Charles Dickens Dream – aquarela de Robert William Buss (1804-1875), Charles Dickens Museum |
Moacir Pimentel
Na tela que inaugura o post, de autoria do pintor Robert William Buss e
batizada de O Sonho de Dickens, vemos Charles John Huffam Dickens retratado em
sua mesa de trabalho em Gads Hill Place, a casa dos seus sonhos de menino,
cercado por muitos de seus personagens.
Diz Dona Lenda que um belo dia, em 1821, quando Charles Dickens tinha
apenas nove anos ele e o pai, passeando pela cidade de Kent, passaram por uma
casa que deixou o garoto muito impressionado. Criado às voltas com problemas
financeiros, para o miúdo a mansão imponente pareceu ser parte de um mundo
diferente. Seu pai notou seu interesse e disse-lhe que, se “fosse muito perseverante e trabalhasse muito”, um dia poderia
viver lá. O garoto passou a caminhar de Chatham
até Gads Hill Place, hipnotizado pela imagem de seu possível futuro. Ele
escreveria mais tarde:
“Eu costumava vê-la como uma mansão maravilhosa (que Deus sabe que não
é) quando eu era uma criança muito estranha, suponho, com as primeiras tênues sombras
de todos os meus livros na minha cabeça.”
Trinta e cinco anos mais tarde, em 1856, o escritor comprou a casa de
campo e de fato, foi lá, no topo da colina mágica de sua meninice, que se
despediu em 1870.
Charles Dickens tem sido um dos mais amados escritores da língua
inglesa desde que o seu primeiro romance, As Aventuras do Sr. Pickwick - ou os
Cadernos, ou os Papéis dele, dependendo da tradução/edição - foi publicado em fascículos entre 1836 e 1837 e se tornou o primeiro best-seller do vasto mundo e fez de Dickens uma
celebridade no cenário cultural britânico vitoriano.
O poeta português Fernando Pessoa lamentava já ter lido as peripécias
de Pickwick por não mais poder ter o prazer de
lê-las pela primeira vez.
“O sol acabava de nascer e começava a alumiar a manhã do dia treze de
maio de mil e oitocentos e vinte e sete, quando Samuel Pickwick se ergueu, tal
outro sol, dos seus sonhos, abriu de par em par as janelas do quarto e
espreitou o mundo lá embaixo.”
Eu li as histórias do Sr. Pickwick aos doze anos e, pelo que me lembro,
o rico senhor mantinha um clube, uma associação de amigos que trocavam ideias
sobre a vida registrando-as em documentos, uma espécie de Blog de antigamente
(rsrs) O certo é nos tais “papéis” eles satirizam a sociedade, a política, as
práticas hipócritas de jornalistas, advogados, pastores e médicos, além dos relacionamentos
amorosos de meio mundo e tudo isso nos intervalos de muitas bebedeiras. Lembro
de que me diverti com o personagem mais engraçado da narrativa: o Sam Weller. E não fui só eu!
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Hoje nas lojas de souvenir inglesas Weller nos
encara de muitas canecas! O Sam literalmente roubou a cena quando apareceu como
engraxate lá pelo décimo capítulo da novela fazendo-a bombar: as vendas semanais dispararam para quarenta
mil fascículos! Dickens achou por bem promover a criatura a criado pessoal
do Sr. Pickwick, uma reedição do Sancho Pança, rápido
de pensamento e afiadíssimo de língua, para um novo Dom Quixote
vitoriano e nada delirante.
O
certo é que a carismática figura de Sam Weller é de
longe a melhor coisa do livro e que o prezado público ficou
viciado nos comentários que o cara fazia com o tal do sotaque das ruas de Londres apelidado de “cockney” - que troca
fonemas sonoros por surdos e vice versa - repletos de
citações e ditos populares, sempre hilários e que se tornaram tão populares que
foram chamados de “wellerismos”.
