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01/01/2021

Que venha o novo ano

Fotografia de Carlos Monteiro - 31/12/2020


Carlos Monteiro

Ontem, quinta-feira fez exatos 366 – só faltou mais um seis para ser o ‘Cavaleiro do Apocalipse’ em números cabalísticos - dias desse ano horroroso.

Foram trezentos e sessenta e seis dias de angústias e medo do porvir. Choramos, rimos, cultivamos paúras, neuras, novos hábitos – lavar saco de feijão e arroz, quem diria?! Deixar os calçados fora de casa como os japoneses fazem a milênios como um hábito de higiene, diga-se de passagem -, quem pensaria? Para alguns a mão passou a tirar onda com o fígado, tal foram os litros e mais litros gastos com sua pessoa em detrimento ao ‘Seu Figueiredo’.

Dia libertário. Dia da virada da chave!

Trezentos e sessenta e seis longos dias à espera do “amanhã”.

Muito mudou, nada mudou.

Como ouvi de Nélida Piñon, falando do adorado Gravetinho Piñon, seu cão gourmet da raça pinscher, em entrevista a querida Anna Ramalho durante uma de suas maravilhosas ‘lives’: “— eduquei-o a ser mal-educado”. Acredito que vivemos nesses tempos de pandemia desta forma: sendo reeducados e aprimorados ou simplesmente sendo deseducados.  Alguns, valorizaram muito mais o egoísmo, a ganância, a disputa pelo poder, a mais-valia, a carteirada, a capacidade de ser idiota e competir com os imbecis, de abrir a boca para falar besteira – me desculpem as bestas -, de negar o óbvio, do “farinha pouca meu pirão primeiro” do que a natureza de ser feliz.

Os dias têm amanhecido mais cedo, é verão! Nesta quinta, às 4h25 já havia luz no firmamento. Lembrei-me de Hiroshima, triste lembrança. São setenta e cinco anos ‘comemorados’ em 2020 em que, como poetizou Vininha, “...Penso nas crianças/Mudas, telepáticas/Penso nas meninas/Cegas, inexatas...”.

Os pássaros de aço, cada dia mais, voltaram a tirar o espaço das fragatas bailarinas e dos urubus festeiros, que insistem em se aglomerar nos céus cariocas. Ambos, hoje sequer se fizeram presentes, já os biguás estão em plena atividade migratória entre a Ponte Rio-Niterói, a Ilha do Governador, a Praça XV e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Não se cansam, inclusive, de ‘premiar’ os desavisados que correm, caminham ou passeiam de bike pela calçada-ciclovia, empoleirados na desfolhada árvore da Curva do Calombo onde, no Dia de Natal, nosso amado e intrépido Joaquim Ferreira dos Santos, foi surrupiado por um larápio de seu meio de comunicação; assaltaram-lhe o celular. Coisas do Rio que jamais deveriam acontecer.

A bolha de sabão incandescente, explodiu em luz e cor no seu malabarismo pelo espinhaço acima. Agora altaneira o Tabajaras. Sobe quente, fumegante é verão!

São trezentos e sessenta e seis sóis nascidos, trezentas e sessenta e seis  esperanças de que tudo ficaria bem. trezentas e sessenta e seis voltas em Baden, que completaria oitenta e três anos em 2020: “...Voltei/A lembrança pedia/Pra eu voltar/A saudade mandava/Me chamar/E quando bate a saudade/Eu retorno/De onde estiver...”.

O bondinho de açúcar e afeto, em um vai e vem frenético, se equilibrando na ‘highline’, imita a dançarina que chega beijando o funcionário que sai. Voltou aos seus dias de glória como a Band News; a cada vinte minutos uma nova viagem.

Como o professor Pasquale Cipro que, debrua seu "tira-dúvidas" diário pela CBN, lembro dos irmãos Valle – Paulo fez oitenta este ano - e Nelsinho Motta “de rabo para a Lua”: “...Hoje é um novo dia/De um novo tempo que começou.../...O futuro já começou...”.

