Estação dos comboios do Rossio, Lisboa - fotografia de Oswaldo Gago, Wikimedia Commons |
Antonio
Carlos Rocha
Em julho
último, estávamos eu e Heloisa, minha consorte há 48 anos, passeando em Lisboa,
terra que gostamos tanto.
Era
domingo, e fomos para a Estação de Comboios (trens). Íamos visitar, do outro
lado da cidade, na região das praias, uma família amiga desde 1980, quando
moramos lá a primeira vez. A característica deste ramal ferroviário é que ele
passa debaixo, pendurado em uma das pontes que embelezam a capital portuguesa,
como se, por baixo da Ponte Rio-Niterói passasse uma linha de trem (sonho
meu...)
Mas, eu
não sabia, os trabalhadores do sistema estavam em greve. Mesmo assim as
composições funcionavam com pequeno atraso. Bilheterias fechadas, os
passageiros compravam os tickets nas máquinas eletrônicas.
Nos
informamos para a plataforma certa e subimos as escadas rolantes. Para me
certificar que estávamos no lugar indicado, perguntei a uma jovem senhora que
estava com um carrinho de criança e seu filho saboreando mamadeira.
Ela
respondeu que era ali mesmo, onde estávamos, e eles iriam para a mesma estação
onde deveríamos saltar, inclusive, na saída precisa que os nossos amigos haviam
falado e estariam nos esperando, para não nos perdemos nas saídas que são
várias.
Percebi o
sotaque, vi que era africana e perguntei qual o país de origem? A jovem
respondeu “Guiné – Bissau”.
Eu sorri
e falei: “Que bom, eu gosto muito do seu país. Em 1980 estudei aqui e na
Faculdade de Letras aprendi Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa,
inclusive sobre um dos libertadores - Amílcar Cabral”.
Ela
sorriu e disse: “Ele é um dos pais da República da Guiné-Bissau”.
Então
completei: “E um colega brasileiro foi professor de Português lá, nesse
período”.
Ficamos
então enturmados e bem animados, conversando ali na Estação.
Já do
outro lado da ponte, saindo do vagão agradecemos muitíssimo à nossa jovem
orientadora.
Esta é
uma das razões que, vez por outra, publico no Facebook fatos diversos sobre os
países de africanos de Língua Portuguesa. Através da arte literária, mais ou
menos, acompanhei e acompanho o crescimento de tais jovens nações.
Explico o
título, uma das etnias da Guiné-Bissau são os Fulas, ou Fulanis. Aqui no
Brasil, popularmente, uma das gírias é “Eu fico fulo(a) da vida” para designar
alguém que está zangado, impaciente ou com raiva. Esse é um bom assunto para a
Etnolinguística.
A beleza
de estudarmos tais países é que as culturas plurais mostram uma multiplicidade
de aspectos no falar, no escrever, na música, dança, vestuário, artes em geral
e os modismos atuais.
Mas, nem
tudo são flores... Estas reflexões me vem à mente, pois, recentemente, na Rua
Senador Dantas, em pleno centro do Rio de Janeiro vi uma adolescente, moradora
de rua e seu filho recém-nascido. O menino chama-se Manuel, sempre que os vejo,
colaboro financeiramente mediante as minhas possibilidades. Não posso fazer
muito, mas é uma forma de ajudar.
Manuel
vem do antigo hebraico e quer dizer “Deus conosco”, lembro de Jesus, claro...
“O que fizerdes a um destes pequeninos, estareis fazendo por mim”. Não estou me
vangloriando. E como diz o verbo, é uma “vã glória” ficar citando temas
aparentemente caritativos... não é isso, por favor, entendam.
Refleti
no menino lisboeta e sua mãe da Guiné-Bissau. Imigrantes com o apoio do governo
lusitano: tem uma casa, trabalho, moram bem. A criança portuguesa terá escola
garantida, assistência médica e afins.
Já o
Manuel e sua mãe, torço para que mais pessoas os ajudem e que apareça no
Brasil, um sistema político ético, honrado que legisle para os mais pobres
também, sem pieguice e sem falsas promessas.
Segundo a
canção antiga: “Sonho meu ...”