Francis Pelichek - Gaúcho Chimarreando (1929) |
Francisco Bendl
Escrever não
pode ser um hobby qualquer, que basta teclar na tela do micro uma que outra
frase e se ter a ousadia de se definir um escritor ou se ter a tendência para
tanto.
Fundamentalmente,
precisa-se gostar de escrever, de ter a mente acesa para certas ocasiões ou
fatos, e de se servir deles para narrá-los com bom gosto, humor ou com
inovações.
Uma parcela
significante da minha vida foi escrever:
Desde a
época da escola onde a Redação era imperiosa, os relatórios variados e diários
nos Laboratórios que trabalhei, depois ajudando os filhos no colégio, a Marli
na faculdade e, bem mais tarde, quando trabalhei como motorista de táxi por
oito anos, e decidi escrever um livro de crônicas sobre a profissão, e o que
ela me trouxe de curioso, interessante e de grande aprendizado.
Um total de
vinte croniquetas, mais para o meu deleite que eu me apresentar para o mundo
como um novo gênio da literatura!
Editadas
inicialmente em forma de livro, “O Divã Móvel”, apenas para minha família,
foram depois, por insistência do Mano, republicadas neste blog, começando no
dia 7 de junho de 2016.
E tomei um
certo gosto em narrar minhas observações a respeito do cotidiano da vida, dos
percalços e alegrias, de sucessos e frustrações, de felicidades e desespero, de
realizações e de insucessos.
Em muitas
circunstâncias eu me tomei como exemplo, tornando a narrativa mais adequada à
dramaticidade que eu queria dar à situação vivida.
Portanto,
afirmo aos mais jovens que a existência é composta de altos e baixos, e faz-se
necessário que se esteja preparado para as batalhas perdidas, porém jamais
perder a guerra, que é vida, a existência, pois nos compensam com o tempo a
luta que mantivemos contra as dificuldades, as tais barreiras intransponíveis.
Dito isso, o
que poderemos ainda esperar da vida no seu ocaso?
O corpo não
obedece mais a juventude, que a imaginação teima em afirmar que ainda a
possuímos;
A mente quer
paz, tranquilidade, calma, e não ser perturbada por projetos que não lhe dizem
mais respeito;
As vontades passam
a ser simples, tais como escrever uma que outra linha, assistir TV, ler um bom
livro, manter um agradável clima dentro de casa com a esposa e, desta maneira,
passar o dia;
Os remédios,
os cuidados com os degraus, no chuveiro cuidar-se para não tropeçar ou
escorregar e cair, tornam-se uma espécie de olimpíada para o idoso, para
terminar o seu dia sem machucados, arranhões e edemas.
Outro
aspecto negativo que vai se apossando de nós, os velhos, é o desânimo, a falta
de vontade, de se querer ficar enfurnado dentro de casa e no escritório ou peça
específica com as janelas fechadas, usando apenas a lâmpada de mesa, e o ar
condicionado ligado.
Quando não
se deixa até de atender ao telefone, pois o Bina mostra o número que ligou, e
se o desconhecemos ou não queremos falar com esta pessoa, o aparelho tocará até
a outra parte desligá-lo.
Ir às festas
que se foi convidado, nem pensar!
Ter de
colocar calças, sapatos, camisa, sair de carro... as justificativas dia
seguinte são as mais variadas sobre os porquês de não se ter comparecido à
festividade:
Mal-estar,
dores nas costas, enjoos, o pé torcido quando estava escovando os dentes,
indisposição alimentar, visita brusca que chegou, dor de cabeça, os rins
incomodaram, não havia uma roupa adequada, um parente que adoecera
repentinamente...
Paralelamente
ao avanço dos dias, elabora-se um conjunto de explicações para não se sair de
casa, e não ser retirado deste suposto bem-estar, de privacidade, de se usar
bermudas e chinelos sem camisa, e sem vestir a indumentária que devemos quando
somos convidados por um amigo para ir à casa dele.
Diante
dessas providências tomadas para se manter a privacidade, eu me pergunto que
sinais seriam esses?
Eu estaria
fechando a porta da existência?
Eu estaria
dizendo a mim mesmo que o fim chegou, finalmente?
Que só me
resta a morte chegar?
