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15/01/2020

As Mulheres do Mestre

Leonardo Da Vinci - Ginevra de'Benci (imagem Google Art Project, wikimedia.org)

Moacir Pimentel
Depois da pororoca de Monas Lisas há que teclar sobre a qualidade excepcional de mais alguns retratos de Leonardo da Vinci e da conexão entre o artista e seus modelos. Ali rolava algum tipo de “química” pois o pintor dotava as suas mulheres com personalidade e essa é, talvez, a característica que torna tão perspicazes e reais tais obras de arte.
Vasari afirmou, por exemplo, que o Mestre conseguira fazer a Mona Lisa sorrir contratando músicos e comediantes para entretê-la.
“Enquanto ele pintava seu retrato, pessoas tocavam e cantavam ou contavam piadas a fim de tirá-la da melancolia e fazê-la feliz. E, nesta obra de Leonardo, havia um sorriso tão agradável, que era uma coisa mais divina do que humana”
É mais provável, penso eu, que o próprio Leonardo se desse bem com as mulheres, embora digam que não as amava. Seja lá como for, há mistério nas mulheres de Leonardo. Não é apenas a Mona Lisa que nos provoca com aquele sorriso enigmático e tão distante. Outras senhoras do pintor estabelecem com seus observadores relacionamentos ainda mais dinâmicos.
Em seu primeiro retrato Leonardo quase encheu o painel com o rosto triste e reflexivo e de olhos grandes e amendoados de uma Ginevra de'Benci, a moça que inaugura o post.
Na Itália, o retrato de Ginevra foi revolucionário, pois nunca antes na história da arte uma figura feminina olhara assim diretamente para os olhos do espectador, o confrontara pessoalmente, perfurando com sua mirada o plano da imagem para estabelecer uma relação psíquica no tempo humano. Leonardo representou essa mulher em termos dramaticamente novos e diversos: imbuída de vida psíquica.
Esse olhar nada tem daquele divertimento íntimo da Mona Lisa mas sim um enfado maravilhosamente luminoso. Ginevra envolve os que a contemplam em seu devaneio poético por causa dos seus lábios cerrados em uma linha de irritação e mesmo dos anéis dos cabelos repetidos nas folhas de zimbro – ginepro em italiano - que podem muito bem definir o caráter espinhoso da modelo.
Essa cabeça arrogante retesada sobre o pescoço rígido, as pálpebras pesadas e semicerradas que lançam sombras sobre as íris cerceando a comunicação, o sutil estrabismo do olho esquerdo acentuando a ausência de foco do semblante, os olhos estreitados enquanto ela atura o pintor e a arte, revelam a alma sensível de uma da maiores intelectuais do seu tempo.
Ginevra é toda corpórea mas totalmente impenetrável. E é isso o que nos mostra Leonardo nesse retrato: justamente essa ocultação, em um olhar que parece nos considerar de cima para baixo. O próprio pintor explicou essa mirada gelada e desprovida de sedução com o famoso ditado:
“Os olhos são as janelas da alma”.
Enquanto que Vasari descreveu o retrato como uma “cosa bellissima” esse rosto é também inquietante talvez porque nele a moça surja contida, senhora de si e dona de suas emoções.
E então Leonardo cometeu o primeiro grande avanço no retrato secular quando pintou a sua Senhora com um Arminho. Liberado dos contornos do perfil numismático, o retrato é um exemplo de contraponto ao ideal clássico, uma livre narrativa que movia a cabeça, o tronco e os membros de um corpo humano em diferentes posições e direções.
“Quando visto de vários pontos de vista”, escreveu Leonardo em seu Tratado sobre a Pintura, “cada ação humana é mostrada como infinita em si mesma”.
O retrato de Cecilia Gallerani, a amante do duque Ludovico Sforza, aclamada por sua beleza incomparável e inteligência esfuziante, é franco e sensual. Cecilia foi pintada interagindo com alguém fora do quadro e a esse feito nada se igualava em retratos contemporâneos ou anteriores.
Esta mulher dona de si mesma gira em seu próprio eixo enquanto segura firmemente o animal que alude ao arminho que era o emblema do duque, seu amante. A mão exibe a força e rima, em forma, com o animal sob seu controle sugerindo assim que a criatura afiada e feroz podia tanto representar um aspecto da personalidade da moça quanto alguém sob seu domínio.
Leonardo Da Vinci - Senhora com Arminho (imagem wikimedia.org)

