Confrontada com as perspectivas cada vez mais baixas para o crescimento econômico do Brasil em 2012, em desacordo com o seu discurso otimista do início do ano, quando disse que nossa economia ia se recuperar e crescer bem mais do que em 2011, a presidente Dilma disse agora, em seu discurso na IX Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, que um país não deve ser medido pelo seu Produto Interno Bruto (PIB), e que "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz pelas suas crianças e seus adolescentes".
Talvez ela esteja reconhecendo, afinal, então que toda a propaganda ufanista do governo sobre o Brasil ser "a sexta economia mundial", porque nosso PIB era o sexto maior do mundo, era balela (como já dissemos aqui). Porque, embora o PIB absoluto seja realmente uma medida da quantidade de riqueza gerada pelo país, ele não quer dizer nada enquanto não o confrontamos com o tamanho da população, para saber quanta riqueza o país gerou por habitante. E, mais ainda, como essa riqueza é aplicada para o benefício destes habitantes.
Antes tarde do que nunca, Presidente. Só que a continuação do discurso não convence. Porque se medirmos o Brasil pelo que ele realmente faz pelas crianças e pelos adolescentes, vamos ter que mostrar o péssimo estado de nossa educação fundamental e média, com escolas mal conservadas e mal equipadas, com professores mal pagos, pouco qualificados e estressados, formando jovens que em muitos casos são pouco mais do que analfabetos funcionais, sem a preparação necessária para querer que entrem num sistema de ensino superior que é onde o País concentra seus gastos com a premissa falha da "universidade para todos". Vamos ter que mostrar o estado do nosso sistema de saúde, que deveria atender a estes jovens para que tivessem boas condições para o estudo, e aos seus pais, para que tivessem condições de trabalhar para cuidar deles, vamos ter que mostrar a falta generalizada de segurança e o domínio do tráfico que atrai estes jovens, que não conseguem trabalhar porque não têm a qualificação que precisam e porque o tráfico os seduz com dinheiro mais fácil e a falsa sensação de poder dada pela impunidade. Vamos ter que mostrar a falta de credibilidade do nosso sistema político, que cada vez mais, em vez de bons exemplos, dá a estes jovens exemplos de irresponsabilidade, desonestidade no trato do dinheiro público e impunidade. E tira deles o ânimo e a esperança de poderem vir a consertar alguma coisa por uma atuação política que pudesse assegurar a matéria prima para a indispensável renovação de valores no legislativo e no executivo.
Agora, Presidente, pense também que, ainda que queira sinceramente consertar isso tudo, com o PIB caindo cada vez mais há cada vez menos dinheiro para fazer os investimentos que são precisos, e para assegurar os empregos para a quantidade de jovens que atinge a idade produtiva a cada ano. E tenha ao menos a humildade de reconhecer que uma parte muito grande da responsabilidade pela incapacidade do Brasil de reagir melhor a essa crise mundial, que não é passageira, e que a senhora tanto disse que teríamos condições melhores do que os outros países para atravessar, é do governo, do seu e dos anteriores. Tanto dos que fazem as leis quanto dos que deveriam fazer cumpri-las. Aí talvez a senhora consiga mobilizar o país para consertar os erros anteriores, reduzir a ineficiência e combater a corrupção que estão prendendo nossos pés quando precisamos desesperadamente de sair do atoleiro da falta de competitividade para assegurar um futuro para estes mesmos jovens de quem a senhora falou.
Os políticos, e os brasileiros em geral, tentam retratar a realidade da maneira que os convêm, em cada momento da história. Essa última fala da presidente Dilma é absolutamente absurda, sem nenhum fundamento.
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