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10/01/2019

O Forte de Galle

fotografia Moacir Pimentel

 Moacir Pimentel
Em nenhuma outra região da ilha de Sri Lanka a presença estrangeira é mais vívida do que em Galle, a esquina mais cosmopolita do país, profundamente portuguesa, holandesa e britânica. Galle é uma síntese de culturas, influências e religiões, uma península que abriga um forte transformado em um microcosmo onde os nativos viveram misturados com seus colonizadores e hoje convivem com os turistas cara-pálidas.
A cidade de Galle que sempre fora dona de um porto importante servindo de escala essencial para os comerciantes chineses, persas, árabes, indianos, javaneses e sumatras só ganhou um Forte para chamar de seu em 1589 quando o reino de Kandy forçou os portugueses para fora da capital Colombo e os vencidos, para continuar lutando, fortificaram-na.
A Sri Lanka que eu reeencontrei em 2009 me pareceu bastante diversa da que conheci nos primeiros anos oitenta, talvez porque a visão que tive da ilha no terceiro milênio foi também aquela de minha mulher. Antes eu viajara sozinho e, acredite, também vemos um país pelos olhos de quem está ao nosso lado.
Uma das coisas que ela me fez lamentar foi não ter estado naquelas paragens com nossos filhos enquanto eram crianças. Fazer o quê? Não se leva criancinhas para países em guerra civil.
Mas – e me desculpem as Disneys da vida – para os nossos pirralhos Sri Lanka ganharia disparado de qualquer parque infantil metido à besta. Pois as férias perfeitas para uma criança teriam que ter praia, castelos misteriosos, fortes onde foram travadas grandes batalhas, um pouco de magia e alguns monstros. Isso, em termos gerais, descreve Sri Lanka.
Ok. Os elefantes do Sri Lanka podem não ser exatamente monstros, mas existem quinhentos deles só na região sul, para não falar das serpentes (rsrs) E como esquecer as tartarugas?
As tartarugas de Galle não têm nada a ver com aquelas cascudas pequeninas vistas por aqui nos jardins zoológicos. Não, nada disso. Sob a luz das tochas – e de alguns flashes proibidos! - elas se parecem com tanques pré –históricos, com filhotes de dinossauros ao longo do pequeno rio de Galle. Tranquilas, já que o manguezal é monitorado dia e noite, as bichinhas de um metro e meio de comprimento se estabeleceram ali “em berço esplêndido” para viver o que parece ser uma eterna sesta.
Que criança não ficaria fascinada pelo espetáculo dos pescadores se equilibrando precariamente sobre palafitas, dos crocodilos que moram no fosso do Forte, dos barcos de fundo de vidro que revelam milhares de peixes improváveis, das vistas do farol de Dondra Head, de onde o Oceano Índico parece tão mais espumoso e furioso? Não é à toa que em torno de Galle se encontrem os restos de mais de duzentos naufrágios.
O fato é que a fortaleza de Galle se encaixaria às maravilhas nas férias de sonho e no sonho de consumo do mais exigente dos curumins. E, subindo as antigas muralhas portuguesas, no passo dos nossos cinquenta anos, olhávamos as crianças nativas arrastando as suas pipas com alguma saudade da agitação das nossas. Bons tempos!
Os moradores locais contam histórias apavorantes de como aqueles lindos blocos de coral que formam os muros do Forte foram cortados por canibais moçambicanos tão ferozes que tinham que viver amordaçados. Que criança não gostaria de ouvir as lendas sobre os heróis durante os cercos e dos fantasmas que passavam a assombrar o Forte finda a luta?
Depois, tinha o críquete que era jogado nos mais minúsculos espaços e em qualquer remendo de grama e o carro fúnebre local que usava uma saia de babados brancos, muuuuito estranha! Teria sido uma festa!
A única forma de se conhecer o Forte de Galle é caminhando pelas ruas que serpenteiam pelos seus cinquenta e dois hectares entre os dezoito bastiões, com paradas técnicas nos diversos templos, nas casas das autoridades cercadas por antigos pés de jasmim, nos armazéns de especiarias, no velho hospital holandês, nas praçinhas povoadas por árvores de fruta-pão - fruto que os nativos evoluíram para guloseima misturando-a ao coco - na Prefeitura, no farol no qual não se pode subir e sobre a parede do mar e ao longo das muralhas parando, é claro, de vez em quando, para beliscar bolinhos de caranguejo e assistir as crianças mergulhando no Oceano Índico.
fotografias Moacir Pimentel