Menos reflexiva e mais direta e sexy do que a Ginevra e com certeza do que a Lisa essa senhora acaricia um animal de estimação bastante fálico, enquanto se vira sutilmente com um meio sorriso como se saudasse o amante. E então a pintura sai dos trilhos clássicos para sugerir drama erótico e jogos emocionais.
As características revolucionárias dessa imagem - seu claro-escuro suave, o contraste nítido entre a carne viva e o limbo escuro do fundo, o olhar atento da modelo como se tivesse sido atraído por algo fora de nossa visão - foram imitados no retrato e na fotografia moderna tantas vezes que é difícil para nós compreender a imensa originalidade da pintura.
Os retratos de Leonardo são milagres de teatralidade, e isso a gente percebe antes mesmo de considerar seu desenho incrivelmente sensível, a coloração requintada, a composição dinâmica e os corpos humanos infinitamente reais. Eles não são jamais “bonitinhos”, planos ou maçantes. Leonardo da Vinci pode até não ter gostado de mulheres, mas trabalhava duro para lhes dar os retratos que mereciam, cheios de vida e caráter.
Tomo emprestadas algumas das pretinhas dos Cadernos do Mestre:
“A aquisição de qualquer conhecimento é sempre de utilidade para o intelecto porque dele pode expulsar coisas inúteis e reter o bem. Pois nada pode ser amado ou odiado a menos que seja conhecido pela primeira vez.”
E é só por isso que eu passo a teclar sobre outra pintura polêmica - A Madona Benois, também apelidada de Madona da Flor - que hoje é considerada um dos mais antigos trabalhos de Leonardo da Vinci e faz parte da coleção do Museu Hermitage em São Petersburgo, na Rússia.
Leonardo Da Vinci - A Madona da Flor (imagem leonardodavinci.net)

Durante séculos, A Madona da Flor simplesmente desapareceu. Em 1909, porém, a pintura emergiu de repente em uma exposição de pinturas organizada pelo arquiteto Leon Benois, que acabou vendendo-a para o Hermitage, em 1914.
Parece que ela havia sido transportada da Itália para a Rússia na década de 1790, provavelmente por um amante das artes de nome Alexander Korsakov. Após a sua morte, o filho de Korsakov vendeu a Madona para um comerciante e, eventualmente, ela chegou às mãos da família Benois, em 1880.
Desde o final do século XV obras de arte realistas semelhantes à Madona Benois passaram a retratar pessoas mais autenticamente, graças aos estudos da anatomia humana feitos pioneiramente por Michelangelo e Leonardo da Vinci.
Embora tenha havido alguma dúvida sobre a atribuição da Madona Benois a da Vinci, chegou-se ao consenso de que ela fora realmente pintada por Leonardo quando ele ainda era um dos aprendizes do mestre Andrea del Verrocchio.
Aos quatorze anos Leonardo já era considerado um mestre e um membro da Guilda de São Lucas. No entanto, e ao contrário do que se possa pensar, o gênio não nasceu sabendo pintar. Ele foi treinado por Verrocchio e sua fidelidade ao mestre era profunda e por todos conhecida. Na verdade, Leonardo pode ter sido o modelo para duas das obras do seu professor: um David esculpido e um anjo pintado por Verrocchio no trabalho de nome Tobias e o Anjo.
Verrochio - Davi (imagem br.pininterest.com) / Tobias e o Anjo (detalhe), imagem wikimedia.org


