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24/04/2019

Páscoa de Cinzas



desenho Ana Nunes


Ana Nunes

Esse mundo é tão injusto que tem dias que não sei se quero saber dele.
Domingo de Páscoa.
Propaganda de belos ovos de chocolate, tabletes tentadores e bolinhas enroladas em papéis cheios de cores e brilhos. A tv, sem permissão, invade minha casa de imagens tentadoras e proibidas. Por estética, no meu caso, que nem deveria acontecer aos setenta. Mas sou gente, mulher ainda por cima, e vivo no dilema dessas coisas de beleza e juventude. Em vão! O viver já se manifestou há tempos.
Do mesmo jeito essas imagens invadem as casas de famílias não tão privilegiadas. Plenas de crianças cheias de sonhos e desejos. E pais pressionados que saem para os supermercados cruéis. E se endividam entre os ovos para suas crianças e as crianças sobrinhas e as crianças vizinhas amigas.
E tem as Ongs caridosas que na propaganda de si mesmas, de sua bondade e assistências, levam ovos às creches e abrigos e orfanatos. Mulheres e rapazes bonitos e bem vestidos, maquiagem e cabelos tratados de luxo ao vento prontos para as fotos. Onde lógico exibem sorrisos de dentes brancos e certinhos, sem desalinho, nos cuidados dos ortodontistas com phd nos abroad da vida. Acabaram a Páscoa e as pessoas bonitas e volta o cotidiano triste de privações e assédios e dores de dente. E estupros. Fazer o que? Já vi isso na literatura inglesa e triste de Charles Dickens.
Como os ativistas de araque que fazem passeata ridícula, vestidos de branco, levando flores pelos becos das favelas. Não sabem de nada mas acham que sabem de tudo. Fazem alguma diferença? Nada, nada, tudo na mesmice das violências.
Voltando ao chocolate doce e aveludado dos apelos da mídia.
Sentem os mesmos desejos do doce preto doce dos anúncios em placas de parada de ônibus, no mercadinho na beira do córrego podre que navega por ali, os abandonados da sorte (Sorte? Sou muito vivida para pensar em sorte). Buscam água em latas e baldes e usam a luz de “gatos” na vizinhança. É com essa luz que esperam a mãe drogada que, num momento de lucidez, saiu em busca do leite e do biscoito, a refeição do dia. Ou com o dinheiro da trepada triste e sem prazer vai em busca da cesta básica para essas crianças eternamente sem pais. Ou serão visitadas pelos conselhos tutelares. O que é pior?
Cadê o bacalhau tão falado no noticiário? E o vinho? E o refrigerante dos meninos descabelados, remelentos e fedidinhos? Certamente estão, nessa divisão desumana dos bens, no sobejo do lixo, nas sobras do exagero dos fartos e bem nutridos que no apagar das luzes vão para suas caminhas de mola cobertas de lençóis de mil fios egípcios, um pouco bêbados de felicidade. Será mesmo?
Ainda nem falei das crianças feitas e paridas e crescidas nas ruas, que dormem enroladas em papelão e sujas como lixo e más como os monstros das estórias infantis. Inocentes e más, que paradoxo! Me comovem e me incomodam ao ponto de mudar de passeio. Tenho medo e dor. Muitas delas já quase jovens roubam por profissão, nasceram nas ruas e foi esse o aprendizado. Chocolate, Páscoa? Como saber disso se nem conhecem o valor da vida? Matam por um colar de ouro falso ou um celular muito usado. Nem respeitam as mulheres pobres na fila do ônibus depois de um dia de faxina brava nas casas abonadas. Poucas delas encontram alguém ou algum lugar que muda seu caminho. Poucas, muito poucas no conjunto da realidade.
Uma miséria humana. Uma tristeza sem conserto e sem perdão.
E, eu aqui, que já ouvi uma criança ensinando à outra o que fazer em estado de fome: dormir, na proteção da minha casa querida, de banho tomado, vestida e alimentada, no embalo de jazz e whisky, sem fazer nada. É torturante, tortura maior que da ditadura, porque imposta por mim mesma, nessa vida louca de visões e vivências, e certeza de que o que eu fizer é muito pouco nesse mundão sem Deus. “De ratos e homens”. Tudo é muito pouco nesse mundo privilegiado de misérias extremas.
Boa Páscoa?
Não para mim, atormentada de nascimento.