A construção foi aprimorada pelos holandeses a partir do século XVII e restaurada após o tsunami que matou mais de trinta mil pessoas na ilha em 2004. O Forte Holandês, como é conhecido, é parte importante do passado histórico, arqueológico e arquitetônico da ilha e foi declarado pela UNESCO como patrimônio cultural pelo seu conjunto urbano que ilustra a interação da arquitetura europeia com as tradições do sul da Ásia do século XVI ao século XIX, e com a história colorida de uma população multi-étnica e plurireligiosa.
O centro da cidade Galle é uma confusão de fios e postes e lojas e cafés e bares e vitrines e hotéis todos limítrofes de galerias de arte modernosas. E essa babel fica dentro das paredes castigadas pelo tempo do Forte. Por aquelas ruas se fundem a arquitetura colonial com motivos asiáticos e até mouriscos e se vê de tudo: tecidos, joias, cestaria e máscaras estranhamente parecidas com as coisas do Modigliani.
Os estrangeiros pensam que as máscaras vendidas em Galle são coisas alegres para decorar as parede das suas salas, mas na verdade muitas delas são sannis – os demônios causadores das doenças. No Museu das Máscaras de Ambalangoda, essa mitologia-feitiçaria é explicada em detalhes e confesso que foi divertido imaginar os pobres turistas levando para casa Dona Cólera ou - quem sabe? – o Senhor Sarampo como souvenirs.
Muitas das casas antigas da velha fortaleza foram reformadas como hotéis e guest-houses onde se pode alugar quartos. E foi isso exatamente o que fizemos.
Todas as manhãs, os macacos pulavam das árvores para os telhados e deles para as ruelas fazendo com que os vendendores que pedalavam suas bicicletas buzinassem. Enquanto isso os “estranjas” lhes compravam de tudo desde que fosse “georgiano” da gema: cachimbos, chaves e colheres enferrujadas e por aí vai. Aliás as duas chaves da porta da frente e do nosso quarto no nosso hotel holandês, pesavam praí um quilo (rsrs)
Centenas de preciosas construções coloniais ao longo das ruas estreitas do Forte servem hoje de moradia e atelier para um grande número de artistas, escritores, fotógrafos e desenhistas, nativos e estrangeiros. E ali me deparei com uma novidade que inexistia na década de oitenta: um grande número delas foi comprado por estrangeiros e indianos que as transformaram em negócios os mais diversos.
fotografias Moacir Pimentel

Se bem que, pensando bem, nada há de novo no fato de expatriados enamorados pela ilha viverem por aquelas paragens. Foi exatamente o que aconteceu, por exemplo, com Robert Knox, o autor do livro “Um Relato Histórico da Ilha do Ceilão”, que narra o seu sequestro a mando do rei cingalês que, como suspeitam alguns historiadores literários, teria servido como uma das fontes de inspiração para o Robinson Crusoe do escritor inglês Daniel Defoe.

Ou ainda o futurista britânico Arthur C. Clarke, autor do romance 2001 - Uma Odisséia no Espaço que fez de Sri Lanka sua casa adotiva para contemplar o universo. Estrangeiros sempre estiveram mediunizados pelos encantos nativos desde Marco Polo porque Sri Lanka é um daqueles lugares do vasto mundo onde os dias podem facilmente se tornar semanas e as semanas meses, como experimentei na minha juventude andarilha. Os faróis de Galle sempre brilharam sobre o mar atraindo viajantes... 
Em 2009, porém, percebi ali um cosmopolitismo inédito transformando Galle em uma Ubud emergente, numa nova Bali. A atmosfera criativa e serena era a mesma: bons restaurantes, cafés e ruas cheias de lojas, muitas vendendo produtos dos artesãos da região, como as rendeiras, os entalhadores de metais, os cesteiros e lapidadores de pedras preciosas, tecelões e desenhistas que vimos trabalhando nos recintos dos cafés e bares e restaurantes e em lojas charmosas ao longo notadamente da rua do Galle Fort Hotel que continua até as muralhas à beira-mar e o farol.
O tipo de lugar que atrai gente “cabeça” para criar e trabalhar em comunidades artísticas, muito bem descrito naquele best-seller Comer, Rezar, Amar escrito pela Liz Gilbert representada pela bela Julia Roberts na telona.
Nada contra a “tendência”. Se bem que, confesso, destoam os ônibus de excursão vindos de Colombo para fazer um city tour opcional de quatro horas sufocando as ruas principais do Forte e causando o caos. Felizmente a poucas centenas de metros da agitação outras paisagens nos garantiam que ainda há vida não inteligente no planeta e o mundo voltava a ficar em paz.(rsrs)
Passear por essa cidade colonial perfeitamente preservada é um pouco como voltar ao passado. O portão principal do Forte foi construído pelos britânicos e funciona como um túnel através do aterro que liga o Bastião da Estrela de um lado ao do Sol do outro se bem que é no Bastião da Lua que mora a bela torre do relógio.
fotografias Moacir Pimentel