Foi só no ano de 1478 - decisivo para o artista – que Leonardo, além de ter se desligado de Verrocchio, se aproximou da família Medici, que iria oferecer-lhe muitas oportunidades de trabalho. Ele trabalhou ao mesmo tempo tanto na Madona Benois quanto numa Adoração dos Magos para o altar da Capela de São Bernardo.
Na obra e dentro de uma moldura de bronze mora uma mulher jovem, brincalhona e sorridente com um menino nu no colo. Vestida com trajes renascentistas e de cabelos trançados, ela é real e sorridente e parece feliz da vida. Ao contrário de muitas outras obras renascentistas, o bebê parece fascinado pelas flores que segura com as mãozinhas em vez de segurar um objeto sagrado.
Uma janela no fundo deixa entrar a luz na sala onde os dois se sentam, iluminando-lhes os halos e as expressões faciais que parecem ser os elementos visuais mais importantes dessa pintura: são naturais e sinceras. A mulher está sorrindo em adoração ao seu bebê que, por sua vez, parece não lhe dar a menor bola, entretido com as flores.
Leonardo Da Vinci - A Madona da Flor (fetalhes), imasgens wikimedia.org

O que diferencia essa pintura de obras até maiores de Leonardo é justamente a intimidade entre as duas figuras e o amor dessa mãe tão bem capturados pelo artista. Há calor, frescor e naturalidade na emoção dessa mulher e na vivacidade dessa criança, perdidos em uma brincadeira raramente vista em um assunto tão religioso.
Depois dessa Madona muitas outras pinturas parecidas foram elaboradas e, em seguida, cópias delas foram produzidas em série. Rafael pintou sua própria versão da pintura: a Madona da Rosa. O próprio Leonardo pintou muitas outras cenas notáveis da mãe e da criança: a Madona do Cravo, a Madona Litta e a Madona com a Criança e a Romã.
imagens filevychaboutart.blogspot.com.br, wikimedia.org, artsdot.com, artrue.ru

No entanto, apesar das similitudes entre a Madona e tantas outras mães e meninos pintados pelo artista – com cravos, dando de mamar, com romãs etc - a atribuição da Madona de Benois a Leonardo só foi bem sucedida porque da Vinci fez alguns esboços preparatórios da pintura.
Um desses estudos – veja o desenho à direita na base da montagem acima - mostra exatamente a mesma figura mariana sorridente depois pintada como a Madona Benois só que com um menino Jesus brincando com um gato. Todas as características desse desenho espelham a pintura final da Madona Benois, embora Leonardo tenha desistido do bichano e resolvido pintar o garoto voltado para a mãe e brincando, em vez, com flores.
Estava resolvida a celeuma: o esboço da Madona do Gato foi o elo perdido entre Leonardo da Vinci e a Madona Benois, a prova irrefutável que colocou um ponto final nos questionamentos da atribuição.
E então em 2008 um outro óleo, de nome Salvator Mundi, foi atribuído a Leonardo da Vinci.
Mas dele falaremos em uma outra conversa.


12 comentários:

  1. Flávia de Barros16/01/2020, 10:33

    Moacir,
    Você sabe que amo retratos. Não me canso de olhar as expressões faciais, os olhares e a 'teatralidade' como você diz. Posso imaginar que há quinhentos anos atrás esta pose de Cecilia Gallerani fosse sexy mas o que me encantou foi a espontaneidade da Madona Benois com o seu amado Menino Jesus. São tantas e tão lindas as Madonas na pintura que eu fico confusa sobre os pintores mas todas me tocam por causa da beleza e da ternura. Estou ansiosa para saber tudo sobre o Salvador do Mundo.
    Um abraço para você

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  2. Alexandre Sampaio16/01/2020, 17:39

    Pimentel,
    Não conhecia estas obras de arte mas lendo seu artigo lembrei que eu e minha esposa vimos no Louvre um outro retrato muito bonito feito por da Vinci. Como não lembrava do nome da pintura tive que googlar e o título é La Belle Ferroniere ou Retrato de uma mulher desconhecida. Obrigado pela boa leitura.

