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16/08/2019

Peripécias de um casal de idosos

Gato no petshop - autor 玄史生 (Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported license)


Francisco Bendl
Faz algum tempo que eu a Marli pensamos em sair de Rolante, e morar mais perto dos filhos.
Dois na capital e um na cidade de Osório, o médico, cuja esposa é enfermeira e leciona na faculdade local.
Sentimo-nos pontas soltas longe de nossos amados.
Olhamos casas primeiro em Porto Alegre, inúmeras.
Afora o custo da mudança e o valor dos aluguéis, o problema das casas em condomínios fechados é a escada, pois a maioria absoluta é de sobrados.
Para quem já é velho, eis um obstáculo intransponível.
A solução seria apartamento.
No entanto, eu preferiria enfrentar as escadas que morar embaixo de alguém que sapateia, faz barulho à noite, usa de furadeira fim de semana, a mulher quando coloca sapatos de salto alto chega a doer no coração pelo toc  toc toc, no piso.
Mais:
O alto custo do condomínio que, muitas vezes, empata com o valor do aluguel.
Desta forma, somando as contas, afastamos Porto Alegre de nossas pretensões.
Para onde, então, iríamos eleger a nova cidade onde iríamos residir?
Osório!
Lá mora o nosso filho mais velho, médico, que nos ajuda volta e meia quando precisamos desta atenção específica.
E demos início ao périplo de escolher uma casa.
Os aluguéis eram mais caros que Rolante.
Empecilho:
Exigiam fiador.
Expliquei que o fiador é uma figura mitológica, tornou-se uma lenda, um mito.
Perguntei se era só esta modalidade de se alugar um imóvel?
Disseram-me que restava o seguro fiança.
Mais uma vez mencionei que a Porto Seguros levou o seu maior acionista à classificação de um dos homens mais ricos do Brasil, dono de uma fortuna estimada em mais de cinco bilhões de dólares!
O valor que é cobrado do aluguel, de um e meio a dois meses por ano, é um dinheiro que não fica para o inquilino, para o dono do imóvel e tampouco para a imobiliária.
As empresas me alegaram que era assim que trabalhavam, portanto, se eu estava interessado em alguma casa, eu teria de me submeter às suas regras.
Continuei procurando, pesquisando em imobiliárias sem tanta fama que, lá pelas tantas, aceitariam cartão de crédito, por exemplo.
Encontramos UMA CASA MARAVILHOSA, sobrado... sobrado, porém somente os dormitórios eram no andar de cima, e havia um no térreo, que seria inevitavelmente o meu, e também transformado em escritório.
Eu e a Marli olhamos, gostamos, e ficamos de voltar para assinar o contrato depois que o inquilino saísse, e a imobiliária fizesse a vistoria e consertasse o que precisasse de reparos.
Nesse meio tempo, surgiu uma casa térrea, ou seja, sem andar de cima, plana, e mais barata que o sobrado, mesmo com seus luxos e até piscina!
Cancelamos a casa que gostamos, que ainda não tínhamos assinado papel algum.
Dia seguinte, lá fomos nós de novo a Osório pela sexta vez em uma semana. Diga-se de passagem, que esta cidade dista de Rolante setenta quilômetros, ida e volta são cento e quarenta quilômetros percorridos, portanto.
Vimos a casa, era o que queríamos e, mais uma vez, voltaríamos para assinar o contrato depois que a papelada fosse analisada e o crédito aprovado, pois seria na mesma modalidade do sobrado, cartão de crédito!
Na volta, eu e a Marli pensamos, e começamos a rever os aspectos negativos de uma casa em uma cidade muito maior que a nossa.
Em Rolante temos segurança;
Pedimos as compras por telefone para o supermercado, que nos traz em casa, recebe o cheque e, ainda por cima, quem vem coloca as bebidas na geladeira!
Caso eu queira ir ao banco, basta eu ligar que vem um atendente e me leva no carro o que preciso, sem eu entrar na agência!
Todas às terças-feiras à tarde, vem um rapaz na sua camionete nos vender verduras, frutas, cebola, tomate, batatas, couve, repolho, abóbora, tempero verde... o que necessitamos, e sem qualquer agrotóxico!
Temos amizades sólidas em Rolante.
Por que deixar tais mordomias e regalias para trás?!
No dia seguinte liguei para esta imobiliária e desfizemos a preferência pela casa!
Nessas alturas, as imobiliárias que ouviam a minha voz já me atendiam com natural má vontade, também, pudera!
Tínhamos desistido de vários imóveis, depois de clamar pela preferência e outra modalidade de aluguel, e conseguido.
Ora, depois cancelar?!
Eis que nos liga outra imobiliária, e com uma proposta verdadeiramente irrecusável:
No prédio onde mora o nosso filho, desocupara um apartamento no andar de cima, no sétimo – ele reside no terceiro andar.
Garagem, três dormitórios, living para três ambientes, cozinha de bom tamanho, área de serviço, e um preço muito interessante.
A surpresa:
Nosso filho e a sua esposa seriam os avalistas!!!!
Ficamos de visitá-lo no sábado retrasado.
Pela manhã, eu e a Marli pegamos o nosso “possante” carro, e nos deslocamos para Osório.