Mas o Portão Holandês ainda está de pé altaneiro, com a data gravada de ANNO:MDCLXIX. Nele um detalhe interessante é o brasão holandês no topo do arco no qual se pode ver a insígnia de um galo - de Galle! – flanqueado por dois leões e as letras “VOC” entrelaçadas bem no centro. Sucede que a inscrição “VOC” é a abreviatura de Verenigde Oostindindische Compagnie, que significa Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
Realmente os holandeses construíram muralhas para resistir a quaisquer balas de canhão inimigas e, mais de trezentos anos depois, elas fizeram um excelente trabalho encarando o tsunami de 2004.
Assim como a maioria dos edifícios do Forte tem uma cara nitidamente holandesa, os nomes das suas ruas tem o sotaque. Traduzí-los é uma das atividades prediletas dos seus moradores. Um grande número de vielas homenageia os comerciantes ancestrais do pedaço como a rua dos mouros varejistas, a dos comerciantes de corda de coco, a dos emigrantes de Parawa no sul de India que eram pescadores e comerciantes de pescado, a dos tiradores e vendedores de coco e por aí vai.
O Forte hospeda a Mesquita de Meera, a Igreja dos holandeses também chamada de Igreja Grande que um dia abrigou os mais antigos cultos protestantes de Sri Lanka- pavimentada com as lápides do velho cemitério ela é dona de um púlpito de madeira entalhada e de um órgão datados do século XVIII - o templo budista construído no local da antiga igreja católica portuguesa, o Grande Armazém perto do Portão Velho, que antes guardava especiarias mas hoje abriga o moderno Museu Marítimo Nacional, que coleciona os tesouros de muitas dezenas de naufrágios. É comum, pelas esquinas de Galle, ver vendedores ambulantes oferecendo aos tolos moedas “naufragadas” portuguesas, holandesas e britânicas da gema (rsrs)
No pequeno cemitério e sob lápides contínuas portugueses e holandeses e britânicos dormem seus sonos eternos e, seguindo pela Rua da Igreja encontramos o Museu Nacional de Galle, vizinho do belo Hotel Amangalla, o antigo palácio dos governadores holandeses que já foi o lendário New Orient Hotel nos tempos britânicos.
Na famosa Rua da Rainha, a casa da prezada senhora continua orgulhosamente datada de 1683 e, um pouco mais adiante, do outro lado da rua, no deslumbrante Hotel Galle Fort, abrigado numa mansão do século XVII, quem degusta um gin tônica sob os lentos ventiladores de teto na varanda do bar se sente o dono do mundo...
A cidade murada não é um museu mas um lugar vivo e divertido de se conhecer. Na Praça da Corte, um conjunto de edifícios coloniais sombreados por centenárias árvores, mora o Tribunal, só que na Praça a gente quase tropeça com uma multidão de “advogados” despachando entre pilhas de papéis sob o sol quente. E mais tarde naquele mesmo dia a pracinha foi invadida por crianças vestidas de branco e cantando hinos em uníssono (rsrs)
A partir daí, era só seguir a garotada passando pelo velho Hospital Holandês, pela mesquita branca caminhando ao longo do talude gramado paralelo à rua Rampart, com o mar de um lado e os telhados vermelhos das pequenas casas do Forte do outro.
Ao pôr-do-sol até parecia que toda a população local se reunia nas muralhas à beira mar: monges, mulheres debaixo de guardas-chuvas, estudantes, namorados, um tuk-tuk rosa brilhante e passarinhos chilreando.
Não resistimos a seguir de tuk-tuk até a praia de Unawatuna a praí uns cinco quilômetros a leste de Galle onde eu já me hospedara décadas atrás.
fotografia Moacir Pimentel