“Quando você for um homem casado, Samuel, você vai entender coisas que
você não entende agora. Mas não sei se é válido passar por tanto, para aprender
tão pouco, como disse o estudante quando chegou ao final do alfabeto. É uma
questão de gosto”(rsrs)
Mas o carisma cintilante do Sam não eclipsou de todo a benevolência do Senhor
Pickwick que é inteiramente humano e portanto credível. Decente e determinado,
um observador da natureza humana, apesar de ser forçado a enfrentar o lado mais
sombrio da vida durante suas aventuras com seus amigos Winkle, Snodgrass e
Tupman, ele permanece fiel aos seus princípios e é o personagem central do
enredo.
Dickens levou toda uma sociedade à reflexão por meio de “estórias” de
simples personagens - na sua maioria garotos! - de suas carências no sistema e
de seus traumas nas relações afetivas, criando uma literatura que sim, abriu
uma avenida para a crítica social mas na qual o escritor reencontrou sua infância
perdida e pôde inventar outras infâncias com as quais pôde expressar seus
medos, segredos e esperanças de menino.
É como se, para Dickens, não houvesse na vida ocasião
mais importante do que aquele momento no qual o garoto dá lugar ao homem. Como
se tal situação o tivesse marcado de tal maneira que o levou a criar uma obra
que faz constantes referências às suas próprias e dramáticas infância e
juventude e a inventar personagens jovens e fortes “em seguidinho” que são verdadeiras
personificações dos sentimentos que nelas experimentou.
É o caso de David Copperfield,
Oliver Twist, Nicholas Nickleby, Philip Pirrip, todos eles alter egos do
escritor, expressões da sua personalidade, moleques que atravessam sérias dificuldades
sendo obrigados a, precocemente, ir ao encontro das responsabilidades da
impiedosa vida adulta. Porém Dickens, que só fica atrás de Shakespeare em
número de obras reproduzidas, seja para teatro, cinema e/ou televisão,
conseguiu ser, ao mesmo tempo, realista e romântico.
Realista porque encarou de maneira incisiva os fatos e as fotos do tempo
e da sociedade em que viveu e romântico pois, apesar de ressaltar todas as suas
tristes dificuldades, seus personagens sempre tinham um encontro feliz com o
destino que os redimia das maneiras mais improváveis.
Suas novelas não só foram marcantes e formadoras de opinião, mas
acrescentaram novas palavras à língua e novas formas de pensar o mundo à
sociedade. Seu estilo de escrita é marcado por uma profusa criatividade
linguística. A sátira é o seu forte, turbinada por sua aguda percepção do lado
ridículo da vida. Dickens dedicava especial atenção aos nomes de seus personagens
porque acreditava que eram fundamentais no desenvolvimento e nos significados
das tramas.
Para citar um dos numerosos exemplos, veja o nome do Sr Murdstone, o
antagonista e o padrasto do herói, no livro David Copperfield. Murdstone é um
tirano que adora atormentar a mulher tola e fraca para “aperfeiçoá-la” e
espancar o enteado indefeso para “discipliná-lo”. Muito bem. Seu nome faz
alusões geminadas a assassinato – murder
- e à frieza da pedra - stone. Mas
Dickens não estava disposto a inventar um Sr. Murdstone sem alguma profundidade
psicológica: seu vilão repugnante não é apenas um monstro - embora ele seja um
monstro, não me entenda mal – mas alguém que fora abusado quando criança.
Trata-se de um grande livro, de um romance clássico
sobre o qual escreveu o próprio Dickens: “Dos
filhos da minha fantasia o predileto chama-se David Copperfield.”
Fyodor Dostoiévski, Thomas Hardy, Edgar Allan Poe e Somerset Maugham
estão entre os autores que elogiaram o mestre dos contos. Chesterton disse que Dickens não fazia
exatamente literatura “mas mitologia” e T.S. Eliot mandou ver:
“Charles
Dickens se destacou nos personagens, na criação de criaturas de maior
intensidade do que os seres humanos”.
