Leonardo Da Vinci - Salvator Mundi (detalhe) / Leonardo Da Vinci - Mona Lisa (detalhe) - imagens wikipedia |
Moacir Pimentel
Hoje abrimos o post com uma imagem que mistura dois pedaços de dois quadros famosos de Leonardo da Vinci: o rosto do Salvator Mundi com um olho da Mona Lisa...
Porque o Salvator Mundi - a pose curiosa, o sorriso inescrutável, a mão perfeita, o olhar indecifrável - é primo legítimo da Mona Lisa. Essas miradas semelhantes e hipnóticas e sua insuperável qualidade, ao fim e ao cabo, são aquilo que prende o olhar do observador nas pinturas do florentino e dei de pensar que quase todos os olhos de Leonardo eram os mesmos: os dele, não os físicos, mas a visão dele.
Há muuuito tempo prometi à comentarista Flávia que conversaríamos sobre esse Salvator Mundi desaparecido do pintor renascentista, uma obra de arte que sempre foi cobiçada e cuja história foi uma viagem que atravessou as fronteiras da Itália, o oceano Atlântico e muitos séculos.
Quando ressurgiu há quase uma década atrás, como sempre acontece quando das atribuições de obras desconhecidas a artistas famosos, o Salvator Mundi “causou” como diz a juventude tanto rebuliço acadêmico quanto frenesi midiático. Pudera: era um patinho feio e virou o Príncipe da Pintura! Talvez todo esse burburinho não seja surpreendente, pois a pintura é o único retrato individual que Leonardo pintou do Cristo adulto e com uma postura atípica, frontal, bem diferente dos perfis oblíquos ou “três quartos” de seus retratos seculares.
Quando o contemplamos na National Gallery londrina, em 2011, devo confessar que essa sombria e um tanto estranha imagem de cabelos ruivos nos convenceu exatamente pela sua estranheza e, é claro, pelo carimbo da Galeria que, no catálogo da maior exposição já realizada das pinturas e desenhos do Mestre, descreveu-a como “uma obra recém-descoberta de Leonardo da Vinci”, cometendo uma atribuição na extremidade superior da escala Richter do mundo da arte! Após cinco séculos de obscuridade, o Salvador Mundi virou uma celebridade internacional.
Só que o painel também ajudou a mudar alguns paradigmas sobre Leonardo da Vinci. Que, por exemplo, não acreditava na religião como a ditava a Igreja, mas pensava por si mesmo, claramente ciente de que as lições da Bíblia haviam sido distorcidas, Ele escreveu:
Quando o contemplamos na National Gallery londrina, em 2011, devo confessar que essa sombria e um tanto estranha imagem de cabelos ruivos nos convenceu exatamente pela sua estranheza e, é claro, pelo carimbo da Galeria que, no catálogo da maior exposição já realizada das pinturas e desenhos do Mestre, descreveu-a como “uma obra recém-descoberta de Leonardo da Vinci”, cometendo uma atribuição na extremidade superior da escala Richter do mundo da arte! Após cinco séculos de obscuridade, o Salvador Mundi virou uma celebridade internacional.
Só que o painel também ajudou a mudar alguns paradigmas sobre Leonardo da Vinci. Que, por exemplo, não acreditava na religião como a ditava a Igreja, mas pensava por si mesmo, claramente ciente de que as lições da Bíblia haviam sido distorcidas, Ele escreveu:
“Muitos que possuem a fé no filho só constroem templos em nome da mãe”.
Isso significava que o artista acreditava que aqueles que seguiam a Igreja estavam mais inclinados a adorar a Virgem do que a seguir os ensinamentos do Cristo. Não é de se admirar que ele e seus quadros fossem às vezes considerados sacrílegos.
Para entender a pintura do florentino antes é preciso lembrar que a mente brilhante de Leonardo tinha concepções heréticas que não se aproximavam de qualquer religião. Como muitos outros de seu tempo, ele era muito mais um filósofo esotérico do que um cristão e preferia o Cristo bíblico aos dogmas da Igreja.
Um dos meus livros prediletos é uma rara edição em papel couchê chamado Leonardo da Vinci - Complete Paintings, editado em 2000 e da lavra do acadêmico italiano Pietro C. Marani, uma das maiores autoridades sobre a obra do artista. É um livro enorme, ricamente ilustrado com duzentas e noventa e cinco fotos das obras de Leonardo, a maioria delas a cores.
