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16/11/2019

As histórias de Londres

fotografia Moacir Pimentel


Moacir Pimentel 
“Era triste a madrugada para a qual eles saíram; o vento soprava com força e a chuva caía a cântaros; nuvens sombrias e espessas velavam o céu; a noite toda fora chuvosa, porque grandes correntes de água sulcavam a rua. Tênue clarão anunciava a proximidade do dia, entristecendo ainda mais a cena; a pálida luz da aurora enfraquecia a luz dos lampiões, sem clarear os tetos sombrios e as ruas solitárias; não havia sinal de vida no bairro; todas as janelas estavam cuidadosamente fechadas e as ruas que eles iam atravessando, desertas e silenciosas.
De todos os personagens que Dickens tão magistralmente nos descreveu, nenhum desempenhou um papel tão importante em seu trabalho quanto a sua cidade, a Londres que tanto amava: a sua agitação, as promessas de um brilhante futuro, as ruas sujas e os extremos da pobreza e da riqueza vividos por seus habitantes. Todos os biógrafos do escritor concordam que a cidade foi essencial e central para o seu trabalho. Ele se referia a ela como a sua “lanterna mágica”.
Virginia Woolf sustentou que “nós remodelamos nossa geografia psicológica quando lemos Dickens”. Pois é. E nenhuma personagem é desenhada mais vividamente em seus romances do que a própria Londres. Das estalagens nos arredores da cidade, passando por suas colunas e jardins até o Tâmisa, todos os aspectos da capital são descritos na sua obra. Desde menino, Dickens gostava de caminhar por Londres, absorvendo suas diferentes atmosferas, degustando suas paisagens, sons e cheiros, observando sua gente e maravilhando-se com a agitação, a exuberância das ruas. Ele gostava de explorar os recantos e caminhos escondidos e encontrou inspiração em alguns dos bairros mais famosos e notórios da cidade.
A Londres vitoriana foi a maior cidade do mundo. Enquanto a Grã-Bretanha estava fazendo a Revolução Industrial, sua capital colhia tanto os benefícios quanto sofria as consequências. Em 1800, a população de Londres era de cerca de um milhão de almas. Esse número cresceu para mais de quatro milhões em 1850.
Enquanto as áreas da moda e do luxo - como as ruas Regent e Oxford - cresciam para um lado, as novas docas necessárias para a cidade, que era então o centro do comércio mundial , eram construídas no outro. Talvez o maior impacto no crescimento de Londres tenha sido a chegada da ferrovia na década de 1830, que passou a deslocar milhares de pessoas com facilidade, acelerando a expansão da cidade.
O preço desse crescimento explosivo e da dominação do comércio mundial era a falta de aquecimento e a imundície, os cheiros, a comida e a água contaminadas e a atmosfera insalubre que Dickens nos descreve em tantos romances, nos quais os ricos e os pobres transitavam juntos pelas ruas cheias de estrume e cobertas pela fumaça de carvão produzida por centenas de milhares de chaminés juntamente com a fuligem que parecia se instalar em todos os lugares. Em A Pequena Dorrit Dickens descreve a chuva em Londres:
“No campo, a chuva teria desenvolvido mil aromas frescos, e cada gota teria tido sua brilhante associação com alguma forma bonita de crescimento ou vida. Na cidade, desenvolveu apenas cheiros velhos e era uma adição doentia, morna, suja, manchada e miserável para as calhas”.
O escritor nos conta como, em muitas partes da cidade, o esgoto fluía a céu aberto, em calhas, até o Tamisa enquanto os vendedores ambulantes vendiam seus produtos e aumentavam a cacofonia dos ruídos das ruas. Estima-se que na década de 1850, havia dezenas de milhares de vendedores ganhando a vida nas ruas de Londres, vendendo frutas, vegetais, flores, peixes, tortas, pães e uma variedade de outros produtos que compravam para revender nos grandes mercados, como o Borough Market, o Covent Garden e o de peixe em Billingsgate.
As pretinhas de Dickens nos falam dos ricos e remediados, de como os batedores de carteiras, assassinos, prostitutas, bêbados, mendigos e vagabundos formavam uma multidão colorida para qual a higiene pessoal e as roupas limpas não eram uma grande prioridade. Para os asiáticos, com quem comerciavam, o cheiro dos corpos não lavados dos ingleses era vomitativo.
Vários surtos de cólera em meados do século XIX, juntamente com o episódio que entrou para a História como o “Grande Fedor” de 1858, quando o mau cheiro do Tâmisa levou o Parlamento ao recesso, exigiram que providências fossem tomadas. Até 1854, pensava-se que as doenças se espalhavam através do ar. Quando a cólera surgiu na área do Soho em 1854, o Dr. John Snow juntou-se com o reverendo Henry Whitehead para provar que o contágio se dava através da água contaminada.
“O latir dos cães, o balir dos carneiros, o grunhir dos porcos, os gritos dos mascates, as exclamações, as pragas, o fedor, as rusgas, os sinos e as conversas que se ouviam de todas as tavernas, o rumor da gente que ia e vinha, o movimento de tantos homens de aspecto repelente e barba inculta, andando de um lado para outro, acotovelando-se, esbarrando-se, tudo contribuía para ensurdecer e tontear um espectador.”
O mercado de gado de Smithfield foi finalmente transferido da cidade para os matadouros em Islington em 1855. Sir Joseph Bazalgette, engenheiro-chefe da nova Junta Metropolitana, desenvolveu um plano de saneamento básico, concluído em 1875, que finalmente garantiu aos londrinos esgotos adequados. Além disso, foram implementadas leis que impediram as empresas que abasteciam água potável de usar as partes mais contaminadas do Tâmisa e obrigavam-nas a executar algum tipo de filtração.
Eu pensava, por exemplo, depois de ler quase todos os romances de Charles Dickens que a Londres vitoriana fosse predominantemente escura e sombria e repugnante graças aos canais carregados de esgoto fedorento e pestilento que atravessavam a Ilha Jacobs onde o personagem Bill Sykes encontrou o seu fim no livro Oliver Twist.
James Abott McNeill Whistler - Brown and Silver Old Battersea Bridge (1859) /
Nocturne in Blue and Gold: Old Battersea Bridge (1872) Tate Gallery

