fotografia Ana Nunes |
Ana Nunes
Uma toalha
branca
em pontos de
cruz cruzados
inacabada em
cores coloridas.
Em fios
soltos de pontas doloridas
saídos de
agulha pontuda e lisa
que furou o
pano
e furou a
pele
e deixou
pintas vermelhas delicadas.
Costurou
lanternas sextavadas
gueixas
esguias entre faixas e quimonos.
E
descosturou sonhos redondos
escapados de
um livro descarnado
e de folhas
soltas no revirar.
E paninhos
pequenos assim bordados
de tirar dos
lábios açúcares fugidos
de doces
sonhos e sonhos doces.
Com o gasto
do tempo
olhos cansados
guardaram as linhas
e o pano
amarelado de tanto esperar.
Que no
intento de sacudir recordos
e enternecer
corações
foi
branqueado no sol ardente
e de rendas
circundado.
Embrulhado
em papel de seda branco
com fita
vermelha no laço perfeito.
O antigo no
presente se perde
e nas portas
do Natal
a moça jovem olhou surpresa
e as mãos
desconheceram o tato
os olhos não reconheceram as gueixas
nem os
pontos laçados em cor.
Porque o
tempo é cruel
nas
lembranças desbotadas.
Três irmãs
em dobras de toalha branca
e um
pensamento de perda em dor
que não vai
passar.
Ana
ResponderExcluirque delicadeza ! Que ternura e simplicidade em lembranças tão dolorosas !
Um presente de Natal este poema ! A saudade também faz bem !
A vida passando tão rápida !
😘
Olá Prima Léa querida,
ExcluirSaudade também faz bem. Ela é o resultado da dor mastigada e engolida e virada flor de nome doce lembrança.
Vivamos, pois!
Beijo.
Ana,
ResponderExcluirSuas dores escolhidas para reviverem em bordados e enfeitarem panos amarelados nos servem como um presente de Natal. Singelo. Que não salta aos olhos encandeando em cores estéreis que iludem a vista em busca de enganar a tristeza que possa haver, mas diz firme que o cinza também é uma cor que deve constar na paleta, ainda mais quando inspira vermelhos, amarelos, azuis e bordam a saudade que está na lembrança. Um pequeno freio na pressa de passar da vida. Até muito mais!
Olá Heraldo,
ExcluirSeu comentário é poesia!
Até muito mais.
A minha amiga Ana é muito sábia e inteligente, então usa com muita propriedade a metáfora.
ResponderExcluirA toalha que costura é a vida que ela tece, que pode ter as cores que ela quiser, mas também os tons que a vida e as circunstâncias deram algum retoque.
E estas são as lembranças, o passado, invariavelmente doloroso pela perdas de amados ao longo do caminho ou decepções ou frustrações.
Mas, o branco da peça, quer dizer também o que ela colheu nesta sua trilha:
O amor do seu companheiro; de seus filhos; dos adorados netos; das amadas e inseparáveis irmãs; dos inesquecíveis pais; de parentes; e de novas filhas, cujo noras foram adotadas porque são os amores de seus filhos.
Mas, também de amizades colhidas, que tanto ainda vicejam quanto algumas murcharam ao longo do tempo ou desapareceram.
Porém surgiram as novas relações amistosas, que brotaram através da admiração e respeito pela mulher ativa, independente, atual, de forte personalidade, caráter, dinâmica, sensível, bondosa, fiel às suas relações, que, se não compensaram as antigas, trouxeram as suas colaborações para que o tecido fosse cosido de maneira sólida e belo, com seu branco puro e incomparável.
Eis a vida:
De altos e baixos;
De tristezas e alegrias;
De decepções e felicidades;
De lembranças e esquecimentos;
De realizações e omissões;
Do que se colheu o do que se perdeu, pois somos finitos, limitados, e só conseguem romper as balizas da vida as pessoas especiais, que sabem transcrever com talento seus anseios e suas certezas, demonstrando o ser humano quando dotado de qualidades, virtudes, energia, disposição e vontade de sempre fazer o bem, de construir o que é útil e proveitoso pra si, sua família e amigos e, evidente, que esta é a Aninha!
E a Ana ainda brinca conosco, pois ao escrever dessa forma, usando metáforas de maneira muito peculiar, o seu desejo é que interpretemos as suas palavras mediante o que pensamos de nossas existências, e até que ponto estamos afinados com a mensagem que ela nos deixa neste Natal de 2018, justamente em forma de toalha, onde colocaremos sobre ela o que fomos e no que nos transformamos, e os presentes que recebemos pelo que representamos para aqueles que amamos e queremos bem!
Se o pensamento da Ana, na condição de mulher será sempre enigmático para nós, os homens, por outro lado nos deixa informações de como entendê-lo, e nada melhor que o sentido figurado, pois o que se vê não é a realidade, muitas vezes, porém o que não se vê, ali está contido o segredo do que nos disse, a essência do seu ser, da sua alma, e esta é como a tolha bordada, branca, imaculada, impecável.
Desfrutar de uma amizade com esta característica de inteligência e sabedoria, conforme escrevi acima, requer a mesma dimensão ou, pelo menos, que nos esforcemos para manter com ela um diálogo, uma conversa, pois a Ana está muito acima da nossa imaginação, pois simplesmente mulher, e realizada!
Aninha, o meu abraço, respeitoso, indiscutivelmente.
Saúde e paz, extensivo aos teus amados de ontem, de hoje, e do futuro.
Olá amigão dissidente,
Excluir"Somos finitos e limitados", finitude essa que nos deixa um pouco triste.
A sua metáfora, porque é toda sua, é muito bonita assim transformando a trama da toalha na urdidura da vida. E o branco com as colheitas desse caminhar.
Muito bom estar vivo, não é amigão?
Temos tanta coisa boa para desfrutar e agradecer! Filhos, companheiro, netos, irmãs, primas, amigos novos que de tanta conversa trocada já são amigos de muitos tempos e de muito bem querer.
E ainda a chuva, sol, a noite e o dia, a natureza toda.
Em tempo, você continua maravilhosamente exagerado. Exagerado do seu tamanho! Não poderia ser de outra forma, poderia? Dizem, o que não parece com o dono é roubado...
Até sempre.
1) Belas reflexões natalinas, Ana !
ResponderExcluir2) Feliz Natal e Próspero Ano novo, para vc e demais familiares.
Olá Antonio budista,
ExcluirUm privilégio ter meu escrito considerado reflexões por um budista.
Ajude-nos a continuar refletindo para contornarmos os obstáculos e aproveitarmos bem o tempo que nos resta.
Vcs vão se encontrar com as meninas das suas vidas no Natal?
Lembranças para a Heloisa.
Até mais.
Ana, lembranças doem, mas são parte da vida. E quando a gente lembra a saudade vira vida.
ResponderExcluirOi Tita,
ResponderExcluirPura verdade. E tanto é vida que sonhei com sua mãe hoje. Um sonho bom onde eu preparava o café da manhã porque ela estava adoentada. Era uma mesa grande cheia de pires e de xícaras para todos.
Acordei cheia de boas lembranças e com elas vou passar o dia.
Muito obrigada pelo comentário. Gostei muito.
Um beijo.