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10/10/2019

O caminho do rio

fotografia Moacir Pimentel


Moacir Pimentel
As ribeiras do rio Tâmisa são fascinantes. E a que é chamada de South Bank é uma das áreas mais históricas de Londres. Ao longo do seu famoso “River Walk” – o “Caminho do Rio” - da Ponte Lambeth até a Ponte da Torre ela nos conecta com muitas das principais atrações do rio e da cidade.
No século XVII essa região ficava fora dos limites da cidade e, portanto, era muito menos controlada. Assim, a indústria de entretenimento para adultos nasceu e cresceu naquelas paragens: os bordéis, os teatros, as lutas de galo e as arenas que sediavam os sangrentos mas populares espetáculos com ursos e touros acorrentados a uma estaca enquanto eram atacados por um bando de cachorros - geralmente buldogues ou mastins - que o distinto público tanto apreciava e apostava.
Pode-se ver essas esquinas londrinas de “táxi aquático” ou de uma balsa em viagens entre as suas docas, mas a melhor maneira de conhecê-las é a pé. Com direito ao County Hall, o prédio que depois de ter sido a sede do governo do condado de Londres, foi convertido no Aquário e em um museu de arte. É por ali que moram também o BFI Southbank – o Instituto de Cinema Britânico que narra a história do cinema e da televisão - e o Teatro Nacional, o maior da cidade, com três auditórios.
A Corça Dourada (fotografia de Diego Delso, delso.photo, License CC-BY-SA)
Vale a pena dar uma olhada na Catedral de Southwark, uma das igreja mais antigas de Londres, usada desde 852 como um local de culto, e na réplica do Globe Theatre de Shakespeare, um teatro ao ar livre exatamente como a gente viu no filme Shakespeare Apaixonado. Para não falar do famoso navio HMS Belfast, parte do Museu Imperial de Guerra, e é claro, da réplica do Golden Hind de Drake que está localizada perto da doca de nome Santa Mary Overie, uma santa nativa que supostamente teria financiado a construção da Catedral.

O Golden Hind – ou Corça Dourada – foi um galeão português que circunavegou a Terra entre 1577 e 1580, capitaneado por Sir Francis Drake. O navio fora batizado como O Pelicano mas , em plena viagem, Drake decidiu mudar-lhe o nome por uma questão de marketing. Explico: o brasão heráldico do patrocinador das suas aventuras, Sir Christopher Hatton, tinha uma corça como tema (rsrs)
Em 1577, a rainha Elizabeth I também patrocinou parcialmente essa expedição destinada a passar pela América do Sul através do Estreito de Magalhães e a explorar as costas que se encontravam além. Dizem que no porto, antes de navegar, Drake e a rainha se encontraram pela primeira vez e que na ocasião ela disse-lhe: "Com que alegria seremos vingados da ofensas que recebemos do rei da Espanha". Ou seja, Drake tinha aprovação oficial para beneficiar a si mesmo e a rainha e atuou como um corsário, com o apoio dela, para causar o máximo de dano aos espanhóis, uma prática que culminaria na guerra anglo-espanhola.
Mas não pense que essa réplica colorida do galeão é só para inglês ver. Nada disso. Ela foi o resultado de três anos de pesquisa detalhada e construção, a mais tradicional e profissional possível, no estaleiro de Appledore. Lançada ao mar em 1973, desde então e até ser ancorada definitivamente na doca de St Mary a Corça já percorreu mais de duzentos e vinte cinco mil quilômetros mares afora, tendo completado outra circunavegação e muito mais.
No South Bank também encontramos alguns daqueles perigosos locais para as “comprinhas”. Um deles é o badalado Gabriel’s Wharf – A Doca do Gabriel - que é nada mais nada menos do que uma grande coleção de lojas e estúdios pertencentes a artistas. As fachadas de cores vivas são todas antigas garagens de barcos reformadas e um coreto ocupa o centro da pracinha rodeado por mesas e cadeiras nas quais se pode tomar um ou dois cafés sossegado enquanto se observa o mundo passar.
fotografias Moacir Pimentel