Ou não
seriam apenas avisos de que não só merecemos o descanso como temos de nos
conceder tempo para nós mesmos?
Assim:
Isolados,
quietos, aproveitando o dia para fazer o que se gosta e o que se quer?
A meu ver,
além do mencionado acima, certamente a nossa presença já não é mais motivo de
alegrias, pois nos tornamos rabugentos, chatos, incomodativos, intoleráveis.
A cada
visita aos filhos, eu ouvia as preocupações e alertas sobre escadas, banheiros,
sofás, cadeiras, o meu peso excessivo, os remédios que precisam ser ingeridos
mediante hora determinada, os cuidados comigo... definitivamente eu era uma
pessoa que não agregava, que não unia, então a decisão de eu ficar em casa e
eles me visitarem com meus netos.
A velhice
não pode ser um estado de deterioração física, mas também mental, espiritual.
Não adianta
a mente calma, em paz, mas o corpo não ajudar, não permitir a tranquilidade
almejada e necessária.
Surge um
conflito terrível e inevitável entre a mente e o corpo, uma luta
indiscutivelmente desigual:
De um lado,
a mente, leve, livre, que nos faz viajar pelos Cosmos à velocidade da luz;
Do outro, o
físico pesadão, cambaleante, cuja ida ao banheiro é uma aventura!
Conciliar
ambas as partes que precisam conviver juntas é uma tarefa imensa, difícil.
Equilibrá-las,
de modo que não se vá à loucura, é um exercício que exige notáveis
conhecimentos sobre si mesmo e a realidade que cerca o idoso.
Tá bem, o
velho ganha experiência de vida, um pouco de sabedoria, mas reclama das dores,
dos reumatismos, das indisposições, que a morte está à espreita, e se deixa
esvair o que lhe resta de vontade e disposição, para substituí-las pela
impaciência e intolerância!
Outro
problema a ser enfrentado é como entendemos a percepção dos idosos pela
sociedade.
Indubitavelmente,
precisamos desmistificar as hipocrisias que cercam a velhice, e vejo que
poderíamos analisar esta questão de duas formas:
Como que a
sociedade e seus cidadãos veem a velhice, a maneira como as famílias tratam
seus idosos, até as visões de velhice pelos filósofos e pela literatura ao
longo dos anos, ou seja, de fora para dentro;
A segunda
seria de dentro para fora:
A vida
através dos olhos de um idoso, da pobreza à riqueza, da fama ao desconhecimento,
e apresentarmos provas de que ainda sentimos as mesmas paixões que os mais
jovens, apesar das expectativas da sociedade neste mundo desenvolvido que nos
tem como descartáveis!
Bom, se a
velhice me coloca diante de uma série de conclusões, inevitavelmente foram
pensadas, raciocinadas, elaboradas entre prós e contras.
Logo, uma
delas, talvez a mais importante, seja a seguinte, dita há mais de quatro
séculos pelo velho Henri Estienne:
“Se a juventude soubesse, e se a velhice pudesse!”
Por outro
lado, entendo que possuir a qualidade de ver a beleza não envelhece, pois
Conversas do Mano é a prova do quanto temos lido e visto de beleza, então nos
animamos, e o mau humor ou o acomodamento são substituídos pelas crônicas,
poesias, artes, biografias, narrativas de viagens... o oásis cultural que tenho
reiterado.
Agora, o
tempo nos adiciona também alguma esperteza.
Nós, os
velhos, gostamos de dar conselhos para nos consolarmos que já não estamos mais
em idade de dar maus exemplos!
Entretanto,
podemos enganar a nós mesmos com esta esperteza mencionada, quando batemo-nos
no peito e declaramos:
- Nunca me senti tão jovem!
Sinal de que
a velhice chegou, e pra valer.
Aliás,
Millôr Fernandes já dizia que um homem realmente velho é aquele que só pensa
nisso!
Mas, a
definição mais importante e significativa que li, e que define com precisão
surpreendente a velhice, é da autoria de Miguel Esteves Cardoso:
“Uma das vantagens da velhice é deixarmos de nos preocupar com o
que pensam os outros. Começa quando percebemos que somos nós – cada um de nós –
que temos uma única vida que vamos ter e que somos nós – cada um de nós –que
vamos morrer sozinhos, cada um de cada vez”.