Vimos o imóvel, agradou-nos de pleno, era o que precisávamos.
Combinamos que voltaríamos na segunda-feira para assinar o contrato, pois os documentos eu poderia enviá-los por e-mail.
No mesmo dia, sábado, portanto, liguei para um amigo meu que faz esse serviço, de mudança. O cara é especializado, um excelente profissional.
Expliquei-lhe que seria no sétimo andar, logo, algumas tralhas que temos não subiriam pelo elevador, deveria ser no “índio”, no muque, subindo sete andares pela escada!
O preço que seria cobrado foi estipulado em três mil reais, isso que seria para mim, um amigo(?!).
Um dos três aparelhos de ar condicionado que temos na casa seria vendido para a empresa de mudanças, diminuindo o valor do frete;
Também um fogão de quatro bocas, pois temos um outro, de seis, e seria este que levaríamos para Osório.
Resultado, a mudança diminuiria mil reais, ou seja, eu estava fazendo um ótimo negócio!
A colocação de dois aparelhos de ar condicionado no apartamento, localizado no sétimo andar, lembro, mediante andaime estilo rapel, com segurança e tal, cada um me custaria mil e duzentos reais a instalação, portanto, dois mil e quatrocentos reais;
Não havia cozinha.
A aquisição de uma por mais simples que seja, incluindo balcão e o inoxidável da pia não sai por menos de dois mil a dois mil e quinhentos reais.
Começamos a somar:
Mudança, ar condicionado, cozinha, outras instalações como máquina de lavar roupas, secadora de roupas, máquina de lavar pratos, um tanque, instalação do computador, antena de TV, telefone, Internet... o cálculo beirou dez mil reais!!!
Um dinheiro federal!
Uma soma que eu compraria o que desejo e sobraria troco.
À noite, eu e a Marli deitados um ao lado do outro e, como sempre fazemos, começamos a conversar sobre custos e benefícios desta mudança de cidade.
Em princípio, deveríamos esquecer as mordomias e regalias que mencionei;
Depois, a questão de ser apartamento. Apesar da segurança, me assombrou mais uma vez a lembrança sobre “quem mora no andar de cima”?!
E, se lá pelas tantas, faltasse luz ou o elevador quebrasse ou ficasse em desuso para reparações?!
Sem alimento, sem poder descer sete andares e depois subir, a solução seria pedir ajuda aos bombeiros, que seria tragicômico, um fiasco!
Também havia o problema da nossa cadelinha, a Lili, uma linguicinha, que adora correr pelo pátio da casa, além dos dois gatos pretos como o carvão, e que são os dengues da Marli, a Monalisa e o Amon Ra!
Nesse instante, paramos de conversar.
Olhávamos fixamente para o teto do quarto.
Certamente pensávamos o mesmo, a ponto que automaticamente e em sincronismo, voltamos nossos rostos um para o outro e exclamamos quase em uma só voz:
- VAMOS FICAR EM ROLANTE!
Na segunda-feira, lá fui para o telefone – pessoalmente eu não iria a Osório, nem sob os mais veementes protestos! – desistir do apartamento, alegando uma série de razões, as mais absurdas possíveis, claro.
A moça que me atendeu nesse meio tempo não gostou, natural.
Mas decidimos ficar onde tão bem estamos instalados, mesmo distante dos filhos e netos.
Agora, dia desses liguei para uma das imobiliárias que nos havia atendido.
Tive o azar de a mesma atendente estar do outro lado da linha.
Ao reconhecer a minha voz, ela foi taxativa:
- Alô, o senhor discou errado. Aqui é uma Petshop e não imobiliária!
Em outras palavras:
Osório e Porto Alegre, onde na capital fiz o mesmo com algumas imobiliárias, de ver as casas, propor um aluguel menor, e desistir no último momento, certamente vão usar do mesmo expediente, que mudaram de ramo.
Volta e meia, eu e a Marli desatamos a rir sem parar.
Imaginamos o que não devem ter pensado de nós, no mínimo, dois velhos loucos que não têm o que fazer!
Pensamos até mesmo no possível diálogo entre as imobiliárias:
- Alô, é da Alfa?
- Sim, e daí, é da Beta?
- Sim.
- Por acaso vocês receberam a visita de dois idosos, que queriam alugar um imóvel em Osório?
- Sim, ela uma ruiva, estatura mediana, magra, ele um sujeito grande, que fala alto, é este o casal?
- Sim, este mesmo.
- Não pareceram dois malucos e, ela, a chefe, pois o monstro a obedecia e só falava depois que ela permitia?
- Acertaste, são os dois velhos doidos. Escolhem o imóvel, pedem pela preferência, olham a casa, dizem que vão alugar e depois cancelam!
- Pior fizeram com a Delta!
- Com a Delta, logo com esta imobiliária, tão exigente?!
- Sim, com a Delta.
- Como?
- Pois a Delta concordou em alugar até sem fiador, imagina só!
- Sem fiador, como pode?
- O dono da imobiliária os achou tão simpáticos, que admitiu pela primeira vez alugar um apartamento desta forma!
- E alugaram?
- Claro que não!
- Tá brincando!
- Não, tô dizendo a verdade. Na segunda-feira ligaram e desistiram de mais esta escolha!!!
- Credo, que dois malucos!
- E soubeste da Imobiliária Gamma?
- Nãaaaoooo, mais uma?
- Nem te conto!!!
Combinamos que nossos filhos vêm nos visitar em Rolante por um bom tempo!!!