O outro paraíso de consumo é a vizinha Torre OXO. O prédio era originalmente uma estação de energia construída por volta de 1900, que logo se tornou obsoleta e foi comprada pelos proprietários da marca OXO. Eles queriam exibir um grande neon publicitário, mas a permissão foi negada. Então o arquiteto teve uma idéia literalmente brilhante. E se ele projetasse janelas especiais para os quatro lados do topo da torre? Que tal dois círculos um acima do outro e uma janela gradeada por um grande em X no meio? Quem poderia se opor a isso? Ninguém, e até hoje quando as luzes são ligadas a logomarca OXO brilha para quem a olha dos dois lados do rio.
Na realidade tanto o Gabriel's Wharf quanto a Torre OXO são vitórias do povo do bairro na guerra contra os empreendedores e demolidores. Durante séculos, Southbank fora uma terra desolada, mas durante o século XIX foi ocupada por moradias mal construídas e baratas destinadas a quem chegava à capital, vindo do campo, atrás das oportunidades de trabalho geradas pela Revolução Industrial.
Durante a guerra a Luftwaffe fez melhorias, demolindo uma parte das feias construções evacuadas, só que o governo e os empreiteiros passaram a substituí-las por prédios de escritórios menos atraentes ainda. Então algo aconteceu: os moradores deram um basta. O que eles queriam eram casas e lojas e o seu rio de volta. Então se organizaram e compraram a terra e começaram a demolir os escritórios odiados, redesenhando o Passeio do Tâmisa e ajardinando o rio.
Um dos pequenos parques é chamado Bernie Spain Gardens, um dos membros da organização dos moradores que, não se dando por satisfeitos, estabeleceram e aprovaram leis regulando as construções e assumiram a Torre OXO abandonada que teve seus escritórios transformados em lojas de design.
Last but not least é uma maravilha poder ver, no inverno, as obras-primas dos museus sem ter que abrir caminho com os cotovelos através de um bando de turistas! Aliás os museus londrinos também são lugares perfeitos para se abrigar do frio. Neles sempre se pode tomar um café antes e outro depois e os cafés são as únicas coisas pelas quais se paga porque visitar e/ou ver os acervos permanentes de alguns dos melhores museus da cidade é cortesia das casas. Quais?
Bem, que tal levar as crianças grandes e pequenas para ver os esqueletos dos dinossauros do Museu de História Natural? Quem sabe fazer par ou impar entre Museu da Ciência e o Marítimo Nacional, que escancara a história naval da Grã-Bretanha, desde batalhas marítimas até as expedições exploratórias?
É complicado decidir entre visitar o Museu Vitória & Alberto para se perder nas galerias e retraçar a história da criatividade na coleção dos monarcas através de pintura, mobiliário, escultura, fotografia e jóias etc ou passar uma tarde no Museu de Londres que narra a história da cidade desde os tempos pré-históricos. Como escolher entre ver as novidades da Tate Moderna ou ir na Britânica, conhecer as coleções de telas de Turner, Gainsborough, Whistler, Bacon e Hirst?
fotografia Moacir Pimentel

Devo confessar que às vezes nem saio de Trafalgar Square por causa da National Gallery bem ali me “dando mole” e onde até as visitas guiadas e as exposições temporárias são grátis. A Galeria expõe mais de duas mil obras da Idade Média ao século XX, entre as quais uma das Virgens das Rochas e a Ginevra De’Benci de Leonardo da Vinci, a Festa de Belshazzar e vários auto retratos de Rembrandt, outros tantos de van Gogh – além dos Girassóis! – A Mulher com a Balança de Vermeer, as Vênus de Vélazquez e Botticelli, o lindo Retrato de uma Dama de van der Weyden, duas Madonas de Rafael, o Número 1 de Pollock, o Sepultamento do Cristo e a Madona Manchester de Michelangelo, a Ceia de Emaús e o Rapaz Mordido por um Lagarto de Caravaggio, a Sinfonia em Branco de Whistler, o Retrato Arnolfini de van Eyke, os Embaixadores de Hans Holbein, e muito mais de Ticiano, Bellini, Canaletto, Piero della Francesca, Picasso, Matisse, Degas, Renoir, e Monet!
E quando cansa? É só vestir o casaco, sair para respirar e observar as gentes na praça... Às vezes até volto para o nosso hotelzinho a cinco minutos a pé de Trafalgar, tomo um chuveiro , troco as meias e estou novo! Meias suadas, no meu dicionário, são sinônimo de calos. Perigo!
fotografia Moacir Pimentel