O notável
escritor francês, Marcel Proust, autor da obra em sete partes, Em Busca do
Tempo Perdido, entre 1913 e 1927, assim dizia sobre a velhice:
“Acontece com a velhice o mesmo que com a morte. Alguns
enfrentam-nas com indiferença, não porque tenham mais coragem do que os outros,
mas porque têm menos imaginação”.
Finalizo com
uma certa mágoa com as mulheres, confesso:
“Da cintura para baixo nenhuma mulher envelhece. É justamente da
cinta para baixo que mais envelhece o homem”
(Vergílio Ferreira).
Francisco
ResponderExcluirvou procurar seus textos de quando era taxista e tenho certeza que vou gostar e me dirvertir
Tento ver as partes boas deste envelhecer e acho que a sabedoria que adquirimos é a melhor parte
Ajuda também ter otimismo e bom humor
Mas não é fácil... é só para os fortes
Vamos aproveitar o tempo que nos resta
Um abraço amigo pois já sinto amizade por todos deste blog
Lea, minha querida,
ResponderExcluirObrigado pelo comentário.
Olha, nessas alturas - e sem ser pessimista -, só nos resta mesmo o bom humor, a ironia, brincar com a vida.
Semana passada fui para o hospital.
Eu não passaria daquela noite de quarta-feira para o dia seguinte.
Pressão alta e pulso em mais de 140 batimentos!!!
Me mandaram para a UTI, e comecei a fazer uma batelada de exames.
Seringas de sangue me tiraram cinco!
Monitoramento nos dois braços, além do medicamento endovenoso;
Remédios via oral, exercícios de respiração, e duas enfermeiras ao meu redor permanentemente.
Eu havia sido proibido de levantar da cama, e sob qualquer pretexto.
Ri, por dentro, pois mais uma vez a minha rebeldia seria posta à prova.
Não deu outra:
Quando manifestei uma vontade irreprimível de "desaguar", uma das anjas que me cuidava me entregou o tal de papagaio!
Respondi que o papagaio, periquito, pardal, urubu, gavião ... eu não usaria porque muito difícil, que eu iria me levantar.
Bah, chamaram até o segurança do hospital.
Resultado:
FIQUEI DE PÉ AO LADO DA CAMA, e usei a "comadre" como balde!!!!
Assim, comecei a fazer "amizade" com as enfermeiras, que se revezavam a cada seis horas - um turno.
Sexta, de madrugada, algo em torno das três horas, havia as duas que me atendiam, mais duas colegas da outra sala conversando comigo.
De repente, entra a chefe, a enfermeira, e exclama:
- Mas o que é isso? Eu com problemas de atendimento e o Chicão com as minhas atendentes??
Responde uma delas:
- Fecha essa porta, e ouve o que o nosso amigo tem para nos dizer!
Resumo da ópera, Lea:
O meu problema era de saúde, mas, o delas, dessas moças que ganham pouco, que trabalham com a necessidade alheia, em cuidar de gente, queriam ouvir palavras de incentivo, alegres, divertidas, que as tocassem em seus corações.
Quando dei alta, no sábado pela manhã, eu jamais fora tão beijado na vida!
Convenhamos, mas morrer dessa forma é a antessala do paraíso!
Lea, minha querida amiga, um forte abraço.
Saúde e paz, muitos risos e vida longa.
Isto é ter humor e fazer outro texto brincando com a vida
ResponderExcluirAdorei receber está resposta
Desejo e espero sua recuperação
Por aqui tive meus dias de hospital com meu marido e de fato é muito ruim
Agradeço e espero outros crônicas suas
Boa noite
Lea,
ResponderExcluirAlegro-me que eu tenha te causado outra boa impressão com a minha resposta.
Afinal das contas, a vida nos proporcionou tantas alegrias e felicidades, satisfações e realizações, que ao nos despedirmos dela seria até mesmo vergonhoso nos lamentar!
Se o nosso tempo se foi, a de outras pessoas não será diferente, pois o tempo é implacável.
Cabe-nos amenizar o seu chamado, e ir para a fila com muito humor.
