fotografia Moacir Pimentel |
Helene Hanff amava uma Londres
especial, de sonho, literária, difícil de alcançar. Nas suas cartas para o
culto livreiro britânico Frank Noel, a moça pedia:
“Fale-me da Inglaterra. Sonhei com Londres por tantos anos! Costumava
assistir filmes ingleses somente para olhar para as ruas. Eu quero subir até
Berkeley Square e descer a rua Wimpole e depois quero sentar naquele degrau no
qual Elizabeth sentou-se quando se recusou a entrar na Torre”
Frequentemente mencionada por Helene, eis a Torre de Londres, branca e
quadrada, cuja construção foi iniciada pelo rei normando invasor Guilherme, o
Conquistador , em 1066. Ela já foi o lar de reis e rainhas, abrigou casernas
para soldados e arsenais de armas e explosivos e, é claro, serviu como prisão e
local de execução para muitos homens e mulheres. Muitos desses condenados
entraram na Torre através do Portão dos Traidores.
fotografia Moacir Pimentel |
Diz Dona Lenda que a Torre de Londres tem uma extensa coleção de
moradores permanentes além dos seus guardiões cerimoniais, os Yeomen Warders, aqueles guardas de uniformes anacrônicos, também conhecidos como Beefeaters - ou Comedores de
Carne de Boi – que sempre foram responsáveis por cuidar dos prisioneiros e dos
corvos, proteger as jóias da coroa britânica e, last but not least, desde os tempos vitorianos, guiar os visitantes
sem noção (rsrs)
Não se sabe ao certo porque eles são chamados de “comedores de carne de boi”. Talvez provar a comida do rei fosse uma das
suas tarefas ou - quem sabe? - tenham sido alimentados com carne de boi para
que se mantivessem fortes. O certo é que eles formaram a primeira guarda real do
vasto mundo: cem homens especialmente treinados para defender o Rei com as
próprias vidas. E atenção: não é fácil ocupar tal cargo!
fotografia Moacir Pimentel |
Ele é reservado para militares aposentados das Forças Armadas, agraciados
com pelo menos uma medalha de honra ao mérito. Há valentes anos atrás fizemos
com nossos filhos a tal visita completa, guiados por um desses senhores e
ouvimos lendas surpreendentes como, por exemplo, aquelas que tentam explicar a
presença dos corvos de estimação na Torre de Londres, uma tradição imexível que
pode ser resumida da seguinte forma:
“Se os corvos deixarem a Torre de Londres, a Coroa cairá e com ela a
Grã-Bretanha “.
Só que ninguém sabe ao certo quem fez tal profecia. Uma das lendas mais
antigas que linka a Torre a um corvo é celta de origem e narra a batalha de um rei
dos bretões de nome Bran, contra o
líder irlandês Matholwch. Vitorioso
mas ferido de morte Bran pediu a seus
seguidores que cortassem sua cabeça e enterrassem-na na Colina Branca - onde depois seria erguida a Torre - voltada para a
França como um talismã para proteger a Grã-Bretanha das invasões estrangeiras. Muito
bem. Mas cadê o corvo da história? Sucede que o nome do rei, “Bran”, é a palavra galesa para “raven” ou seja, corvo em inglês.
Porém essa narrativa não explica a presença de corvos na Torre. Tudo bem
que corvos selvagens, faz muitos séculos, tenham sido atraídos pelo cheiro dos
cadáveres dos inimigos da Coroa ali executados. A execução de Ana Bolena em
1535, por exemplo, é assim descrita:
“Mesmo os corvos ficaram em silêncio e imóveis nas ameias da Torre
observando a cena estranha. Uma rainha estava prestes a morrer!”
Duas das mais coloridas versões da saga dos corvos, rolam no reinado do
rei Carlos II. Dona Lenda jura de pés juntos que belo dia o então astrônomo real,
John Flamsteed, reclamou que os corvos selvagens voando continuamente diante do
seu telescópio tornavam-lhe muito mais difícil a tarefa de observar o céu lá do
observatório no alto da Torre Branca. Flamsteed pediu a Carlos II que as aves
fossem caçadas, mas o pragmático rei , receoso da profecia, recusou-se a
exterminar os corvos determinando, em vez, a transferência do observatório e do
amigo astrônomo para Greenwich.
De acordo com outra variação do mesmo tema, os corvos de estimação teriam
se mudado para a Torre após o Grande Incêndio de Londres, em 1666, quando,
durante três dias, a parte medieval da cidade no interior da antiga muralha
romana esteve em chamas e dezenas de milhares de londrinos ficaram desabrigados.
O fogo quase atingiu o Palácio de Whitehall, a residência de Carlos II,
localizado em Westminster.
O certo é que a cidade viveu o caos e ficou indefesa diante da pilhagem
que passou a ser cometida por homens e animais famintos como porcos, gatos,
cães e uma grande quantidade de corvos selvagens. O rei ordenou a extinção dos
roedores e dos corvos, para evitar as pragas que poderiam se espalhar. No
entanto, mais uma vez receoso da profecia e convencido que seria um mau
presságio matar todos os corvos, decidiu poupar uma dúzia que, sob seu comando
e supervisão, desde então passaram a viver e a se reproduzir na Torre.
Corvos da Torre de Londres - imagem Wikipedia - Wikimedia Commons |
Porém muita gente boa conta que, em vez, um erudito bardo, de nome Iolo
Morganwg, um galês que também foi um notório falsificador, convenceu os Condes
de Dunraven através do uso de papéis falsos de que o seu castelo em Glamorgan
era a terra natal do acéfalo rei Bran e eles da sua estirpe, levando-os a enviar
corvos à então Rainha Vitória, em 1883, como uma espécie de reivindicação
espiritual à Torre e solicitando à soberana que os mantivesse por lá. Desde
então os guardas reais teriam passado a mencionar os pássaros em seus contos
góticos e sangrentos, para dramatizá-los ainda mais, pintando o local para seus
visitantes como uma casa de horrores.
Mas a parte mais estranha e mais interessante dessa múltipla história é
que até hoje seis magníficos corvos - e mais um de reserva! - especialmente
selecionados e criados são mantidos na Torre de Londres e tratados como
realeza, embora com as asas cortadas. Pode parecer uma bobice imensa mas
naquelas paragens realmente se acredita que a coisa vai ficar preta para o
reino se os corvos abandonarem as velhas muralhas (rsrs)
Entre os habitantes humanos da Torre de Londres, a mais notável foi Ana
Bolena, a rainha dos mil dias e segunda esposa do rei Henrique VIII. Ele deixou
de querê-la quando a moça não conseguiu dar-lhe o herdeiro varão, que almejava tanto
que resolveu se livrar da mãe de sua filha, acusando-a de adultério. Embora a
maioria dos historiadores concordem que Ana era inocente, o rei aprisionou e
executou a moça de qualquer maneira. E a prova? Dizem que um lenço esquecido
por ela em um evento foi apanhado pelo suposto amante - um dos cortesãos de
Henrique - e beijado reverentemente antes de ser devolvido à rainha. Foi o
bastante.
A vítima mais trágica e inocente da Torre, no entanto, foi a protestante
Lady Jane Gray, a prima adolescente que Eduardo
VI - o filho de Henrique VIII com sua terceira rainha de nome Jane Seymour – nomeou
como herdeira, negando o trono às suas duas meia-irmãs: Mary, a filha da
católica Catarina de Aragão, e Elizabeth , a filha da bela Ana Bolena. Sucede
que após a morte do menino rei, aos quinze anos, a sua meia-irmã mais velha que
entrou para a História como a Bloody Mary
- em livre tradução a Maria
Sanguinária - simplesmente não aceitou a sucessão.