Até que me deparei com as telas e gravuras do rio Tamisa feitas pelo pintor americano James Whistler e descobri a visão das mesmas docas que Dickens descreve em Our Mutual Friend - O Amigo Comum e percebi em cores a revolta do rio.
O pintor chegou ao seu país adotivo no final da década de 1850, em plena Revolução Industrial, quando o rio dava testemunho da modernização e da poluição. Da janela do seu estúdio o pintor contemplava as pontes, um rio arenoso e sujo, uma via navegável, cruzando uma Londres cinza e úmida e a pintou palpável na sua verdade de tom, em cenas precisas, mas evocativas.
Mas as pontes de Londres, as barcaças cheias de carga e passageiros escorregando através das águas turvas, as silhuetas escuras contra o céu azul profundo, as fábricas que brotavam nas margens lançando sua névoa no ar possuem uma beleza estranha e essas figuras sombrias quase fantasmagóricas que se amontoam sobre as pontes, talvez para assistir um por do sol, assim com Dickens e Whistler, sabiam disso.
Caminhar, flanar, perambular pelas ruas de Londres sempre me remete a Charles Dickens. A cidade é o lugar certo para se ter uma visão mais próxima e exata da personalidade de um homem que era uma mistura complexa de benevolência e determinação, afeto e manipulação. Um homem que conseguiu se levantar das cinzas de uma infância traumática e ascender às alturas, tanto assim que, no momento da morte prematura, ele era, sem dúvida, o segundo mais famoso dos vitorianos, só perdendo para a rainha.
Cada um dos lugares que ele visitou, todas as cenas que ele testemunhou e todas as pessoas que ele encontrou em seus numerosos e exploratórios passeios de Londres iam sem escalas para sua memória, eram arquivados até que, às vezes anos mais tarde, ressurgiam para disparar sua imaginação e inspirá-lo na criação de uma série de personagens imortais e cenários literários atemporais.
Tal foi a agudeza do seu olhar para os detalhes que ainda é possível – não importando mais de um século e meio de modernização! - ir às ruas de Londres armado com um pouco de imaginação e os bytes de memórias de livros como Oliver Twist, David Copperfield e A Canção de Natal e ver as ruas exatamente como elas teriam sido percebidas pelos moradores da metrópole vitoriana.
fotografias Moacir Pimentel