Mais:
Com a devida certeza de que seremos recompensados pelo que fizemos, nada de castigo!
Lembro que a função de pai e mãe é tão divina, tão sagrada, tão transcendental, que Jesus não foi pai - pelo menos os Evangelhos não falam de Cristo neste aspecto -, logo, as vidas que trouxemos para este mundo e que tão bem se encaixaram nele, pessoas que se tornaram úteis à sociedade e a si próprios graças à nossa educação e exemplos, indiscutivelmente seremos recebidos por São Pedro, e com muita reverência!
Mais um abraço, Lea, e estimo melhoras para o maridão.
Ele tem ao seu lado uma mulher de grande valor, corajosa, inteligente, sensível, meiga e que o adora!
Tais condições e ofertas de tanto amor, certamente farão com que se recupere em seguida!
Amigo Chicão,
ResponderExcluirPoupaste-me de pensar num comentário, porque nas duas respostas que deste à Léa já está a essência do que eu quereria te dizer!
Envelhecer, ainda que com certos inconvenientes, é o coroamento do que fizemos durante toda a vida, e, como alguém já disse, "a alternativa é bem pior" :)
E, no teu caso, com a vantagem adicional de seis jovens atendentes a te encherem de beijos... (nem me atrevo a perguntar o que a dona Marli achou disso)!
Então, é esperar, e sem pressa, a nossa vez, com esse humor que tens de sobra, e nos preocuparmos mais com a vida do que com a passagem para a outra, que virá de qualquer jeito. Como diz o ditado, "peru é quem morre de véspera" :)
E falando de peru, eu acrescentaria, como disse teu imortal conterrâneo nas histórias de "O Tempo e o Vento", o conselho do anarquista don Pepe ao moço Rodrigo: "Não faz como o peru, que traçamos um círculo na terra em volta dele e ele fica preso ali dentro. Pula por cima do círculo!"
Um abraço do Mano
Prezado Autor Sr. FRANCISCO BENDL,
ResponderExcluirO senhor escreveu um belo texto sobre a velhice, assunto difícil e delicado. Pelos Comentários soubemos que foi logo depois de uma crise de pressão sanguínea e arrítmia cardíaca que lhe levou para a UTI do Hospital, de onde após felizmente superada a crise, o senhor voltou para casa no sábado plenamente recuperado.
Sua rebeldia inata, seu grande senso de humor e Comunicação com p Pessoal do atendimento, sem dúvidas o ajudaram a se recuperar.
Mas precisa ter sangue frio para brincar nessas circunstâncias.
O senhor começa o Artigo falando sobre Literatura, sobre Escrever, Arte que dominas como poucos, e que sempre gostou de escrever, desde as Redações Escolares, Relatórios profissionais, o Livro "Divã Móvel", e milhares de Artigos na Internet.
Nossos Sábios dizem que não há nada mais honroso do que um "Velho" que sabe julgar e aconselhar bem.
No seu Artigo o Sr. FRANCISCO BENDL diz que os mais Velhos tendem a cair no comodismo, o que não é bom, mas o senhor tem um Projeto de Vida excelente, que é através da Arte da Escrita, passar para as Gerações futuras suas longas experiências de Vida, "julgando e aconselhando bem".
Não tem missão mais Nobre e importante do que essa. E o senhor Escrevendo, a está cumprindo muito bem. Parabéns.
Abração.
Mestre Bortolotto,
ExcluirLer os teus comentários a meu respeito me animam e me fazem seguir em frente, deixando registrado bem ou mal, os meus pareceres, opiniões, interpretações, pensamentos e ideias sobre a vida.
Se quando moços e depois adultos jovens, com força e determinação, nos atiramos em busca de realizações, ampliar nossos horizontes, conhecer mais sobre o mundo que habitamos, nos relacionarmos melhor com as pessoas, casar com a mulher amada, ter filhos, a esperança de ver nascer os netos, manter as amizades antigas e conquistar novos amigos, essa jornada externa é substituída posteriormente quando, na velhice, o nosso mergulho é interior!
Sabe, mestre, é quando vamos fazer o balanço do que fizemos, do que não realizamos, daquilo que fomos omissos.
Vamos em busca do nosso verdadeiro eu.