Por nove dias, Lady Jane Gray foi considerada como rainha da Inglaterra,
mas antes de sua ascensão ao trono Maria já havia reunido apoiadores
suficientes para convencer o Parlamento a declará-la rainha. Como resultado
Jane foi trancafiada na Torre apesar de não ter qualquer intenção de lutar pelo
trono nem desejar ser rainha. E meses depois essa cristã protestante, de apenas
dezesseis anos, foi decapitada.
Last but not least os guardas da Torre - cidadãos acima de qualquer
suspeita! - através dos séculos têm relatado encontros com fantasmas de linhagem
real e/ou nobre, como Ana e Jane e os dois jovens filhos do rei Eduardo IV, que
muitos acreditam terem sido assassinados por seu tio, que assim se tornou o rei
Ricardo III.
fotografia Moacir Pimentel |
Na verdade a escritora Helene Hannf não tinha interesse na Torre mas sim
uma fascinação pela primeira rainha Elizabeth e, nos seus escritos, falou dela
como se de uma amiga de infância. Helene nos fala de como a princesa via o
mundo quando jovem e de como muitos conspiraram em vão para impedir que a filha
de Ana Bolena e Henrique VII subisse ao trono da Inglaterra.
Quem ainda se recorda das antigas aulas de história há de lembrar que a
então princesa Elizabeth foi acusada pela Bloody Mary de traição e interrogada
em Whitehall por supostamente ter participado da conspiração que entrou para a
história como a Rebelião Wyatt contra a então católica rainha, sua meia irmã.
De Elizabeth foram afastados os servos e conselheiros, a ela não foi
permitido falar com a Rainha e foi assim, sozinha e aterrorizada, que a moça enfrentou
o velho e experiente interrogador Stephen Gardiner, o poderoso Bispo de
Winchester e Lorde Camareiro de Mary, descrito como “ambicioso, esperto, vingativo e sanguinário”. É claro que a princesa
não recebeu qualquer migalha de simpatia desse senhor, além da autorização para
escrever uma carta à irmã, protestando sua inocência e lealdade.
Essa longa carta, que é considerada um dos documentos mais importantes
da História inglesa, tem firmes traços diagonais de tinta unindo as linhas de
palavras, sugerindo que a jovem princesa temia que adições falsas, capazes de
incriminá-la, pudessem vir a ser feitas nas partes em branco do papel.
Foi-lhe dito então que ela seria transferida de Whitehall para a Torre
de Londres, o castelo mais temido da Inglaterra cuja história sangrenta ela bem
conhecia. Afinal sua mãe, sua tia Catherine Howard e sua prima Jane Gray lá
haviam sido decapitadas e enterradas sem as cabeças que, fincadas em mastros,
alimentaram os corvos selvagens na Ponte da Torre. Como os prisioneiros da
Torre raramente saíam de lá vivos, Elizabeth deve ter acreditado que seria
executada.
Diz Dona História que ela foi levada de barco para a Torre debaixo de
uma chuva torrencial e informada de que deveria entrar pelo Portão dos
Traidores. Indignada, ela recusou-se e sentou-se no tal degrau. Aos vinte e um
anos, ela defendeu-se com tal veemência que convenceu a guarda real encarregada
de vigiá-la e, em seguida, o povo inglês da sua inocência:
“Aqui desembarcou e se encontra prisioneira uma súdita leal e verdadeira
de Sua Majestade. Diante de Vós, ó Deus, que outro amigo não tenho, declaro que
não sou traidora”.
Sim, a gente se emociona na Torre de Londres mas ela, sempre à beira do
Tâmisa, não é mais a mesma. Ao seu lado hoje moram, imponentes, outras torres
só que de aço e vidro espelhado, belos trabalhos de arquitetura contemporânea capazes
de encarar com brio suas grandes contrapartes históricas: a Torre e a Ponte da
Torre. O Gherkin, por exemplo, do alto de seus já ultrapassados quarenta
andares, pode ser visto como um casamento da tradição com a modernidade.
fotografia Moacir Pimentel |
Essa visão pós-moderna do arquiteto Norman Foster, concluída em 2003 após
apenas dois anos de construção, tinha que ter um design verdadeiramente
especial para ganhar os corações e as mentes dos habitantes de uma cidade com
tanto orgulho da sua arquitetura histórica. Londres, mais uma vez, apostou no
futuro que tanto tempo faz foi personificado por uma nova rainha de apenas
vinte e cinco anos que, mesmo na sua desventura, enquanto passava pelas ruas
era aclamada pelo povo.
