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21/01/2019

Sigiriya

fotografia Moacir Pimentel


Moacir Pimentel
Sei perfeitamente em que hora, dia, mês e ano experimentei pela primeira vez a bela visão da rocha de Sigiriya. Foi há trinta e cinco anos e não esqueci por um simples motivo: na véspera eu assistira numa pequena televisão em p&b de escassas polegadas o Brasil vencer a Nova Zelândia por 4 x 0 na Copa do Mundo da Espanha de 1982. Então basta jogar a goleada no Google para descobrir que eu pisei no chão sagrado de Sigiriya no centro da ilha de Lanka às oito horas da manhã de 24 de junho de 1982.
Mas afinal o que é Sigiriya?
Complicado! Mesmo os mais renomados arqueólogos ainda não sabem porque um esforço tão grande foi feito para construir uma cidade em cima dessa rocha. Mas Sigiriya é, com certeza, a visão mais dramática que o país me ofereceu, com seus paredões quase verticais se elevando até o topo plano onde moram as ruínas de uma antiga civilização do século IV DC e de onde se descortina uma vista fascinante de florestas cobertas de nevoeiro no início da manhã.
Há evidências - o cinzelamento nas rochas e muitas inscrições - de que várias cavernas na vizinhança foram ocupadas por monges budistas e ascetas desde o século III AC, mas acredita-se que o entorno de Sigiriya pode ter sido habitado desde tempos pré-históricos do mesolítico.
“Oficialmente” o lugar foi uma fortaleza construída no topo dessa pedra de cerca de duzentos metros de altura no centro de Sri Lanka a vinte quilômetros das impressionantes cavernas de Dambulla povoadas por budas imensos.
fotografia Moacir Pimentel