O romance Bleak House - A Casa Soturna começa com a palavra predileta do autor: “Londres!”. Para Copperfield, na cidade havia “aqui e ali algumas luzes brilhando através de mais maravilhas e perversidades do que em todas as cidades da Terra”. Londres é para Charles Dickens o que é Paris foi para Balzac e Dublin para Joyce. As suas descrições de favelas e becos estreitos colonizaram a minha imaginação a tal ponto que a cidade permanece tão estridente como Bill Sykes, e suas  incoerências e inconsistências estão sempre à vista, a tapeçaria perfeita onde Dickens criou suas histórias de amor e perda, arrependimento e recompensa, saltando do comum para o raro e maravilhoso.
Londres era a musa do escritor, aquilo que realmente o inspirou a escrever sua fabulosa obra. Mas seu relacionamento com ela era bipolar, ora sombrio ora colorido, um clássico exemplo de amor e ódio.
Ainda se caminha pela Strand e a Fleet Street na companhia de David Copperfield e ao longo do Hatton Garden com Oliver Twist, mergulhando nos pátios iluminados por gás sobre os quais lemos tanto tempo faz : “Quem entra aqui deixa o ruído para atrás”.
Terá sido em Fleet Street que Dickens escondeu o seu grande segredo: Ellen Ternan, uma jovem atriz de apenas dezoito anos por quem enlouqueceu de tal forma que largou a esposa, Catherine, depois de vinte anos de casamento e dez filhos? As cenas de tribunal e os processos intermináveis, inclusive aquele por violação de direitos autorais que lemos nas suas páginas rolaram nas Cortes da Rua Fleet?
O certo é que ao desbravar os becos minúsculos no coração da velha cidade, podemos imaginar Ebenezer Scrooge fumando seu cachimbo a caminho de casa em uma véspera de Natal e se quer atravessar o limiar de algumas hospedarias e tabernas antigas da Fleet Street para virar uns copos em homenagem ao prezado Pickwick.
Hoje nessas antigas pousadas – os Inns – onde o passado parece ter encalhado, a música alta, as máquinas de tudo e os onipresentes canais de esportes nas TVs parecem destoar tanto quanto Bill Sikes em um orfanato vitoriano (rsrs)
“Os botequins, interiormente iluminados a gás, já estavam abertos. Pouco a pouco, se foram abrindo outras lojas, e algumas pessoas passavam na rua; grupos de operários iam para o seu trabalho; homens e mulheres levavam à cabeça cestos de peixe; carroças de legumes puxadas por burros; carrinhos à mão cheios de carne; mulheres leiteiras com as celhas nos braços; em suma, uma fila contínua de gente que se dirigia com a sua mercadoria para os arrabaldes a leste da capital.”
Tão forte foi o interesse de Dickens por Londres, tão frequente era a sua reivindicação das ruas da cidade e as referências a seus bares e albergues, a seus edifícios públicos e monumentos, que cada uma de suas obras possui um ar londrino, é de alguma forma permeada pela atmosfera local, de modo que, se estamos com Nickleby em Yorkshire, ou com David Copperfield em Suffolk ou com os Chuzzlewits em Wiltshire, sentimos que por tais paragens estamos só de passagem, temporariamente, e que logo o autor nos levará de volta para a tela incomparável contra a qual ele definia as aventuras de suas numerosas criaturas: o coração palpitante de Londres .
É claro que muitos dos locais mencionados nas obras de Dickens já não existem, que na chamada Londres dickseniana geralmente só se pode ver onde as coisas costumavam estar embora elas já não estejam lá, mas ainda se pode ter um vislumbre das narrativas, ali e acolá.
“Muitos lampiões estavam apagados; algumas carroças se dirigiam lentamente para Londres; de quando em quando, passava uma diligência coberta de lama, e o cocheiro, por divertimento, dava uma lambada no carroceiro, que, não tendo tomado a direita da rua, expunha a diligência a chegar meio minuto mais tarde.”
Um bom exemplo dessa viagem no tempo é  The Old Curiosity Shop - A Loja de Antiguidades.
fotografia Moacir Pimentel

Localizada na saída da Strand essa lojinha charmosa construída com a madeira de navios antigos, remonta ao século XVI e milagrosamente sobreviveu ao incêndio de 1666 e aos bombardeios nazistas. Dickens morava no bairro e, diz Dona Lenda, supostamente teria se inspirado nela para o romance A Loja de Antiguidades. Na verdade, a loja só foi batizada assim alguns anos depois da publicação do livro. Agora funciona como uma sapataria bem peculiar.
Ou o badalar do sino da torre do relógio da igreja de St Dunstan-in-the-West, aquele que despertou Scrooge para sua nova vida no final de A Canção de Natal ou, de novo, pela visão uma das ruas mais belas e antigas de Londres: a Fleet Street por onde o Sr. Sikes, arrastando Oliver consigo, abria caminho por meio da chusma compacta e dava pouca atenção ao tumulto, que era para a criança coisa nova e surpreendente...”
Mas antes de chegar ao fim este passeio ainda nos renderá uma última conversa...