14 comentários:

  1. Lea Mello Silva24/04/2019, 10:51

    Ana querida

    os dias estão difíceis e eu também sinto está desesperança
    É incrível como tudo está deteriorando e a gente assistindo
    E eu fico pensando o que podemos fazer !!
    Estão todos anestesiados
    Encontro alegria na convivência com os amigos e a família
    Sua crônica de Páscoa faz a gente parar pra pensar no que está acontecendo
    Meu abraço de prima amiga que ainda tem esperança num futuro melhor 😘

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  2. Francisco Bendl24/04/2019, 10:53

    Aninha,

    Certamente tivemos uma transmissão de pensamento, como se diz, e na Páscoa nos lembramos dos carentes.

    Evidente que existe uma distância abissal entre a tua qualidade em escrever e a minha falta desta condição, mas a essência dos nossos textos tem a sua semelhança.

    Trata-se de um comentário que postei na TI, no domingo de Páscoa, referindo-me às diferenças abissais entre o modo de vida dos pobres e miseráveis com a opulência dos vencimentos das castas nacionais, e o desprezo e abandono dos necessitados pelos nossos governantes.

    Em tua homenagem, e reconhecimento do quanto admiro o que escreves, as reverências que tenho feito sempre pelos artigos de tua autoria, invariavelmente elaborados com esmero, sinceridade e a sensibilidade feminina, um dom verdadeiramente divino, abaixo, então, meus modestos e humildes pensamentos a respeito, mais pela coincidência que houve de nossas intenções, que eu querer equiparar minhas palavras rústicas e toscas com a brilhante crônica que caracteriza a tua inteligência e conhecimentos sobre a realidade brasileira!

    Francisco Bendl
    abril 21, 2019 at 8:51 pm

    Chove neste domingo de Páscoa. Uma chuva constante, entre forte e moderada. Faz 18º Celsius.

    Lembro-me que a maioria dos domingos que se comemora Cristo ressuscitado é ensolarado, exuberante, típico para a criançada encontrar os ninhos que o “coelho” escondeu.

    Não este 21 de abril, data que também a nossa capital federal comemora o seu quinquagésimo nono aniversário, 59 anos de existência!

    Longe de eu fazer a comparação entre a importância dessas datas, a chuva que cai lembrando um céu em lágrimas, torna-se um aviso que milhões de brasileiros choram, que muito antes de celebrarem Cristo ressuscitado, comemoram ter sobrevido mais um dia sem ninhos de Páscoa, sem nada para se deliciar, para se alimentar.

    Jesus ressuscitado está na vida desses seres humanos, Seus Filhos, onde cada dia fazem o milagre de renascer para as dificuldades, necessidades, carências, desprezo e abandono.

    Não ressuscitam para o esplendor, para a glória, mas para a continuidade da pobreza e da miséria que se encontram, e que jamais vão viver em outras condições.

    Jesus está nos dizendo que não precisa de tantas homenagens, de lembranças, de comemorações, pois é Deus, e está muito bem, obrigado.
    Cristo está nos avisando que, se não dermos importância alguma aos que pedem, aos que estão clamando, aos que choram, tais comemorações em Sua homenagem farão os céus verter lágrimas, tristezas, dias cinzentos, opacos, sem cores.

    Precisamos comemorar a vida, e não a ressurreição de Deus, que jamais deixou de existir;
    Temos de valorizar o próximo, pois a crucificação de Jesus foi para a humanidade e não somente para os que têm, que comem, que residem em suas casas, que suas existências são exitosas e com futuro, não.

    Cristo se deixou pregar na cruz porque tenta nos dizer que os seres humanos que padecem, que sofrem, como ele suportou dores lancinantes, justamente são as pessoas que deveríamos compartilhar as refeições de Páscoa, os chocolates, a alegria que temos de poder presentear nossos filhos e netos, enquanto a maioria nada tem, nada possui, nada espera, muito menos acredita que existam coelhos nesta data e que deixam ninhos repletos de delícias!

    A chuva continua, e se faz noite.