E almoço e bebo muito tinto sem medo de ser feliz pois com o frio não “pega” nada... ou tanto (rsrs) Mas dá ânimo para esticar, a pedido dela, no Museu da Infância, onde todos são criança de novo, por um dia, entre brinquedos, jogos e bonecos confeccionados desde o século XVI até hoje quando na verdade queria mesmo era dar um pulo rapidinho na British Library, para olhar de novo os Cadernos de Leonardo. Fazer o quê?
Já perdi a conta de quantos europeus me disseram - com uma piscadela d’olho! - que o problema não é o frio, mas as roupas e a companhia. E é verdade. Ter o equipamento certo e quente e leve é essencial (rsrs) Na verdade o clima na Inglaterra é terrível durante todo o ano, então, pelo menos no inverno, o frio é sazonalmente apropriado. Por incrível que possa parecer - mas como você pode constatar pelas fotos! - por mais frio que nos tenha reservado, Londres já nos deu de presente de Natal alguns céus azuis de verão.
Por lá sempre terminamos encontrando uma “rua de bolso” escondida em algum canto para desvendar, longe das correntes de ar e recheada de pubs aconchegantes, onde se pode desabar em uma cadeira confortável depois de mais um crepúsculo de arrepiar. Ou onde, em um dia particularmente cinza com folhas e chuva caindo junto com a temperatura lá fora, um simples café no meio da manhã se transforma em um trago e, em seguida, em um loooongo almoço.
Caminhar no inverno tem as beleza e emoção próprias das grandes paisagens britânicas em dezembro: os eventos musicais, corais e mercados de Natal – como o da foto realizado na ribeira a poucos metros da Tate Modern - com direito a barraquinhas de madeira, artigos de artesanato, salsichões, doçaria, as famosas casinhas de pão de mel, biscoitos de gengibre, e vinho quente - que a moçada não é de ferro e precisa se esquentar!
fotografia Moacir Pimentel

Há algo especial, prazeroso mesmo, no desconforto das roupas lutando contra o frio, na novidade, no desafio, na maior necessidade de calor humano das aventuras invernais(rsrs) São os obstáculos e os percalços que fazem as melhores viagens e as mais memoráveis histórias.
Continuaremos a caminhada na próxima...


16 comentários:

  1. Mônica Silva11/10/2019, 08:36

    Você conhece tão bem a cidade e explica tudo tão bem que é como se eu estivesse realmente passeando pelo rio vendo os prédios, o navio pirata e sofrendo com o vento frio e a falta de 'calor humano' kkk Acho fantástico que os museus sejam grátis mas poucos turistas teriam tempo para ver todos eles. Fiquei tonta com tantas obras de arte! De algumas eu já li você falando mas nada sei sobre a maioria delas. Obrigada!

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  2. Francisco Bendl11/10/2019, 12:23

    Não pretendo fugir do tema postado pelo Pimentel, o rio Tâmisa, e seus 346 km de extensão.

    No entanto, afora o destino de cada rio, que é desaguar no mar, tenho dito que sou muito interessado em alguns aspectos que fogem à normalidade.
    Por exemplo:
    Entendo que cada cidade, cada município, cada Estado ou Província, cada nação deste planeta, deveriam erguer uma estátua ao CAVALO!
    Definitivamente afirmo que, se não fosse esse magnífico e incomparável animal, a humanidade não estaria neste estágio que se encontra de desenvolvimento científico e tecnológico!
    A começar do momento que foi domado, servir de transporte;
    Depois, como o único meio de locomoção disponível;
    Em seguida como fundamental e decisivo nas guerras;
    Diversões, torneios, deleites, o cavalo serve hoje em dia até como terapia para certas doenças!