Ele tem cinquenta centímetros de altura por quarenta centímetros de largura e então, quando o abro nas páginas centrais onde estão as fotos das pinturas e desenhos, elas surgem à minha frente com quase um metro de pura beleza e encaro as faces e mãos feitas por Leonardo, maiores até do que as minhas.
Cada lascadura na camada de tinta é visível e em algumas das imagens ampliadas podem ser vistas inúmeras impressões digitais do artista, que usava a ponta dos dedos para misturar as tintas sobre a tela e conseguir aqueles famosos sfumatos, o cerne da qualidade de seus trabalhos.
No livro - que no momento está aqui à minha beira e faz justiça pela sua beleza física à obra do gênio renascentista – moram, além das suas quatorze telas conhecidas, todos os mais importantes esboços do gênio, que podem ser, às vezes, mais bonitos do que as próprias pinturas.
As fotos, de grande qualidade, me revelam de forma sempre renovada o extraordinário sentido de luz e sombra, de cor e atmosfera, aquela fugitiva e intangível qualidade do pintor que, na falta de melhor palavra, dizemos leonardesca.
Leonardo é um artista elusivo cujos trabalhos a gente contempla como objetos de rara beleza mas que são verdadeiros quebra-cabeças que em vão se tenta montar e interpretar e reinterpretar indefinidamente.
Os personagens do pintor nos fascinam porque fogem de nós e aquilo que os mantém vivos é justamente o que lhes permite escapar (rsrs). Alguns mistérios são mais interessantes que outros mas das coisas de Leonardo nunca se pode ter certeza.
Na imaginação popular Leonardo é um criador de milagres, um gênio, um cara que gera obsessão em acadêmicos e amadores. De fato, é difícil olhar para os trabalhos dele da mesma maneira como vemos as obras de outros artistas. Fica-se entre a interpretação e a presença visual, o deliberado e o danificado, o sagrado e o profano. Mas as esplêndidas pinturas que nos olham de longe não nos fazem esquecer a inestimável quantidade de esboços, estudos, meandros, piadas e anotações que também eram produto de uma mente curiosa e animada, que fervilhava, tantas são as passagens escritas e desenhadas que enchem as páginas dos seus Cadernos.
Às vezes, ele começava um desenho próximo à borda de um papel em branco, sem deixar espaço para sua conclusão. É como se e;e estivesse sempre projetando seus pensamentos e observações do mundo e, às vfezes, perdesse a tela e/ou a página do Caderno, com pressa e entusiasmo, ou sobrepusesse várias imagens até que se tornassem uma mancha negra quase identificável. É nos desenhos que Leonardo realmente ganha vida para mim, como em um desenho animado, é nos rascunhos, no criar, no planejar que morava o espírito dele.
Os personagens do pintor nos fascinam porque fogem de nós e aquilo que os mantém vivos é justamente o que lhes permite escapar (rsrs). Alguns mistérios são mais interessantes que outros mas das coisas de Leonardo nunca se pode ter certeza.
Na imaginação popular Leonardo é um criador de milagres, um gênio, um cara que gera obsessão em acadêmicos e amadores. De fato, é difícil olhar para os trabalhos dele da mesma maneira como vemos as obras de outros artistas. Fica-se entre a interpretação e a presença visual, o deliberado e o danificado, o sagrado e o profano. Mas as esplêndidas pinturas que nos olham de longe não nos fazem esquecer a inestimável quantidade de esboços, estudos, meandros, piadas e anotações que também eram produto de uma mente curiosa e animada, que fervilhava, tantas são as passagens escritas e desenhadas que enchem as páginas dos seus Cadernos.
Às vezes, ele começava um desenho próximo à borda de um papel em branco, sem deixar espaço para sua conclusão. É como se e;e estivesse sempre projetando seus pensamentos e observações do mundo e, às vfezes, perdesse a tela e/ou a página do Caderno, com pressa e entusiasmo, ou sobrepusesse várias imagens até que se tornassem uma mancha negra quase identificável. É nos desenhos que Leonardo realmente ganha vida para mim, como em um desenho animado, é nos rascunhos, no criar, no planejar que morava o espírito dele.
Não sei quantos livros mais comprei ou li emprestados, que me prometiam explicar o sorriso da Mona Lisa e revelar os segredos da pintura de Leonardo. Tudo inútil. O artista, quase quinhentos anos após a sua morte, continua enigmático.