A aldeia em 2009 continuava a ser um local agradável, descontraído de dia e animado depois de escurecer, com bares à beira-mar e tochas na praia que o turismo não conseguira ainda transformar em play-ground dos ricos.
Depois de templos milenares, de um forte colonial holandês e das numerosas muralhas de pedra e coral, nada melhor do que o sol e águas calmas.
Voltamos para Galle em paz por estradinhas vicinais e tranquilas compartilhadas com pescadores, agricultores passando com seus tratores e um ou outro macaco ocasional. E pensando na Sri Lanka do meu passado e na do nosso presente.
fotografia Moacir Pimentel

Desejo que Sri Lanka se lance na aventura de um turismo responsável e sustentável mas que não se ocidentalize e conserve intactas as suas tradições. Que as famílias e os aborrecentes e as crianças e os micos possam continuar donos das muralhas do Forte de Galle e do mar cristalino e que os pontos de praia onde os donos da casa e os seus hóspedes se divertem felizes da vida juntos, não percam o seu encanto.  Essa troca de saberes será sempre o ingrediente essencial de uma boa viagem.



16 comentários:

  1. Flávia de Barros10/01/2019, 11:41

    O seu artigo é tão descritivo que eu quase posso ver os artistas e artesãos fazendo coisas lindas e sentir o ambiente cosmopolita do Forte. Ajudou saber que o lugar lhe lembrou do belo filme sobre a escritora Liz Gilbert. Poucos têm como tirar um ano para comer, rezar e amar e você é um abençoado por ter vivido em tantos lugares encantadores e por passar adiante o que viu e aprendeu nas
    suas andanças.
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 17:46

      Flávia,
      Sim, o ambiente em Galle me fez lembrar Bali e não, eu não reclamo das minhas estradas por onde aprendi que conhecimento não tem sentido se não é compartilhado. Só vou fazer um reparo: na minha juventude não eram poucos os jovens que botavam o pé na estrada com um orçamento muuuito apertado porque conhecer o vasto mundo era então como um rito de passagem da universidade para a vida adulta. Pelo menos para mim, o passaporte foi um diploma de grande valia.
      Quanto à estória da escritora Liz Gilbert viajando pelo mundo para reencontrar o apetite pela vida, a espiritualidade e o equilíbrio, so sorry, ela é mais bem contada no livro do que no cinema. "Comer, Rezar e Amar" é uma mistura de guia de viagem e diário pessoal, que consegue nos comunicar melhor do que a Julia Roberts, os caminhos pelos quais essa mulher atenta, curiosa e irreprimível que tudo queria se descobriu e retomou em culturas estrangeiras. Tudo bem que em uma tela é complicado mostrar como alguém é na alma funda. Mas o fato é que no filme não percebemos o que rola dentro da cabeça da heroína enquanto experimenta o que de melhor uma viagem pode oferecer: uma espécie de invisibilidade, uma leveza de espírito sem o peso de tudo o que se é, um despojamento do ontem e do amanhã , a impressão de que de que pode ser e fazer o que quiser, abertos às incitações de paisagens físicas e mentais desconhecidas. Em vez, no cinema, o roteiro desliza diante dos nossos olhos em lugares tão fotogênicos e imagens tão bonitas que a gente quase esquece da moça saboreando tudo no mundo (rsrs)
      Outro abraço para você


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  2. Márcio P. Rocha10/01/2019, 16:44