    Falhamos gritantemente com essa falta de reconhecimento a esta raça incomparável.

    Mas, deixando a vida equestre de lado, outro assunto que me apaixona, e lamento muito não poder tê-los conhecidos são os rios!

    Claro, conheço a maioria dos nossos rios, os brasileiros, onde o maior do mundo em volume d’água é o nosso Amazonas.
    Da mesma forma, o rio Paraná, Araguaia, o nosso querido rio São Francisco, o Uruguai, rio que divide o Brasil da ... Argentina, o belo rio Doce, e os célebres Tietê e Pinheiros, além de uma dezena de outros, que tive a honra e prazer inolvidável de tê-los visto pessoalmente.

    Refiro-me aos rios cuja importância histórica também foram responsáveis pelo avanço da humanidade.

    Também bato pé que o mais importante é o Nilo, e não só porque é o maior do mundo em extensão, mas pelo seu significado como decisivo à alimentação de vários países que existem no seu curso ( Uganda, Tanzânia, Ruanda, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Etiópia e Egito, onde é reconhecido por este povo como “dádiva” de Deus);
    Depois, em face do seu aspecto religioso, classifico o Ganges, e seus mais de 3.000km, considerado sagrado. Até mesmo os sapos que saem de suas águas são idolatrados pelos fiéis (Pimentel pode confirmar ou não o que escrevo);
    Preciso destacar o Mississipi, e seus quase 4.000 km de comprimento, que banha mais de 40% dos Estados Unidos;
    O belo rio Danúbio, motivo de composições magníficas, sendo Danúbio Azul, a obra mais conhecida;
    Se o Danúbio é o segundo rio maior do continente europeu, o primeiro é o célebre Volga, com quase 3.000 km de extensão, e que deságua no maior lago do planeta, que se chama Mar Cáspio;
    Igualmente o rio maior da China, que a corte no sentido leste-oeste, o Yang-Tsé, e seus 6.300km de comprimento;
    E como eu gostaria de conhecer o rio africano Congo ou Zaire, o segundo do mundo em volume d’água, e quase 5.000 km de extensão;
    Por último, quem dera eu ter conhecido o berço da civilização, a Mesopotâmia, terra que fica entre os rios Tigre e Eufrates.
    (continuo)

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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:04

      Prezado Bendl,
      Fique à vontade para fugir e voltar a qualquer tema, como e quando quiser, e muito obrigado pelas atenção e boas palavras. Já comentei no post anterior, concordando com você, que os rios foram a força vital de todas as civilizações conhecidas. Eles têm sido reverenciados e/ou sacralizados desde sempre e existe, inclusive, fazendo sua louvação, uma belíssima fonte considerada como epítome do design e da teatralidade barrocos, de nome Os Quatro Rios.

      https://timelessitaly.files.wordpress.com/2013/01/fountain-4-river.jpg?w=768&h=518

      Ela foi cometida pelo escultor e arquiteto Gian Lorenzo Bernini e mora em Roma, na Piazza Navona, quase defronte à Embaixada do Brasil, representando, como deuses, os rios então mais conhecidos nos quatro continentes: o da Prata, o Danúbio, o Ganges e o Nilo.
      Agora...quanto ao prezado cavalo, so sorry, mas ele tem estado sim muito presente nas artes desde as cavernas...

      https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c0/Paintings_from_the_Chauvet_cave_%28museum_replica%29.jpg

      Embora eu reconheça e agradeça os valorosos serviços prestados pelo animal à humanidade penso que, no caso, se deveria fazer uma estátua para homenagear a MENTE humana. Ou seja, se um belo dia um curioso e corajoso Homo não tivesse cogitado com seria montar e galopar em cima de um magnífico animal bravio nada de novo teria rolado na história equestre. Para não falar na roda, sem a qual nem nós teríamos ido nem os cavalos teriam puxado nada muito longe (rsrs) Viva o cérebro humano que, ao longo dos últimos sete milhões de anos, triplicou de tamanho! Notadamente desde o primeiro Homo, batizado de Habilis e em "seguidinho" do Erectus, cujas massas cinzentas pesavam respectivamente 500 e 600 gramas, nossa espécie embarcou em uma lenta marcha ascendente, atingindo o primeiro quilo cerebral há 500 mil anos atrás (rsrs)
      (continuo...)