No entanto todos concordam que, com certeza, Sigiriya é uma amostra muito bem conservada de planejamento urbano antigo e foi considerando as suas singularidades que a UNESCO transformou em Patrimônio Mundial essa combinação inigualável de urbanismo, engenharia hidráulica, horticultura e artes que se ergue imponente das selvas de Sri Lanka.
Quem me falou pela primeira vez sobre o antigo Ceilão foi Marco Polo o viajante que, em 1271 e com apenas dezessete anos, partiu de Veneza seguindo as rotas comerciais para a Ásia e, na China, impressionou de tal maneira Kublai Khan, o então todo poderoso imperador, que foi nomeado embaixador da corte imperial e nessa condição supostamente visitou a Ilha Abençoada.
Diz Dona Lenda que o seu objetivo era apoderar-se do “Dente de Buda”, uma das relíquias mais sagradas do Budismo. Felizmente, a expedição não teve êxito: Sri Lanka não desiste de seus tesouros facilmente. (rsrs)
Não é de admirar que Marco Polo a tenha considerado “a melhor ilha do seu tamanho em todo o mundo” nem que o viajante tenha sido cativado pelas especiarias locais - pimentas, gengibre, canela e cocos – e desenvolvido uma predileção pelos lençóis cingaleses, os buckrams, descritos por ele como “a tecitura de textura mais delicada do mundo”.
De resto o mercador veneziano descreveu os ilhéus como idólatras que andavam completamente nus, “exceto pelo meio”, observando que não tinham trigo mas o substituíam por arroz e explicando-nos que faziam o “seu óleo do sésamo” e que fabricavam “vinho de árvores”.
Porém Marco Polo, sendo antes de mais nada um bom comerciante, deu mais espaço nas páginas do Livro das Maravilhas a um tipo de pau-brasil e às pedras preciosas - safiras, topázios e ametistas e rubis - pois falou minuciosamente delas e, especialmente, do imenso rubi de um dos reis nativos, segundo ele “sem jaças e tão espesso como o braço de um homem” jurando de pés juntos que a gema era “o objeto mais resplendente da terra”.
Tal rubi não foi louvado apenas pelo famoso vêneto. Das páginas da Topografia do mercador grego Cosmas Indicopleustes - literalmente “o que viajou para a Índia” - e daquelas do monge budista chinês Xuanzang, outro grande erudito e viajante, também emergiram histórias sobre um rubi vermelho sangue de valor inestimável que fora fixado “no topo de um pagode no coração da ilha”.
Hayton de Corycus, o nobre armênio autor de La Flor des Estoires d'Orient, descreveu o grande rubi “que os reis do Ceilão usavam no dia da sua coroação” e, bem assim, Odoric Mattiuzzi, Ibn Khaldun, Frei Jordanus, Andrea Corsali, Lord Emerson Tennant e muitos mais.
Inclusive Simbad, o Marujo! (rsrs)
Pois nos relatos de suas viagens - acrescentados às Mil e Uma Noites no século XVII - o famoso marinheiro ao contar suas aventuras na “ilha de Serendib” afirma que havia “diamantes em seus rios e pérolas em seus vales” e descreve “um copo esculpido em um único rubi”.
Porém foi mesmo Rustichello de Pisa, nas suas conversas com Marco Polo quem, dentre tantos escribas, talvez tenha linkado mais fortemente o rubi mítico a Sigiriya. Pela boca de Marco Polo disse ele:
“Há dois reis que governam em extremos opostos da ilha, um dos quais possui o hyacinth e o outro o distrito no qual estão o porto e o empório. Um templo em particular, situado em uma eminência, é o lar do grande hyacinth, tão grande como um cone de pinho, da cor do fogo, e piscando a uma grande distância, especialmente quando captura os raios do sol - uma visão incomparável”.
Por óbvio que se supõe que o tal do “hyacinth” teria sido um rubi fixado na torre de um palácio ou templo construído no topo da “eminência” de Sigiriya. Mas nem uma mísera menção sequer ao badalado rubi foi registrada nas crônicas históricas de Sri Lanka nas raras menções que nelas encontramos sobre a rocha. Aliás nem mesmo sobre o significado do nome “Sigiriya” há consenso. Para alguns ele significa a Rocha da Lembrança e para a maioria a Rocha do Leão.
Se o próprio nome de Sri Lanka é místico e, no mito e na lenda e de acordo com a tradição oral, ela é desde tempos imemoriais “A Ilha Abençoada” não é de estranhar que no seu coração more um misterioso monolito de rocha maciça cujo nome tem duas traduções em torno do qual estão as ruínas do século V dos edifícios mais magníficos que em Sri Lanka já se edificou. Nunca é aquilo que está escrito, mas principalmente o que não é dito, a grande dificuldade da história cingalesa.
De acordo com a crônica Culavamsa – a história oficial dos monarcas da ilha do século IV até 1815 escrita por monges budistas - o local para a construção da cidade de Sigiriya foi escolhido a dedo pelo rei Kashyapa para sediar uma nova capital e abrigar um palácio rodeado por jardins. A história de Sigiriya é, portanto, a desse rei.
Em 477 DC, sempre segundo as crônicas budistas, Kashyapa, o filho primogênito e bastardo do então rei Dathusena com uma de suas concubinas, assassinou o pai e em seguida usurpou o trono que legitimamente pertencia a seu irmão Moggallana, que jurou vingança mas fugiu para o sul da Índia para não ser assassinado.
No exílio Moggallana tratou de formar um exército com a intenção de retornar a Sri Lanka e retomar o poder. Kashyapa, receoso da vingança fraterna, tomou a decisão estratégica de transferir a capital do reino da cidade de Anuradhapura para Sigiriya. E aqui começam as perguntas sem respostas.