Em seu próprio tempo de vida ele já havia se tornado lendário, tanto que até mesmo o rei da França se encantou por seu trabalho. Seus biógrafos não lhe pouparam elogios:
“A sua extravagância imaginativa e verbal arrebatava, o esplendor da sua grande beleza poderia acalmar a alma mais triste, e as suas palavras poderiam mover a mente mais obstinada”.
Enquanto os seus requintados desenhos parecem ter sido os precursores do cinema, as suas criaturas de tinta em um punhado de painéis de madeira de lei fascinam a humanidade e seus diagramas, mapas e projetos de engenharia sobre milhares de folhas de papel são geniais. Mas o próprio homem, o criador, continua misterioso.
Quantas centenas de milhares de palavras já não foram escritas tentando transmitir a combinação extraordinária de talento e brio imaginativo que era a mente desse homem enigmático?
Leonardo provavelmente teria considerado todas essas pretinhas como pobres e desajeitados recursos para capturar-lhe a complexidade. Debaixo de um desenho minucioso de um coração dissecado, em uma das muitas páginas de seus estudos anatômicos deslumbrantemente precisos, ele escreveu:
“Que palavras se pode encontrar para descrever a disposição de um coração, como foi perfeitamente feita por este desenho? Meu conselho é para não se incomodar com as palavras, a menos que você esteja falando para os cegos”.
Parece que, para Leonardo, a representação gráfica era a forma mais adequada e precisa de comunicar uma verdade ou para passar uma mensagem para a posteridade. Infelizmente, seus auto retratos a tinta, lápis ou giz – que seriam os equivalentes à tal precisão cardíaca descrita pelo artista - não sobreviveram até nós.
Embora alguns historiadores de arte se esforcem para nos convencer de que eles identificaram imagens de Leonardo entre os seus muitos milhares de esboços e desenhos, ninguém pode provar que Leonardo tenha desenhado a própria face.
Os únicos retratos quase confiáveis mostram o grande gênio renascentista na velhice com longas madeixas e barbas fluindo – o epítome do sábio antigo. Veja à sua esquerda um desses supostos auto retratos:
Leonardo Da Vinci - Retrato de um homem, a giz vermelho / Francesco Melzi - Retrato de Leonardo (imagens Wikipedia) |
Mesmo os alegados retratos feitos dele por outros artistas, como é o caso do famoso perfil feito pelo seu aluno Francesco Melzi, acima à direita, não nos mostram a cara de Leonardo. Não há nenhum retrato corajoso, sugestivo do homem no seu apogeu, nenhuma imagem dele no seu ofício, trabalhando como artista ou engenheiro.
Desde os meus vinte e poucos anos, estudante na Itália, percebi observando as obras do artista que várias das suas criaturas são extremamente parecidas. Alguns semblantes presentes à Ultima Ceia lembram os rostos de anjos ou os perfis dos guerreiros e até mesmo o seu Homem Vitruviano – supostamente um Leonardo jovem – da primeira vez que eu vi, não me pareceu estranho (rsrs)
Diante do que parece ser o uso de um mesmo modelo – tantos olhos, narizes, lábios, testas e sobrancelhas iguais - muita gente boa se pergunta....
Não poderia ser ele mesmo?
Biógrafos descrevem Leonardo como um homem muito bem apessoado, de clássico perfil grego. Há uma teoria, bastante conhecida, que jura de pés juntos que Leonardo usou seu próprio rosto como uma base dimensional para muitas de suas figuras, possivelmente até mesmo para a Mona Lisa. Muitos cogitam se, por acaso, Leonardo não teria pintado algumas de suas figuras olhando-se no espelho, que é sempre um bom professor quando se trata de retratar figuras humanas.
Alguns dos rostos andróginos de Leonardo têm as mesmas características, quase como se ele os tivesse retratado de memória. Mas não era esse o caso desse mestre, que fazia minuciosos estudos preparatórios de seus temas e os esboçava detalhadamente.
É mais como se ele tivesse uma diversidade de características em sua mente e que, quando se tratava de pintar um rosto ou um corpo idealizado – como é o caso do Salvador Mundi - ele misturasse o seu conhecimento real de anatomia com tais feições idealizadas, que são quase sempre as mesmas. Porém alguns dos retratos de Leonardo são claramente o resultado da pintura diante do tema, após muita observação de um modelo. Dele mesmo?
