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02/12/2018

Colombo

fotografia Moacir Pimentel



Moacir Pimentel
Chegamos ao aeroporto internacional de Colombo - depois de vinte e seis anos de ausência- nas primeiras horas de uma bela manhã, depois de um voo de quatro horas desde Dubai. Devo confessar que a capital de Sri Lanka, na costa oeste da ilha, me parece uma mistura mal combinada da antiga Bombaim e de Hanói e não é absolutamente um dos meus lugares favoritos nesse mundo.
A Ilha Abençoada é um país tão rico de atividades e tesouros ao ar livre que muitas vezes os seus visitantes deixam completamente de fora do roteiro a sua capital, escolhendo em vez passar seus dias de férias nas praias do sul ou nos parques nacionais.
No entanto, Colombo é a maior cidade da ilha – tem uma população de aproximadamente meio milhão de habitantes – e de sê-lo nos oferece a visão do melhor e do pior do país e, em 2009, era, como ainda é, o lugar perfeito para sabermos para onde a ilha estava indo depois de tantos anos tumultuados por uma guerra civil fratricida recém terminada.
A metrópole estava muito diferente da cidade que eu conhecera tantos anos atrás, mais moderna e vibrante, mais cosmopolita e demonstrando um otimismo cauteloso. Temos o costume de ao chegar a uma cidade simplesmente passear por ela sem destino naqueles ônibus de dois andares dos quais se pode tanto subir como descer quando se quer em paradas pré-determinadas. É uma boa maneira de se situar geograficamente, de verificar as novidades e de fotografar com uma perspectiva alta (rsrs) Como inexistiam tais busões panorâmicos em Colombo o jeito foi usar os tuk-tuks.
Eu tinha esquecido o quanto a cidade pode ser quente, mas quando o calor estava prestes a nos derrubar eis que, como antigamente, ainda aparecia um garoto montado em uma bicicleta transformada em carroça de sorvete, com delícias refrescantes e geladas para nos salvar! É muito cansativo andar por Colombo sob o sol inclemente e os tuk-tuks são realmente uma benção. Fáceis de encontrar e, de longe, o mais prático e divertido meio de transporte para os nativos e turistas. Acabamos adotando um tuk-tuk e passamos dias muito agradáveis na cidade que, no entanto, mais uma vez não nos conquistou.
Na primeira noite em Colombo perambulamos por Galle Face Green, o cartão postal da cidade e nela o meu espaço favorito. Trata-se do calçadão de Colombo ao lado da praia estreita só que gramado. Um lugar agradável e pacífico, perfeito para caminhar, correr, jogar futebol, soltar pipa e assistir aos onipresentes jogos de críquete e contemplar o pôr-do-sol.
fotografia Moacir Pimentel

Os colonizadores transformaram Colombo no coração da ilha, no centro administrativo e comercial do país por ter um dos mais importantes portos do Oceano Índico. Mas da cidade as memórias mais vívidas que eu guardava nada tinham a ver com a pujança econômica.
Naqueles vinte e seis anos quando eu recordava a cidade me vinham à mente, em vez, o colorido do seu templo hindu, o cheiro de curry e leite de coco no ar, a cacofonia de suas ruas e o gosto de maresia nesse magnífico parque popular na avenida marginal chamada de Galle Face Avenue, onde moravam os hoteis de luxo de então.
Era bom no final dos dias sentar naquelas imediações para bebericar alguma coisa e observar a vida. Lembro que num distante mês de agosto, durante o Ramadã, vi os muçulmanos se reunindo na grama, desempacotando piqueniques, esperando o sol se pôr para começar a fazer festa. As crianças soltavam pipas, os vendedores ambulantes vendiam guloseimas, os namorados passeavam de braços dados, respeitosamente, ao longo da praia. As ondas do mar se chocavam na parede de concreto criando um pano de fundo dramático. E ali sentado de frente para o oceano eu podia enxergar um lado diferente da cidade e apreciar a rica diversidade do seu povo.
Dizem que em 1859, quando foi inaugurado, o parque era uma pista de corrida de cavalos e, em seguida, um campo de golfe onde os poderosos davam as suas tacadas coloniais e as damas suspiravam por eles na varanda do venerável Hotel Galle Face que ainda mora em uma das extremidades do verde tapete.
O hotel foi construído pelos britânicos em 1864 e várias fotografias no bar ainda dão testemunho que suas suites vitorianas acolheram uma coleção variada de convidados, incluindo Richard Nixon, a Rainha Elizabeth, Indira Gandhi, Yuri Gagarin e Arthur C. Clarke que – diz Dona Lenda - escreveu os capítulos finais da sua “3001: A Odisséia Final” também na badalada varanda. O certo é que ela oferece algumas das melhores vistas da cidade à medida que o sol se afunda no oceano por volta das oito da noite.
fotografias Moacir Pimentel