    Ouço o seu barulho ao lado, na área da frente da minha casa, e a força das águas que descem pela calha, que irão para as profundezas da terra misturar-se aos lençóis freáticos e ajudar na preparação da terra para o seu cultivo, me dão a impressão que fazemos o mesmo com o sofrimento alheio:
    Deixamos que se esvaia pelos ares, e que as chuvas o leve para o subsolo, onde jamais o padecimento dessas pessoas será lembrado que também elas são Cristos, Deuses, que permitimos a suas crucificações do mesmo modo como aceitamos resignados que Jesus fosse pregado na cruz!

    Feliz Páscoa??!!


    Um grande abraço, Aninha.
    Saúde, muita saúde, extensivo aos teus amados.

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    1. Querido amigo dos Pampas! Que coincidência estranha, que transmissão é essa?
      Sintonia de amigos, de sentimentos? Quer saber, fiquei feliz. Pensei mil hipóteses e desmanchei todas para ficar só na nossa amizade.
      E já aconteceu outra vez, ou outras. Lembra quando coincidiu nossa escrita sobre netos?
      Tão parecidos os textos!
      E sem nada disso de comparar escritos. Já te disse antes que eu escrevo como mulher e você como homem. E não deveria ser diferente! Já imaginou o que pensariam nossos amigos? " Hum, sei não...esse Chicão...
      Obrigada pelo texto que afinal saiu junto com o meu como havera de ser.
      Gratíssima pelo comentário e elogios (como sempre!).
      Até muitos mais. Os textos, os textos!

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  3. 1) Aqui no RJ eu também recebi esta energia de dura realidade que nos assola. Um pouco antes de ler o belo e triste texto da Ana conversei com uma senhora que dá um duro lascado vida a fora. Agora pra completar o neto ficou louco ou já era e levam para o hospital, dão pra ele o tal "sossega leão" e liberam e semana que vem ele volta, a mãe do rapaz não quer saber dele... uma tragédia se for contar tudo.

    2) E fiquei refletindo por que uns conseguem se melhorar na vida e outros não? Não sei se é desculpa esfarrapada, mas levo para a Lei do Carma, estragaram mais uma reencarnação, terão que voltar "n" vezes. Mas é triste, é doloroso.

    3) Parabéns Ana, artigo profundo. Espiritualistas dizem , somos um planeta de provas e expiações... trocando em miúdos, que parada dura esta Terra... ainda bem que dizem, outros planetas são melhores... mas até chegar lá....

    4) Milênios pela frente.

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    1. Olá Antonio,
      As estórias se repetem e viram história. Fazem parte da nossa vida de hoje.
      Vi muitas outras parecidas quando trabalhei com as mulheres de um conjunto.
      Recebiam cartas de seus maridos e filhos na prisão, depois os recebiam de volta. E nem sempre acabava bem.
      Continue na Lei do Carma. Ela é triste mas te consola.
      E por esse tempo todo à frente vamos juntos entre as provas e as expiações. E umas alegrias fugidas para fortalecer os ânimos e calçar novos caminhos.
      Obrigada pelo comentário.
      Até muito mais.

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  4. Flávio Bortolotto07/05/2019, 18:47

    rezada Autora Sra. ANA NUNES,

    Sua Crônica Páscoa de Cinzas, na qual a senhora além de uma bela pintura, escreve sobre a triste situação de Famíliajs muito pobres com suas Crianças pedindo ovos de chocolate, etc, sem condições de satisfazer todos os pedidos, e pior ainda, de Crianças abandonadas vivendo praticamente sozinhas nas ruas principalmente nas grandes cidades, tudo isso dá o que pensar.

    Lendo a Crônica me perguntei? Que posso escrever para colocar alguma cor nessa Páscoa Cinza tão vivamente descrita pela Sra. ANA NUNES, alma de grande Artista tão sensível a tudo, principalmente para a nossa questão social.

    Eis minha resposta.

    A senhora é filha de um Médico-Veterinario da ACAR-MG ( Associação de Crédito e Assistência Rural - MG ) e nas férias escolares acompanhava seu pai de Jeep por todas aquelas propriedades rurais habitadas por proprietários, maioria pequenos, empregados, agregados, etc, e muito o seu ilustre Pai fez para elevar o Padrão de Vida daquelas Populações, que a senhora conheceu tão bem.
    Esse mérito ninguÄ—m tira do seu Pai em melhorar de muito principalmente o gado, especialmente o cavalar, com seu trabalho.
    Quanto aumento de Produtividade Rural seu trabalho causou.