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  3. Francisco Bendl11/10/2019, 12:25

    Evidente que as capitais mais famosas e importantes do globo são banhadas pelos seus rios que, a meu ver, podem ser de grande importância àquela cidade e seus habitantes, mas não possuem esse envolvimento histórico dos rios que mencionei, E ISSO NA MINHA OPINIÃO, claro.

    Londres e o Tâmisa;
    Paris com o Sena;
    Washington e o Potomac;
    Nova Iorque tem o seu estuário, o Hudson;
    Istambul tem o simplesmente o rio que divide o Oriente do Ocidente, o Bósforo;
    Roma o Tibre;
    Lisboa o rio Tejo, também um estuário;
    Moscou é banhada pelo rio com o seu próprio nome;
    O rio Arakawa é um dos principais que circundam Tóquio;
    A cidade de Ho Chi Minh, capital do Vetnã é banhada pelo rio Mekong, de tão tristes lembranças recentes em razão da Guerra do Vietnã;
    Montevidéo é banhada pelo rio da Prata, o maior estuário do mundo;
    Buenos Aires é banhada pelo mesmo rio da capital uruguaia, o rio da Prata;
    E, a minha belíssima Porto Alegre, pelo – finalmente definido – Lago Guaíba!

    Em compensação, se não conheci os rios que citei acima, conheci e naveguei no maior do mundo, o nosso Amazonas, simplesmente deslumbrante;

    Bom, onde eu quero chegar:
    O relato de Pimentel sobre o Tâmisa e o seu significado para os ingleses é mais um dos tantos relatos que aplaudo entusiasticamente.
    Os ingleses não devem estar nem aí para os rios históricos, pois o mar é a sua companhia, mas é o Tâmisa que propicia ser fundamental à cidade de Londres.

    Curiosamente, este rio já foi um dos mais poluídos da Terra!
    Chegou a ser muito mal afamado pelo seu fedor, a ponto que muitas sessões do parlamento inglês, que fica às suas margens, teve de suspender as reuniões pelo mau cheiro.
    No entanto, notáveis investimentos e proibições de não ser jogado no rio qualquer esgoto londrino, o Tâmisa é um dos mais limpos do mundo, e conta com mais de 200 tipos de peixe, inclusive o salmão, sensível contra a poluição que mede, de certa forma, o grau de pureza de suas águas.

    Depois, as belezas e pontes que caracterizam esse rio inglês, magistralmente descritas pelo nosso globetrotter, a mim, que sou enfeitiçado pelos rios, esta postagem é uma das melhores de Pimentel!

    Um abração.
    Saúde, muita saúde.


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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:08

      Mas você tem razão ao cravar que a revolução neolítica, também chamada de revolução agrícola, que marcou a nossa transição de membros de pequenas tribos nômades de caçadores-coletores para habitantes de assentamentos agrícolas maiores e para cidadãos da primeira civilização primitiva rolou no Crescente Fértil à beira dos rios da Mesopotâmia. Foram a domesticação dos grãos e a criação de animais, sim, as novidades que separaram na História os povos neolíticos de seus ancestrais paleolíticos.
      Há registros arqueológicos de que os primeiros animais domesticados - entre dez e treze mil anos atrás - foram aqueles que os humanos caçavam e comiam, como ovelhas e vacas na Europa e no Oriente Médio e búfalos e iaques, pouco depois, na China, Índia e Tibete. Assim as galinhas descendem de aves das florestas e os porcos dos javalis, enquanto as cabras vieram do extinto íbex. É claro que os bichos domesticados tornaram mais fácil o duro trabalho físico da agricultura, que sua lã nos protegeu do frio e seus leite e ovos e carne adicionaram variedade à nossa alimentação. Porém note que animais de carga, incluindo bois, cavalos, burros e camelos, apareceram na narrativa histórica e arqueológica muito mais tarde - por volta de 4.000 anos a.C. - quando os bichos homens desenvolveram rotas comerciais terrestres para o transporte de mercadorias que antes transitavam em barcos, pelos rios.
      Foi a mente humana, a sua revolução cognitiva, que abriu o caminho para as inovações da Idade do Bronze e da Idade do Ferro e todas as invenções que se seguiram e, embora o passado não preveja a evolução futura, estudando o passado temos sólidas razões para "filosofar" que uma maior integração com a tecnologia e a engenharia genética poderão catapultar o cérebro humano para o desconhecido.
      Muita saúde e um abração para você