Não mais aquele para consumo externo, mas para nos alimentarmos de nós mesmos, do que conquistamos, do que somos para os outros mas, principalmente, o que pensamos de nós mesmos!
Pois são nesses momentos, quando faço a barba e me olho no espelho, que me pergunto:
- E aí, Chico Bendl, fala de ti mesmo. Como foste como ser humano, marido, pai, avô, amigo, empregado?
E continuo nessa minha análise:
- Quais foram os teus erros mais graves? Mereces algum elogio? Deixarás algum legado ou passarás sem ser visto neste planeta?
O resultado, mestre, é que passei raspando. Ali, ali, para não repetir o ano, mas também sem receber os louros da vitória, pois fala para o seu amigo, mestre Bortolotto, um sujeito que não foi um vencedor!
Também não um derrotado, mas longe, muito longe de subir ao pódio!
A partir do momento que cheguei a esta constatação, foi como se eu tivesse aberto a cortina da minha vida, que impedia a luz do dia clarear os meus aposentos.
Logo, a velhice para mim ou a antevéspera da minha partida, tornou-se leve, divertida, amena.
Fiz o que fiz, e como atenuante de não ter sido um vencedor, as minhas intenções sempre foram as melhores para com todos que um dia fizeram parte da minha vida!
Então, eu os reverencio, agradeço, curvo-me diante dos que me ajudaram a chegar perto dos 70 anos, e ainda ter comigo uma boa dose de humor!
Um grande e forte abraço, mestre Bortolotto.
Muito obrigado pelas tuas palavras sempre gentis para comigo.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Caríssimo,
ResponderExcluirSe fugimos de presídios, masmorras, cadeias, prisões, o que dirá de um círculo imaginário!
Ou somos livres ou não seremos jamais seres humanos.
A única condição que somos obrigados a obedecer em conjunto, tanto pela responsabilidade quanto pela importância, é quando decidimos ter filhos.
Nós, homens, precisamos delas e, elas, necessitam de nós.
Tanto para a decisão ser compartilhada como depois, o casal unido, não necessariamente vivendo juntos, sustentar, criar e formar a criança.
Ora, a morte nos requisita sozinhos. Não exige acompanhante ou alguém que nos indique o caminho, então a fuga desses limites se torna mais fácil ainda.
Dito isso, estou no meu apogeu mental, intelectual, humorístico.
Se as minhas luzes já são opacas e pouco iluminam o meu caminho, então sigo à base do berro, do grito, do empurra.
Pois a intenção é viver, mesmo que ali adiante demos adeus à vida, mas, até lá, com alegria e entusiasmo.
Afinal das contas, pior do que estamos neste país, do outro lado não poderá ser mais grave!
Abração, meu amigo.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Olá Francisco dos Pampas,
ResponderExcluirVocê já disse tudo, a Léa já disse tudo (você está seduzindo a minha priminha?),você fez todos dizerem tudo. O que escrever?
Que você também deve ter dado umas boas beijocas aproveitando dessa tática "velhinho doente"? He he he.
Falando sério, umas das coisas boas da idade é imitar a Rita Lee e fazer saber:"nunca quis servir de exemplo para ninguém". Isso é bom demais! Estou nessa!
E o que peço ás irmãs e filhos se ficar beeem velhinha, é que não me levem para passear no Shopping, sem vontade, alheia à tudo, quase um fantasma. Ou já um fantasma, sei lá. Me deixem em casa, aqui sou bem feliz. Mesmo que já não o saiba.
Até mais.
Desculpe o atraso, estava enrolada com um trabalho.
Aninha, minha cara amiga,
ExcluirGrato pelo comentário.
Agora, com relação a eu estar "seduzindo" a tua prima, acontece o contrário, ela que me seduz com as suas palavras oportunas e adequadas!
No entanto, eu me rendo à tua inteligência e sensibilidade, Ana, pois descobriste que inventei uma forma de conseguir que a mulherada me beije!!!
Velhinho, doente, fragilizado, elas pensam, enquanto eu vou lhes dizendo o que sei sobre a vida, as minhas experiências, o meu casamento duradouro, os filhos que me visitaram sempre no hospital, a minha felicidade pelos amigos que possuo, então elas me ouvem com ternura, pois estão cansadas de gemidos e dores, lamentos e pessimismos!