PS – Peço que Pimentel e Palmeira me perdoem por eu não ter postado comentários sobre seus artigos.
Não havia como, pois até o computador estava encaixotado.
O texto postado a respeito do trabalho da Ana, eu o enviei por Whats pessoalmente.
O Wilson teve a gentileza de postá-lo no Conversas do Mano.
Agradeço a compreensão.


13 comentários:

  1. Flávio José Bortolotto16/08/2019, 14:57

    Prezado Autor Sr. FRANCISCO BENDL,

    Além de como sempre o senhor escrever muito bem, que poder de imaginação demonstrastes neste belo "Peripécias de um casal de Idosos".

    Nada contra morar mais perto dos Filhos mas morando em Rolante-RS o senhor está +- equidistante de dois Filhos em Porto Alegre-RS (116 OK) e do outro Filho em Osório-RS (70 Km).
    Se estivesses morando em Uruguaiana-RS ou Erechim-RS, aí sim era para se preocupar.

    Quanto as Imobiliárias, fique tranquilo que elas só contam com negócio fechado depois da assinatura do Contrato de Aluguel e exatamente depois de estarem recebendo Aluguel, antes disso é tudo negociação.
    Depois, Rolante-RS além das muitas amizades e mordomias, tem "bom colírio para os olhos", principalmente ao meio-dia e final da tarde, o que é bom para nós que já usamos óculos. Que a Prof. D. MARLI não nos leia, senão estamos fritos.

    Depois nós não somos tão idosos assim, na faixa dos 70 ainda estamos pouco acima da meia-idade, apesar dos cuidados com a "manutenção" a que somos submetidos.

    Parabéns e um Abração.

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  2. Francisco Bendl16/08/2019, 19:52

    Mestre Bortolotto,

    Obrigado sempre pela tua participação e comentário.

    Sabe, moramos em Rolante há dez anos.
    A idade avançou, eu tive problemas médicos graves, inclusive internação, e precisamos estar perto dos recursos.

    Osório é bem mais rápido de se chegar a Porto Alegre, em razão da autoestrada. Rolante, quem sai desta via, tem ainda 40 km de curvas, subidas, descidas, e uma pista que vai e outra que vem.

    Com o filho mais velho ao nosso lado, quando precisamos de atendimento ele está na mesma cidade, e seu deslocamento será rápido.

    Portanto, soma daqui, soma dali, Osório é mais econômico, nos deixa mais seguros, e um dos filhos está ao nosso lado.