Mas para quê beliscar iguarias europeias regadas pelo chá do Ceilão se bem ali ao longo do passeio a mais legítima e excelente e deliciosa comida de rua nos acena regada por um café decente? Sim, café! A ilha já foi o maior produtor de café do mundo pois foi só depois que o ferrão atingiu as famosas plantações que os britânicos passaram a plantar chá. Ainda hoje o café é cultivado naquelas paragens e os grãos nativos são torrados e moídos artesanalmente à perfeição.
Galle Face é justificadamente famosa por sua comida de rua e entre as muitas barraquinhas à beira mar se destaca pelas filas de clientes cativos e pela qualidade dos quitutes à base de frutos do mar uma barraca de nome Nana's que desde os anos setenta, do entardecer até as primeiras horas da madrugada, prepara kottus picantes de frutos do mar servidos sobre mesas de plástico também defronte ao mar e com uma gentileza que compensa a falta das amenidades cinco estrelas.
Também são dignas de elogios outras barracas gastronômicas especializadas em frangos grelhados inspirados nos de tandoori, em uns bolinhos de grão-de-bico - os vadai! - recheados de camarão e/ou caranguejo servidos com cebolas picadas e molho picante.
Como a brisa é contínua e o gramado espaçoso, nas primeiras horas da noite enquanto o sol vai se pondo o céu acima de Galle Face é povoado por centenas de dragões, cobras, borboletas e aves coloridos e estranhos. Viva o espetáculo das pipas de Galle!
Numa cidade onde os espaços públicos são raros, o Galle Face Green é o seu pulmão e foi com alegria que constatei que o “Verde” – como é carinhosamente chamado pelos de casa - continuava a ser a “mesma praça” da minha juventude onde as famílias de todas as religiões, grupos étnicos e classes sociais ainda relaxavam nas happy hours notadamente dos finais de semana.
Caminhando ao longo do passeio, no terceiro milênio, vimos centenas de turistas, jovens praticando artes marciais, mulheres muçulmanas vestidas com burcas pretas entrando na água, ambulantes vendendo de um tudo, um burro marrom cansado de guerra levando crianças no lombo, homens idosos muito desalinhados jogando críquete e - pense no inimaginável nos anos oitenta - casais se beijando em público!! Um lugar perfeito para a gente se despedir do imenso calor do dia.
Os funcionários do nosso hotel nos contaram que durante a guerra uma grande parte do “Verde” fora fechada e que a segurança fora incrementada no resto do gramado restringindo o acesso e desencorajando os visitantes. Segundo tais relatos, por longos anos a área se tornara um parque fantasma que muitas vezes parecia ter mais soldados do que visitantes.
Embora algum arame farpado ainda pudesse ser visto aqui e ali e a polícia e os soldados ainda patrulhassem a área, em 2009 o Galle Face Green já estava aberto ao seu público cativo de famílias, crianças, amantes, viciados em exercício físico, caminhantes e corredores e vendedores de comida, todos aproveitando a sua nova liberdade de movimento. Naquele gramado todos os cingaleses, tamils e muçulmanos, nativos e estrangeiros, homens e mulheres, ricos e pobres, jovens e velhos pareciam felizes apenas por ter acesso a algo que lhes fora proibido por muito tempo. Para eles, o parque reaberto significava que a guerra acabara e que a vida seguia adiante.
Alguns dos mais interessantes recantos de Colombo moram perto do mar como a velha estação de trem, a zona financeira conhecida como “Fort” com alguns belos edifícios coloniais. A cidade divide com outra de nome Kotte o título de capital de Sri Lanka pois os poderes Executivo e Judiciário moram em Colombo, enquanto o poder Legislativo reside em Kotte.
Mas, tirando Galle Face, quais são as outras faces mais icônicas de Colombo? Bem, as belas construções coloniais em todo o centro da cidade que remontam aos tempos dos holandeses e dos britânicos merecem destaque. O rosto holandês é o Velho Hospital Holandês do século XVII, todo revitalizado e bonitão, de paredes grossas e telhados vermelhos, convertido em uma bela moldura para cafés e restaurantes e lojas de arte espalhadas por seus pátios. Foi bom almoçar caranguejos frescos de alta estirpe em variações de alho e chilli e manteiga e pimenta depois depois de todos aqueles anos e de muitíssimas em cima de um sacolejante tul-tuk pelas ruas barulhentas.

