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27/07/2012

O Crime dos Caminhoneiros

Em greve por melhor remuneração, contra o aumento do diesel e contra algumas determinações do governo que, com boas intenções mas talvez sem um estudo tão aprofundado quanto seria preciso, impõem certas condições de limitação ao seu tempo de trabalho ininterrupto e obrigam a pausas para descanso ao longo das viagens, os caminhoneiros bloquearam por estes dias vários trechos de diversas rodovias Brasil afora. Se tivessem bloqueado apenas a passagem de caminhões que não tivessem aderido ao movimento, seria uma ação ilegal porém compreensível dentro do espírito da greve. Mas em diversos trechos eles bloquearam a passagem de todos os outros veículos, provocando engarrafamentos de muitos quilômetros e fazendo com que viajantes passassem às vezes dez ou mais horas parados nas estradas. Imagine o que é ficar preso por tanto tempo num engarrafamento destes, onde você não tem como movimentar o carro nem para tentar alcançar um posto ou algum ponto de socorro, sem maneira sequer do seu carro ser alcançado por algum veículo de socorro se alguém passar mal dentro dele, porque o engarrafamento se estende por quilômetros à sua frente e atrás de você, sem água para beber, sem uma instalação sanitária ao alcance, e imagine ainda que você tenha crianças pequenas dentro do carro, ou pessoas de mais idade, ou pessoas com problemas de saúde. Pois isso foi o que aconteceu a dezenas de milhares de pessoas nas nossas estradas, anteontem, ontem, hoje pela manhã. Milhares de pessoas que não são as que fixam os preços do diesel, que não são as que decidem a remuneração dos caminhoneiros, que não são as que criam as normas de segurança nas viagens dos caminhoneiros. Pior ainda, que são aquelas que, por falta do cumprimento destas normas, são as atingidas quando um caminhão dirigido por um motorista cansado, tresnoitado, acordado à base de rebite, erra uma curva, perde os freios ou faz uma ultrapassagem proibida e esmaga um ônibus ou um carro de passageiros. Isso que os caminhoneiros fizeram foi um crime. Nada, por mais justas que pudessem ser suas reivindicações (e nem todas são), justifica a prepotência, a inconsciência e o abuso de força com que agiram ao extrapolar o bloqueio para os veículos que não eram de carga. E o que fez o governo? Não falo de atender ou não reivindicações, de negociar ou não com os caminhoneiros. Falo de garantir aos cidadãos o seu direito de livre trânsito. E, mais ainda, de libertar os que estavam numa situação - de fato - de sequestro nas estradas. O que? Pergunto, vai ficar por isso mesmo? Tentem me convencer de que, se eles tivessem bloqueado da mesma maneira o acesso aos prédios do Congresso, à Esplanada dos Ministérios, ao Palácio do Planalto ou aos tribunais, dentro de pouco tempo a polícia e as forças armadas não teriam conseguido acabar com o bloqueio ao menos dos veículos que não fossem de carga. Ou tentem me convencer de que qualquer categoria profissional tem direito a cometer um abuso destes.

16/07/2012

Porque é pior anular o seu voto

Aproximam-se as eleições, e o descontentamento de muitas pessoas com a nossa atual situação política faz com que elas resolvam anular os seus votos como uma forma de protesto. E algumas mais ingênuas repassam pela internet mensagens que dizem que devemos anular os nossos votos porque se forem anulados mais de 50% dos votos a eleição também será anulada, e isso seria uma forma de fazer um protesto ainda mais forte.
Só que não funciona assim. Anular o voto como forma de protesto é uma maneira de aumentar as probabilidades de que ganhem as eleições justamente aqueles candidatos que a gente não quer que sejam eleitos, e a história da anulação das eleições não é verdade.
Anulando nosso voto, a gente abre mão da única arma que tem para conseguir mudar esta desgraça que está aí. É como se num duelo de morte você jogasse fora a sua espada pensando que fazendo isto o seu adversário iria parar de brigar. Infelizmente, estes adversários de que estamos falando são covardes e nem um pouco cavalheiros, e vão adorar nos golpear sem o risco de serem golpeados de volta.
Marcelo Soares, em seu blog "Afinal de Contas", explica bem porque é pior anular o voto; por isso hoje passo a palavra para ele. Leiam o blog dele aqui:
http://afinaldecontas.blogfolha.uol.com.br/2012/07/15/a-lenda-do-voto-nulo/
E se quiserem ver uma explicação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Marco Aurélio de Mello sobre porque a história de anular as eleições votando nulo é bobagem, podem ler aqui:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u82610.shtml


13/07/2012

PIB não mede nação? Fala sério, Dilma!