Ah, e conto piadas!
Claro, de salão, que as enfermeiras se torciam de tanto rir, ainda mais quando eu fazia a onomatopeia do bicho protagonista.
No silêncio da noite, onde eu ouvia apenas os pedidos de ajuda da sala ao lado, por um medicamento que aliviasse as dores daquele que estava sofrendo, eu pensava com os meus botões:
- Pô, estou na UTI e sem qualquer dor. O paciente ao lado, que não está com risco de morrer, padece!
Tenho de levar esta condição de bem-estar em conta, logo, decidi alegrar o ambiente, deixá-lo mais leve, ameno.
E é dessa forma, Aninha, que vivo os dias que me restam:
aliviado, consciente do dever cumprido.
Não venci, mas não fui um derrotado, logo, só posso levar para o além a alegria que tenho, e que tanto faço para compartilhá-la!
Um enorme, apertado e fraterno abraço, respeitoso, óbvio.
Muita saúde e paz, extensivo aos teus amados.
Vida longa, Aninha, pois precisamos desta tua juventude inata, desta tua disposição, abnegação e vontade férrea.
Prezado Chicão,
ResponderExcluirNão lembro quem disse que escrever é pensar e que escrever bem é pensar claramente. Sou seu leitor atento há três anos e portanto sei que você tanto escreve bem quanto pensa de modo claro... a não ser... quando o tema é a sua saúde.
A impressão que tenho ao ler esse seu post é que já pensamos muito e teclamos demais. Às vezes, as nossas palavras se tornam vazias de significado: já estamos além delas.Então o jeito é mandar-lhe o abraço de sempre e pedir socorro à poesia:
Não vá à noite boa gentilmente assim
É necessário delirar ao fim do dia
Lute, lute pela luz que chega ao fim
O sábio agonizante embora aceite sim
O escuro ao ver que a sua vida foi vazia
Não vai à noite boa gentilmente assim
O justo sob a onda derradeira enfim
Vê frágeis feitos seus brilhando na baía
E luta, luta pela luz que chega ao fim
O insano que prendeu o sol para um festim
Só percebendo muito tarde o que perdia
Não vai à noite boa gentilmente assim
O homem sério, à morte, de olhos cegos
faiscando como meteoros, reviveria
Luta, luta pela luz que chega ao fim
E você, meu pai, me abençoe ou contra mim
Pragueje, eu peço, pelo que se anuncia.
Não vá à noite boa gentilmente assim
Lute, lute pela luz que chega ao fim
( Dylan Thomas)
Pimentel, meu caro,
ExcluirÉs um globetrotter, um especialista em viagens, em artes, e um extraordinário narrador das tuas aventuras e observações dos lugares que visitaste, e que não são poucos!
O meu mundo é muito menor. Limitado, sem encanto algum.
De modo a compensar esta ausência de conhecimentos, que transbordam em ti, tomei a decisão de me aprofundar sobre mim, e, assim, entender mais o próximo, as suas reações, emoções, sensações.
E, apesar de eu ter poucas luzes, fracas até, arrisco-me a escrever sobre o ser humano, com bases em mim mesmo, claro.
E, sempre eu sendo o exemplo ou o modelo, portanto, uma pessoa comum, igual a milhões de outras e muito pior que a maioria!
Na razão direta que temos de fortalecer o que temos de fraco, que não é resistente às pressões do dia a dia, no meu modo de ver entendi que o humor, levar a vida mais suave, ainda mais no seu final é o remédio recomendado.
Dito isso, até posso estar mascarando para mim mesmo a realidade da minha velhice, mas esta não vai me definhar ou me colocar como eremita ou um fanático religioso.
Quero viver como desejo agora, no meu ocaso.
Escrevendo, lendo, assistindo TV, ir ao centro da cidade volta e meia e eu dirigindo o carro, a Marli ao meu lado, e fazendo um retrospecto da minha existência.
Conforme reza o ditado do para-choque de caminhão, "Na estrada da vida não tem retorno", não será no limiar da minha vida que irei refazer os erros ou conquistar o que não pude.
Então, brindemos à vida, enquanto pudermos.
Forte abraço, meu amigo.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados.