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10/06/2019

Natureza

fotografia de Heraldo Palmeira


Heraldo Palmeira
A tarde começando a cair e a algazarra dos pássaros anunciando a noite chegando. Da minha janela, uma criatura docemente barulhenta (periquito, maritaca, periquitinho, periquitinho-de-vassoura, periquitinho-santo, periquito-de-asa-azul, periquito-miúdo, periquito-real, periquito-rei, periquito-de-santo-antônio, periquito-de-são-joão, periquito-do-espírito-santo, periquito-santo, caturra, tuim, tuimaitaca, maitaca-de-cabeça-vermelha, bate-bunda, bate-cu, caturra, coió, coió-coió, cu-cosido, cuiuba, iú-iú, miúdo, quilim, tabacu, tapa-cu, tapacum, tiú, tuí, tuietê, tuitiri, tuitirica, tuý ­-tuí, tuiuti...).
Ele domina a cena na cumeeira do vizinho e tira a terreiro outro da espécie que está instalado na árvore em frente. Zoada grande!
Por incrível que pareça, estou no meu recanto nas Perdizes, em São Paulo – a décima maior cidade do mundo, a maior do continente americano, dos países que falam português e do hemisfério sul –, onde me vejo numa transversal do tempo com Acari, a cidadezinha do interior do Nordeste onde nasci.
Devo estar comprovando o gracioso dito popular _eu deixei o mato, mas o mato não me deixou_. Claro, sentindo grande felicidade. E certo de que somos quem somos em qualquer pedaço do mundo, ainda tenho a sorte de viver numa rua cheia de árvores, onde é possível receber este tipo de visita todo fim de tarde. Meu único trabalho é ficar a postos na janela.
(Heraldo Palmeira, aluno do mundo)


9 comentários:

  1. Flávio José Bortolotto12/06/2019, 09:11

    Prezado Autor Sr. HERALDO PALMEIRA,

    É tão bom saber que na maior metrópole do Hemisfério Sul, Bairro Perdizes São Paulo-SP temos boa quantidade de árvores e algazarra alegre de pássaros no final da tarde.
    Desde Acari-RN ( A cidade mais limpa do Brasil ). Parabéns aos 12.000 Conterrâneos de Vossa cidade Berço, e também a gigantesca São Paulo-SP Vossa atual residência, pela arborização.

    E que joia de pequena Crônica tão bem escrita pelo Sr. HERALDO PALMEIRA completada por linda foto de um Periquito-de-asa-azul do mesmo Autor.

    Abração.

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    1. Heraldo Palmeira19/06/2019, 00:06

      Obrigado, Flávio. Sim, nas Perdizes temos algo incomum para a selva de pedra, a vida passa mais macia. Abraço.

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  2. Francisco Bendl12/06/2019, 17:16

    Palmeira,

    Tu me fizeste lembrar quando fui taxista em Porto Alegre por oito anos.

    O meu ponto era na esquina de uma das ruas mais importantes do bairro Menino Deus, a José de Alencar, com suas palmeiras dividindo os lados das ruas desta avenida em quase toda a sua extensão.

    Pois havia épocas, que bandos de papagaios - isso mesmo, papagaios - desciam do Morro Santa Teresa para pousar nessas árvores.

    O barulho era ensurdecedor.
    Algazarras, brigas, "bate-bocas", um interminável currupacopaco, que nos encantava.

    E, ai daquele que tentasse capturar uma dessas aves espetaculares:
    prisão na hora!

    Em se tratando de capital de um Estado desta Federação, logo, movimentada, uma certa poluição, o som dos carros, buzinas, freadas, arrancadas nas sinaleiras (faróis), nada perturbava o bando de papagaios, que se divertia, acasalava-se, saia no pau um com o outro, voos rasantes e espetaculares, um quadro um tanto quanto irreal da Natureza em seu esplendor, em relação à selva de pedra onde também era o ecossistema dessas aves maravilhosas.

    Legal, Palmeira.

    Parabéns pela singeleza da crônica.

    Abraços.
    Saúde.

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    1. Heraldo Palmeira19/06/2019, 00:10

      Bendl,
      Saudade de Poa, de Menino Deus. É interessante deparar com a natureza resistindo em lugares tão improváveis. A sua experiência com os papagaios se repete em muitos lugares com outras espécies, como é o meu caso aqui. Sempre ouço dizer que os pássaros aparecem apenas onde a natureza está mais equilibrada. Que seja. Abração.

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  3. Olá Heraldo,
    "Saí do mato mas o mato não saiu de mim". Agente vai misturando tudo ao longo dos dias e acaba sendo corpo e alma e natureza, planta e pássaro, asfalto e terra vermelha. E acaba poeira.

    Sou parte planta.
    Tenho raízes fortes
    calcadas no afeto.
    Sou mulher-mãe,
    irmã, avó e tia.
    Já fui filha.
    Preciso da seiva
    E do sol.
    E da noite para respirar.
    Tomei chuva
    E fiquei viçosa.

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    1. Heraldo Palmeira19/06/2019, 00:50

      Ana,
      Talvez de tanto viver, vamos descobrindo na poesia que nos tornamos tudo, quase tudo, um pouco de tudo. É o jeito de ir indo, de não virar quase nada.

      Quando chega o tempo da maturidade, onde os grandes dramas - que criamos na juventude para nos ocupar em adivinhar o futuro - se revelam sem graça, aí descobrimos que as pequenas coisas que desprezávamos têm enorme valor. Será isso que nos faz redescobrir a natureza que largamos na infância?

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  4. 1) Aves lindas e maravilhosas; Ter esta companhia ai em Sampa é ser muito abençoado.

    2) Parabéns Palmeira.

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    1. Heraldo Palmeira19/06/2019, 00:52

      Antonio,
      Não sei se tenho algum merecimento, mas não se iluda: abuso do aproveitamento de tamanho espetáculo. Obrigado.

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  5. Lea Mello Silva08/07/2019, 08:58

    Heraldo

    Só agora li este texto e me encantei !!
    Como vc também gosto de aves e tenho na varanda uma vasilha com mamão e banana todos os dias
    Além da água doce pros beija flores!
    Coloco uma banheira de água e todos gostam de tomar banho
    Me divirto vendo estas pequenas aves !
    Tem sabiás sanhaço bem-te-vis
    Moro na serra um bairro de BH que fica perto do parque das Mangabeiras e me sinto privilegiada por usufruir destas pequenas maravilhas
    Li sua crônica das festas juninas hoje e gostei muito das lembranças e músicas que complementam estes meses
    Um abraço agradecido pelas lembranças que me proporcionou

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