Digno de nota é ainda o Museu Nacional que conta toda a história da ilha e é rodeado por pátios e varandas tranquilos e, last but not least, o Memorial da Independência - um edifício de pedra cercado por jardins onde mora imponente a estátua do “Pai da Nação”, o primeiro presidente de Sri Lanka.
fotografias Moacir Pimentel

Também mereceu-nos uma rápida visita a "Ilha dos Escravos" assim chamada pelos britânicos em referência aos descendentes dos escravos dos portugueses, a maioria deles negros trazidos das então colônias portuguesas da África, que por lá moravam. Um pequeno grupo de seus descendentes permaneceram e se espalharam por Sri Lanka e são conhecidos como kaffirs cingaleses.
Slave Island é uma área comercial ao sul do Fort, famosa por causa do Lago Beira – de nome português com certeza! -, do templo budista Gangaramaya e do seu belíssimo pavilhão Seema Malaka construído sob medida para a meditação em uma pequena ilha bem no centro do lago. Ele foi desenhado por Geoffrey Bawa, o arquiteto mais conhecido do Sri Lanka, famoso por projetos de estilo “modernista tropical” – e, pasme! - construído graças às doações feitas por um... muçulmano.
O templo, uma construção elegante de madeira e pedra - com um excesso de estátuas do Senhor Buda! - é um refúgio pacífico longe das animadas canções pop indianas que explodem os nossos tímpanos saindo de dentro dos ônibus. Uma abundância de pelicanos e de cegonhas escolheram o lago como lar e é comum ver uns lagartos enormes por lá monitorando a paisagem.
Colombo é predominantemente budista – entre setenta e oitenta por cento da população – e existem muitos templos com pagodes brancos em todos os lugares da cidade. As noites de lua cheia, por exemplo, nos meus tempos lowcost pareciam ser feriados públicos devido às multidões de budistas que se vestiam de branco para ir aos templos.
Nas três visitas que fiz ao país não saberia dizer por quantos templos passei, mas devo confessar que é palpável a forte vibração espiritual desses lugares onde sempre há uma bela árvore de "bodhi" – Buda teria atingido a “Iluminação” sob a sombra de uma delas - em um local de destaque. As pessoas geralmente caminham em torno dela com um pequeno pote cheio de água nas mãos. Um pouco d’agua é vertida a cada volta e, ao fim e o cabo, a água restante é colocada em um local específico para regar e alimentar a árvore com os desejos de todas as pessoas que estavam ali orando.
Não cheguei a fazer o bonito ritual mas pelo menos aprendi que se deve caminhar em torno das stupas ou das árvores no sentido horário. O oposto – não me pergunte porquê – é grave falta de boas maneiras.
fotografias Moacir Pimentel