    Mas, eu e a Marli, nos demos conta que esta cidade onde residimos está muito próxima, é nossa amiga, temos regalias, mordomias, amizades sinceras, trânsito calmo, cidade pacata ...

    Sair para quê?!

    Bom, depois de tantas idas e vindas, casas e apartamentos sendo vistos, propostas inúmeras, muitas obtidas, para depois desistirmos, convenhamos, mestre, tenho de me cuidar quando irei de novo a Osório!

    Valeu a pena esse movimento que fizemos, pois nos divertimos, viajamos, respiramos outros ares, e sacudimos a poeira de semanas sem sair da toca.

    Forte abraço, mestre Bortolotto.
    Saúde, muita saúde.

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  3. Querido Chicão Francisco,
    A idade apronta peças com a gente, os velhinhos em formação, "pontas soltas longe dos amados".
    No seu caso vocês passearam à beça de imobiliária em imobiliária, de cidade em cidade". Viraram os idosos Bonnie and Clyde dos imóveis. Mais um pouco e teriam lá fotos com procura-se e recompensa. Refugiaram-se bem a tempo na velha casa. E depois de tanta diversão, entre contas e risadas, decidiram por lá ficar. Felizes caixas e pacotes!
    Quem sabe a próxima temporada seja nas concessionárias de automóveis onde você vai ser o "monstro" não deixando a Marli falar. Porque homens sabem tuuuuudo de carros. Quais você procurará? SUVs, carros de tiozão, qual o sonho? Escolhem a marca, o modelo, mas a cor não agrada. Deixam o nome, telefone. A concessionária promete achar a cor certa. E aí...
    Bom, deixo para você sonhar a próxima série!
    Seu post está ótimo.
    Mas me deixa com preguiça de pensar que um dia passarei por isso. Como você bem disse, escadas não combinam com velhice, compras e tudo o mais.
    Promete escrever mais aventuras?
    Então...até mais.
    Sejam muito felizes na nova velha casa!

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  4. Querido Chicão!

    Adorei o seu texto, ri bastante. quem já passou por alguma mudança sabe bem o que é. uma saga e tanto ou bem melhor dizendo , um terror.
    sua imaginação é realmente boa ! a forma que vc conta ainda é mais divertida!
    você deve colocar o post do gordo tb.É ótimo! triste e divertido tb! bem real ! chorei de tanto rir!
    beijocas
    Anna Paula


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    1. Francisco Bendl17/08/2019, 16:38

      Aninha,

      Mas estou feliz de ter tanta Ana como amigas, e irmãs!!

      A crônica que te enviei, o Mano a publicou duas vezes.
      A segunda, eu a reformulei, mas a essência era a mesma.

      Este fim de semana termino um relato de uma das mais importantes viagens que fiz, uma legítima aventura pelos riscos reais de se ficar pelo caminho.
      Tem uma foto maravilhosa para ser postada, que ilustrará muito bem a costa gaúcha, conhecida como "cemitérios de navios"!!

      Eu estava muito bem fisicamente, e com 34 anos, apenas.
      Logo, havia vigor, determinação, vontade férrea de sobrepujar dificuldades, e de ter sempre uma história para contar porque as nossas vidas são feitas de histórias.
      Umas são excelentes, outras jocosas, algumas tristes, têm as trágicas, e tem também aquela pessoa que sequer tem a sua própria história, sendo a tal vida sem sentido, vazia.

      Eu podia ser um pelado - e sou ainda -, mas a minha trajetória eu iria, dentro das condições normais de temperatura e pressão, claro, preenchê-la com os meus feitos e defeitos, com vontade ou má vontade, com determinação ou obrigado, mas essas nuances seriam as minhas, de minha autoria, da minha lavra!

      Logo, é por isso que sempre me intitulei um rebelde.
      Não de ser desobediente, não, mas de não me deixar abater pelas dificuldades de eu conseguir lograr êxito nos meus planos.

      E esta vida eu tive com a minha mulher e filhos, ela não foi de minha exclusividade, porém familiar!

      Rapidamente vou te contar um episódio:
      Quando passou Rocky 4, em Porto Alegre, a censura era "impróprio para 16 anos".
      Comprei ingressos para mim e meus três filhos, que me pediram que eu os levasse ao cinema.
      Ao entregar os ingressos ao bilheteiro, a sala de espera lotada, o porteiro, do alto da sua autoridade nos barrou!
      Não adiantou eu alegar que eles estavam com o seu pai.

      Não satisfeito com essa decisão, rumei para a Delegacia de Menores.
      Lá, identifiquei-me, e fui atendido pelo Inspetor de Plantão.
      Expliquei-lhe o ocorrido, salientando que impróprio NÃO ERA PROIBIDO, ainda mais que a gurizada estava com o pai.

      O policial me forneceu um cartão com o carimbo da Delegacia, autorizando o porteiro a permitir a nossa entrada.
      Os filhos estavam em êxtase!

      Quando chegamos no cinema o filme havia começado. Mas quando entramos pelo corredor das fileiras de cadeiras e o pessoal nos reconheceu, a gurizada foi aplaudida, e se ouviram um que outro grito de, "dá-lhe paizão"!

      Sou assim.
      Se existe algum mérito ou qualidade não sei dizer.
      Afirmo que é difícil esse temperamento porque levei muitos guascaços no lombo mas, em compensação, ao deitar ou fazer a barba, eu pensava:
      Faço o que posso, mas faço mais, pois é a partir desse momento que podemos nos avaliar se destemidos ou não, se resignados ou rebeldes.
      Enquadro-me neste último, Aninha.

      Abração!
      Saúde, menina.


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  5. Francisco Bendl17/08/2019, 10:55

    Aninha, Aninha ...

    Deverias escrever palavras de paz, de calma, de tranquilidade, que eu sossegasse em Rolante!
    Não. Me deste ideias de uma nova aventura conjugal!!!

    Tá, e vou aceitar.

    Sabes o que eu e a Marli estávamos vendo ontem?
    Adivinha só:
    UM MOTORHOME para comprar, e sairmos por aí sem lenço e sem documento!!!

    Morarmos em cadas cidade dois, três dias, e depois zarpar para outra.

    Outro plano é eu trocar o meu carro por uma MOTO!!!

    Dois velhos vestidos de roupas de coro, capacete, jaquetas, mochila na moto, e ... SEM DESTINO (morreu ontem o ator deste filme fantástico, Peter Fonda, aos 79 anos).

    O filho mais velho me disse que vai pedir a minha INTERDIÇÃO!

    A mãe dele disse que não mesmo.
    Quer passear, sair, aventurar-se, deixar a casa de lado, luz, água, aluguel, não fazer comida, supermercado, lavar, passar, cozinhar ... quer viver livre e com o seu amado!
    Que tal??!!

    Tô mais faceiro que pinto no lixo!

    Uma pena que, antes, quando tínhamos disposição e até mesmo uns trocados sobrando, ficamos em casa.Agora, velhos, cansados, meio que desanimados pelo tempo, sem grana, queremos botar o pé no mundo!!!!

    Vai entender!!!!

    Mas essa tua sugestão das concessionárias de carros foi brilhante.
    Vou na Chevrolet, Ford, Fiat, VW, encomendo o carro mais caro, escolho a cor, acessórios ... e depois cancelo a compra!
    Tu queres que essa turma me atropele depois, né?!

    E me veio um outro plano.
    Não tem roupa pronta para mim, não existe.
    Tenho de mandar fazer ou encomendar para a loja que mande vir um super, hiper, mega, ultra tamanho, algo como GG vezes 12.

    Ao chegar a calça ou camisa ou jaqueta ou casaco ou bermudas ou ... cancelo, digo que não me agradei do estilo!!!

    Posso fazer o mesmo no super:
    Encho dois carrinhos só de produtos de geladeira e os abandono no caixa!

    Bom, aí mesmo que deverei não me mudar de Rolante, mas fugir da cidade!
    Aventura por aventura, quanto maior o risco, melhor!
    Ainda mais para dois velhos, já considerados nessas alturas como um casal de doidos.

    O carro que eu gostaria de ter seria um Toyota Camry.
    Fico imaginando eu ser flagrado na autoestrada a 270km por hora!
    No dia seguinte, sair nas manchetes dos jornais e até no JN da Globo:
    IDOSO MALUCO dirigindo carro em velocidade de Fórmula 1!!!

    Tem muito para eu fazer ainda, noossssaaaa.

    Muito obrigado pelo teu comentário, Aninha.
    Incentivador, animador, agradável de ser lido.

    Quanto a novas aventura estou terminando uma delas.
    E COM FOTO!

    Foi algo espetacular, que me deixou feliz e impressionado com o que vi.