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  4. Flávia de Barros11/10/2019, 16:42

    Moacir,
    O passeio a pé pelo Caminho do Rio com a direito a doces e vinho quente na feirinha de Natal foi uma delícia. Mas fiquei triste por não ter visitado a Galeria Nacional. Quando li a respeito das obras de Rembrandt então fiquei morrendo de inveja. Adoro a Ronda Noturna e tantos outros quadros grandiosos dele mas sou fascinada pelos retratos e auto-retratos porque acho que ele era um observador extraordinário e que focava o olhar em si mesmo tanto quanto naqueles ao seu redor. A arte de Rembrandt mostra uma profunda compreensão e simpatia pelo ser humano e ele era capaz de expressar mais alma em um rosto do que qualquer outro pintor.
    Um abraço para você

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  5. Alexandre Sampaio11/10/2019, 19:31

    Pimentel,
    Eu bem que gostaria de ter lido esta sua excelente minissérie antes de visitar Londres. É tanta informação para processar e tantas coisas interessantes para ver que sem ajuda profissional fica difícil. Realmente a cidade é uma opção de viagem fantástica para todos os gostos pois oferece história, cultura, arte e diversão.

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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:20

      Sampaio,
      Nem desconfiamos de como a oferta cultural de Londres é impressionante! Acabo de googlar e descobrir que durante o ano de 2019 a cidade já sediou ou sediará riquíssimas exposições. Na Galeria Nacional de Retratos estão à mostra fotos da Cindy Sherman e as telas de vários artistas pré-rafaelitas focando nas suas mulheres e musas. A Tate Moderna, por sua vez, está mostrando fotos e telas da artista francesa Dora Maar - aquela que foi amante do Picasso! - simultaneamente com trabalhos do coreano Nam June Paik - o mago da arte eletrônica - e as instalações muito doidas de Olafur Eliasson. Já a Tate Britânica exibe as artes de William Blake e oferece uma retrospectiva de Van Gogh e a Galeria Dulwich vai ganhar o prêmio de melhor exposição do ano com trinta e cinco pinturas de Rembrandt. Na Hayward Bridget Riley, a rainha da Op Arte, diz presente e na Saatchi pode-se ver centenas de objetos que foram sepultados com Tutankamon.
      Enquanto isso na British Library, está rolando uma exposição sobre a arte no Budismo e o Centro Barbican, além das telas da pintora expressionista abstrata Lee Krasner, foca na arte da Belle Èpoque, no tempo dos cafés e cabarés franceses e dos pubs e clubes ingleses, com direito à exibição de apetrechos e objetos das lendárias casas noturnas além, é claro, de cartazes e gravuras de todos os grandes mestres cartazistas. No momento o Museu Britânico explora nosso fascínio pela Antiguidade com a exposição de nome Troia: Mito e Realidade, no Museu do Design foram escancarados os arquivos e fotos do badalado diretor Stanley Kubric e a Real Academia decidiu participar da festa com cem telas de Félix Vallotton e uma fascinante exposição de auto retratos do pintor Lucian Freud.
      Na Galeria da Rainha, no Palácio de Buckingham, cento e quarenta e quatro estupendos desenhos de Leonardo Da Vinci se encontram expostos e o Museu Vitória & Alberto deu guarida às observações em fotos, colagem, performances, música e vídeo sobre "o impacto da tecnologia na cultura" da lavra do artista britânico Mark Leckey. E a National Gallery? Apresenta uma exposição dos retratos de Gauguin e outra sobre a Virgem das Rochas de Leonardo.
      Depois dessa pororoca de arte pictórica que tal um musical para espairecer? Pode ser o Rei Leão, ou O Fantasma da Ópera, Wicked ou Tina, Matilda ou Thriller, O Livro de Mórmon ou Mamma Mia, Os Miseráveis ou O Violonista no Telhado. Vou pular as ofertas teatrais mas como fazem os prezados lusitanos pergunto: “Percebes?”
      Abração