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    1. Moacir Pimentel18/01/2020, 08:51

      Sampaio,
      Na verdade ninguém sabe ao certo quem foi essa senhora nem por quais razões o quadro foi batizado de “A Bela Esposa – ou filha! - do Comerciante de Ferragens" (rsrs) É claro que dificilmente Leonardo da Vinci, enquanto atuava como engenheiro e artista da Corte de Ludovico Sforza, o todo poderoso Duque de Milão, teria tido tempo e vontade e necessidade de retratar a mulher de um reles mortal, por mais bela que fosse.
      Nós a chamamos de Ferreirinha, como os lusitanos se referem a Dona Antônia Adelaide Ferreira, que além de vinho do Porto foi uma grande empresária no Douro do século XIX (rsrs)
      São inúmeras as possíveis identidades atribuídas à modelo. Dizem que ela poderia sido a primadonna da Renascença, Isabella d’Este, a duquesa de Mântua, cunhada de Sforza. Só que Ticiano desmentiu a versão quando pintou uma Isabella muito diferente. Cogita-se que teria sido Lucrezia Crivelli, a amante favorita do Ludovico, depois da Cecília, é claro. Só que recentemente descobriram uma outra pintura da moça que, infelizmente, era ruiva. Cogita-se se não se trata de outro retrato da própria Cecília, bem mais velha, porque a retratada se parece vagamente com a Dama do Arminho. Pensa-se que teria sido uma representação de Madame Ferron, a lendária e trágica amante de Francisco I, o então rei francês e por aí vai.
      O Museu do Louvre afirma que a moça de olhos vivos é assim chamada porque está usando uma “ferronnière”, ou seja, essa fita com uma pequena joia em volta da testa. Só que outros sabichões juram de pés juntos que o termo para o ornamento só foi cunhado no século XIX e que, portanto, a joia recebeu o nome do quadro e não o contrário.
      Nunca saberemos quem foi a Ferreirinha mas não acho que isso tenha importância enquanto apreciamos sua bela mirada.
      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/Leonardo_da_Vinci_%28attrib%29-_la_Belle_Ferroniere.jpg
      Abração

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  3. Márcio P. Rocha16/01/2020, 21:09

    Muito bom. Nenhum dos renascentistas pintou com essa naturalidade e realismo. Se entendi direito a Madona só foi reconhecida como um trabalho de Leonardo da Vinci porque lembraram de um desenho dele de Maria na mesma posição da pintura. E se não tivessem encontrado o esboço, o que aconteceria?

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    1. Moacir Pimentel18/01/2020, 09:01

      Márcio,
      Teriam continuado a bater boca até o fim dos tempos e enquanto isso a pintura continuaria a ser apenas "atribuída" a Leonardo (rsrs) Não vou me aprofundar no tema "atribuição" para não cometer spoilers dos próximos posts. Mas adianto-lhe que apesar de evidências aparentemente definitivas da autoria, como por exemplo um esboço, a opinião dos "especialistas" é soberana na atribuição de uma obra de arte.
      Veja o caso da polêmica Madona Litta que, por coincidência, também mora no Museu Hermitage, cuja autenticidade continua sendo questionada apesar de ter sido vendida como um Leonardo da gema pelo aristocrata milanês Antonio Litta para a coleção de um czar porque foi isso que se acreditou durante séculos.

      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6f/Leonardo_da_Vinci_attributed_-_Madonna_Litta.jpg

      Note que enquanto não há mais dúvidas de que a Madona Benois seja um Leonardo autêntico por causa do desenho, a Madona Litta não é reconhecida APESAR de um outro rascunho acima de qualquer suspeita pois mora, inclusive, nos Cadernos do pintor.