Quem conhece o local não consegue compreender por quais cargas d’água um rei poderoso resolveria viver e reinar empoleirado no cume de uma rocha de duzentos metros de altura. Como poderia ele administrar um grande reino e manter contato com seus súditos no topo de uma montanha no meio da selva descendo e subindo setecentos e cinquenta degraus todos os dias de sua vida?
Como alimentava o seu povo sem poder cultivar o chão de pedra? É possível que fosse tolo o suficiente para não perceber que, caso Sigiriya fosse sitiada por exércitos inimigos, ele condenaria a si mesmo e sua corte e seus soldados à morte por inanição? Quem escuta essa história doida de pedra e olha para a rocha não pode deixar de pensar em outra fortaleza: a de Massada.
Sinceramente? Depois do ritual de purificação que é escalar a pedra confesso que a teoria da fortaleza para proteção de um rei idiota não me convenceu e é exatamente a falta de nexo da história de Kashyapa que turbina as versões alternativas sobre Sigiriya.
Mas é assim que a conversa foi escrita por Dona História nos anais oficiais a ilha: foi durante os dezoito anos de reinado do rei Kashyapa – enquanto ele esperava pelo inevitável retorno do irmão - que Sigiriya transformou-se em uma fortaleza defensiva que, no entanto, também abrigava um “palácio de prazer” com jardins magníficos e um engenhoso sistema hidráulico.
fotografia Moacir Pimentel
Decerto que o príncipe Moggallana retornou e derrotou o irmão Kashyapa no ano de 495 DC. Diz Dona Lenda que, sendo demasiado orgulhoso para render-se, o rei usurpador teria sacado a espada da cintura e se matado diante dos seus soldados.
Rei morto rei posto, e o novo rei Moggallana fez de Anuradapura novamente a capital de Sri Lanka, entregando Sigiriya aos monges budistas até o século XIV. Depois o lugar desapareceu das crônicas, não existe qualquer registro sobre a Rocha do Leão até o século XVII, quando a fortaleza foi usada como um posto avançado do Reino de Kandy.
Porém... as histórias alternativas juram de pés juntos que foi o pai de ambos os príncipes, o próprio rei Dhatusena, quem começou a construir Sigiriya como uma comunidade budista, sem uma função militar. Kashyapa é descrito não como um guerreiro ambicioso mas como um “rei playboy”, muito pouco preocupado com fosse o que fosse exceto o próprio prazer. Até mesmo a heroica morte do soberano é posta em dúvida: para muitos ele foi envenenado por uma concubina, para outros ele teria fugido da raia na batalha final e desertado.
Foi só em 1831 que o major Jonathan Forbes, dos Highlanders do exército britânico, ao retornar a cavalo de uma viagem a Pollonnuruwa se deparou com uma “cimeira coberta de arbustos”, escalou-a e, em seguida, despertou a curiosidade dos arqueólogos do vasto mundo. Mesmo assim Dona Arqueologia se arrastou por um século e meio pois foi somente em 1980 que o governo de Sri Lanka focou sua atenção nas ruínas de Sigiriya.
E aí os turistas invadiram a ancestral cidadela! Que, no entanto, se recusa a revelar seus segredos facilmente e obriga os curiosos a subir escadas de aparência deveras precária e vencer muitas centenas de degraus para chegar ao topo, passando por gigantescas patas de leão, pinturas, fossos cobertos por lírios d’água e santuários budistas em cavernas.
Escalar Sigiriya é perigoso? Bem... digamos que escada a cima eu não me animei a olhar para baixo nem a fazer muitas fotos panorâmicas (rsrs)
fotografias Moacir Pimentel
Mas entre mortos e feridos e exaustos, todos se encantam ao descobrir que a fortaleza tinha cinco portões e que a principal entrada – provavelmente privativa da realeza! - é a que fica do lado norte do paredão, projetada com a forma de um enorme leão de pedra que perdeu a cabeça e o tronco mas cujas patas e garras sobreviveram intactas.
Graças a esse felino acéfalo a fortaleza foi batizada de Sigiriya, da palavra sihagri, isto é, do leão. Os vestígios da cabeça esculpida do bicho, acima das pernas e patas, ainda podem ser identificados. Mas depois do leão ninguém resiste à curiosidade de subir até as ruínas do palácio lá no topo da rocha, com suas cisternas cortadas na pedra.
É fascinante descobrir na cimeira as fundações dos antigos prédios, os fossos, os vastos jardins em socalcos, as cavernas, as pedras enormes cujos topos também eram habitados, as escadarias, as calçadas e os terraços.
Os vários jardins de Sigiriya - das águas, das cavernas e das pedras - estão entre os mais antigos projetos paisagísticos do mundo e são surpreendentes por seus lagos e neles as pequenas ilhas artificiais e as prováveis ruínas de palacetes de verão, os canais e pontes e alamedas e piscinas e, principalmente, pelo sistema hidráulico complexo, de superfície e subterrâneo ainda em funcionamento.
Do lado oeste da rocha vemos o que dizem foi o parque da família real e nele as grandes estruturas para a retenção de água, como canais, cisternas, barragens, reservatórios e fontes. A água necessária para alimentar as fontes era operada pela gravidade e pressão artificial, e funciona até hoje.
Na estação chuvosa, todos os canais ficam cheios e a água começa a circular por toda a antiga fortaleza, cujo projeto, muito elaborado e imaginativo, combinou conceitos de simetria e assimetria para interligar as formas geométricas e naturais do ambiente.
Eu poderia escrever um post para cada foto da montagem acima chamar de seu e, ainda assim, não seria capaz de lhes comunicar o que é realmente Sigiriya. Dizem que às vezes uma imagem fala mais alto do que qualquer quantidade de palavras. É o caso...
imagem Wikipedia