Confrontada com as perspectivas cada vez mais baixas para o crescimento econômico do Brasil em 2012, em desacordo com o seu discurso otimista do início do ano, quando disse que nossa economia ia se recuperar e crescer bem mais do que em 2011, a presidente Dilma disse agora, em seu discurso na IX Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, que um país não deve ser medido pelo seu Produto Interno Bruto (PIB), e que "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crianças e seus adolescentes".
Talvez ela esteja reconhecendo, afinal, então que toda a propaganda ufanista do governo sobre o Brasil ser "a sexta economia mundial", porque nosso PIB era o sexto maior do mundo, era balela (como já dissemos aqui). Porque, embora o PIB absoluto seja realmente uma medida da quantidade de riqueza gerada pelo país, ele não quer dizer nada enquanto não o confrontamos com o tamanho da população, para saber quanta riqueza o país gerou por habitante. E, mais ainda, como essa riqueza é aplicada para o benefício destes habitantes.
Antes tarde do que nunca, Presidente. Só que a continuação do discurso não convence. Porque se medirmos o Brasil pelo que ele realmente faz pelas crianças e pelos adolescentes, vamos ter que mostrar o péssimo estado de nossa educação fundamental e média, com escolas mal conservadas e mal equipadas, com professores mal pagos, pouco qualificados e estressados, formando jovens que em muitos casos são pouco mais do que analfabetos funcionais, sem a preparação necessária para querer que entrem num sistema de ensino superior que é onde o País concentra seus gastos com a premissa falha da "universidade para todos". Vamos ter que mostrar o estado do nosso sistema de saúde, que deveria atender a estes jovens para que tivessem boas condições para o estudo, e aos seus pais, para que tivessem condições de trabalhar para cuidar deles, vamos ter que mostrar a falta generalizada de segurança e o domínio do tráfico que atrai estes jovens, que não conseguem trabalhar porque não têm a qualificação que precisam e porque o tráfico os seduz com dinheiro mais fácil e a falsa sensação de poder dada pela impunidade. Vamos ter que mostrar a falta de credibilidade do nosso sistema político, que cada vez mais, em vez de bons exemplos, dá a estes jovens exemplos de irresponsabilidade, desonestidade no trato do dinheiro público e impunidade. E tira deles o ânimo e a esperança de poderem vir a consertar alguma coisa por uma atuação política que pudesse assegurar a matéria prima para a indispensável renovação de valores no legislativo e no executivo.
Agora, Presidente, pense também que, ainda que queira sinceramente consertar isso tudo, com o PIB caindo cada vez mais há cada vez menos dinheiro para fazer os investimentos que são precisos, e para assegurar os empregos para a quantidade de jovens que atinge a idade produtiva a cada ano. E tenha ao menos a humildade de reconhecer que uma parte muito grande da responsabilidade pela incapacidade do Brasil de reagir melhor a essa crise mundial, que não é passageira, e que a senhora tanto disse que teríamos condições melhores do que os outros países  para atravessar, é do governo, do seu e dos anteriores. Tanto dos que fazem as leis quanto dos que deveriam fazer cumpri-las. Aí talvez a senhora consiga mobilizar o país para consertar os erros anteriores, reduzir a ineficiência e combater a corrupção que estão prendendo nossos pés quando precisamos desesperadamente de sair do atoleiro da falta de competitividade para assegurar um futuro para estes mesmos jovens de quem a senhora falou.