      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dc/Leonardo_da_Vinci_-_study_of_a_woman%27s_head.jpg

      Sucede que atualmente os maiores "sabichões" em da Vinci são dois professores de História da Arte: Martin Kemp, de Oxford e Pietro Maran do Politécnico de Milão. E que Kemp acha que a pintura se baseia sim nesse desenho do Mestre mas que foi pintada por um de seus alunos. Para o professor o problema incontornável é que a obra não teria sido cometida "exatamente" na técnica de sfumatto utilizada por Leonardo. Fazer o quê?
      Obrigado por perguntar

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  4. Mônica Silva16/01/2020, 21:27

    Os dois retratos são muito mais expressivos do que o de Mona Lisa, Moacir. Principalmente o de Cecília sensualizando para o seu amor kkk Mas a Madona brincando alegremente com o seu lindo bebê é tudo de bom. Adorei! O fato de Leonardo da Vinci não querer mulheres não significa que não gostasse delas. Gays são ótimos amigos. Vão ao shopping conosco, discutem as nossas relações e nos dão ótimos conselhos sentimentais sobre nossos namorados. Eles até poderiam ser nossos homens ideais não fosse o detalhe de serem gays kkk Obrigada!

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    1. Moacir Pimentel18/01/2020, 09:15

      Mônica,
      Fico feliz que você tenha apreciado as pinturas. Como a maioria dos caras da minha geração não me agrada a ideia de quem quer que seja metido na minha vida privada e nos meus relacionamentos (rsrs) É só por isso que com os gays e héteros amigos converso de futebol, das notícias tupiniquins, da crise mundial, de livros ou do Oscar (rsrs) Mas o seu comentário sobre a amizade entre garotas hétero e rapazes gays, todos solteiros, me fez lembrar de um seriado que as mulheres da minha vida “amavam”. Lembra de Sex and the City? Tinha uma personagem que mesmo com várias amigas inseparáveis não dispensava a companhia e os conselhos de um amigo gay. No entanto, aqui entre nós e baixinho, penso que amigo a gente é ou tem independentemente de sermos assim e assado ou isso e aquilo.
      “Obrigado!” e abração.

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  5. Olá Moacir,
    Essas mulheres famosas se tornam ainda mais belas nas cores pretinhas do seu post.
    Porque, se inatingíveis, ficam esclarecidas para nós pobres, pobres...e mortais.
    Vou lendo e me deliciando e quando passo de Ginevra de 'Benci para a Senhora com Arminho, já não é mais uma pintura, é uma escultura. Eu a vejo assim desde a primeira olhada, em três dimensões. E acho que a qualquer momento ela vai se virar e se surpreender comigo (rsrs).
    Quanto a Leonardo ter sido o modelo eu acredito! São figuras andróginas como o anjo do Pasolini que seduz mãe, pai e filho. E aí, achei e passo(lini, desculpa, trocadilho infame!!!) para você que, certamente sabichão que é, já conhece,o Anjo Impuro,de Pasolini:

    Eis-me afinal em plena
    suprema confidência
    ante minha presença
    anjo impuro que eu amo.
    Quanto estéril horror
    urge se toco o corpo
    que amava desde novo
    pois seguro de amor.
    Mas não sei me assombrar
    não sei me abandonar.
    Ao Deus que não dá vida
    peço para não morrer.

    A Madona da Flor é mãe certamente, toda deliciada com o filhote mas o esboço...é o esboço, meu preferido de qualquer trabalho!
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel18/01/2020, 09:34

      Caríssima Donana,
      O esboço é o melhor da festa porque ainda não é, mas sendo quase, nos permite imaginar como vai ser (rsrs) Com relação à Dama a senhora me “traduziu” completamente. Nós estamos tão habituados a ver movimento na arte que, de saída, não percebemos o quanto essa Cecília deve ter sido revolucionária numa época em que só se retratava os poderosos e, mesmo assim, duros e perfilados (rsrs) Em vez essa moça é sim tridimensional, está se movendo, seus olhos estão em movimento, a mão está acariciando o bicho, ela está seduzindo alguém fora do quadro. Fantástico!
      E então tive que calçar tênis mentais para acompanhar o seu salto do anjo "andrógino" do Verrocchio para o forasteiro sedutor e desagregador de Teorema (rsrs) Quanto ao Pasolini cheguei a Roma para estudar meses depois do seu brutal assassinato e, portanto, logo fui apresentado aos seus escritos e aos seus filmes e, em algum lugar por aqui dentro de uma caixa de papelão, devem estar I Pianti de um cara que tinha total convicção de que o mundo não podia ser melhorado e que, portanto, lutava só para evitar que piorasse (rsrs) Eu traduzo as artes dele como a derradeira resistência de quem continuava gritando que “não!”, contra tudo e todos, mesmo ciente de que não adiantava.
      Acontece que brincando de brain storming, não controlamos nossos bytes de memória e sinapses, não é mesmo? E então diante das “belas mulheres”, das parábolas do Teorema e das pretinhas do “Anjo Impuro” – @#$%&%$#@! - primeiro lembrei de um outro anjo ambíguo, o mais bonito que já vi nessa vida, no estupendo cemitério de Staglieno, em Gênova.