Em 1481 Leonardo recebeu a primeira grande encomenda de sua carreira: um painel da Adoração dos Magos para os monges agostinianos da Igreja de São Donato de Scopeto. As pinturas da Adoração eram populares em Florença, porque davam aos artistas a oportunidade de vestir os três reis do Oriente com as ricas sedas que faziam a cidade famosa. Mas o esboço de Leonardo rejeitou o estereótipo típico, nos quais Maria e o recém nascido Jesus sempre ocupavam o primeiro plano, com os adoradores circundantes e bem vestidos obedientemente os cumprimentando.
Em vez disso, ele colocou Maria no centro de um intenso drama psicológico: uma bela jovem com seu filho recém nascido, cercada por um vórtice de emoções humanas. Alguns dos personagens expressam surpresa e admiração, enquanto outros transmitem confusão ou mesmo angústia e desespero.
A alegria característica da iconografia da Anunciação tradicional não está em evidência. Como tal, a Adoração é a primeira das obras literárias de Leonardo: uma pintura focada em pistas alegóricas e de significado simbólico, em vez de uma representação explícita.
Infelizmente, toda essa qualidade não foi abstraída pelos bons frades. O painel ficou inacabado e não porque Leonardo o tenha abandonado. Pelo contrário: os monges, chocados com o trabalho iconoclasta, desistiram da encomenda e procuraram outro artista mais convencional.
Uma boa olhada nessa Adoração dos Magos inacabada, no entanto, é obrigatória para quem acredita que Leonardo se auto retratava. Os fãs dessa tese não prestam atenção nas datas dos trabalhos ou então acreditam que Leonardo se pintou jovem quando já era velho e vice-versa.
O certo é que se Leonardo for o senhor de barbas e cabelos esvoaçantes aí em cima, desenhado em 1515, quando então teria sessenta e três anos, ele também é um dos Reis na Adoração dos Magos, aí embaixo, esboçada em 1481. Observe a figura do homem idoso que leva a mão à cabeça:
Leonardo Da Vinci - Adoração dos Magos (detalhe) - imagem italian-renaissance-art.com |
Pode-se identificar nesse rosto o mesmo queixo poderoso, a mesma largura no rosto, a mesma estrutura óssea, os mesmos olhos e sobrancelhas do velho senhor de longas barbas do desenho anterior. O problema é que quando pintou a Adoração dos Magos Leonardo não tinha ainda trinta anos, já que nascera no dia 15 de abril de 1452. (rsrs)
Na realidade não se tem como provar quem era ou quem não era Leonardo entre as figuras das suas obras. Simplesmente não há registros históricos.
Então, tem-se procurado captar a essência indizível de Leonardo da Vinci nas suas tintas e palavras. Os biógrafos do século XXI sentem a necessidade de entrar na cabeça do artista, para tocar em sua alma emocional e na sua vida sexual desconhecidas. Na realidade o artista e cientista teve uma produção intelectual fragmentada, difusa e tentadoramente incompleta e, acredito, apenas a mente científica dele pode responder ao desafio visual que produziu.
Cada marca de seu lápis ou pincel é perfeita, mas aquilo que fascina mesmo é a representação que o artista fez dele mesmo, como ele conseguiu transferir suas ideias e filosofia para as telas ou papeis. O que ele fez na arte foi, claramente, um espelho de sua alma, e ele pôs algo de sua imagem até mesmo nos seus retratos femininos, porque esta é a natureza de um grande artista.
Leonardo pintava o mundo e seus modelos conforme sua íntima interpretação, conforme um filtro pessoal, como se a arte fosse para ele um diário, cada tela fosse uma página refletindo sua vida, cada esboço uma carta secreta, onde podemos ler seu humor, sua raiva, sua melancolia, suas incertezas e às vezes, com certeza, vislumbrar-lhe um auto retrato.
Mas onde?
É como se Leonardo tivesse tentado impor uma ordem sobre a desordem da natureza por ele observada, um sistema abrangente ou um grande plano. Como se os atos de olhar e desenhar e pintar fossem para ele atos de análise e como se tivesse sido com base nessas análises que o criador humano tentou reinventar o mundo. Refazendo o mundo natural nos próprios termos da natureza, totalmente obediente a causas naturais e efeitos, Leonardo criou um pássaro artificial e a reconstrução artificial da sua experiência visual na presença física de pessoas. Assim a máquina de voar, e assim a Mona Lisa.
