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07/07/2012

O que o setor produtivo precisa é o mesmo que o Brasil precisa

A cada dia vemos o governo dizer ou que o Brasil está preparado para enfrentar a crise, ou então que está tomando novas medidas para incentivar a economia. Com as notícias de que a nossa produção industrial está em declínio, cada vez mais evidente, apesar do câmbio mais favorável, o governo tem anunciado medidas para incentivar o setor produtivo. Num seminário na UNICAMP o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, conforme citado por Paulo Peres num artigo de ontem na Tribuna da Internet,  disse que a economia brasileira se preparou bem para enfrentar abalos econômicos nos últimos dez anos e mostrou uma postura competente assim que a crise chegou ao país em 2009, e prossegue dizendo: “Nós fomos competentes com as políticas anticíclicas e na nossa reação à crise. Resistimos bravamente, viemos de um ciclo de investimento e consumo muito elevado, o que foi determinante na nossa reação”.
Com todo o respeito pelo professor Belluzzo, discordo dele. Primeiro, por dizer que viemos de um ciclo de investimento muito elevado. O Brasil nas últimas décadas  investiu pouco e mal onde realmente seria necessário para se preparar para um progresso econômico com alguma solidez. E segundo, por dizer que fomos competentes; a nossa reação à crise consistiu principalmente em tentar estimular o consumo, mas sem cuidar das condições de base para que este consumo fosse sustentável. A nossa tão propagandeada posição de sexta economia do mundo se deve muito ao tamanho do nosso país e muito pouco à qualidade de nossa economia. Pouco adianta ser o sexto PIB do mundo em valor absoluto se o PIB por habitante é muito baixo.
O que o setor produtivo brasileiro precisa é o mesmo que o  Brasil todo precisa: que o governo (seja qual for) invista de verdade na infraestrutura (estradas, ferrovias, portos), para reduzir os custos e perdas no transporte de matérias primas e produtos, que reduza o custo da energia elétrica (uma das mais caras do mundo), que diminua a burocracia com seu custo de perda de tempo e de trabalho, que invista (muito, em quantidade e qualidade) em educação, saúde, saneamento básico e segurança, para poder melhorar e aperfeiçoar a capacitação dos trabalhadores de todos os setores. Sem isso continuaremos, como agora e desde sempre, tomando medidas pontuais e de curto prazo, que surtem efeitos também pontuais e de curto prazo, com cada vez maior custo e menos eficácia, e continuaremos vulneráveis a cada nova crise. O Brasil tem o potencial, pelo volume de sua população, de ter um dos maiores mercados internos do mundo, capaz de nos levar a uma situação de país desenvolvido, mas só conseguiremos desenvolvê-lo com sustentação se conseguirmos gerar volume de emprego produtivo com níveis de salário que permitam a integração desta população atual e dos que nascem a cada ano ao mercado consumidor pela sua inserção no mercado de trabalho, e mais tarde a continuação digna de sua sobrevivência depois de aposentados.
Enquanto os nossos impostos forem gastos em propaganda inútil do governo, em desperdício com a estrutura ineficiente da administração, na falta de continuidade de planejamento e execução, na cooptação do legislativo pelo financiamento de emendas para que façam o que já deveriam fazer apenas pela obrigação que têm com os cidadãos que os elegeram, e o pouco que sobra para ser aplicado continuar sendo corroído pelas negociatas, a corrupção e a apropriação indébita para financiar a manutenção dos partidos, continuaremos nos comportando como atletas sem condições físicas, sem treinamento e sem equipamento querendo disputar uma olimpíada onde o prêmio é a sobrevivência do povo e da nação. Há mais de cinquenta anos que vejo os nossos governantes, de todos os partidos, falarem muito e fazerem pouco, e o Brasil continuar na situação cruel de ver, a cada ciclo de crescimento num momento favorável da economia mundial,  a falta de infraestrutura e investimento interromper este crescimento por um aumento perverso da inflação.

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