O Templo de Gangaramaya é formado por vários edifícios alguns dos quais são francamente muito estranhos. Mas identifiquei, por exemplo, uma biblioteca, um museu e uma sala onde são exibidos os “presentes” recebidos dos devotos incluindo muitas coisas feitas de marfim que são, com certeza, primos legítimos dos “ex-votos” católicos. Eu jamais vi tantos budas - maravilhosos trabalhos de arte budista em bronze, marfim, madeira e pedra – reunidos em um só lugar.
O lago se conecta com outros lagos através de canais estreitos e acaba no mar e, na época colonial, os seus canais foram utilizados para o transporte de mercadorias do porto até o centro da cidade. Ficamos tentados a alugar um barco a remo ou a brincar de cisne nos pedalinhos mas terminamos optando pelo Pettah Market que é real e vivo e autêntico bem ali defronte da velha Estação de trens do Fort.
A entrada principal do mercado de Pettah é a Torre do Relógio de Khan, no meio de uma rotunda. O mercado é dividido em diferentes seções: vestuário masculino e feminino, objetos de couro, joias, relógios, etc. A maioria dos seus vendedores é muçulmana, todos os preços têm que ser barganhados furiosamente e todos os artigos de marca são falsos: relógios, sapatos, bolsas, roupas, telefones celulares, brinquedos e eletrônicos (rsrs) Mas as frutas e as especiarias para fazer curry e os tecidos são estupendos e as oportunidades de belas fotos são infinitas.
Percorrer as ruas do bairro antigo de Pettah é uma verdadeira aventura cheia de som, cheiros e pessoas, numa perfeita fusão das culturas cingalesa, tamil e muçulmana. Homens de sarongues carregando de tudo, mulheres lindas que não me atrevi a fotografar, produtos elétricos fora das portas da lojas e mesquitas convivendo com os templos hindus.
fotografias Moacir Pimentel


Entre outras coisas fiquei surpreso ao ver como os cingaleses estavam comprando bilhetes de loteria. Nas ruas, nas estações de trem, em todos os lugares, os homens estavam vendendo e comprando os bilhetes e eu não tenho lembrança de ter visto nada parecido há décadas atrás. Outra agradável surpresa foi ver como tudo estava limpo e as ruas pareciam impecáveis.
Sinceramente? O melhor de Sri Lanka está nas ruas: o seu povo nas suas atividades cotidianas.
fotografias Moacir Pimentel


Por isso fomos até a cidadezinha praiana de Mount Lavinia ao norte da cidade – meia hora de tuk-tuk! - cujo nome parece ter sido uma homenagem a uma dançarina europeia de nacionalidade indefinida, de nome Lavínia e de beleza indescritível que foi contrabandeada para ilha secretamente por um apaixonado governador britânico.
Sucede que em 1980 eu me hospedara na aldeia de Mount Lavinia porque lá as pousadas eram bem melhores e mais baratas do que as de em Colombo e fui tão bem recebido pela família cingalesa que me hospedou que desejava os reencontrar. Percorremos a cidadezinha mas as referências que eu tinha da casa já não estavam mais lá e os nomes dos meus hospedeiros eu esquecera. Desapontados terminamos virando alguns litros da excelente cerveja nativa – a Lion! - e jantando à beira-mar apreciando os casais se divertindo nas ondas à medida que o sol se punha - alguns casta e totalmente vestidos! (rsrs)
Apesar da visão matizada do mundo adquirida por aquele rapaz mochileiro que fui, apesar de tentar manter aberta a mente para encontrar o melhor em cada lugar que visito, havia algumas novidades com as quais tivemos que lidar. Tudo bem que o país estava em meio a profundas mudanças recuperando-se silenciosamente de uma guerra civil que teria causado a morte e/ou “desaparecido” mais de cem mil pessoas e, como se não bastassem os conflitos, fora atingido pelo tsunami em 2004.
Mas na área de Colombo, em meio a seus edifícios modernosos e coloniais, eu não me recordava de tantas favelas de casas construídas com uma mistura de palha, tábuas de madeira e chapas de metal e lonas, ao longo das vias férreas e rodoviárias, das praias e dos rios e canais.
Porém cada comunidade tem uma boa escola pública para chamar de sua, um lugar de culto e as tais lojinhas onde as pessoas podem comprar as necessidades diárias, bem como fofocar que, juntamente com o críquete me parece ser o esporte nacional.
Em Sri Lanka, nas décadas em que estive ausente, a educação passara a ser altamente valorizada e encorajada. Uma das cenas mais comuns na ilha é aquela de grupos de estudantes, os meninos bem penteados e as garotas sorridentes com suas tranças grossas e negras caindo nas costas. Todos vestidos com uniformes imaculadamente brancos, circulando pelas ruas e acenando bem humorados para os turistas estrangeiros.
fotografia Moacir Pimentel