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  6. 1)Já escrevi aqui, o Pimentel é um excelente guia turístico, ele nos faz mergulhar no texto como se estivéssemos lá.

    2) Me fez lembrar antiga profecia que li alhures: os rios do planeta Terra que começam com a letra T, banham grandes cidades/civilizações: Rio Tâmisa, em Londres, Rio Tigre, na Turquia, Rio Tietê, em São Paulo.

    3) Se tiver outro(s) rio(s)com T me ajudem...

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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:23

      Antonioji,
      Saber que você “mergulhou no texto” me deixa quase zen! "Gratidão!" Por favor, acrescente à sua já looooolonga lista de rios o Tinguá, o Turvo e o tijucano Trapicheiros, nossos humildes vizinhos(rsrs)
      Namastê!


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  7. Francisco Bendl12/10/2019, 10:24

    Em atenção ao pedido do meu amigo e professor Rocha, eis mais alguns rios cujos nomes começam coma letra "T":

    Tocantins
    Tejo (Portugal)
    Tapajós
    Tobol (Rússia)
    Tunguska (Rússia)
    Tundzha (Turquia)
    Tibre (Itália)
    Tanaro (Itália)
    Ticino (Itália)
    Touques (França)
    Truyère (França)
    Tauber (Alemanha)
    Tiétar (Espanha)
    Tajuña (Espanha)
    Tormes (Espanha)
    Túria (Espanha)
    Trent (Inglaterra)
    Tyne (Inglaterra)
    Tees (Inglaterra)
    Tweed (Inglaterra)
    Trinity (EUA)
    Tamesi (México)
    Tomo (Colômbia)
    Tuparro (Colômbia)
    Tacuarembó (Uruguai)
    Tacuari (Uruguai)
    Tuy (Venezuela)
    Táchira (Venezuela)
    Tambo (Peru)
    Tambopata (Peru)
    Tumbes (Peru)
    Tapiche (Peru)
    Tuichi (Bolívia)
    Toltén (Chile)
    Tinguiririca (Chile)
    Trancura (Chile)
    Tanew (Polônia)

    Abração.
    Excelente fim de semana.

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  8. Flávio José Bortolotto12/10/2019, 15:07

    O Escritor e Viajante Sr. MOACIR PIMENTEL, que desde a juventude colocou a mochila nas costas e conheceu o Mundo e especialmente as Pessoas, a começar pela grande e milenar ÍNDIA, nos conta neste belo Artigo as belezas e curiosidades dos Passeios das Ribeiras do Rio Tâmisa, e Centro de Londres-UK.

    Como seria bom a gente ler o Sr. MOACIR PIMENTEL e depois visitar os locais por ele descritos e elogiados.

    Temos do Sr. MOACIR PIMENTEL aqui no "CONVERSAS DO MANO", que eu posso citar de memória maravilhosas descrições de viagens da Índia, Siri-Lanka, Portugal, Itália especialmente a Toscana, Paris-FR, Londres-UK, partes da África, etc, que nos dão enorme prazer.

    E dá trabalho escrever, editar Fotos, organizar a coisa toda, e por tudo isso e muito mais, feitos para nosso proveito, Parabenizamos e Agradecemos ao Escritor Sr. MOACIR PIMENTEL.
    Abração.