É verdade. Dickens foi uma usina de personagens, o maior criador de
personalidades memoráveis da ficção inglesa, depois de Shakespeare. Os
personagens dickensianos, de nomes caprichosos, são parte integrante da cultura
britânica.
Mas ele revelou-se um inconformista cuidadoso já que também conquistou o público burguês porque foi
inteligente e dominou seu ímpeto revolucionário: não era ele quem turbinava o
pensamento crítico e o sentimento de frustração nos leitores mas sim os seus
fabulosos personagens que os verbalizam por ele (rsrs)
Eu nem sei, entre tantos e tão bons, quais deles mencionar nesse post.
Mas não posso deixar de conversar sobre o próprio David Copperfield, o protagonista mais autobiográfico do escritor. Nessa
autobiografia velada do escritor até Lucy Stroughill, a namoradinha de infânciade
Dickens, foi retratada como a Pequena Em'ly da fantasia.
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Na real, Charles Dickens, assim como o David na ficção, teve uma
infância violada. Sua família fora economicamente estável, o que lhe
proporcionou uma excelente educação. Mas seu pai perdeu o controle das
despesas, se endividou seriamente e foi mandado para a prisão de Marshalsea, quando
o filho tinha apenas onze anos, obrigando a família a se mudar para a periferia
de Londres e o pequeno Charles a sustentá-la, trabalhando em uma fábrica de
graxa para sapatos.
Nas páginas desse livraço um dos personagens - o Wilkins Micawber - é a
figura paterna, um retrato do pai de Dickens: irresponsável, encantador,
eternamente otimista, possuidor da exuberante retórica paterna. Como John
Dickens também Micawber vivia
repetindo que “alguma coisa vai acontecer”
para resolver seus problemas.
David Copperfield é um desses livros enormes, de mais de mil páginas, nas
quais ninguém se perde e muito menos se cansa porque Dickens conduz sua
história de maneira magistral, usando incidentes de sua vida pessoal para criar
um enredo como se olhasse para trás pelo retrovisor e sobre os altos e baixos
da sua própria estrada, para dotar de vida o seu personagem-título.
Precocemente Dickens viu sua infância se esvair como névoa para dar
lugar a uma sociedade sádica e corrupta. A vida tornou-o um indignado com o
deplorável estado das prisões, com a situação das mulheres reduzidas a
trabalhar como prostitutas, com as sub-humanas condições de trabalho e de vida
da população pobre de Londres e transformou-o em um defensor militante das
reformas sociais.
A delicadeza de sua pena romântica contrastou com a fúria de uma alma
inconformada, resultando em uma das obras mais aclamadas da literatura mundial.
Dickens publicou uma grande quantidade de romances e contos, além de alguns
artigos teatrais e outros textos jornalísticos, misturando nas suas pretinhas o
belo, o grotesco e o humor em situações inusitadas. O autor trabalhou em estreita
colaboração com seus ilustradores, fornecendo-lhes nos mínimos detalhes as
características pessoais das criações de sua fantasia e um resumo do trabalho
que seria publicado em fascículos desde o início, garantindo assim que seus
personagens e cenários fossem exatamente como ele os imaginava e bem credíveis.
No entanto, as críticas sociais foram a maior marca de seus livros. Ele
foi um grande crítico das consequências perversas provocadas pela evolução da
produção artesanal para a das máquinas, ou seja, pela Revolução Industrial.
Dickens escancarava para seus leitores tudo aquilo que a realeza e a alta
sociedade britânica fingia não ver: como todos viviam degradados, em condições
precárias, sem higiene, em ruas sem pavimentação, sem esgoto e sem segurança.
Seus livros tratam de temas como miséria, ausência de educação de qualidade
para os mais necessitados, desemprego, prostituição, avareza e preconceito e de
um sistema jurídico corrompido que fechava os olhos às escravidão e exploração
infantil.