10/07/2012

Saiba quem são, quanto custam e quanto produzem (ou não) os nossos parlamentares

Uma iniciativa muito interessante da organização Transparência Brasil é o site "Excelências", onde podemos encontrar para cada integrante atual do Senado Federal, da Câmara Federal, das Assembléias Legislativas estaduais e das Câmaras Municipais das capitais brasileiras uma série de informações, incluindo um breve currículo, seus dados de presença e ausência no plenário e nas comissões de que faz parte, as proposições que apresentou em seus diversos mandatos, seus bens declarados à Justiça Eleitoral, os processos em que está implicado, um apanhado das notícias em que seu nome foi citado relativas a corrupção e integridade do Estado, o seu uso das verbas indenizatórias e, no caso dos integrantes da Câmara Federal, como votou em cada proposição que foi apreciada pela casa.
Além disso o site traz informações sobre o orçamento das casas legislativas, onde podemos ter uma ideia de quanto cada parlamentar de cada casa custa (diretamente) a cada cidadão brasileiro. Nesta análise, obviamente, escandaliza o leitor o custo de cada senador brasileiro, superior a quarenta milhões (isso mesmo, QUARENTA MILHÕES) de reais por ano. Este custo é aproximadamente duas vezes e meia o que custa cada senador dos Estados Unidos (um país com uma população bem maior e que em 2011 teve um PIB mais de seis vezes maior do que o nosso) (1).
O site faz também uma comparação de quanto custa todo o legislativo brasileiro (federal, estadual e municipal) comparado aos legislativos de alguns outros países, como porcentagem do PIB per capita.
Se compararmos o custo total dos legislativos em termos do PIB per capita, de acordo com os dados do site para sustentar o nosso cada cidadão brasileiro paga por ano quase SEIS VEZES MAIS do que cada cidadão americano para sustentar o deles.  Esta medida não leva em conta as diferenças de distribuição de renda nos dois países, se considerássemos isso veríamos que o impacto deste custo sobre o cidadão brasileiro médio é maior ainda.
Agora, se o leitor comparar estes custos com a produtividade dos nossos legisladores (que também pode ser aferida pelos dados do site), terá uma idéia ainda mais assustadora de quanto custa a ele escolher mal os seus representantes...
O endereço do "Excelências" é  www.excelencias.org.br
Vale a pena passear um pouco por ele antes de votar nas próximas eleições.


(1) https://realitybloger.wordpress.com/2011/04/04/the-senate-how-much-does-it-cost/

07/07/2012

O que o setor produtivo precisa é o mesmo que o Brasil precisa

A cada dia vemos o governo dizer ou que o Brasil está preparado para enfrentar a crise, ou então que está tomando novas medidas para incentivar a economia. Com as notícias de que a nossa produção industrial está em declínio, cada vez mais evidente, apesar do câmbio mais favorável, o governo tem anunciado medidas para incentivar o setor produtivo. Num seminário na UNICAMP o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, conforme citado por Paulo Peres num artigo de ontem na Tribuna da Internet,  disse que a economia brasileira se preparou bem para enfrentar abalos econômicos nos últimos dez anos e mostrou uma postura competente assim que a crise chegou ao país em 2009, e prossegue dizendo: “Nós fomos competentes com as políticas anticíclicas e na nossa reação à crise. Resistimos bravamente, viemos de um ciclo de investimento e consumo muito elevado, o que foi determinante na nossa reação”.
Com todo o respeito pelo professor Belluzzo, discordo dele. Primeiro, por dizer que viemos de um ciclo de investimento muito elevado. O Brasil nas últimas décadas  investiu pouco e mal onde realmente seria necessário para se preparar para um progresso econômico com alguma solidez. E segundo, por dizer que fomos competentes; a nossa reação à crise consistiu principalmente em tentar estimular o consumo, mas sem cuidar das condições de base para que este consumo fosse sustentável. A nossa tão propagandeada posição de sexta economia do mundo se deve muito ao tamanho do nosso país e muito pouco à qualidade de nossa economia. Pouco adianta ser o sexto PIB do mundo em valor absoluto se o PIB por habitante é muito baixo.
O que o setor produtivo brasileiro precisa é o mesmo que o  Brasil todo precisa: que o governo (seja qual for) invista de verdade na infraestrutura (estradas, ferrovias, portos), para reduzir os custos e perdas no transporte de matérias primas e produtos, que reduza o custo da energia elétrica (uma das mais caras do mundo), que diminua a burocracia com seu custo de perda de tempo e de trabalho, que invista (muito, em quantidade e qualidade) em educação, saúde, saneamento básico e segurança, para poder melhorar e aperfeiçoar a capacitação dos trabalhadores de todos os setores. Sem isso continuaremos, como agora e desde sempre, tomando medidas pontuais e de curto prazo, que surtem efeitos também pontuais e de curto prazo, com cada vez maior custo e menos eficácia, e continuaremos vulneráveis a cada nova crise. O Brasil tem o potencial, pelo volume de sua população, de ter um dos maiores mercados internos do mundo, capaz de nos levar a uma situação de país desenvolvido, mas só conseguiremos desenvolvê-lo com sustentação se conseguirmos gerar volume de emprego produtivo com níveis de salário que permitam a integração desta população atual e dos que nascem a cada ano ao mercado consumidor pela sua inserção no mercado de trabalho, e mais tarde a continuação digna de sua sobrevivência depois de aposentados.
Enquanto os nossos impostos forem gastos em propaganda inútil do governo, em desperdício com a estrutura ineficiente da administração, na falta de continuidade de planejamento e execução, na cooptação do legislativo pelo financiamento de emendas para que façam o que já deveriam fazer apenas pela obrigação que têm com os cidadãos que os elegeram, e o pouco que sobra para ser aplicado continuar sendo corroído pelas negociatas, a corrupção e a apropriação indébita para financiar a manutenção dos partidos, continuaremos nos comportando como atletas sem condições físicas, sem treinamento e sem equipamento querendo disputar uma olimpíada onde o prêmio é a sobrevivência do povo e da nação. Há mais de cinquenta anos que vejo os nossos governantes, de todos os partidos, falarem muito e fazerem pouco, e o Brasil continuar na situação cruel de ver, a cada ciclo de crescimento num momento favorável da economia mundial,  a falta de infraestrutura e investimento interromper este crescimento por um aumento perverso da inflação.