O artista foi reverenciado pelos seus contemporâneos renascentistas como um gênio, mas também como um homem inconstante. O biógrafo Vasari, já no século XVI, disse sem rodeios que, constantemente, Leonardo não tinha a menor vontade de executar suas brilhantes ideias.
Esta imagem da desarrumação mental de Leonardo se dissipou no século XIX, quando a enormidade e a precocidade da pesquisa do artista foram reconhecidas por estudiosos, que analisaram suas notas manuscritas e ficaram surpresos com os seus saberes de anatomia, meteorologia, engenharia e arte.
Aquele homem que voava de uma ideia inacabada para outra descrito por Vasari foi desmentido e a cultura moderna passou a cultuar Leonardo como a mente suprema da Renascença, explorando problemas científicos e estéticos em paralelo. No entanto, sua melancolia era real e nos assombra.
É verdade que ele não completou muitos de seus grandes projetos, preferindo se dedicar às pesquisas, mas esse seu modus operandi foi a sua maior contribuição para a nossa ideia de arte. Ao valorizar o desenho e as experiências mais do que as encomendas dos príncipes, Leonardo mostrou sua crença de que a arte é um trabalho mental autônomo e não meramente artesanato.
Durante as pesquisas realizadas em torno do Salvator Mundi quando da sua atribuição ao florentino, foi interessante acompanhar os debates e tentar aprender com os detalhes do trabalho do artista que vieram à tona.
A descoberta do Salvator Mundi lançou muita luz sobre o relacionamento da Grã-Bretanha com Leonardo – a pintura pertenceu ao rei inglês Charles I – e sobre a estupenda coleção de desenhos do artista, que está nas mãos da família real inglesa desde o século XVII.
Muito se falou, então, da possibilidade dos retratos de Leonardo não serem representações de pessoas reais e das suas figuras bíblicas não serem o que parecem. Tomemos, por exemplo, as faces de Santana e de São João Batista em duas pinturas diferentes. Seus rostos são extremamente semelhantes.
Leonardo Da Vinci - Virgem e criança com Santana (detalhe) / Leonardo Da Vinci - São João Batista (detalhe) - imagens elliottingotham.wordpress.com / wikimedia.org |
Leonardo modelou os rostos de forma idêntica, não como se eles estivessem relacionados por parentesco, mas como se fossem a mesma pessoa em um mesmo tempo. Ele teve a mesma – e grande! - dificuldade em alinhar tais narizes ao lado de seus sorrisos iguais, exatamente da mesma maneira.
E, embora os olhos dela estejam fechados e os dele abertos, a ponte do nariz é idêntica, a separação de seus cabelos idem e seus queixos indistinguíveis. Mesmo a iluminação em suas faces é a mesma. No entanto, Leonardo também se esforçou para disfarçar do espectador tais semelhanças girando os rostos em diferentes direções.
Teria Leonardo, ao pintar São João Batista, propositadamente decidido fazê-lo parecido com a sua santa tia avó? Não se sabe. O fato é que poucos historiadores da arte notaram a semelhança Talvez não tenham podido ver tantas similitudes por serem cientistas e acreditarem que os artistas renascentistas copiavam a natureza ou ilustravam histórias, e portanto não pintariam duas figuras com o mesmo rosto.
Só que estamos carecas de saber que a maioria dos artistas se auto retrata e durante as “conversas” da atribuição da tela, gostei de saber que um poeta - Ralph Waldo Emerson – identificara a semelhança entre os personagens de Leonardo da Vinci e escrevera sobre o tema depois de uma visita ao Louvre:
“Leonardo da Vinci tem mais auto retratos aqui do que em qualquer outro Museu e eu gosto muito deles, das mesmas características e identidade que saltam fora tanto de homens como de mulheres. Vi o mesmo rosto em suas telas, acho que seis ou sete vezes. “
Leonardo Da Vinci - São João Batista (detalhe) / A Mona Lisa (detalhe) - imagem br.pinterest.com |
Dizem pelas esquinas acadêmicas que a figura do Salvator Mundi, pintada sobre um painel de madeira, que descreve Cristo com a mão direita levantada em bênção e a mão esquerda segurando um globo de vidro, pode ter sido um auto retrato de Leonardo.
Será?
Veremos numa próxima conversa.