    Não acredito que o turismo ou a globalização possam 'ocidentalizar' Sri Lanka. Não dá para deter o futuro e o notável desempenho de empresas como Uber e Airbnb atestam o poder das plataformas digitais de tornar as fronteiras nacionais quase irrelevantes. Porém as novidades só se estabelecem se entendem e respeitam contextos, culturas e tradições. Um amigo meu que já trabalhou na China estava me falando do Alipay, o sistema de pagamento da gigante de e-commerce chinesa Alibaba, que é usado por centenas de milhões de consumidores, proprietários de lojas e camelôs com imenso sucesso. As transações são feitas através do celular usando um código de barras e hoje até os garçons têm o seu código pessoal estampado no uniforme para que o cliente o possa escanear quanto chega a hora da gorjeta,rs. Ele acha que os chineses passaram direto do dinheiro para o Alipay sem vivenciar a experiência de pagar com cartão de crédito porque tradicionalmente detestam dever e o crédito não deixa de ser uma forma de empréstimo

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 19:10

      Márcio,
      Ótimo comentário. Também reconheço na bipartição Oriente/Ocidente diferenças irredutíveis mas como muito aprecio a Ásia sigo sempre temoroso da possibilidade de aculturação. Há que lembrar, no entanto, que nos botecos à beira mar de Sri Lanka nos anos oitenta os caras escutavam o Bob Marley e que há dez anos atrás ouviam a Lady Gaga. Só que jamais deixaram de curtir a baila! E que os Hiltons da vida chegaram na Ásia na década de cinquenta sem nem arranhar a popularidade das belas pousadas alternativas locais.
      Seria uma missão impossível colocar em um só pacote a incrível pluralidade de línguas, religiões, culturas e histórias dos Orientes. Sim, porque tem o Próximo, constituído pela cultura árabe, o Médio, formado pelas tradições hindus, e o Extremo, marcado pelas sabedorias chinesa e japonesa. Depois da revolução planetária da tecnologia, os três Orientes ainda estão vivos e presentes embora lutando pela supremacia no mesmo campo de batalha econômica/tecnológica. Obrigado por participar.

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  3. Mônica Silva11/01/2019, 08:01

    Primeiro de tudo queria desejar um ótimo 2019 para todos! Qualquer criança ia simplesmente amar um passeio pelo Forte de Galle, Moacir!
    Mas quando levei o meu filho pra Disney acho que curti muito mais do que ele kkk Não consigo imaginar advogados trabalhado debaixo do sol numa pracinha defronte de um tribunal kkk A Ásia é tão exótica que sinceramente me daria medo viajar por lá. Ainda sou matuta e adoro os seus artigos porque são tipo o Epcot, um resumo do mundo sem riscos kkk Obrigada!
    ...

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 17:58

      Mônica,
      Dou por vista a sua alegria na Disney (rsrs) Quanto à “matutice” é uma delícia quando e se nos deixa de olhos arregalados de surpresa. Mas pergunto: medo de quê? De não se comunicar? Um aplicativo tradutor resolveria o problema (rsrs) Não me entenda mal! É claro que o medo é um sentimento necessário pois comanda as reações instintivas e nos faz ter as reações adequadas: correr ou encarar os perigos. Mas alguns medos são baseados em fatos reais e outros não (rsrs) Não se pode temer algo apenas porque é exótico e inusitado!
      Sabe? Dia desses um dos meus filhos que já é pai - e que como você é muito fã da série Guerras nas Estrelas - estava comentando que vão inaugurar nos Hollywood Studios uma atração da Star Wars, onde se poderá pilotar a Millenium Falcon e participar de batalhas. Daí me lembrei do Mestre Yoda:
      ”O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento.”
      “Obrigado!” e abração

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  4. Olá Moacir,
    Uma terra assim, com muitos elefantes (onde cabem tantos?), muitos naufrágios, lendas, fantasmas e canibais, nativos, faróis e muitas cores deve parecer mais um conto de fadas para adultos. Onde certamente as crianças viajam em aventuras reais imaginárias.
    Tudo isso misturado aos postes e fios e galerias de "artes modernosas". Um paraíso provavelmente cada dia mais recolonizado pelos turistas e as vidas não inteligentes.
    A Ouro Preto que visito hoje não é a mesma (saudosismo?) das minhas férias meninas. De longe guarda o mesmo com suas colinas e igrejas no alto, tão lindas nas pinturas de sonho do Guignard, e os casarões antigos onde minha mãe nasceu e cresceu. E namorou meu pai paulista. Quando os pães eram entregues em cestos redondos em lombo de mula. Mas quando enveredo pela ruelas cheias de lojinhas de mesmices, muvuca de carros buzinando, eu me perco. E só me encontro no adro vazio de uma igreja fechada na história de sua fachada. Porque o menor pedaço é o mais universal. E quando as portas se abrem, aí é só perdição de maravilha.
    É com tristeza, como já conhecesse Sri Lanka de nome tão gostoso de falar, que não vejo seus desejos realizados. Mas ainda assim confio na troca de saberes e sabores!
    Se não, por que viajar?
    E agora...aos netos que hoje dormiram inocentes e largados e moreninhos, que o sol tá bravo, aqui junto de nós. E eu pude carinhar os cabelos de um o os pés do outro até dormirem.
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 19:17