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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:29

      Grande Bortolotto,
      Muitíssimo obrigado por tão gentis pretinhas mas para quem, como eu, muito aprecia tanto viajar quanto escrever, cometer esses posts é - como dizem as más línguas - "a minha hora do recreio" e o Conversas do Mano, é claro, um play ground (rsrs)
      Ao descrever e ilustrar meus passeios eu viajo de novo e, graças a vocês, em muito boa companhia. Permaneça a bordo, por favor, porque é vasto o nosso mundo.
      Abração

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  9. Olá Moacir,
    E o passeio continua incrível.
    Como estou ficando mentirosa (dizem as más línguas...) começo a dizer que já fui à Londres. E que conheço passeios fantásticos em ruas de bolso ou ribeiras de rio.
    Digo que as opções são tantas que nem sei qual arte escolher, se a Tate Moderna, ou Britânica ou National Gallery me dando mole! Passeios sempre celebrados com um café antes e outro depois ou ainda um quente vinho. Porque quente água é bom em casa! E dá-lhe Asterix!
    Ouso até dizer que prefiro Londres no inverno livre das hordas turísticas...
    Seu texto saboroso, e talvez até por isso, tem humor. Nem que seja negro! Adorei ler e fiquei rindo sozinha,da Corsa não ser só para inglês ver e da Luftwaffe ter feito melhorias na cidade. Só você mesmo!
    Mas tomar um chuveiro e só trocar as meias suadas... Por favor Moacir, toma tento!
    Um povo civilizado, leia-se educado, é capaz de vitórias redesenhando um caminho à beira de um rio. E outras que, aqui, eu queria tanto!
    Muito criativa a solução do OXO burlando regras.
    Agora saber mais se torna necessário, uma vez que londrina de carteirinha.
    Atenta, curiosa e aflita pelos próximos passeios.
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel15/10/2019, 08:36

      Caríssima Donana,
      A senhora nem imagina como fico feliz ao constatar o quanto a sua leitura é “atenta e curiosa " e ao ler que o meu texto a fez sorrir. A recíproca é verdadeira (rsrs) Uma das mulheres da minha vida diz que nasci “com o riso frouxo” e que isso é muito bom, pois do contrário, eu seria um chato de carteirinha e de nariz metido nos livros (rsrs)
      Agora...a minha "indiscrição" sobre meias, nesse post, é de utilidade pública. Porque as pessoas compram sapatos novos para viajar!! Complicado! Eu em vez corro com os meus tênis de viagem durante todo o ano anterior ao próximo passeio. Não dá para ser feliz caminhando quilômetros diariamente com sapatos desconfortáveis, meias suadas e calos nos pés (rsrs)
      Tenho certeza que com aquela mecha roxa - ou era rosa pink? - nos cabelos e levando a tiracolo o seu orgulho pelas suas raízes e o seu afeto pelas arte e diversidade a senhora é sim “londrina”, nem precisa da carteirinha. E last but not least nunca se esqueça de só podemos redesenhar à beira de um rio o nosso próprio caminho:

      Cuando el jilguero no puede cantar
      Cuando el poeta es un peregrino
      Cuando de nada nos sirve rezar
      Caminante no hay camino, se hace camino al andar
      Golpe a golpe y verso a verso.

      "Até sempre mais"

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  10. Márcio P. Rocha14/10/2019, 11:35

    Quando fiz o passeio de barco até Greenwich passei defronte de todos estes lugares que você descreve mas sem saber o que eram e sem fazer escalas, a não ser na réplica do navio de Drake e no Teatro Globo. É impossível não gostar da National Gallery, um espaço que reúne quatrocentos anos de pinturas. Nos quesitos Impressionismo e Modernismo seria covardia compará-la com os museus de Paris e tem lá um quadro de Turner que apesar de representar a Great Western independe da realidade, é música sem palavras, pura abstração, rs Mas entre as obras citadas por você antipatizei com algumas. Daria para explicar porque os estranhos Embaixadores de Holbein estão com esta bola toda?

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