    A senhora casou com um ilustre Engenheiro especializado em Informática, que viajava muito, nosso Editor- Moderador Sr. WILSON BAPTISTA JUNIOR, e juntos criaram uma belíssima Família, junto com muitos Parentes, e em seu Lar, tenho certeza que nunca um Necessitado que pediu ajuda, saiu desamparado.

    A Obra não é tão grande que não aceite nossa participação, nem somos tão pequenos que ný £o possamos ajudar com um pouquinho.
    A senhora e sua Família, fazem muito mais do que a média.

    Fique tranquila, a senhora e sua ilustre Família adquiriu muitos méritos sociais.

    Saudações.

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    1. Olá Flávio Bortolotto,
      "a obra não é tão grande que não aceite nossa participação, nem somos tão pequenos que não possamos ajudar um pouquinho". Que comentário feliz!
      E se você queria me dar um pouco de cor nessa Páscoa, seu comentário me trouxe tanta cor e saudade que, nessa noite, sonhei viajando com meu pai e com meus filhos. O passado e o futuro. E foi tão bom! Acordei feliz!
      Muito obrigada.
      Até mais.

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  5. Moacir Pimentel07/05/2019, 18:48

    Caríssima Donana,
    O seu post escuro como chocolate e as nossas crianças "descabeladas, remelentas e fedidinhas" me lembraram de um trecho do poema Tabacaria do Pessoa:
    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas ný £o ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
    Sucede que ný £o deitamos nossas vidas pelo chão, nada disso. Nós lutamos, ralamos e plantamos! E agora é tempo de colher, de beber e de comer! Chocolate, inclusive.
    Lá do fundo do meu baú de referências me chega ainda a voz de um dos personagens de um filme de nome Amour fazendo uma pergunta complicada:
    “De que nos adianta o seu desassossego?”
    De nada! De nada adianta a nós mesmos e/ou a quem quer que seja, nascer, viver e morrer "atormentados" por incapazes que somos de carregar nos ombros as mazelas,desigualdades e injustiý §as do mundo.
    Por causa do caos político, econômico e social que atravessamos e “'cause we’re never gonna stop the rain by complaining”, contra elas cada um luta como sabe: fazendo trabalho voluntário, dando aulas de arte, advogando pro bono, atuando como palhaços da alegria, pintando escolas, teclando na internet, doando, adotando, mantendo-se informado e tentando votar certo. As pessoas que fazem a diferença, que realmente conseguem minimizar a miséria circundante são aquelas que possuem disposição para aý §ões simples e eficazes, em momentos e movimentos certos.
    Acho que perdi a capacidade pueril de curtir aquela sensação de saudade de algo que nunca poderá ser: não veremos o Brasil com o qual sonhamos no nosso tempo de vida. Por isso, desenvolvi uma espécie de compaixão serena e me ofereço só na medida do que não me enfraquece na luta contra meus próprios bichos. Hoje, cansado de guerra, quero as pessoas que amo perto de mim e um pouco de sol e fazer as coisas que aprecio rapidinho, porque não estou ficando mais jovem. É pedir muito?
    Siga em frente, nunca inteira naquilo que cria, mas colando seus pedaços, em busca da sua inteireza e da alheia. Sua arte é o playground seguro daquela menina de tranças, dos moleques de todos os tamanhos e cores que deveríamos continuar sendo para não perder o juízo.
    Para a senhora deixo um lullaby, desejo um resto de semana ensolarado e repito “até sempre mais”.
    https://www.youtube.com/watch?v=k9Gh6dn7hzQ

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    1. Moacir,
      Obrigada por tudo.
      Pelo Pessoa com a menina com o chocolate da verdade.
      Pelo Amour que quando acabou me deixou para sempre ocupada com pensamentos.
      Maravilhosamente triste. Pungente de doer! Porque verdade. E uma crueldade a atriz não ter recebido o Oscar.
      Obrigada por você cansado de guerra, sua alegria e equilíbrio "cause the rain will not stop", dividindo comigo sua compaixão serena entre as dores e os amores.
      Obrigada pelo por de sol.
      Certamente seguirei inteira aos pedaços, que uma vez colados, colados. Tem melancolia e sabedoria não procurada nessa cola. Na minha arte e nos queridos e no desassossego inútil.
      No sol e na chuva. Nas pequenas flores na janela.
      Até sempre mais.