    Da mesma forma, que continues feliz ao lado do Mano, teus filhos, netos, irmãs, noras e demais parentes.
    Indiscutivelmente são eles que nos deixam nesse estado de alegria, de felicidade, de satisfação plena.

    Entretanto, os amigos são importantíssimos de outra maneira:
    os verdadeiros, os legítimos, nos querem ver animados, dispostos, ao mesmo tempo que são sinceros conosco diante de algo que fizemos ou faremos de ruim.

    Tu e o Mano possuem este predicado, de amigos leais, francos, cordiais e críticos quando necessário.

    Abraço forte, fraterno.
    Saúde, muita saúde junto aos teus amados.




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  6. Moacir Pimentel18/08/2019, 11:24

    Prezado Bendl,
    Moral da história: você se desplugou, se mexeu, se divertiu, conseguiu negociar do seu jeito todas as casas e/ou apartamentos do agrado de vocês e nos brindou com um muito bem escrito artigo sobre as "peripécias" na terceira idade e ótimas réplicas aos seus comentaristas! Parabéns!
    Eu entendo a aparente contradição que é desejar, ao mesmo tempo, a aventura das mudanças e a segurança do velho e aconchegante lar. É por isso que o bicho homem inventou o trailer! A família americana que me hospedou aos quinze anos durante meu programa de intercâmbio, tinha um motorhome e nele viajamos todos – o casal e quatro adolescentes - feito sardinhas na lata, de Iowa até a Califórnia, em 1970.
    Mais maduro fiquei tentado a repetir a experiência porque o estacionamento das “autocaravanas” em Vila do Conde, a terra natal de minha mulher, ficava ao lado do velho forte da Praia da Guia e bem defronte do Café frequentado religiosamente, todas as manhãs, pelos nossos familiares lusitanos. Eu costumava atravessar a avenida para puxar conversa com os caras donos daquelas maravilhas. Infelizmente minha parceira de estrada não se entusiasmou nada com possibilidade de alugar um trailer acabando com a minha fantasia de carregar a casa nas costas e negando-se a cozinhar para mim à beira de atrações turísticas espetaculares (rsrs)
    Mas parece que eu e você não somos os únicos a sonhar acordados: devido àquela regrinha básica de que uma demanda alta gera uma oferta vasta, acabo de descobrir que hoje os motorhomes podem ser alugados até pelo AirBnb que achou por bem diversificar seus negócios e, além de imóveis, está alugando barcos e , é claro, trailers para todos os bolsos e gostos. O aluguel de um deles por uma semana lhe custaria praí uns R$ 6 mil, bem menos do que você teria gasto na mudança interrompida! Que tal?
    Às pretinhas, bom domingo para você e os seus e o abraço de sempre.

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    1. Francisco Bendl18/08/2019, 14:25

      Caro amigo Pimentel,

      Na idade que eu e a minha mulher nos encontramos, qualquer episódio por mais simples que seja e que nos tire da rotina, torna-se fantástico, fenomenal, uma legítima aventura!

      As idas e vindas de várias imobiliárias em Porto Alegre e Osório, de se encontrar a casa que nos agradaria, negociar valores de aluguel e até mesmo a exceção de não se precisar de fiador, para depois desistirmos e permanecer em Rolante, nos divertiu muito porque involuntário.

      A bem da verdade, procurávamos razões para não sair desta cidade, então a quantidade de imobiliárias que percorremos, de imóveis vistos, de negociações, de modo que os problemas que encontrássemos pela frente nos impedissem desta decisão de nos mudar.

      No entanto, como conseguíamos contorná-las até com uma certa facilidade, a “censura” partia de nós mesmos quando regressávamos para Rolante ou então, à noite, quando fazíamos um retrospecto da jornada.
      A partir dessa nossa desistência, ao mesmo tempo nos defrontamos com a vontade de nos libertar dos grilhões que nos prendem a uma casa fixa.
      Assim como existem os telefones móveis, bem que poderíamos ter uma casa ... móvel!

      Um belo dia, à tarde, lá estávamos a bisbilhotar na Internet as tais casas móveis, seus preços, tamanhos, decoração interna ...
      O problema é que constatamos que o nosso dinheiro apenas permitia a aquisição de um trailer para uma pessoa, quanto mais um motorhome!
      Mais:
      Os filhos ameaçaram de me interditar, caso eu levasse a mãe deles para viajar sem rumo, sem destino!
      Assim, nossos momentos oníricos duraram minutos, porém deixados em banho-maria, sem deletarmos a vontade de um dia sair “pela aí”.