A frequência escolar é obrigatória até os quatorze anos, embora as crianças frequentem a escola normalmente até a conclusão do secundário. Todos os pais se esforçam para colocar seus filhos nas universidades que são gratuitas e patrocinadas pelo governo e onde a admissão é determinada, como aqui, por exames e não por currículo.
O desemprego após a graduação é alto para esses estudantes, refletindo uma disjunção entre as necessidades do mercado e a educação universitária. Também por lá, como aqui, há advogados no volante dos tuk-tuks. Aqueles que frequentam as escolas técnicas/profissionais e que dominam o inglês se colocam no mercado de trabalho com mais facilidade.
O que mais gostamos quando viajamos é justamente interagir com as pessoas e ao chegar à ilha em 2009 eu percebi de cara que as mulheres de lá, antes discretíssimas, tinham mudado. Eu lembrava delas ou andando sozinhas pelas calçadas se protegendo do sol sob seus guarda-chuvas ou caminhando atrás dos maridos.
Aliás, já que estamos falando de guarda-chuvas, uma cena impossível de ser vista “antigamente” tornara-se banal: casais se beijando debaixo deles!! Surpreendentemente, os parques estavam lotados de jovens casais sentados à beira das árvores ou do mar brincando com os cabelos um do outro e se beijando apaixonadamente.
Fascinante, considerando que Sri Lanka continua sendo um país muito conservador. Um país onde as damas nas cidades, ainda usam o sari - que eu acho tão bonito! - ou saias e calças longas e largas batas e se banham no mar vestidas - nunca de maiô ou biquíni.
Eu tive poucas oportunidades de interagir com as mulheres nativas nos meus tempos de mochileiro exceto pelas sorridentes donas das pousadas onde me hospedava, cujo inglês era geralmente muito limitado e que pareciam viver – perfeitamente contentes! - à sombra dos maridos.
A mulher cingalesa moderna ocupa cargos importantes em bancos, hotéis, companhias aéreas, lojas etc. Muitas delas têm formação universitária e inglês perfeito aprimorado no exterior. Mas há principalmente, uma mudança de atitude. Elas não hesitam em sorrir e se aproximar para, por exemplo, fornecer as direções se, ao descer de ônibus, um turista lhes parecer desorientado sem ter certeza de para onde deve ir. Isso era impensável há décadas atrás. Hoje todas elas querem, da mesma forma que fazem seus homens, “praticar o inglês”.
Por outro lado, os machões estão muito incomodados com a alteração no nível da submissão feminina local (rsrs) Conhecemos um casal de franceses, bem jovens, que estava viajando pelo país dirigindo um tuk-tuk, se revezando no volante. Comentaram conosco sobre as reações dos homens diante da visão da bela e loura motorista: além de alguns polegares para baixo e muitas cabeças parecendo dizer sim ao dizer não, vários nativos perguntaram ao marido na lata por que ele deixava sua esposa dirigir e verbalizaram veemente sua desaprovação. Já os demais motoristas não davam à moça qualquer chance de ultrapassagem. O fato é que uma mulher dirigindo um tuk-tuk na moderna Sri Lanka não deixa ninguém indiferente.(rsrs)
As novidades quanto ao comportamento dos gêneros foram boas novas uma vez que país nenhum nesse mundão de Deus conseguirá se desenvolver mantendo longe da educação e do mercado de trabalho metade da sua população. Foi bom almoçar no Pagoda Tea Room – o restaurante mais antigo da cidade onde a banda Duran Duran gravou o seu mais famoso clip! – e ver mesas e mesas ocupadas por jovens executivas comendo alegremente o seu arroz com curry e dando à minha esposa “dicas” sobre a melhor música ao vivo da cidade e, é claro, sobre “shopping” como tecidos feitos à mão, papéis feitos a partir da caca dos elefantes (?!) óleos rejuvenescedores e por aí vai.
Graçasadeus que do Pagoda saímos sem escalas para pegar a estrada com destino ao sul.
Mas essa já será outra conversa!


16 comentários:

  1. Mônica Silva03/12/2018, 08:41

    Amei as descrições, as fotos, a loura dirigindo o tuk-tuk e o mercado de Pettah. Na barraca de tecidos coloridos eu barganharia a alma e depois do almoço de arroz com curry nada me desviaria da loja dos ‘óleos rejuvenescedores’ kkk Obrigada!