18 comentários:

  1. Mônica Silva17/11/2019, 13:47

    Como não conheço a obra de Dickens não sou capaz de acompanhar muito bem os seus passos neste passeio literário, desculpe. Não é falta de vontade mas de leitura kkk Mas pelo menos consigo entender que o escritor influenciou demais a compreensão que você tem da cidade. Graças aos seus lindos posts e fotos e aos filmes românticos que adoro no dia em que eu caminhar por estas ruas antigas vou conseguir imaginar a Londres vitoriana. Obrigada!

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 07:32

      Mônica,
      Já que dia desses li que você frequenta a Confeitaria Colombo sugiro que, por uma questão de "atmosfera", quando estiver em Londres experimente a deliciosa tradição vitoriana do “chá das cinco”, como manda o figurino e/ou como rola nesses filmes britânicos que você adoooora. Vai lhe custar caro mas muito de quando em vez faz bem à alma e ao paladar apertar o botão do dane-se (rsrs)
      Confesso que depois de escolher entre dezenas o chá a ser bebido, enquanto minha senhora degusta suspirando os doces "temáticos" - de Big Bens a cabines telefônicas (rsrs) – as tortas, os bolos, os biscoitos e, é claro, os scones recheados com geleia e creme à vontade, eu me esbaldo...hummmmm.....nos tais dos “finger sandwiches”, uns triângulos pequenos demais de pão branco sem casca e insuficientemente recheados com maravilhas como pasta de agrião com maionese caseira, pepino com creme de hortelã, salmão defumado com molho tártaro, pasta de frango ao curry etc. Aliás...
      Dizem as más línguas que o sanduíche foi a melhor das contribuições britânicas à gastronomia pois quem os inventou, no século XVIII, teria sido John Montagu, um certo Conde de Sandwich que por ser um jogador de cartas compulsivo enquanto jogava precisava se alimentar sem usar talheres e sem engordurar seus ricos baralhos (rsrs)
      Bom apetite,“obrigado!” e abração

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  2. Olá Moacir,
    Dickens e Londres continuam bons de ler e conhecer e admirar. Mas o que me ganhou desta vez foi a foto que abre o texto. Maravilhosa! Talvez fosse assim que quisesse ver Londres pela primeira vez. Triste madrugada...ruas desertas e silenciosas para receber meu coração pulando de alegria.
    Quando você fala da Londres de Dickens e Whistler com as pontes e as barcaças, águas turvas e silhuetas escuras contra o céu azul profundo, figuras quase fantasmagóricas e um possível por do sol, não é mais Dickens nem Whistler, é o seu encantado coração sabichão sobre eles. E sobre a cidade deles. E a sua.
    E esse passeio tem só mais uma conversa? Ficaria em Londres por mais um século, relendo Dickens e olhando a pintura diluída e delicada de Whistler.
    Gratidão.
    Até sempre mais.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 07:38

      Caríssima Donana,
      “Gratidão’ lhe digo eu, de coração “encantado”, por tão gentil comentário (rsrs) Dickens começa a Casa Soturna – em cujas páginas expõe satiricamente os abusos, a incompetência e a corrupção dos tribunais ingleses - com uma descrição de Londres sob o fog:
      “As pessoas nas pontes espiando por cima dos parapeitos para um céu inferior de nevoeiro, com a neblina ao redor delas, como se estivessem em um balão, pendurados nas nuvens enevoadas.”
      Acho que antes de pintar a Velha Ponte Battersea, James Whistler leu isso (rsrs) E que esse nevoeiro simboliza a opressão institucional que então penetrava em todas as esquinas da sociedade. É como se o escritor percebesse Londres como um lugar de miséria governado pela ganância, apodrecendo, se desfazendo, afundando gradualmente. Os locais descritos no dito romance são mais do que cenários, são quase como personagens pois também transmitem emoção, humor, sofrimento e nos dizem muito sobre as personalidades daqueles que os habitam. A descrição que o autor faz, por exemplo,do cortiço fictício vizinho da Rua Charing Cross, não poderia ser mais eloquente:
      "Jo vive - ou seja, Jo ainda não morreu - em um lugar arruinado, em uma rua negra”.
      A favela funciona - do mesmo jeito que a neblina - como um símbolo de como a industrialização e a corrupção desvairadas eram responsáveis, na opinião de Dickens, pela a miséria à sua volta. No entanto ao escancarar os perigos e perversidades do sistema vitoriano desumano que privava as pessoas de afeto, emoções e aspirações, o autor insiste que os aspectos positivos da natureza humana não são facilmente destruídos. Assim como a cor não desiste de brilhar naquela ponte de Whistler, as fantasia, imaginação, compaixão e esperança humanas jamais desaparecem da escrita alimentada de realidade do prezado Charles, porque simplesmente por pior que esteja o fog lá fora, elas teimam em sobreviver aqui dentro de nós.
      “Até sempre mais”