      Caríssima Donana,
      Os sábios chineses - que nos chamam de “demônios estrangeiros” - dizem que assim como o yang quer o yin, o ocidente deseja o oriente e vice versa e que sem escambo não rola grana e que “sem ela não há vida, neh?” O certo é que os homens viajam e trocam conversas, “saberes e sabores” desde que o bipedismo foi adotado pela espécie (rsrs) Não me incomodam os vendedores de quinquilharias de Galle e/ou Ouro Preto - temos uma panela de pedra sabão comprada nas ladeiras da sua infância - mas as vans e os ônibus de turismo cujo peso deteriora o calçamento de pedra e causa rachaduras nas velhas construções e que, portanto, deveriam ser proibidos de transitar e/ou estacionar nos centros históricos de ruas estreitas impedindo a passagem dos pedestres nativos. Ponto parágrafo!
      Dia desses estivemos em uma cidade murada vermelha em cuja praça central milhares de turistas e filhos da terra se divertiam juntos tomando chá de hortelã, barganhando ferozmente e comendo cabeças de ovelhas assadas exatamente como há trezentos anos atrás. É isso que se quer: a alma nativa. Dica: as bochechas das bichinhas são deliciosas (rsrs)
      Então...se por quatrocentos anos os invasores portugueses, holandeses e ingleses não foram capazes de obliterar as culturas nativas no Forte de Galle aposto que, apesar dos sotaques "cabeça", da global cultura pop, da arte meio modiglianesca e da internet, por lá as crianças continuarão a soltar pipas e a gostar de estórias. E que tanto aqui como lá todos os avôs (ós) continuarão a ter certeza que neto é uma maravilha!
      “Até sempre mais”

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  5. Flávio José Bortolotto11/01/2019, 18:42

    Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,

    É sempre um grande prazer ler seus Escritos de viagens, especialmente esse sobre o Porto de Galle, Sri Lanka, cabeça de ponte Portuguesa desde 1505, depois Holandesa e por último Inglesa, até a Independência formal depois da II Guerra Mundial.
    Devido ao grande conhecimento da História, da Geografia e do Homem do Sri Lanka, de sua Cultura multi-étnica, O Sr. MOACIR PIMENTEL nos leva junto em suas viagens e ainda vai descrevendo as mudanças desde sua primeira visita há +- 40 anos atrás, ainda como Mochileiro solteiro, e suas outras visitas até esta última com sua senhora, aqui narrada.
    As belas fotos que ilustram o artigo, enriquecendo-o muito, nos mostram um Povo altamente Educado, e aonde não se vê um lixo, cascas de frutas, garrafas pet, plásticos, etc, se vê nas fotos muitas Pessoas de chinelos, outras até descalças, mas tudo limpo, varrido e sem lixo no chão.
    A praia de Unawatuna com suas belas árvores que me pareceram carvalhos para sombra, limpeza impecável, só folhas sobre a relva/areia.
    Como seria bom se o Brasil fosse assim, limpo, e não seria impossível se as Pessoas assim o quisessem.

    O Sr. MOACIR PIMENTEL é conhecedor do Mundo, e grande Observador, e não é por nada que Sri Lanka, especialmente o Porto de Galle, porta de entrada dos Portugueses na importante ilha, (desde 1505), lhe é tão cara.
    Depois de suas narrativas, nós também ficamos admirados desta bela Ilha, com um Povo tão parecido com o da grande Índia ao lado, mas ao mesmo tempo tão diferente.
    Abração.