A resposta vitoriana para lidar com os pobres e indigentes foi uma lei,
promulgada em 1834; se, anteriormente, havia sido responsabilidade exclusiva
das paróquias cuidar dos pobres, a nova legislação exigia que as paróquias se
unissem e criassem “casas de trabalho” para eles. Só que os desvalidos faziam
tudo que podiam para evitar essa “ajuda”, pois as tais casas eram pouco mais do
prisões onde todas as liberdades eram negadas, as famílias separadas e a
dignidade humana destruída. Dickens, que repetidamente as denunciava em suas
novelas, foi um verdadeiro herói para os pobres.
“Era dia de mercado; a lama dava pelos tornozelos;
espesso vapor saía do corpo dos animais e se confundia com o nevoeiro em que
desapareciam as chaminés. Uma multidão de bois e animais de toda a espécie
estavam presos, em filas intermináveis, a umas estacas fincadas no chão;
campônios, carniceiros, mercadores ambulantes, crianças, ladrões, vadios,
vagabundos de toda a espécie, misturados e confundidos, formavam uma massa
confusa.”
O meu preferido e o mais famoso dos eternos heróis dickensianos talvez seja o orfão Oliver Twist, o primeiro protagonista
infantil em uma novela inglesa. Sua fome, seu inquebrantável apetite e aquele
destemido pedido - “Por favor, senhor, eu
quero um pouco mais” - nos fazem querer muito bem a esse órfão entre as
centenas que penam com a fome e o trabalho escravo na Inglaterra vitoriana.
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Vendido para um coveiro, ele sofre com a crueldade da família adotiva e
acaba fugindo para Londres onde é recolhido das ruas por Artful Dodger, um
ladrão mirim que o leva até o covil de Fagin, um velho cruel que comanda um
exército de prostitutas e pequenos marginais. Só que o pequeno Oliver encontra
um possível lar junto a um homem bondoso e então o chefão Fagin passa a temer
que o menino denuncie seu esquema e para evitar o risco planeja um assalto à
casa do rico Sr. Brownlow, o pai desejado por Oliver.
E a gente ao ver o moleque, involuntariamente, cair de paraquedas nessa
gangue de criminosos, passa a torcer fervorosamente por um final feliz e o
autor não nos decepciona.
Esse conto de Dickens sobre a inocência da infância assolada pelo mal foi
um novo tipo de ficção, contundente na crítica de uma sociedade cruel, mas combinando
elementos narrativos do romance gótico e retratando o lado escuro de Londres em
um texto permeado por uma sensação inesquecível de ameaça e mistério e povoado
por personagens vívidos e memoráveis: o vilão Fagin, o “dimenor” Artful Dodger
– traduzido como “O Ardiloso” nas nossas praias – o ameaçador Bill Sikes e a
generosa Nancy.
Aprecio de forma especial dois deles: o primeiro é o moleque Ardiloso,
memorável até porque fornece algum alívio cômico à leitura, em parte por causa
de sua atitude dane-se-o-mundo mas também por causa das justaposições contraditórias
que compõem a sua pessoa. Ele não pode ter mais do que doze anos, mas age,
fala, anda e se veste como um homem adulto e o contraste entre a sua postura e
o seu tamanho é bem engraçado.
Ele é um Peter Pan revolucionário, meliante, esfarrapado e sujo, que roubava
todas as cenas - para não mencionar alguns objetos de valor! – e me fazia
querer correr pelas ruas de Londres atrás dele (rsrs) Ele fala a língua dos
ladrões, o que dá a Dickens uma chance de mostrar o que ele sabe do submundo do
crime e oferece ao leitor a impressão excitante de estar vislumbrando-o com
alguma autenticidade. O Ardiloso é tão real que alguns críticos acham que foi
inspirado por um verdadeiro gatuno de nome Jack Sheppard.