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  3. Flávia de Barros18/11/2019, 10:27

    Moacir,
    Toda vez que você anuncia o fim de mais uma de suas belas viagens eu fico com pena porque aprendo muito com seus artigos. Nos dois últimos você nos encantou com os romances de Charles Dickens mas a vida dele também é bastante misteriosa. Não sei se você assistiu o belo filme O Nosso Segredo dirigido e protagonizado por Ralph Fiennes, um dos meus atores prediletos, sobre o amor do escritor e da atriz Ellen Ternan que você menciona no texto. O que há de verdade sobre este romance da vida real?
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 07:44

      Flávia,
      As evidências do relacionamento amoroso de Dickens e Ellen são circunstanciais ainda que os biógrafos e historiadores acreditem piamente que eles foram amantes. Dona Lenda nos conta que Charles e Catherine Dickens atravessavam uma séria crise conjugal quando, em 1857, aos quarenta e cinco anos, o escritor teria conhecido a bela atriz de dezoito apelidada de "Nelly" e - !@#$%&@! – se apaixonado. O certo é que, em seguida, Dickens se separou de Catherine que se instalou em uma pequena casa perto de Regent's Park com o filho mais velho e uma generosa mesada. No entanto os outros nove filhos do casal ficaram com o pai e – atenção! – com a tia Georgina, a irmã onze anos mais nova de Catherine que, estranhamente, em vez de acompanhar a irmã preterida, optou por permanecer ao lado do cunhado como governanta das crianças. Sim, dizem que Dickens tinha um outro caso com a cunhada (rsrs)
      Dizem ainda que a Nelly concordou em viver o romance às escondidas do prezado público, que era uma moça gentil e inteligente, que fazia a leitura crítica dos romances do escritor, que viajava discretamente com ele para a França e a Itália sempre que podiam, que foi uma companheira devotada durante os últimos treze anos da vida do escritor. Dizem até mesmo que os dois tiveram um filho que morreu na primeira infância.
      Tudo bem que meio século mais tarde uma das filhas do escritor contou detalhes da ligação amorosa paterna à uma biógrafa, que em uma velha caderneta foram descobertos registros de aluguéis de diversas casas em Londres e no campo, pagos por Dickens usando nomes falsos e, decerto, muitos especialistas juram de pés juntos que as personagens femininas nos derradeiros romances dele foram inspiradas por Nelly.
      No entanto não há nenhuma evidência de nada disso porque os amantes supostamente teriam combinado destruir todas as cartas que trocavam e quaisquer documentos que pudessem ameaçar seu segredo. O único link documentado, preto no branco, entre esses dois é a vultosa quantia deixada em testamento pelo escritor para a moça, que a tornou uma mulher financeiramente independente. O que é fato e o que é poesia nesse caso, penso que jamais saberemos.
      Outro abraço para você

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  4. Márcio P. Rocha18/11/2019, 16:54

    Apesar de não conhecer Dickens tão bem quanto você o que li dele não é subversivo. Ele jamais desejou romper com o sistema, barrar o progresso e os benefícios do capitalismo emergente mas minimizar as consequências nefastas da Revolução Industrial para a população mais carente e remediar abusos sociais intoleráveis. Parece que funcionou e que a ficção ajudou a cidade a ter ainda no século XIX esgotos decentes e mais saúde. É desanimador verificar que continuamos a sentir ‘grandes fedores’ de todos os tipos e por tudo quanto é lado em pleno século XXI.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 07:51

      Márcio,
      É verdade. Segundo o Instituto Trata Brasil cem milhões de brasileiros - ou 47,6% da população! - não tinham coleta de esgoto em casa em 2017. Mas lembre-se os cara pálidas ingleses do século XIX também estavam muuuuito atrasados. Afinal os romanos, trezentos anos antes do Cristo, já cuidavam de fato de saneamento construindo grandes aquedutos, reservatórios, banheiros públicos, casas de banho e chafarizes (rsrs)
      Sim, a crítica social do Dickens não foi radical, nem programática e nada tinha de marxista embora o Marx fosse um fã de carteirinha do escritor (rsrs) Digamos que ele inventou o romance social urbano para enfrentar todas as grandes questões do seu tempo e convém não esquecer que o cara escreveu durante mais de trinta anos e que, portanto, a sua consciência social mudou enquanto escrevia. Ou seja, os primeiros romances expõem abusos isolados e deficiências e vícios de indivíduos, enquanto os mais tardios contêm um diagnóstico muito mais amargo da Inglaterra. É como se ele tivesse tido tempo de ver a discrepância entre as idéias e as práticas e sua visão tivesse mudado gradualmente do zoom para o panorâmico, para a crítica da sociedade como um todo.
      Enquanto Oliver tem um final feliz o Jo, no capítulo mais pungente da Casa Soturna, morre de pneumonia. A forma como o narrador conta o ocorrido, como se estivesse diante de um júri, talvez explique o modus operandi do autor na tentativa de "conscientizar" seus leitores: "Morto, Majestade. Morto, nobres senhores. Morto, reverendos certos e errados de qualquer ordem. Morto, homens e mulheres, nascidos com compaixão nos corações. Morto, assim como tantos outros, todos os dias à nossa volta”
      Note como Dickens convida o leitor a inferir que suas prezadas majestade, eminências e excelências, enfim, que seus líderes, não estavam nem aí para suas responsabilidades, não tinham a mínima compaixão. E o leitorado traduz que sua própria indignação será parte da solução. O certo é que Dickens expressou, da primeira à última linha que escreveu, sua imensa preocupação social e que conseguiu com suas fábulas morais e sentimentais tornar a opinião pública da maior cidade industrial do mundo mais consciente da necessidade de reformas práticas e imediatas.
      Obrigado por participar!