Essa foto aérea nos deixa claro que, do alto de suas duas centenas de metros Sigiriya é o coração da ilha rodeado pelo mar verde da selva circundante. Sua visão surpreende pela harmonia única entre a natureza e as imaginação e capacidade de realização humanas. A construção de tal monumento arquitetônico há mais de um milênio e meio em uma rocha maciça exigiu avançadas habilidades arquitetônicas e de engenharia e técnicas e tecnologias exclusivas e criativas.
Uma das características mais interessantes do monumento é uma parede - que hoje é cor de laranja! - mas que nos seus primórdios era tão brilhante e branca que o rei podia ver a si mesmo enquanto caminhava ao lado dela. Por essa razão o muro entrou para a história batizado como a Parede do Espelho.
fotografia Moacir Pimentel

Tratava-se de uma parede de alvenaria branca, altamente polida, que avançava precariamente - é quase perpendicular! - ao longo da rocha, como um parapeito protetor para uma passagem de mais ou menos dois metros de largura pavimentada com lajes de mármore polido.
Ela só pode ser avistada, como um cinturão alaranjado, do lado ocidental do rochedo. Dela restaram apenas cerca de cem metros porém os restos de tijolos e os sulcos na face da rocha mostram claramente que a parede começava no alto do íngreme lance de escadas dos Jardins dos Terraços, percorria uma distância de duzentos metros ao longo da galeria dos afrescos na direção do pequeno planalto onde mora o Portão do Leão.
A antiga parede branca brilhante terminou virando uma tentação de imortalidade irresistível e foi parcialmente coberta pelos versos e inscrições rabiscados por antigos visitantes e viajantes, alguns deles datados do século VI. Pessoas de todos os tipos escreveram no lado interno desse muro sobre os mais variados temas durante séculos. É divertido constatar que sempre existiram turistas mal educados e grafiteiros criativos (rsrs) Tais inscrições são conhecidas hoje como os Grafites de Sigiriya . E é exatamente uma delas que dá testemunho de que o gesso refletia as pinturas das damas na parede oposta e que o tal brilho decantado em verso e prosa fora obtido através da utilização de um emplastro especial feito da mistura fina das cascas e claras de ovos e do mel. A superfície da parede em seguida teria sido polida com cera de abelha.
É claro que rabiscar na Parede do Espelho – assim com fotografar as pinturas! - agora é estritamente proibido. (rsrs)
O certo é que os turistas têm visitado Sigiriya desde o século VI, apenas cento e cinquenta anos depois da cidadela real ter sido abandonada e convertida em um mosteiro budista. É provável que os monges, em tempos difíceis, tenham decidido complementar sua renda, permitindo que visitantes e peregrinos visitassem a cidadela desde que lhes pagassem pelo privilégio.
E além do mais os afrescos deviam despertar muita curiosidade. Pequenas esculturas de má qualidade reproduzindo as famosas pinturas foram descobertas nos jardins. Acredita-se que podem ter sido bugigangas vendidas aos turistas ancestrais como souvenirs. Isso confirma que Sigiriya se tornou uma atração turística muito cedo.
Há uma especulação, não fundamentada por provas, no sentido de que um grande número de afrescos teria sido removido pelos monges budistas por serem provocativos além da conta dos religiosos, que precisavam meditar em paz. Atos de vandalismo já foram cometidos nessas paragens resultando em obras de arte de valor inestimável destruídas ou seriamente danificadas, graças ao puritanismo equivocado de celerados fanáticos.
Mas a essa altura do post você deve estar se perguntando de que pinturas eu estou falando. A resposta virá em outra conversa.
Até lá convido você a dar uma espiada nesse vídeo da fortaleza/ templo do Leão que, inclusive, termina noutra rocha, a de Pidurangala, cuja escalada se faz sem degraus e usando os  braços e as pernas (rsrs) 