      https://www.italianways.com/wp-content/uploads/2014/05/IW-Giulio-Monteverde-Tomba-Oneto-06-665x490.jpg

      E em seguida de um poema de outro comunista, o Vladimir Maiakovski, para dar prosseguimento à essa conversa poética com o prezado Pier Paolo:

      (....)
      “Ela é tão bela,
      que, por certo, hão de ressuscitá-la.
      Vosso Trigésimo Século
      ultrapassará o exame
      de mil nadas,
      que dilaceravam o coração.
      Então,
      de todo amor não terminado
      seremos pagos
      em inumeráveis noites de estrelas.
      Ressuscita-me,
      nem que seja só porque te esperava
      como um poeta,
      repelindo o absurdo quotidiano!
      Ressuscita-me,
      nem que seja só por isso!
      Ressuscita-me!
      Quero viver até o fim o que me cabe!
      Para que o amor não seja mais escravo,
      um sacrifício, uma casa.
      Para que, maldizendo os leitos,
      saltando dos coxins,
      o amor se vá pelo universo inteiro.
      Para que o dia,
      que o sofrimento degrada,
      não nos seja chorado, mendigado.
      E que, ao primeiro apelo:
      – Camaradas!
      Atenta se volte a terra inteira.
      Para viver
      livre dos nichos das casas.
      Para que doravante
      a família seja
      o pai,
      pelo menos o Universo,
      a mãe,
      pelo menos a Terra.”
      //
      “Até sempre mais”

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  6. Flávio José Bortolotto17/01/2020, 15:08

    O Escritor, Viajante do Mundo e Estudiosos das Artes Sr. MOACIR PIMENTEL, nos brinda com mais um Artigo sobre "As Mulheres do Mestre - LEONARDO DA VINCI), nos contando a história e mostrando detalhes nesse fabuloso Artista da Renascença.

    Nosso Muito Obrigado ao Sr. MOACIR PIMENTEL pelo grande trabalho de escrever em detalhes sobre esses Assuntos de Arte.

    Abração.

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    1. Moacir Pimentel18/01/2020, 09:43

      Prezado Bortolotto,
      Eu já lhe falei do muito que me divirto teclando sobre viagens e/ou arte. Mas depois da Renascença iremos conversar sobre temas que, pelo que já li da sua lavra, você domina muito bem: as prezadas Donas História e Ciência. Espero continuar merecedor tanto de sua honrosa leitura quanto de seus bons comentários quando me arriscar através das "exatas" (rsrs)
      "Muito obrigado" lhe digo eu, sempre.
      Abração

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  7. Francisco Bendl20/01/2020, 09:26

    Pimentel,

    Obrigado por mais esta postagem importante sobre Da Vinci, as suas mulheres.

    Impressionante é ver a riqueza de detalhes nos quadros pintados pelo mestre, indiscutivelmente demonstrando o ápice da habilidade humana neste tipo de arte.

    Sem dúvida alguma, Da Vinci foi um dos tantos gênios que tivemos, e obter informações da sua grandiosa obra, trata-se de um privilégio oferecido pelo nosso expert nessa matéria.

    Abraço.
    Saúde.

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