02/07/2012

Estudantes americanos conseguem tomar o controle de um UAV

Uma equipe de estudantes da Universidade de Austin, no Texas, foi desafiada pelo Department of Homeland Security dos Estados Unidos a penetrar no sistema de controle de um avião sem piloto semelhante aos UAV (Unmanned Attack Vehicle), utilizados pelas forças armadas americanas na vigilância e ataque a organizações terroristas no Oriente Médio.
Os estudantes, liderados pelo professor Todd Humphreys, do Laboratório de Radionavegação da universidade, usaram pouco mais de mil dólares de equipamento GPS para conseguir interferir com o sistema de navegação do avião, fazendo com que este passasse a seguir o novo rumo determinado por eles. A técnica utilizada, chamada "spoofing", consiste em enganar o sistema do avião de modo que ele aceite os sinais falsos emitidos pelo equipamento dos hackers como se fossem os verdadeiros.

                                                                      Predator UAV (foto U.S. Air Force)

O que mais preocupou o pessoal do Department of Homeland Security foi que eles próprios já estão utilizando UAVs para vigilância interna e de fronteiras nos Estados Unidos, existindo planos de aviões sem piloto desarmados passarem a ser utilizados também por entidades civis, tão logo a F.A.A. (a agência federal de aviação americana) autorize seu uso, com uma previsão de vários milhares deles em operação por volta de 2020. A relativa facilidade com que os estudantes conseguiram tomar o controle da aeronave colocou em pauta o risco de que terroristas possam tomar o controle de aviões sem piloto e utilizá-los para ataques da mesma maneira que empregaram aviões de passageiros nos ataques de 11 de setembro.
Em agosto do ano passado o governo iraniano mostrou fotos e vídeo de um UAV americano muito avançado de reconhecimento, um RQ-170 Stealth, que segundo eles teria sido abatido pelas forças armadas do Irã ao invadir o espaço aéreo do país, caindo mais de duzentos quilômetros para dentro da fronteira. O vídeo, porém, que mostra a aeronave em estado aparentemente perfeito, sem nenhum estrago visível, levantou suspeitas de que o UAV teria aterrissado em vez de cair, o que só seria possível por um defeito pouco provável no seu sistema de navegação, ou por uma interferência deliberada.
O governo americano, na época, preferiu a hipótese de um defeito no sistema, já que ficaria mal assumir publicamente uma invasão do espaço aéreo iraniano, e pior ainda que os iranianos tivessem sido capazes de tomar o controle de um equipamento tão avançado. Mas a demonstração dos estudantes faz a gente pensar...

                                
                          O RQ-170 capturado pelo Irã (vídeo TV iraniana)

Links para as noticias: 
https://rt.com/usa/news/texas-1000-us-government-906/
http://www.popsci.com/technology/article/2011-12/video-iran-puts-its-captured-rq-170-drone-display