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  5. Francisco Bendl19/11/2019, 11:37

    Por uma dessas casualidades, na semana passada a Netflix coloca à disposição a 3ª Série do extraordinário seriado The Crown, que relata a ascensão da Rainha Elizabeth ao trono em 52, a duração do seu reinado, incluindo os problemas da família real e um que outro escândalo protagonizado pela realeza.

    A Netflix gastou 400 milhões de dólares com este projeto, e afirmo que valeu a pena o investimento pelo brilho da obra, atuação dos atores, as cenas palacianas.
    Mas, o que me deixou impressionado são os conflitos entre os familiares, suas infelicidades, solidão, intrigas, e posturas absolutamente frias, de modo a não transmitir qualquer emoção ou tendência ou preferências!

    Dito isso, entendo Pimentel no seu amor a Londres, a sua paixão pela capital do Reino Unido, pois a cidade tem uma história como poucas neste mundo podem apresentar tanta tradição, costumes, sagas, conquistas, e a obediência irrepreensível aos protocolos!

    Há momentos nesta 3ª Série verdadeiramente fantásticos, em face da atuação da oscarizada Olívia Colman, que representa a Rainha, onde nos mostra uma mulher só, quase que um robô, fria, uma espécie de escrava da Corte Inglesa, e mesmo assim tem seus momentos de emoção, de deixar os olhos umedecidos, mas de conseguir não derramar uma lágrima que seja, pois tem o dever de manter as estruturas do reino, a sua fortaleza, o seu poder.

    Outra atuação elogiável é do ator que faz o papel de Charles, permanentemente contido, limitado, tendo a sua vida rigorosamente monitorada, e um serviçal à sua própria mãe, a Rainha.

    Não vou contar a 3ª Série, que eu a vi em dois dias, até pelo fato de obedecer a história, ser fiel aos acontecimentos dramáticos que, por um triz, quase que colocam o Reino Unido em falência, e a um palmo da Guerra Civil!

    A razão desta minha postagem, que segue tecendo loas ao trabalho magnífico de Pimentel, diz respeito justamente à atração que esta cidade possui sobre às pessoas que a visitam, quanto àquelas que se deliciam com os detalhes postados pelo nosso viajante/escritor/crítico de artes/, e um apaixonado pelo historicamente importante à humanidade!

    E, Londres, a sua Realeza, o rio vital à população, comércio, meio de comunicação com o mar e interior inglês, o seu povo tradicional, seus modos e costumes milenares, a influência londrina sobre as demais grandes metrópoles do mundo, sua malha ferroviária perfeita, os encantos de uma cidade que não mais pertence ao seu povo, mas aos habitantes deste planeta, humildemente deixo a minha sugestão: Que, afora colecionarmos os artigos de Pimentel sobre Londres, que assistam esta Série The Crown, pois a junção do relato do nosso expert com as imagens e atuação de um elenco primoroso, que nos mostram os bastidores de reis e rainhas, suas frustrações, decepções, suas obrigações torturantes, independente da vida fausta, nababesca, confortável, e mordomos de todos os tipos e tarefas auxiliando a família se vestir, tomar banho, sempre alguém ao lado, motoristas, carros os mais luxuosos, aviões – pois mesmo esta existência incomparável de se ter o que se quer, mesmo assim, aflora uma infelicidade, uma rebeldia, um descontentamento, que nos obrigam a ter uma empatia pela Rainha e seus súditos, e ter uma especial admiração pelos ingleses e sua capital, Londres.

