a família bem constituída, a vida para elas tenha melhorado, admito.
Agora, para esta vasta população de maltrapilhos, de gente esfaimada, doente, sem teto, sem ter o que vestir, sem emprego, endividada, sem acesso à saúde, educação e segurança, por favor, trocaram as suas existências pela sobrevivência, e olhe lá!
Pois foi exatamente este quadro dramático do Brasil na década de 60, que o cinema brasileiro começou a ser notado e visto porque retratava com fidelidade a pobreza, a miséria, a falta de esperança, a resignação, a célebre frase “Deus quis assim”.
Mais:
A violência que alguns desses filmes continha era recado ao povo que somente com luta conseguiria melhorar a sua vida de mendicidade, carestia, necessidade absoluta.
Mas, o povo brasileiro tem um temperamento de revolta e indignação somente no futebol!
Torcida do Palmeiras quando em frente a do Corinthians, mortes;
Cruzeiro e Atlético, mortes;
Inter e Grêmio, mortes;
Flamengo e Vasco, a mesma tragédia.
Quanto à política, aprendemos que nossa obrigação é somente obedecer e outorgar poderes, mais nada.
Pergunto mais uma vez:
Melhoramos em quê?!
De sã consciência, Pimentel, o Brasil tem jeito?
Quantos cidadãos deverão morrer através da falta de atenção dos governantes, de seus desprezos pelo povo, até o país começar a andar?!
E quantos de nós não aumentarão as estatísticas de pobres e miseráveis, analfabetos absolutos e funcionais até lá?!
Que o Brasil é um paraíso para as elites já conhecidas e, atualmente, as castas do Judiciário e Legislativo é indiscutível.
Mas, para o povão, que dorme embaixo de marquises e portas de lojas, que busca se alimentar dos restos que encontra nas latas de lixo, que vive nas ruas, que segue procriando mais filhos que serão como seus pais, sem qualquer esperança de vida e sem um teto por mais humilde que seja, que mais de 70% das casas não têm esgoto (?!), que as drogas matam milhares de jovens abandonados à própria sorte nas cracolândias, um espetáculo deprimente e deplorável que jamais pensamos que poderia acontecer no passado, se tais constatações, fatos, significam um Brasil melhor, com todo o respeito, mas quem afirma tal disparate só mesmo residindo em outro país!
Não sei, lá pelas tantas a minha empatia pelos necessitados e carentes é exagerada, mas acho que não.
Não consigo me imaginar morando nas ruas, tomando banho nos chafarizes, buscando restos de comidas estragadas e azedas para matar a fome, andando com trapos emendados, fedorento, sem ter para onde ir para satisfazer as minhas necessidades fisiológicas, então uma árvore serve – claro, grande -, se eu não me tornaria membro de alguma facção criminosa e partiria para o assalto, para a venda de drogas, de modo que eu pudesse me manter.
Sim, sim, de certa forma, pode-se explicar o crescimento de mais esta tragédia no cenário nacional:
O aumento no consumo de drogas e traficantes.
O Brasil então melhorou?!
Por favor Pimentel, me empresta esses teus óculos do otimismo, nessas alturas, pois só vejo situações cada vez mais graves e piores para esta nação!
Um forte abraço.
Saúde, muita saúde.