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  6. Heraldo Palmeira07/05/2019, 18:48

    Ana,
    Eu sempre me pergunto por que nós temos o dom de disfarý §ar e nos distanciar do que incomoda com fantasias. Inventamos um coelho que põe ovos de chocolate para não nos cobrar o verdadeiro sentido da Páscoa? Vá saber!

    Aprendemos a fingir que nem percebemos os olhos esbugalhados dos pobres coelhos... Ninguém quer o esforço de por aquele ovos enormes, é mais fácil delegar para o pobre do bicho.

    Engraçado, lendo seu texto - endurecendo a barriga para diminuir o impacto do soco -, me veio à mente uma velha música, triste, que foi cantada por um homem angustiado:

    "Eu hoje estou tão triste
    Eu precisava tanto
    Conversar com Deus
    Falar dos meus problemas
    Também lhe confessar
    Tantos segredos meus
    Saber da minha vida e perguntar
    Porque ninguém me respondeu
    Se a felicidade existe realmente
    Ou se ý © um sonho meu"

    Nossa geração foi testemunha do surgimento da geração da rua, eram apenas os primeiros "meninos de rua" que foram crescendo e gerando a segunda que gerou a terceira que não parou mais. Sim, há pessoas que nunca tiveram casa, pois nasceram, viveram e já morreram nas ruas.

    Aí a gente se martiriza perguntano o que se pode fazer. Eu não sei, eu não sei! Eu já fiz como o homem agustiado, perguntei a Deus, uis saber se a felicidade existe e como ela pode existir se a gente transita por Pý ¡scoa, Natais e datas comuns sempre atormentados de nascimento.

    O silêncio de Deus me deixou inclinado a acreditar que talvez a gente não possa mesmo fazer muita coisa a respeito do alheamento de quem exagera na opulência, no assistencialismo de butique, na hipocrisia da ajuda de Instagram, dessa "uma miséria humana, uma tristeza sem conserto e sem perdão".

    Talvez não seja justo nos penitenciar pelos uísques e pelo jazz. Pense que a vida é feita de mundos e a gente não penetra na maioria deles, porque, talvez, os donos de cada um desses mundos não queira a presença de estranhos. Existem regras por lá e não interessa vê-las quebradas, muito menos por estranhos com sentimento de culpa e caridosos.

    Eu já andei muito por aí, por palácios e brenhas. O suficiente para perceber que, nem sempre, as coisas seguirão maiores do que ný ³s apesar do nosso sofrimento. Talvez, a gente deva cuidar também de nós mesmos, não permitir que a nossa dor nos paralise. Até para a gente poder ser útil. Até mais.

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    1. Olá Heraldo,
      Sua música me lembrou outra de que gosto tanto

      "Se eu quiser falar com Deus
      Tenho que ficar a sós
      Tenho que apagar a luz
      Tenho que calar a voz
      Tenho que encontrar a paz
      ..........
      Tenho que me achar medonho
      E apesar de um mal tamanho
      Alegrar meu coração"

      Gilberto Gil sabia...
      O que falar mais desse comentário tão bonito!
      E pensar que divido os mesmos pensamentos atormentados com um homenzão tão grande que enche a boléia de um FNM! Tão especial no tamanho também do coração para transformar cotidianos tristes em poesias e para por alento na minha páscoa cinzenta.
      Tem Páscoa e tem Natal, tem Dia das Crianças e Dia das Mães e dos Pais e as outras datas comuns. Haja coração!
      Obrigada pelo carinho.
      Até muito mais.

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  7. Léa Mello Silva07/05/2019, 18:49

    Estou encantada com os comentários
    Vcs falaram por mim que ný £o consigo me expressar tão bem
    Uma aula de idealismo e amor ao próximo
    Valores esquecidos foram o principal em todos vcs
    Eu agradeço a todos
    Muito obrigada

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    1. Obrigada Léa, prima amiga de esperança num futuro melhor. Divida essa esperança comigo e me faça acreditar que vou ver ao menos o começo.
      Charmoso demais, como vocêzinha, o seu comentário a todos pelo encanto com os comentários. Foi assim que eu entrei para o blog. E nunca mais saí!
      Beijo.

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  8. Ana, a coragem bateu e vc publicou. Viu o resultado? Nunca tenha medo, cunhada querida, suas palavras iluminam o árduo caminho que temos que trilhar. Beijo grande.

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