      No entanto, percebemos que ainda temos disposição para o improviso, para situações que ocorrem fora do nosso cotidiano, e temos ainda a capacidade de sobrepujar as dificuldades que se colocam à nossa frente.
      Eu diria, Pimentel, que nos reforçamos no quesito “unidos venceremos”. Ainda somos um casal bem disposto em buscar o melhor para nosso conforto, bem-estar, segurança, facilidades, e ... juntos.

      Muito obrigado pelo comentário.

      Um forte abraço.
      Saúde.



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  7. Wilson Baptista Junior18/08/2019, 12:02

    Amigo rebelde e dissidente,
    divertidíssima a tua crônica das peripécias, e mais ainda os comentários dando conta de outras possíveis. Fiquei com a imagem na cabeça do amigo, de reluzente roupa de couro (gastaria meia boiada para fazê-la) e capacete montado numa imponente Harley Davidson com dona Marli também apropriadamente vestida na garupa, arrancando olhares admirados e invejosos dos motoristas que os dois vão ultrapassando felizes pelas estradas do nosso Brasil. Sem destino, sim, mas com paradas para ver os muitos amigos e um final ainda bem distante e bem diferente do do filme do Peter Fonda. Imagem para ninguém nunca esquecer.
    E enquanto não transformas esse sonho em realidade, continua a nos presentear com suas histórias tão bem vindas por aqui.
    Um abraço do Mano

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    Respostas
    1. Francisco Bendl18/08/2019, 15:30

      Mano, Mano,

      Por essas coincidências da vida, eu tive a petulância de me aproximar da Marli, e murmurar no seu ouvido esquerdo, que ela ficaria uma tentação em roupas de couro e capacete!
      Seria um novo "fetiche".

      Bah, meu, ela se enfezou, me chamando de velho devasso!
      Se eu tinha lá idade para ter desejos ainda concupiscentes, ora essa (mas percebi, de soslaio, um sorriso matreiro no canto da sua boca sensual)!

      Diante das ameaças que relatei acima, dos filhos, que iriam me interditar se eu levasse a mãe deles comigo para locais incertos e não sabidos, penso em decorar o nosso quarto com imagens dos quadros de Botticelli, O Nascimento de Vênus, Ticiano, Vênus de Urbino, Gustave Coubert, A Origem do Mundo, Rodin, O Beijo ...

      Renovar nosso ambiente íntimo com imagens que nos animarão e nos remeterão para quando tínhamos a juventude ao nosso e iniciávamos a vida a dois.

      Obrigado pelo comentário, meu amigo.

      Forte e fraterno abraço.
      Saúde.

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  8. Lea Mello Silva18/08/2019, 14:39

    Francisco

    ler o que escreve é muito divertido e natural
    Melhor ficar por aí mesmo onde vc já é conhecido e tem suas raizes e amigos
    Já brincou demais e é preciso sossegar
    Nesta altura da vida a gente quer sossego e amigos por perto
    Os filhos não estão longe ...
    Gosto do seu jeito de encarar a vida e suas aventuras
    Melhor rir do que chorar 😄
    Obrigada por compartilhar com a gente suas peripécias
    Um abraço grandeeeee e amigo
    Léa

    ResponderExcluir
  9. Francisco Bendl18/08/2019, 17:07

    Minha querida Lea,

    Muito obrigado pelo comentário.
    Na verdade, sempre tive ao meu lado o humor, que julgo imprescindível para enfrentarmos as dificuldades do dia a dia.

    Claro, não sou um "bobo da corte", que ri por nada, que é irresponsável, não. Mas amenizar os problemas, facilitar a existência, sem dúvida nenhuma alimenta o nosso espírito e determinação de seguir em frente.

    Portanto, se compartilho com os meus amigos essas minhas condutas um quanto tanto heterodoxas, nada conservadoras, pelo contrário, ainda mais em se tratando de um velho, quero deixar o recado que não devemos ser tão rígidos conosco e tão sérios quanto às situações difíceis.

    Se é a fórmula para se viver melhor não sei, mas ajuda que não pensemos que a fera é maior do que imaginamos, que pode ser enfrentada, mesmo que levando uma ou outra dentada ou arranhão.

    Um forte abraço.
    Muita saúde.

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  10. 1)Prezado Bendl, gostei de suas aventuras procurando um imóvel.

    2) Vc escreve bem, parabéns !

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