    A realeza inglesa é Londres, assim como a cidade é a realeza.
    Ambos estão tão atrelados, tão aprisionados um com o outro, que podemos entender o fascínio que a Rainha gera nos países que comanda, o Reino Unido, da mesma forma que Londres tem a sua magia, a sua história milenar, as suas tradições, que perduram por séculos e séculos.

    Grato, Pimentel, por esta sequência de artigos espetaculares, e por compartilhares conosco os teus conhecimentos importantíssimos sobre uma cidade que transcende a si mesma!

    Forte abraço.




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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 07:59

      Prezado Bendl,
      Não, eu não vi nenhuma das séries de The Crown e agradeço-lhe pela boa dica e pelo belo comentário. Mas não se pode acreditar piamente nos atores das telinhas e telonas - mesmo os "oscarizados" - e muito menos nos tabloides cada vez menos preocupados com os próprios pobres argumentos e conteúdos, que raramente confirmam o sensacionalismo das suas manchetes e/ou capas. Então penso que devemos tentar traduzir a monarquia de um jeito que faça sentido evitando, principalmente, insistir em ver as coisas como costumavam ser. Pois por incrível que nos possa parecer, hoje o povo britânico está nas barricadas do lado da realeza (rsrs) Ou seja, a família real é aprovada, entusiasticamente, por 70% dos contribuintes - lá chamados de "pagadores de impostos" - do Reino Unido.
      Sim, você tem razão sobre o “ fascínio” exercido pela realeza traduzido em mais de vinte milhões de turistas/ano que desejam visitar os palácios, fotografar as carruagens de vidro, os guardas de chapéu de pele de urso e cavaleiros montados em esplêndidos cavalos e aplaudir os casamentos e batizados reais. Só que ao fazer tudo isso os visitantes lotam hotéis, museus, pubs, restaurantes, teatros e lojas. Ou seja, a monarquia tornou-se um produto, uma marca, uma grife glamorosa e rentável. Tudo bem que não é só isso, que são muitas as razões subjetivas e objetivas que fazem a realeza britânica funcionar mas entre elas mora uma qualidade fundamental: a capacidade de se adaptar.
      Lembro que em 1997 a família real quase naufragou quando a Rainha optou por silenciar após a morte de Diana. Note que essa senhora de noventa e muitos anos é do século passado, uma era que se horrorizava com demonstrações públicas de emoção e se orgulhava de ser publicamente estoica diante de todas as adversidades. Elizabeth II teve que incorporar tais valores e projetá-los em tudo o que fazia para garantir a continuidade do falido Império. Sucede que quando Diana se despediu a comoção popular tomou as ruas de assalto exigindo que a rainha demonstrasse o que lhe haviam ensinado a esconder: sentimentos. Ela entendeu o recado, recuou e prestou à ex-nora as devidas embora discretas homenagens fúnebres.
      Desde então o Charles casou com a antipática rival da ex e seus filhos com uma simpática plebeia londrina e uma atraente e divorciada e bem sucedida atriz americana, filha de pai branco e mãe negra. Parece que os príncipes aprenderam que a principal regra desse jogo é a tal da “reinvenção”, que o truque é respeitar o passado mas abraçando o futuro, é conquistar novos mercados sem alienar os antigos. A gente pode gostar ou não do cardápio, pode prestar atenção no filme ou apertar o botão do off, mas temos que concordar que os da realeza gerencia com profissionalismo a sua grife.
      Abração

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  6. Wilson Baptista Junior19/11/2019, 12:25

    Como já falei do que gosto em Dickens ao comentar o post anterior, não volto a fazê-lo aqui. Mas não poderia deixar de concordar com o que disse a Ana sobre a fotografia que abre este, é uma belíssima fotografia que qualquer fotógrafo ficaria contente em assinar em baixo. Um abraço do Mano.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 08:01

      Wilson,
      Vindo de quem vem o comentário me deixa muito honrado, obrigado. Creio que os melhores clics que já fiz de Londres foram cometidos do rio, de barcos, ou das suas pontes e ribeiras e piers. Mas devo confessar que essa imagem muito mais do que uma paisagem dickesiana me lembra de uma dificuldade incontornável para aqueles que visitam a Europa no inverno : a curta duração dos dias. Decolando de praias onde o sol brilha das 5 da manhã às 6 da tarde, é complicado se organizar em paragens onde o astro rei só dá o ar da graça dele – quando dá ! – das 8 às 4 (rsrs) Ou seja, não dá para simplesmente sair flanando. Um mínimo de planejamento in/out doors e alguma sorte é preciso.
      Abração

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  7. Alexandre Sampaio19/11/2019, 19:49