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 18:15

      Prezado Bortolotto,
      Sri Lanka, sendo um país predominantemente budista, tem uma atmosfera diferente da Índia, um ambiente mais compacto, sereno e amigável. Sim a ilha é visivelmente mais limpa, a pobreza menos evidente, os mendigos quase inexistem, a infra e a comida à base de curry e coco são melhores, a pressão populacional não pesa tanto e o povo é muuuito mais educado. Ao contrário da Índia, na ilha há apenas uma grande cidade - Colombo - e nas restantes se tem uma sensação rural e/ou de antigamente, uma vibe relaxada e a impressão de já se ter estado lá antes (rsrs)
      No entanto, Sri Lanka não é um destino mágico que tem tudo que a sua vizinha oferece de bom e nenhum dos seus problemas. A Índia é muito mais colorida, vibrante e fotogênica e a sua cultura me causou uma impressão muito maior. Tudo bem que Sri Lanka é o lar de surpreendentes templos, santuários de elefantes e oferece oportunidades únicas de observação da vida marinha não encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Mas o Taj Mahal é inigualável! E o que dizer das cidades muradas do deserto do Rajastão - a dourada Jaisalmer e a azul Jodhpur - e do Templo Meenakshi em Madurai? Perto dele o do Dente de Buda, em Kandy, é penas bonitinho. As cavernas budistas de Dambulla apesar de maravilhosas não chegam nem aos pés das de Ellora e Ajanta e a linda cidade de Ella nas montanhas singalesas não é Darjeeling.
      Enquanto a Índia é a aventura na veia e às vezes intimidante pelas dimensões, superlotação, poluição etc, Sri Lanka é o recreio. Eu diria que a ilha é um bom começo, um adágio antes da sinfonia, uma introdução mais light antes do ataque aos neurônios e da interminável sobrecarga sensorial que a Índia nos provoca. Por favor continue lendo pois ainda faltam bons passeios.
      Obrigado e abração

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  6. Alexandre Sampaio12/01/2019, 08:27

    Pimentel,
    A sua descrição do Forte me recordou dos centros históricos pitorescos de tantas cidades brasileiras e estrangeiras, onde se pode ver e comprar o artesanato nativo. Gostei de ler sobre o por do sol em Galle sendo contemplado por nativos e turistas na mais perfeita paz.
    Nem sei qual foi a última vez que realmente parei para ver este espetáculo. Parabéns!
    ...

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 18:18

      Sampaio,
      Pois você devia parar para dar uma olhada. O sol não cobra pedágio para nascer e/ou morrer e o espetáculo vem com muitos bônus dependendo de onde rolar: água de coco, caipirinha, vinho, aplausos, saxofone tocando MPB, vôos solitários de aves noturnas, caçadores de tatuís etc. Quanto ao velhos centros históricos, revitalizados ou não, cosmopolitas ou não, são fabulosos e moram por todo o vasto mundo, com a cores locais: mercados indianos, medinas árabes, velhos armazéns e hospitais coloniais transformados em centros de arte, moinhos e casarões antigos e riads adaptados como bares, restaurantes, galerias e cafés e/ou como pousadas etc. Mudam os nomes conforme a geografia mas a tendência é a mesma e global e vida que segue.
      Abração




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  7. Wilson Baptista Junior12/01/2019, 12:49

    Moacir,
    Seus relatos de viagem são sempre primorosos, mas este do Forte de Galle me fez lembrar de minha infância, da fascinação com que nas histórias de cavaleiros sempre exerceram em mim os castelos, a sua arquitetura, as técnicas de defesa da época em que foram construídos, a interrelação deles com as aldeias e cidades. A sua descrição de uma cidade dentro de um forte me fez lembrar também de Aigües Mortes, a cidade fortaleza da Provença, também junto ao mar, posta à prova na vida real nas guerras religiosas e na ficção científica nas maravilhosas histórias de Michael Moorcock que espiam por sobre os meus ombros de uma das sobrecarregadas prateleiras das estantes ao lado da mesa onde escrevo e me fazem lembrar de um longo e deslumbrado passeio por seus bastiões e muralhas.
    E, sim, me fizeram ter vontade de ter conhecido Galle enquanto quixotinho, de ter ouvido as histórias dos canibais e dos heróis e dos fantasmas com os ouvidos de criança que ainda me esforço, nem sempre conseguindo, em manter abertos...
    Obrigado por isso, e um abraço.