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 09:32

      Mônica
      Os óleos rejuvenescedores fazem parte da cultura da ilha e tudo bem. O problema são as tais das pedras preciosas nas “joalherias” onde as clientes sentam no chão em almofadas em torno de uma espécie de tablado forrado de veludo e, enquanto tomam chá, os vendedores vão literalmente esvaziando sacos e mais sacos de pedras na roda. Perigo!!!!
      Perto do nosso hotel tinha uma loja - onde só se entrava tirando os sapatos! - que vendia de tudo: quinquilharias impressas com o alfabeto sinhala, tecidos, bijuterias, brinquedos etc. Passar por lá antes e/ou depois dos passeios era obrigatório. Graçasadeus eles também tinham uma seção de livros com muita literatura sobre a ilha e também pude fazer minhas “comprinhas” (rsrs)
      Por fim, quero agradecer-lhe pela companhia por tantas leituras e como amanhã começam as nossas três semanas de férias desejar-lhe um Feliz Natal.
      “Obrigado” e abração!

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  2. Olá Moacir,
    Viva!
    Sempre bom fazer turismo com quem sabe!
    E nesse andar ia pensando que o melhor mesmo está nas ruas, com as gentes. E tudo confirmado com suas belas fotos cheias de cores. Não será assim em todos os lugares?
    E esses templos vivendo em perfeita harmonia...por quanto tempo ainda nessa intolerância e ódio generalizados em que vivemos? E pelo que passam as mulheres progressistas executivas em meio a burcas pretas e homens tão conservadores?
    Perguntas que aparecem enquanto leio. E imagens que ficam quando penso como é olhar para o céu no por do sol cheio de dragões e borboletas e aves coloridos e se deixar pensar que são de verdade. Ao menos enquanto duram as cores douradas do fim do dia.
    Ainda bem que há quase sempre "uma outra conversa"!
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 09:37

      Caríssima Donana,
      A mim me pareceu que as senhoras de Sri Lanka estavam ganhando a guerra contra os dragões do mal patriarcais (rsrs) E sim, em todo o vasto mundo o melhor mesmo está nas ruas, praias, parques, praças, mercados, feiras e festivais e barracas de comidinhas. Bem sei que a violência nos tem mantido prisioneiros das nossas paredes, distantes das cores e sons da real, curtindo os "céus no por do sol" pela Netflix. Mas existem lugares onde, todas às noites, ainda se coloca pendurado do lado de fora da porta da frente o saquinho de pano bordado onde, todas as madrugadas, o padeiro coloca o pão fresquinho. É para lá que estamos de partida mas não antes de agradecer-lhe e ao seu Mano por tantas e tão boas conversas e desejar-lhes um Feliz Natal ao lado dos filhos, noras e netos.
      "Até sempre mais"

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  3. Flávia de Barros03/12/2018, 12:14

    Moacir,
    Gostei de ver que o charme colonial da cidade não é ofuscado pelos poucos prédios altos. O mercado de rua cheio de frutas e sedas coloridas é uma tentação mas adorei as fotos da Ilha dos Escravos, do lago e do belo templo budista. Deve ser um cantinho de silêncio, paz e espiritualidade. Encantador o costume de regar a árvore sagrada com os desejos de todos os visitantes do templo, crentes ou não.
    Um abraço para você
    ...

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 09:46

      Flávia,
      Você tem razão: Colombo coleciona lembranças coloniais, principalmente do período britânico. Mas nas suas ruas apinhadas e barulhentas se encontra paz em todos os locais de culto: as graciosas viharas budistas, por exemplo, ficam perto dos templos extravagantes incrustados de estátuas hindus coloridas e as elegantes minaretes das mesquitas muçulmanas são vizinhas das igrejas cristãs. Outra curiosidade são os vendedores de flores, tamils ou singaleses tanto faz, vendendo suas guirlandas e ganhando o seu pão de cada dia diante dos templos uns dos outros (rsrs)
      Conto com a sua leitura atenta e amiga durante as minhas semanas de férias e desejo a você e aos seus familiares um Feliz Natal.
      Outro abraço para você

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  4. Márcio P. Rocha03/12/2018, 15:52

    Muito bom. É engraçado como o paladar é poderoso e faz você descrever com sabor e saudade a barraca da Nana, o café, os bolinhos e os frutos do mar. E fiquei pensando por causa do filme O Caçador de Pipas se as pipas de Sri Lanka têm origem afegã, rs.