    Pimentel,
    Em um dos seus comentários você disse que preferimos boas histórias a filosofias. Verdade. Charles Dickens acertou no conteúdo e no tom e conquistou uma legião de leitores. E você vai concluindo muito bem esta minissérie, um mix de cinema e literatura, de arte e turismo e da história de uma cidade de dois mil anos de idade que já foi a capital do mundo. Parabéns.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 08:04

      Sampaio,
      Acho que são muitas as razões que determinam o sucesso de um escritor. Uma delas é acertar no tema. Para Dickens , assim como para o mineirim Drummond, o “tempo presente” foi a matéria. Porém nunca ouvi falar de um bem sucedido escritor que não soubesse unir as pretinhas e as pontas soltas de suas tramas. Dickens sabia escrever magistralmente. Simples assim e ponto parágrafo.
      Em um dos romances da lavra de James Clavell, de nome Gaijin, que rola em um assentamento de mercadores estrangeiros no porto de Yokohama, no Japão, durante a década de 1860 , li uma descrição da chegada dos navios britânicos com os malotes postais e da ansiedade com que os expatriados esperavam tanto pelas notícias de casa quanto pelos novos fascículos do romance que Dickens estava escrevendo. Talvez o cara tenha acertado também na posologia: em capítulos semanais.
      Obrigado e abração

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  8. Flávio José Bortolotto19/11/2019, 21:12

    Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,

    O ilustre Viajante do Mundo, excelente Escritor, Sr. MOACIR PIMENTEL nos brinda com mais um agradável Artigo sobre essa grande e importante Capital do Império Britânico, Londres - UK.

    Baseado nos Clássicos do grande Escritor Inglês CHARLES DICKENS, maioria dos quais se passam na Londres Vitoriana, o Sr. MOACIR PIMENTEL vai nos passando curiosas informações da Cidade e dos Livros, ajuntando ainda belas fotos.

    Quando formos ou voltarmos a Londres - UK teremos muitas coisas interessantes e históricas para visitar, com as dicas do Sr. MOACIR PIMENTEL.

    Muito Obrigado e um Abração.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 08:09

      Prezado Bortolotto,
      Entendo que pelos dezenove capítulos dessa “franquia”, temos todos nós viajado juntos pelas esquinas da velha capital do Império Britânico e agradeço-lhe pelas boas companhia e palavras. Mas torço para que os amigos do Blog possam, na real , ir ou voltar a Londres outras vezes, para que então o que tenho rascunhado por aqui se torne útil.
      Abração

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  9. 1) "My old England !"

    2) Sempre que eu vejo estas fotos maravilhosas e textos idem do Pimentelji eu lembro do Itaité, o navio que eu viajei em 1979, saí de Santos, SP, rumo a Tilbury, na Grande Londres.

    3)Quando o naviozão cargueiro aproximava-se das águas territoriais inglesas, avistamos ao longe a Ilha de White , onde houve um Festival Hippie da época e me parece que foi lá que Caetano e Gil estiveram...

    4) Ao chegarmos perto da Ilha o comandante do navio mercante exclamou o que está no número 1 entre aspas. Então fiquei sabendo, ele era brasileiro, mas a esposa e as filhas moravam em Liverpool, todas inglesas.De Tilbury, o navio iria até Liverpool.

    5) E eu associava a Liverpool dos Beatles. Se eu errei nas grafias me desculpem pois eu já falei aqui que o meu inglês é de Cais do Porto.

    6) Obrigado Moacirji por me ajudar nas memórias.

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    1. Moacir Pimentel22/11/2019, 08:19

      Salve Antoniusji,
      Penso que o Conversas do Mano é sim um espaço onde podemos trocar nossos bytes de memória agradável e sossegadamente (rsrs) Sabe? Certa vez conheci um ex-estivador que se comunicava bem em várias línguas as quais aprendera, depois do expediente, com marinheiros estrangeiros no Cais do Porto e na zona. O cara era uma prova vivente de que falar uma língua estrangeira é, em grande parte, pura capacidade histriônica pois ele assimilara, inclusive, sotaques e gestuais dos “professores”. O certo é que quando se aposentou se reinventou, com muito sucesso, como guia turístico apesar das inusitadas concordâncias e reincidentes gírias e palavrões cabeludos que, na verdade, divertiam imenso os turistas(rsrs)
      E me identifiquei com o comandante do navio mercante Itaité que, como eu, casou com a velha Europa. Não o faço mas bem que poderia dizer, sempre que o nosso avião sobrevoa as pontes do Porto: "Meu velho Portugal!".
      Quanto aos Beatles e Caetano, vou deixar para o próximo e derradeiro capítulo, está bem?
      Namastê e abração

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