15 comentários:

  1. Flávia de Barros21/01/2019, 11:02

    Moacir,
    Não tenho palavras para comentar a beleza do artigo. Amei a visão da floresta do alto da pedra. As ruínas são ainda mais fascinantes pelo mistério já que ninguém sabe se pertenceram a uma fortaleza ou a um palácio ajardinado. Tudo em Sigiriya é tão zen que acho que sempre foi um mosteiro budista.
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel21/01/2019, 18:25

      Flávia,
      Pode ser que sim e pode ser que não (rsrs) Há muuuuitas teorias sobre o porquê de Sigiriya da lavra de arqueólogos, historiadores e religiosos. Tem mais. As versões populares variam quando contadas por singaleses budistas ou por tamils hinduístas (rsrs) Para não dar spoiler no próximo post além de ver as estupendas pinturas das rochas conversaremos sobre algumas novas hipóteses, está bem?
      Outro abraço para você

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  2. Márcio P. Rocha21/01/2019, 16:01

    Muito bom. Começando pela brilhante conclusão de que 'nunca é aquilo que está escrito mas principalmente o que não é dito a grande dificuldade da História', rs. E não só na do Sri Lanka. Eu nunca tinha ouvido falar de Sigiriya e fiquei curioso sobre as pinturas.

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    1. Moacir Pimentel21/01/2019, 18:32

      Márcio,
      No caso dessa fortaleza o vencedor não escreveu os livros de história glorificando a sua própria causa. O que há é uma quase ausência de informação sobre Sigiriya na narrativa oficial budista da ilha. Talvez isso tenha sido feito intencionalmente visando erradicar interpretações alternativas que não se ajustavam aos desejos dos poderosos de plantão. Mas, como veremos em seguida, existem sim contra narrativas especulativas que subvertem a “tese” que considero furada da fortaleza defensiva, só que sem evidências históricas que as defendam. Digamos que Sigiriya é mais uma de outras tantas fábulas combinada e que os afrescos são o melhor da festa. Obrigado por participar.

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  3. Olá Moacir,
    Bem tarde na noite tranquila como acontece depois das tarefas do dia, li seu texto.
    E foi tão bom! Com calma fui me colocando nessas paragens distantes e desconhecidas. Não mais! Só faltou o cheiro para completar a realidade. Estive lá nessa pedra estranha, nesses resíduos de vida com a visão verde do em volta. Tão magnífica e verde quanto Massada é impressionante e árida. Só com corvos grasnantes e agourentos. Mas igualmente bela.
    Obrigada por mais uma viagem pelo mundão desconhecido!
    E...já estou preparada. Assisti Charing Cross mais uma vez. E, claro, tentando adivinhar o que vem nas suas pretinhas.
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel23/01/2019, 08:06