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 18:28

      Wilson,
      Creio que temos saudades da inocência perdida dos meninos que fomos, do tempo em que não tínhamos dúvidas de quem eram os mocinhos e os bandidos nas guerras e de que, ao fim e ao cabo, o bem ia vencer o mal . Isso foi antes da gente começar a ler e estudar mais um poucachinho, de simpatizarmos com o Saladino e de questionarmos as fronteiras do certo e errado (rsrs)
      O certo é que crescemos entre livros e filmes e lições de guerra, da vida no sentido mais bruto - o medo, o poder, a adrenalina, o sacrifício, a glória e a vontade de sobreviver. Sabemos tudo sobre suas causas e seus efeitos, seus heróis e suas vítimas desde o início do texto escrito. Sim, também sempre fui fã e carteirinha das lendas arturianas, das histórias de cavaleiros como o rei Ricardo Coração de Leão, El Cid, Jacques de Molay - o último Grão-Mestre dos Templários - Ulric, o poeta guerreiro alemão etc. Li sobre as grandes batalhas, as cidades sitiadas – viva Santo Elmo em Malta! - as invasões, as estratégias e, é claro, os grandes castelos murados que são maravilhas arquitetônicas do ponto de vista da defesa militar.
      Porém os meus primeiros e “deslumbrados passeios por bastiões e muralhas” rolaram na Toscana onde ninguém, seja criança, jovem ou velho, resiste ao encanto de mais de uma centena e meia de cidades labirínticas medievais fortificadas - algumas bem preservadas, outras em ruínas – com direito a torres, ameias e fantasmas, como o de La Pia de Tolomei que em Maremma ainda suplica: “ricorditi di me”(rsrs) Creio que a cidade murada toscana por excelência seja San Gimignano e foi ao visitá-la que fiquei viciado apesar dos ônibus de turismo (rsrs) Mas a etrusca Volterra, a renascentista Lucca, Fiesole, Cortona, Vertine, Chiusdino, Anghiari – onde os Medici venceram a famosa batalha que mais tarde foi supostamente retratada por Leonardo Da Vinci para o Palazzo Vecchio de Florença - e Monteriggioni são paradas obrigatórias principalmente se combinadas com o vinho e a culinária locais.
      Obrigado pelo seu belo e inspirador comentário.

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  8. Francisco Bendl13/01/2019, 17:24

    Elogiar o trabalho de Pimentel no que diz respeito às narrativas de suas viagens, e quanto ele explora a região que visita, decididamente é chover no molhado.

    Basta que se pesquise onde se quiser sobre Sri Lanka, que não vamos encontrar os detalhes, os modos e costumes, a história dessa ilha, tão bem publicada como esta postagem de Pimentel.

    Se, lá pelas tantas, o Sri Lanka não tem lá muita importância no contexto internacional, os pormenores postados, o seu exotismo, desenvolvimento, localização, aspectos religiosos e políticos, conferem à obra do nosso expert uma classificação especial, inédita, digna de pesquisadores.

    Logo, o meu aplauso a esta postagem, e agradecimentos ao Pimentel pelo seus esforços e contribuição para o aumento de nossos conhecimentos sobre este mundo tão belo que habitamos.

    Um grande e forte abraço.

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    1. Moacir Pimentel14/01/2019, 18:35

      Bendl,
      Escrevo sobre Sri Lanka porque a ilha foi um trecho bom da minha estrada sem levar em conta a sua importância no contexto internacional. Da mesma forma talvez o pequeno país possua atrações muito mais impactantes do que o Forte de Galle, mas é que gosto muito dele e me interesso por fortes desde que o meu criativo avô materno levou os netos para conhecer o da Ilha de Itamaracá, no litoral norte pernambucano, e nos incentivou a escavar junto às paredes à procura de balas de canhão. Sucede que eu encontrei um cachimbo decorado com uma flor de lis e descobri que, além dos holandeses, os franceses tinham passado por aquelas praias.
      A data do Portão Holandês do Forte de Galle - MDCLXIX/1669 – atesta que quando ele foi construído em Sri Lanka, a segunda invasão holandesa do Nordeste brasileiro já terminara: os caras foram expulsos definitivamente em 1654.
      Assim, para mim, nesse forte também cabem pedaços da história do Brasil.
      Obrigado pelo gentil comentário e outro abração

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