A história inglesa remonta a milhares de anos, e é isso o que torna
Londres tão atraente. Pode-se ir, em um piscar de olhos, desse modernoso
edifício, vulgo “Pepino”, até o número 17 do Gough Square, subir as escadas e
visitar a modesta casa e território sagrado para os que amam as pretinhas, onde
Samuel Johnson compilou seu “Pai dos Burros” em inglês no ano de 1755. Será que
ao chegar a Londres, Helene Hanff se perguntou, como eu, quem viveu nessas
muralhas romanas, quem se abrigou do frio nessas moradias elizabetanas, cada
vez mais sitiadas pelos aço e concreto e vidros espelhados?
fotografia Moacir Pimentel |
Nessa cidade de oito milhões de habitantes, o futuro e o passado estão
constantemente sobrepostos. Note que mesmo nos enclaves mais romanos e
elizabetanos da cidade, como a Torre, o design moderno rasga o horizonte: é o
caso de outro edifício, o Shard de Renzo Piano, do outro lado do rio.
Na foto ele dá o longo ar da graça dele no fundo da foto entre a muralha
original que circundava a cidade fundada pelos invasores romanos e as moradias
elizabetanas, nos fazendo lembrar que Londres foi, é e será sempre o cenário de
muita ação. Veja ainda à esquerda da foto o estranho prédio da “Municipalidade”
- a Prefeitura da cidade - que não tem nick mas poderia ser apelidado de Colmeia...(rsrs)
Que tal fazer um pausa antes de continuarmos o passeio? Até lá, então...
Que artigo interessante, Moacir! Quase todas as informações que eu tenho sobre Londres, a Torre e os reis e rainhas da Inglaterra são de filmes que assisti kkk Adorei A Outra, sobre as irmãs Ana e Maria Bolena. Lógico que não é para se acreditar ao pé da letra nas coisas da televisão e do cinema, mas lembro que Ana foi acusada de traição e incesto com o irmão. Segundo o filme ela não foi mas pensou em ir para a cama com ele para poder dar ao marido um herdeiro homem. Gratíssima por maiores esclarecimentos!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirPenso que no filme a rivalidade entre as lindas irmãs Natalie Portman e Scarlett Johansson é narrada de um jeito meio maniqueísta, ou seja, uma é morena e mazinha, a outra é loura e boazinha, a primeira seduz o rei enquanto a segunda, grávida, estava confinada ao leito. Mas o pior é o filme pretender que acreditemos que o rei - que teve inúmeras amantes, seis esposas e seis filhos! - era "galinha" e impotente a um só tempo (rsrs)
Já quanto as acusações de traição e incesto contra Ana Bolena o que sei é que foram baseadas não em evidências mas em um lenço, um poema anedótico e as fofocas de uma dama de companhia, a Condessa de Worcester que - dizem! – por uma dessas coincidências da vida era amante de Thomas Cromwell, o maior desafeto político da rainha.Tudo começou quando em uma discussão com um leal súdito do rei a tal condessa deixou escapar que não era nem mais nem menos namoradeira que a rainha. Pronto! Pressionada e dizem que instruída ela acrescentou que ouvira Ana repreendendo Sir Henry Norris por ir muitas vezes a seus aposentos alegadamente para namorar uma das suas damas, mas na verdade com intenção de cortejá-la. Norris foi preso de imediato e em seguida Sir Francis Weston e Sir William Brereton. Os últimos a serem levados para a Torre foram o irmão da moça e o músico Mark Smeaton, o único a confessar que se relacionara sexualmente com Ana Bolena pois, como não pertencia à nobreza, pode ser barbaramente torturado.