      Caríssima Donana,
      A resenha Charing Cross, foi escrita com muuuito cuidado, pois eu bem sei da qualidade dos fãs do filme e dos futuros leitores (rsrs) Quanto à sua interessante questão - aqui entre nós e baixinho - note que no início do post eu falo do “chão sagrado de Sigiriya”. É normal que a fronteira entre o sagrado e o profano seja marcada por uma mudança no nível de ruído (rsrs) Creio que a necessidade de reflexão silenciosa tem a ver com a beleza do cenário circundante, sim, afinal nossas percepções surgem de uma colaboração estreita entre nossos cérebros e os ambientes. No entanto a Rocha do Leão e os seus mistérios talvez morem no tal do “inconsciente coletivo" humano, um imenso armazém de memórias que remontam ao passado mais distante e transcende todas as diferenças e formas culturais e raciais para ser, digamos, uma totalidade infinita e indefinível que ultrapassa a compreensão racional.
      Sigiriya, exatamente como a totalidade da nossa realidade psíquica consciente/inconsciente, na sua essência, é incognoscível, mas possui todas as marcas de algo ilimitado, algo não determinado pelo espaço e pelo tempo, em suma, algo que tem a qualidade do divino. Mesmos os turistas mais desavisados sentem o climão porque nossas mentes, desde às cavernas, foram treinadas para acreditar nos deuses e na imortalidade d’alma.
      (...continuo teclando...)

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  4. Oi,
    Em tempo?
    Nesses ligares o peso da história é tão grande que a gente fala baixo, quase sussurro. Com você acontece também?

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    1. Moacir Pimentel23/01/2019, 08:09

      Então... o que percebo nas rochas de Sigiriya, ou o que Neruda escreveu das “Alturas de Machu Pichu”, ou o que a senhora sentiu em Massada é o conhecimento que os nossos ancestrais possuíam do mundo objetivo através da experiência e das percepções dos seus sentidos só que as interpretações que eles fizeram das coisas foi resultante também da consciência que então tinham. Se lhes faltava explicação, logo imaginavam uma, viajando pelo transcendental e pela metafísica para responder a perguntas como quem somos? de onde viemos? e para onde vamos?
      Aquí la hebra dorada salió de la vicuña
      a vestir los amores, los túmulos, las madres,
      el rey, las oraciones, los guerreros.
      Aquí los pies del hombre descansaron de noche
      junto a los pies del águila, en las altas guaridas
      carniceras, y en la aurora
      pisaron con los pies del trueno la niebla enrarecida,
      y tocaron las tierras y las piedras
      hasta reconocerlas en la noche o la muerte.
      Quando se tornam inúteis as ferramentas de navegação intelectual, de repente, ainda somos tomados por sentimentos atávicos.Creio que Sigiriya foi erguida por devotos de uma crença qualquer e que foi mais uma resposta aceitável ao desafio da razão inaceitável. Diante dela e do alto da nossa posição racional – talvez mais desequilibrada! - falamos baixinho e respondemos com humildade e encantamento à beleza criada por causas naturais e/ou por todos esses “resíduos de vida” que nos linkam ao passado.
      É poético - ainda que profundamente frustrante – mas parece que a única coisa que a mente humana continua incapaz de compreender é ela mesma (rsrs)
      “Até sempre mais”

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    2. Adorei sua resposta!
      Gratíssima!

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  5. Mônica Silva22/01/2019, 08:14

    Que lugar lindo, Moacir! As histórias que você conta parecem saídas das Mil e uma Noites mas nem em mil anos eu ia fazer o 'ritual de purificação' e subir estas escadas kkk Adorei saber dos grafites dos turistas mal educados de antigamente e o vídeo é tudo de bom. Obrigada!