Que estes trezentos e sessenta e seis dias tenham sido de reflexão, de superação, de vitórias, de sobrepujança racional.

Que venha a cura, a vacina, o imunizante tenha a nacionalidade que tiver, pouco importa. Que prevaleça o amor, a caridade, o bem comum, a reflexão, a humanidade verdadeira, a humildade, a esperança...

Que o “novo normal” seja esperança, seja Sol de verão.

Que venha 2021, que seja amor pleno!

 

10 comentários:

  1. Francisco Bendl01/01/2021, 21:50

    Artigo perfeito, contundente, amplo.

    Aplaudo o seu autor pelo domínio das palavras e conjunção de letras, que transmitem a beleza de um texto postado por um especialista, então o meu reconhecimento e admiração.

    Eu só ousaria - e peço permissão -, acrescentar ao final de um artigo tão profundo, tão bem escrito, de qualidade ímpar, o seguinte:

    Que, neste ano de 2021, continuemos vivos!

    Abraço, Carlos Monteiro.
    Saúde e paz.

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    1. Carlos Monteiro02/01/2021, 00:04

      Caríssimo Francisco, boa noite!

      Agradeço suas gentilíssimas palavras, não sei se merecedor de tanto.

      Absolutamente aceito!

      "Que, neste ano de 2021, continuemos vivos!".

      Um 2021 somente de excelentes notícias.

      Forte abraço,

      Paz e Bem!

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  2. 1) Ótima crônica para iniciarmos um esperançoso ano de vacinas e melhorias.

    2) Bom 2021 para todos e todas.

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    1. Carlos Monteiro02/01/2021, 00:05

      Muito obrigado Antônio.

      Que venha a vacina ou o imunizante.

      Ótimo ano!

      Abraços,

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  3. Carlos só ou Carlos Monteiro,
    Não faz importância, como dizia um filho ainda pequeno, porque a bela foto e o texto exato dizem mais do que uma foto e um texto. Falam da beleza e do desatino de um ano aprendiz. Porque dele não sabíamos nada. Fomos nos deseducando pouco a pouco, dia a dia na sobrevivência do corpo e da alma.
    Obrigada sempre.
    Fique conosco.
    Um bom ano!
    Até mais.

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    1. Carlos Monteiro05/01/2021, 13:59

      Ana Nunes ou simplesmente Ana, Muito obrigado pelas gentis palavras. Somos aprendizes em movimento, reaprendendo a amar mais, respeitar mais, humanizar mais, entender mais... Que 2021 seja um ano de excelentes notícias! Carlos

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  4. Léa Mello Silva02/01/2021, 17:00

    Carlos
    todos estamos cansados de 2020 e a chegada de um novo ano acende uma pequena esperança nesta turbulência mundial
    Vamos esperar que venha com novos e bons rumos para todos
    Precisamos de um novo mundo mais humano e limpo
    Obrigada pela ótima reflexão

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    1. Carlos Monteiro05/01/2021, 13:58

      Léa, Este novo tempo se avizinha, está bem próximo. Espero que a humanidade tenha, de fato, aprendido algo neste ano, quase, perdido. Que alguma lição tenha chegado aos corações endurecidos. Eu quem agradeço pelas palavras. Carlos

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  5. Wilson Baptista Junior05/01/2021, 12:58

    Carlos, "Que venha a cura, a vacina, o imunizante tenha a nacionalidade que tiver, pouco importa. Que prevaleça o amor, a caridade, o bem comum, a reflexão, a humanidade verdadeira, a humildade, a esperança..." - faço meus todos esses seus votos. E que as fragatas bailarinas (que sim, apareceram ao menos na sua foto) continuem a fazer com que nossos olhos se voltem para o céu.
    Um abraço do Mano

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    1. Carlos Monteiro05/01/2021, 13:57

      Mano amigo, As fragatas, bailarinas incansáveis ao amanhecer, bailam para nosso deleite matinal. Olhos postos nos céus, vivemos em graça! Forte abraço, Carlos

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