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 09:52

      Márcio,
      Discordo de você: penso que a pipa nasceu na China, atravessou a fronteira e virou campeonato nacional no Afeganistão (rsrs) De resto, dizem as más línguas, que viajo "para comer". Se viajar é explorar a história e a cultura dos países que a gente visita, uma das melhores maneiras de fazer isso é cair de boca nas iguarias locais, certo? E na Ásia, acredite, é absolutamente necessário experimentar a comida de rua que é limpa, fresca, gostosa e barata. Os vendedores ambulantes e/ou de barracas são parte integrante da vida cotidiana naquelas paragens e a comida que vendem é autêntica, aquela que a bisa deles cozinhava em casa. As delícias das ruas recompensam os comedores aventureiros com experiências culinárias honestas, abundantes e picantes. Viajar também significa trazer para casa saberes e sabores que não se tinha antes. A cozinha, por exemplo, é um lugar onde se pode viajar sem ter que sair de casa.
      Keep Walking e Feliz Natal!

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  5. 1) Muito boa a descrição da cidade. Fiquei pensando o porquê do nome?

    2) Será que Cristóvão Colombo andou pelo Oceano Índico?

    3) No mais, bom fim de semana a todos (as).

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 09:56

      Antonioji
      Digamos que foram outros navegadores os responsáveis pelo nome da cidade. Durante os séculos XV e XVI o Reino de Kotte dominou a ilha a partir da sua capital, a cidade de Kotte, que distava algumas dezenas de quilômetros de um excelente porto marítimo - um imã para marinheiros e conquistadores!- chamado pelos nativos de "Kolomthota" mas apelidado pelos comerciantes árabes de “Kalamba”. Quando os portugueses chegaram à ilha derrotaram os reis de “Cota” mas preferiram, durante cento e cinquenta anos, mandar e desmandar à beira mar e investiram na cidade de “Colombo”. Até que os holandeses, aliados do Reino de Kandy, acabaram com a festa, pá.
      Hoje Kotte é um subúrbio de Colombo mas divide com ela o título de capital.
      Abração e Feliz Natal!

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  6. Alexandre Sampaio04/12/2018, 08:24

    Pimentel,
    Parabéns por mais uma leitura agradabilíssima com informações a respeito do Sri Lanka, seu sistema educacional, mercado de trabalho e costumes que você aborda a partir de suas interações com o povo. Se não for pedir muito gostaria de saber porque a simpática capital da ilha tem o nome de Colombo.

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 10:02

      Sampaio,
      Colombo realmente não tem um skyline como os de Dubai, Pequim, Tóquio, Hong Kong, Kuala Lumpur e/ou Singapura. Não é bela mas é “lovable”, uma palavra muito usada naquelas paragens (rsrs) Com relação ao porquê do seu nome as explicações já foram tecladas acima para o Antonio. Fico satisfeito que esteja apreciando a franquia, agradeço-lhe pela leitura fiel ao longo de todo o ano e, como vou precisar me ausentar das conversas por algumas semanas, aproveito para desejar a você e aos seus um Feliz Natal.
      Abração

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  7. Francisco Bendl04/12/2018, 11:00

    Pimentel não só viaja pelos sete mares, mas pesquisa, tira fotos, aprofunda-se nos conhecimentos sobre os países visitados.

    Não é um mero turista, que somente compra, aproveita o local e vai embora, sem sequer saber o nome do local por onde andou.

    Pimentel é um especialista em viajar, pois a sua intenção é conhecer o mundo, as pessoas, usos e costumes da localidade, um sujeito interessado em curtir o roteiro, mas também aprender, aumentar o que sabe sobre este planeta, e nada melhor do que a sua forma de saciar a sua curiosidade é botar a mochila nas costas e ... prá quem fica, tchau!