A maioria dos historiadores modernos alega que rumores e não provas, forneceram o pretexto legal para que Henrique VIII se livrasse de mais uma de suas mulheres, refuta a hipótese do incesto fraterno mas concorda que Ana “provavelmente” flertava com Henry Norris . Apostam que o rei acreditou no affair da mulher com Norris e que, na impossibilidade de provar esse adultério e já de cabeça virada por Jane Seymour, simplesmente deu de ombros permitindo que a mulher e cunhado fossem acusados de incesto.
Por que? A resposta é simples: essa mulher fria, ambiciosa e inteligente, que havia esperado tanto tempo para ser rainha, jamais arriscaria tudo, seu pescoço inclusive, para se divertir pulando a cerca com um pelotão de nobres dentro do palácio real. Portanto o irmão era o único homem com livre acesso aos aposentos dela e o único com quem ela estivera a sós, sem a presença de suas damas. Dona História não coloca Ana Bolena em um pedestal, nem acredita que tenha sido santa mas sim vítima de uma sórdida luta política e de um rei obcecado pela necessidade de ter um herdeiro varão para dar continuidade a sua dinastia.
"Obrigado" e abração
Moacir,
ResponderExcluirEu não sabia que Helene admirava a primeira rainha Elizabeth. Fiquei toda contente porque você hoje escreveu sobre a Torre de Londres um lugar que eu visitei com um guia excelente que contou com detalhes pavorosos todas as traições e execuções, falou sobre os corvos e nos levou para ver a exposição das joias. Mas depois de dez coroas de brilhantes todas parecem iguais. Amei as lendas principalmente a da mudança do astrônomo para Greenwich que para mim foi novidade.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirHelene Hanff tinha uma grande admiração por Elizabeth e, inclusive, publicou uma pequena biografia de nome A História de Elizabeth I, sem tradução em português. Portanto, visitar a Torre foi um dos pontos altos do roteiro da moça em Londres. Na verdade, a Torre agrada a gregos e troianos, a adultos e crianças, com suas torres, masmorras, caserna, fantasmas, armas, armaduras, joias, corvos e demais animais. Sim porque em 1235, Henrique III ganhou três leões de presente de Frederico II, o então imperador do Sacro Império Romano. Os bichos inspiraram o rei a ter um jardim zoológico na Torre que ele apelidou de “Menagerie”. Com o tempo, a coleção cresceu chegando a ter um urso polar e até um elefante africano mas no começo do século XIX teve fim. Sucede que em 2010 a escultora Kendra Haste foi contratada para criar treze esculturas de arame - uma família de leões, um urso polar, um elefante e uma trupe de macacos – que hoje moram onde moraram seus ascendentes.
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/69/2.Haste-Lion_Installation_at_the_Tower_of_London.jpg/690px-2.Haste-Lion_Installation_at_the_Tower_of_London.jpg
De resto a velha Torre, como a Ponte sua vizinha, nos remete às sombras e aos ecos e às cores do passado renascentista, ao farfalhar dos vestidos, ao barulho das armaduras, ao grasnar dos corvos, aos nomes dos prisioneiros entalhados nas paredes das masmorras e à sensação de que na periferia das nossas visões estão nos espreitando a traição e os ratos (rsrs) Também prefiro estar ao ar livre clicando as belezas circundantes e acho que se perde muito tempo com a exposição das quinquilharias mas como o ingresso é caro a gente meio que se sente obrigado a cumprir o ritual turístico completo (rsrs)
Outro abraço para você
Minha mãe costuma dizer que o mundo não perdoa mulher bonita, homem bem sucedido e casal feliz, rs. Deve ser por isto que entre as 'lendas' da Torre de Londres a cultura pop elegeu como sua favorita a história triste de como a linda Ana Bolena perdeu a cabeça primeiro metaforicamente pelo rei e depois literalmente para o carrasco. E não dá valor aos feitos de Elizabeth, uma mulher feia e solteira mas que governou com sucesso e criou a Inglaterra que nos presenteou com Shakespeare.