A segunda criatura do meu encanto é a Nancy que possui todos os tons de
cinza que nos fazem humanos. Ela é complexa – talvez a personalidade mais
complicada de toda a obra de Dickens - simpática e totalmente trágica. Uma jovem
mulher com uma alma velha. Apesar de ser um personagem relativamente pequeno,
ela tem um papel muito importante a desempenhar: termina defendendo e abraçando
o pobre órfão. Por que ela ajuda Oliver?
Talvez por ser lembrada de sua própria inocência perdida quando o encara.
O certo é que ela enfrenta o chefe do bando:
“Eu roubei para você quando era criança, não tinha nem a metade da idade
de Oliver. E estou no mesmo ofício por doze anos desde então.”
Embora Dickens nunca use a palavra “prostituta” ao se referir à Nancy
ele chega bem próximo disso ao fazer com que o abominável Sikes pergunte à
garota se ela sabe o que ela é. A implicação é bastante óbvia: ela é uma
prostituta e, portanto, dificilmente uma mulher moralmente indicada para
colocar Oliver debaixo das asas.
No entanto o autor não se esquiva de mostrar o terrível assassinato da
garota em todos os seus detalhes sangrentos, ou de descrever roubos, fraudes e
outros crimes. É a repressão sexual vitoriana que o impede de dizer que Nancy é
uma prostituta? Em parte. Afinal, Dickens desejava que seu público simpatizasse
com Nancy e um leitor vitoriano poderia não empatizar com uma rameira, embora ela
também detestasse Fagin e tivesse pavor de Sikes. Nancy explica para uma colega
de sina o seu envolvimento com o sociopata Sikes:
“Quem como nós, não tem um telhado seguro além da tampa de um caixão e
nenhum amigo na doença ou na morte além da enfermeira do hospital de
indigentes, quando entrega o corrompido coração a um homem, deixa que ele
preencha na sua vida miserável o lugar que pais, o lar e amigos preencheram uma
vez. Como podemos esperar nos curar? Estou acorrentada à minha antiga vida.
Detesto e odeio tudo isso agora, mas não posso deixá-lo. Fui longe demais para
voltar “
Mesmo que isso signifique retornar para seu amante violento e ameaçador
apenas para ser brutalmente assassinada. Apesar da aparente esperança das suas
linhas finais, esse romance sombrio não perdoa nem redime. Dickens não pinta um
quadro moral preto e branco, mas nos convida a julgar seus personagens com base
em suas ações e qualidades individuais. Mas como perdoar Dickens por matar a
Nancy? Eu confesso que fiquei injuriado (rsrs)
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos”, escreveu o autor nas linhas de abertura de A Tale of Two Cities - Um Conto de Duas Cidades - enquanto pinta imagens
da vida na Inglaterra e na França, no final de 1775. Nesse livro encontramos o oposto
do Oliver, Madame Defarge, uma vilã
deliciosamente desagradável, que tinha um fraco por guilhotinas, enviava
inocentes para a morte com as mentiras que espalhava e teve o fim que mereceu.
E, em Great Expectations - Grandes
Esperanças - o que dizer da Senhorita Havisham que me fascinava e
aterrorizava depois de ser abandonada vinte minutos antes de seu casamento e de
parar todos os relógios no exato momento da traição mas continuar vivendo com
seu vestido de noiva e apenas um sapato?
Gillian Anderson como Miss Havisham (imagem Pinterest) |
Essa história é narrada pelo seu protagonista, outro jovem órfão,
chamado Philip Pirrip - ou, simplesmente, Pip - que ao receber uma misteriosa fortuna
passa a rejeitar seus amigos e sua família, envergonhado de suas origens
humildes. Sucede que Pip, desde menino, fora enamorado pela filha adotiva da
Senhorita Havishaw e que a obsessão da senhora se manifesta justamente na
garota, cujo caráter é por ela deformado e a quem ela ensina a quebrar os
corações masculinos.