    Depois, ainda divide conosco o que viu, o que constatou, o que lhe chamou à atenção, querendo compartilhar com seus amigos e conhecidos as suas conclusões, e nada melhor do que postá-las no Conversas do Mano, um oásis cultural e blog extraordinário.

    Eu sabia que a capital de Sri Lanka era Colombo, pois gosto muito de saber as capitais dos países, tenho esta predileção e nem sei os porquês dessa obsessão, mas jamais colocaria no meu roteiro esta ilha e sua capital, e não por preconceito ou desprezo à nação e seus habitantes, longe disso, mas em razão de eu preferir outras opções de diversão e aprendizado, tais como, viajar pela Transiberiana, ir de Pequim a Lhassa, no Tibete, conhecer a Mongólia e sua capital, Ulã Bator, e perambular por Cabul, Islamabad, Katmandu.

    Sendo eu absolutamente franco, eu abriria mão de ir para a França, Itália, Espanha, Alemanha, para conhecer esses países que citei, e conhecer suas histórias, seus modos e costumes, seus meios de transporte, diversões e alimentação.

    Mas, não me concedi essa chance, a não ser ter ido ao Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile a serviço, até porque ao lado do RS, com exceção do Chile e Paraguai que não fazem divisa com os gaúchos.

    Dito isso, mais uma vez reverencio este trabalho de Pimentel, as suas observações como viajante, seus objetivos pessoais nessas andanças, pois as considero úteis e bem-vindas, haja vista me conceder a oportunidade de conhecer lugares que jamais eu me deslocaria, logo, amplio meus arquivos com estas obras valiosas do meu amigo Pimentel.

    Abração.
    Saúde e paz.

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    1. Moacir Pimentel05/12/2018, 10:06

      Prezado Bendl,
      Eu sempre quis conhecer a Ásia e foi uma grande alegria lá chegar em setembro de 1979. Note que em dezembro, as tropas soviéticas entraram no Afeganistão acabando com o meu sonho de visitar o país. No Paquistão, é claro, os ânimos também estavam muito "islamizados” de modo que me dei por satisfeito de perambular, nessa primeira viagem, por Bangladesh, o Nepal, toda a Índia - passei seis semanas bem “mongólicas” na Caxemira – e Sri Lanka. Sim, a minha intenção ao botar o pé na estrada é experimentar o vasto mundo e sim é bom demais botar a mochila nas costas, dar a mão à minha companheira de jornada “e ... prá quem fica, tchau!”(rsrs)
      Muito obrigado pela leitura e os belos comentários e que o seu Natal ao lado de sua família seja pleno de amor, saúde e paz.
      Abração

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  8. Flávio José Bortolotto05/12/2018, 20:12

    É sempre prazeroso acompanhar o excelente Escritor Sr. MOACIR PIMENTEL em suas viagens. Como bem dizem os Colegas acima, o Sr.MOACIR PIMENTEL estuda a História, a Geografia, mas especialmente observa e convive com o POVO do País, se inserindo plenamente dentro de sua Cultura.
    E no caso de Sri Lanka ( Ilha Abençoada ), Ilha onde se encontraram diversos Povos, e que tiveram o efeito do domínio Português, Holandês e Inglês, até a independência em 1948, e cuja População multi-étnica soube com Riqueza semelhante a grande Índia ao lado, graças a uma excelente Educação, Limpeza e Higiene, e seguramente uma melhor distribuição de Riqueza e Renda, souberam dar um Bom Padrão de Vida a seu Povo, especialmente em comparação com a Índia a seu lado, onde o Sr. MOACIR PIMENTEL nos diz que os contrastes são muito grandes.

    As fotos que acompanham os Artigos, enriquecem muito o conteúdo.

    Muito Obrigado e Abração.


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    1. Moacir Pimentel06/12/2018, 11:01

      Prezado Bortolloto,
      Fiquei feliz de ler que você ainda está a bordo e apreciando a viagem que se estenderá por outros temas desde as influências dos colonizadores portugueses e holandeses nas diversas paisagens culturais às riquezas arqueológicas e naturais de Sri Lanka.
      Por oportuno - já que estou prestes a me desconectar e iniciar três semanas de férias - quero desejar a você e seus familiares um Feliz Natal. Muito obrigado pelos seus comentários que tanto enriquecem nossas conversas.
      Abração

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