ResponderExcluir...
Márcio,
ExcluirNinguém assiste filmes e séries com a expectativa de que sejam historicamente corretos. Viva a cultura pop e o entretenimento! Além disso se a gente começa a ver e ouvir coisas muuuuitos estranhas sempre pode ir conferir nos velhos e bons amigos livros. Foi o caso da série dos Tudors, por exemplo, que acompanhamos da primeira à última temporada apesar dos inúmeros furos históricos inclusive o da troca de Papas: na trama o Peter O'Toole fazia o papel do Papa Paulo III em vez de representar Clemente VII, que foi quem na real declarou ilegal a anulação do casamento de Henrique VIII com Catarina de Aragão e nulo o seu posterior casamento com Ana Bolena e, de fazê-lo, criou a Igreja Anglicana (rsrs)
Aqui entre nós e baixinho fiquei com a leve impressão de que a senhora sua mãe é deliciosamente machista (rsrs) Mas não exageremos. Um filme “pop” que também reescreve a história segundo sua própria conveniência mas que dá gosto de ver é Elizabeth. A Cate Blanchett realmente convence enquanto evolui de garota ingênua e teimosa e desatenta para uma estrategista inteligente que se safa muito bem da perseguição do catolicismo fundamentalista armado pela Inquisição e apoiado pelo Vaticano. O fato é que a moça governou muito bem.
Pense na peça que Shakespeare poderia ter escrito sobre essa mulher que afirmava que “não precisava de um marido estrangeiro nem teria um dono”. Pena que então os plebeus não tivessem permissão para inventar personagens a partir dos monarcas reinantes. Aposto que o Bardo se aposentou muito frustrado com tais limitações (rsrs) Obrigado por participar.
Olá Moacir,
ResponderExcluirBela aula de leitura fácil e agradável. E exigente, dessas que a gente tem que esperar o momento certo para ler porque não nos permite parar. Nem para retomar o fôlego!
O que dizer das fotos? Belas também.
A cada post dessa franquia fico sabendo história e conhecendo Londres. Para quem nunca lá esteve é tudo muito precioso. E para quem já foi, preciosismos interessantes.
Com muito sangue e cabeças rolantes. Poder e traição. Esse negócio de reis e rainhas é muito complicado. Mas...o complicado é o ser humano, sem importar quando e onde.
E para continuar o cultivo de corvos na torre é porque a crença é forte. E o medo maior ainda. Em qualquer outro contexto eles pareceriam bem agourentos com seus grasnidos meio som de lata. Estavam lá em Massada e me pareceram muito maus em meio a tanto silêncio e aridez.
Tradição e modernidade combinam com as minhas idéias londrinas. Assim como as diferentes cores de pele que andam juntas mas não misturadas.
Guetos e racismo existe por lá?
Pergunto porque pensava que não os tinha Lisboa até ver uma reportagem que mostrava umas construções puro cimento vertical sem beleza,sem verde nem nada para os pobres negros e outros estrangeiros. Bem melhores e mais limpos que as nossas favelas. Mas favelas.
A pausa vai ser grande. Mas, fique certo, vou estar no próximo passeio.
Até sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirConcordo que “o complicado é "o ser humano, sem importar quando e onde” mas aponto que através dos séculos, mesmo aos trancos e barrancos e a um custo altíssimo, ele tem inventado as soluções. Quanto aos corvos, eles moram e significam de muitas formas nas nossas imaginações. Já conversei sobre eles em um texto sobre o processo criativo do poema do Poe e das ilustrações feitas para ele por Manet e Doré e Dante Gabriel Rosseti.
Fico feliz de que minhas pretinhas e suas ideias sobre Londres estejam convergindo. Entendo que ela é uma das cidades onde a diversidade tem mais guarida e que por lá o passado e o futuro, a tradição e a modernidade, o Ocidente e o Oriente, todos os tons de pele e todos os sotaques convivem bem.