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    1. Moacir Pimentel23/01/2019, 08:17

      Mônica,
      As escadas realmente eram meio precárias na década de oitenta do século passado mas as do terceiro milênio me pareceram bem firmes. O único problema é que o lugar também é frequentado por vespas (rsrs) Quanto aos grafites já nas paredes das cavernas os caras cravavam as próprias mãos com o mesmo significado: eu estive aqui! Muita gente enfrenta os degraus com pouca luz antes e/ou depois de contemplar o sol nascendo e/ou se pondo. Devo confessar que isso eu não me animei a fazer: gosto de ver onde estou pisando a duzentos metros de altura(rsrs) Mas o certo é que dá para descansar no meio da subida à beira do leão que perdeu a cabeça e mesmo os exaustos se encantam ao chegar lá em cima com as longas vistas.
      “Obrigado!” e abração

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  6. Francisco Bendl22/01/2019, 12:55

    A vida do povo insular é melhor do que aqueles que habitam os continentes?

    O limitado território cercado de água não ajudaria a pessoa se concentrar mais em explorar a sua ilha, antes que pense em visitar outros países?

    A narrativa de Pimentel sobre o Sri Lanka, que mediante detalhes tão bem escritos, caso fosse diferente não nos prenderia a atenção, demonstra o quanto se tem a informar sobre um país pequeno, no entanto, ao visitá-lo e se interessar pela sua história, usos e costumes, tradição e folclore, política e religião, hábitos alimentares e culturais do local, obrigam-nos a reverenciar a narrativa desta viagem, os pormenores obtidos, as informações colhidas, e depois tão maravilhosamente transmitidas.

    Pimentel, assim, extrapola o significado de turista, de viajante, e se qualifica como estudioso, pesquisador, escritor, em razão da riqueza do conteúdo dessas peregrinações, que faz de suas idas e vindas mundo afora uma espécie de função, que deve ter como motivo principal nos encantar e nos deixar admirados pelo talento em transcrever as suas impressões com tantas minúcias e ciência postados!

    Obrigado por mais este registro, Pimentel.
    Abraços.
    Saúde e paz, extensivo aos teus amados.


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  7. Moacir Pimentel23/01/2019, 08:30

    Prezado Bendl,
    Penso que para os humanos, ilhéus ou não, navegar é preciso (rsrs) Se não fosse não teríamos saído da nossa África natal e povoado a Terra. Consigo pensar em poucas coisas nessa vida que eu aprecie mais do que viajar e foi viajando que saquei que, às vezes, ir longe ajuda a compreender melhor o que está por perto.
    O fato é que desde muito pirralho sempre gostei de ler e de escrever e desejei dar uma de Marco Polo. Pode até ser que eu tente deixar a galera “encantada” mas não com o meu suposto “talento” descritivo e sim pelo vasto mundo.
    Também não sei se escrever é um dom inato ou algo que, assim como tudo mais , se aprende fazendo, ralando, reescrevendo, revisando, revisando e revisando. Mas boto fé que é “melhor morrer da flor na boca do que do espinho na garganta" (rsrs)
    Às pretinhas!
    Obrigado e abração

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  8. Alexandre Sampaio23/01/2019, 08:34

    Pimentel,
    Uma leitura agradabilíssima. É engraçado pensar que há 1.400 anos monges budistas vendiam ingressos e lembranças para turistas e impressiona que tenham construído no topo de uma pedra no meio do nada um sistema hidráulico tão sofisticado.
    ...

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    1. Moacir Pimentel23/01/2019, 08:58

      Sampaio,
      As ruínas de Sirigiya têm mais ou menos a mesma idade - um milênio e meio! - das ruínas maias que continuam sendo descobertas em plena selva da Guatemala. Milhares de casas, palácios, fortalezas, estradas largas e uma pirâmide localizadas no ano passado provam que a civilização maia era tão avançada à época, quanto culturas tidas como sofisticadas, como a da China.
      Ou seja, as habilidade e criatividade humanas - inclusive no comércio (rsrs) - fizeram maravilhas por todo o planeta azul.
      Obrigado e abração

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