Quanto ao racismo e aos guetos sempre existiram e sempre existirão. Na t'rrinha e nessa última década de crise mundial o problema talvez nem seja a cor da pele e/ou a estranheza da religião, mas o número dos emigrados e refugiados e o fato deles disputarem empregos, tetos, assistência médica e seguridade social com os nativos.
Note que a nossa espécie evoluiu do reino animal encarando como suspeita qualquer coisa que se desviasse do padrão. Desde os primórdios temos sido uma esquerda evolutiva, uma ancestral versão do "nós versus eles". Em vez de buscar as semelhanças, o bicho homem foi treinado a procurar pelas diferenças e assim identificar os "inimigos" e defender o território, a prole, a tribo e os estoques. Jamais seremos capazes de deletar essa tendência dos nossos genes. É instinto. O que podemos fazer é gerenciar a característica separatista e belicosa e trabalhar para que a mente emergente supere o medo do novo e do diverso e para que a razão combata os preconceitos doidos de pedra. O caminho evolutivo passa pelo conhecimento, pela curiosidade e pelas... viagens.
Conto com a sua luminosa presença em todos os passeios e conversas.
“Até sempre mais”
Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirO Escritor e Viajante Sr. MOACIR PIMENTEL. consumado "Contador de histórias via Escrita", com sua pena mágica nos faz viajar juntos pela Londres tão admirada pela Escritora Americana HELENE HANFF ( 84, Charing Cross Road (1970)).
Em especial nesse caso, o complexo da Torre de Londres, de tanta história e tradições.
Entre elas os RAVENS ( Corvos Ingleses), simpáticas aves que em tempos passados também prestaram grandes serviços de "pombos correios".
A exemplo de HELENE HANFF também tenho enorme admiração pela grande POLÍTICA Rainha ELIZABETH I, habilíssima e competente Administradora Pública, que muito fez pela grandeza Político-Econômica da Inglaterra.
Para manter total sua Liberdade Individual, nunca casou, mas usou essa possibilidade com variados Príncipes Europeus ganhando muitas vantagens geo-Políticas para a Inglaterra nesta operação. Para uma Mulher, existe prova de PATRIOTISMO maior que essa? Não, certamente que não.
As belas e expressivas Fotos do Sr. MOACIR PIMENTEL, também enriquecem muito sua Obra.
Parabéns e Muito Obrigado.
Prezado Bortolotto,
ExcluirObrigado pelas boas palavras. Muito me alegra ser percebido por você como “um contador de histórias” mas deixo “ a pena mágica” por sua conta e risco (rsrs) Quanto a Elizabeth I, assino embaixo. No século XVI essa senhora acabou com a tese de que o sucesso feminino consistia em permitir que os homens acreditassem que estavam no comando. E desmentiu Maquiavel sobre o poder morar atrás dos tronos (rsrs)
Ela escolheu suas prioridades em uma época em que para a mulher - imagine uma rainha! - o casamento era a única escolha. Era inteligente demais para se arriscar no leito matrimonial depois de ter sido filha de Henrique VIII (rsrs) A escolha pela solteirice foi corajosa e revolucionária e, a longo prazo, a mais certa para a Inglaterra. Mas acontece que a castidade não faz nenhum bem ao corpo e ao espírito daí as lendas sobre tantos “ favoritos” como Leicester, Raleigh e Essex. Seja lá como foi, seja virgem ou adepta das amizades coloridas o fato é que não deve ter sido fácil o trabalho de Elizabeth.
"Usar uma coroa é algo mais glorioso para os que a vêem do que agradável para os que a suportam", disse ela em seu último discurso ao Parlamento. E Dona História jura de pés juntos que quando ela foi para o andar de cima o anel que colocara no dedo no dia de sua coroação e que usara por quarenta e cinco anos teve que ser serrado para poder ser entregue ao novo rei. Somente assim Elizabeth Tudor foi separada do seu poder.
Abração
Agrada-me sobremaneira a forma como Pimentel relata as suas viagens.
ResponderExcluirNa verdade, o nosso globetrotter não apenas visita as cidades que escolhe, mas as disseca, eviscera, expõe as suas histórias e, como se fosse uma espécie de investigador, ainda nos fala de seus segredos, alguns até mesmo inconfessáveis!
Logo, não encontramos em qualquer outro jeito de se conhecer localidades como faz Pimentel, com seus detalhes, observações, cuidados, meticulosidades, pormenores, de não deixar perguntas sem respostas ou curiosidades não saciadas.
Essa diferença dos relatos que posta com tanta competência e interesse, o distingue das simples leituras que fazemos,pois seus conhecimentos nos ajudam a também fazer parte de suas peripécias mundo afora.
Podemos não estar com Pimentel, mas saberemos os seus passos à procura de novidades em Paris, Londres, Índia ... por onde põe seus pés.
Sim, claro, a isto se chama de compartilhamento, e ter como intenção que outras pessoas saibam além do que encontrariam em pesquisas, por exemplo.
Portanto, como sempre tenho feito, resta-me apenas agradecer o convite para saber de Londres, conhecê-la na intimidade, suas características, belezas, a sua história, e porque se trata de uma cidade absolutamente cosmopolita e verdadeiramente uma das mais importantes deste planeta.
Aliás, a meu ver,uma das três mais importantes do mundo, junto com Nova Iorque e Paris.
Em seguida vem a nossa São Paulo, a locomotiva brasileira, em razão da sua produtividade industrial e termômetro financeiro nacional.
Abração, Pimentel.
Saúde.
Prezado Bendl,
ExcluirAgradeço-lhe pelo elogioso comentário. Para mim o verbo escrever é coisa séria. Por uma simples razão: ao relatar nossas experiências e pensamentos, nossas leituras e impressões estamos, ao fim e ao cabo, narrando a nós mesmos. E eu pretendo fazer isso com seriedade e dignidade. Quanto às viagens o que as torna realmente minhas são as leituras que faço antes, as conversas que tenho durante e a análise que faço de tudo isso depois de as ter realizado. Ver paisagens e cliclar fotos não é da missa nem um terço.
De resto sempre gostei de estudar, de perguntar, de tentar entender, de aprender. E é claro que compartilhar é parte da festa! Senão se perde metade da graça. É como a tal piada do sujeito que naufragou em uma ilha deserta com a belíssima Juliana Paes. Depois de alguns dias pintou um clima e sacumé...rolou. Então o cara, alegando uma “fantasia”, pediu à companheira de desventura que vestisse as calças dele, prendesse os cabelos e rodeasse a ilha por um lado enquanto ele a contornava do outro. Quando eles voltaram a se avistar ele começou a gritar na maior alegria correndo na direção da moça:
“Paulão, mermão, que bom que cê tá aqui! Paulão, cara, adivinha? PEGUEI A JULIANA PAES!! (rsrs)
Abração e saúde para você também
Pimentel,
ResponderExcluirNão acredito que nenhum Comedor de Carne de Boi fosse capaz de contar a história da Torre de Londres melhor do que você acabou de fazer. Apesar de ser meio careta achei muito bacana os edifícios modernos misturados com as construções antigas. Nota dez!
Sampaio,
ExcluirPode apostar que qualquer Beefeater teria narrado bem melhor do que eu pude essa história. Aqueles caras são preparadíssimos e não brincam em serviço. O nosso guia conseguiu a façanha de captar a atenção e de entreter completamente, em 2001, os nossos curumins cujas idades então variavam de quatorze a oito anos. Quanto ao contraste entre o antigo e o moderno tenho mixed feelings: às vezes ele me agrada muitíssimo – é o caso do horizonte londrino – outra vezes me incomoda. Fazer o quê? Não se pode barrar o futuro no baile (rsrs)
Obrigado e abração
1) Ótimas fotos, texto brilhante.
ResponderExcluir2) Seu título me fez lembrar de um filme espanhol antigo. É também um ditado popular daquele país:
3) "Cria corvos e eles te furarão os olhos".