Estella, criada para ser cruel, termina não sendo nem a mocinha nem a vilã,
nem verdadeiramente malvada nem particularmente agradável, mas uma criatura
vazia cuja beleza fria é infinitamente sedutora - e frustrante! – para o pobre
Pip. Um desperdício! Mas a ironia da situação é que ao ver a dor que as suas
artimanhas doidas de pedra provocam em Pip e tantos outros, a Senhorita
Havishaw sofre mais ainda.
Pip nos conta os principais eventos da sua vida muito tempo depois deles
acontecerem mas o seguimos de boa vontade da inocência infantil à experiência,
da pobreza à ascensão financeira e social, da sua nobreza de espírito inata à
deterioração emocional e moral, que finalmente o obriga a repensar-se. Mas Miss Havisham rouba o show e merece do autor um final de ópera, que faz
com que a cena desolada e empoeirada de sua humilhação insuperável não a
ultrapasse.
Como pular Vincent Crummles, no livro Nicholas Nickleby, o ator-empresário sempre tentando
ganhar dinheiro, um mentiroso descarado que, no entanto, exemplifica de forma
magnífica o amor de Dickens pelo teatro? Quando adolescente ele desejara ser um
ator e jamais deixou de ser um homem do teatro, que amava a vitalidade da cena
teatral de Londres.
Como é que o Ebenezer Scrooge - um cara evidentemente antipático no
Conto de Natal – conseguiu ter sua popularidade surpreendente e passou a fazer
parte da linguagem popular, quando “scrooge” passou a significar “avarento”?
A resposta é simples: seu criador se especializou em inventar vilões
e/ou criaturas duais, dotando-os com mais energia, sangue nas veias e brio do
que nos demonstram os personagens bonzinhos. Por isso nunca esquecemos os seus banditos,
malvados e infelizes de estimação, como o Scrooge, que é um ser perverso e
avarento, mas tem na alma funda algo de alegre e irreverente e, portanto,
termina tendo permissão para se arrepender. Os(as) personagens dickensianos são
tão memoráveis que assumem vida própria fora de seus livros. E uma delas foi
especial. Mas essa já é outra conversa.
Você falou bem demais sobre a obra de Dickens mas adorei foi o quadro 'O Sonho', Moacir. A cabeça de um autor deve ser mesmo assim, uma loucura, cheia de lugares e cenas desbotadas a não ser as do filminho azul que ele está criando naquele exato momento. Só um grande escritor tem a capacidade de viver dentro da própria mente, rodeado por alminhas em gestação para quem tem que inventar tudo começando por um nome de batismo que tenha tudo a ver. Eu enlouqueceria antes do primeiro parto literário kkk Obrigada!
ResponderExcluirMônica,
ExcluirA bem da verdade não consigo imaginar a senhorita no Limbo rodeada por “alminhas” literárias (rsrs) Mas que bom que você gostou da tela que representa o conjunto da obra de Dickens, um território onde os “sonhos” do autor explodem em enredos quase shakespearianos em sua amplitude humana, em tramas trágicas, cômicas, assustadoras, cheias de suspense e até patéticas mas inesquecíveis! Deve ter sido surpreendente para os leitores daquela época ser confrontados com tantas estórias credíveis e vividamente desenhadas, em cada edição semanal da novela da vez (rsrs)
“Obrigado!” e abração
Moacir,
ResponderExcluirDos romances de Dickens o meu favorito é Grandes Esperanças onde ele demonstra uma compreensão profunda e precisa da psique humana e nos esclarece, da maneira mais grandiosa possível, por que somos o que somos nos nossos melhores e piores momentos. Mas li Oliver Twist, o meu segundo preferido, muito menina, roendo as unhas e rezando para que Nossa Senhora o protegesse e nada de mal acontecesse com o pobrezinho.
Um abraço para você
Flávia,
ExcluirQue belo comentário! Sim, todos nós já nos sentimos fascinados diante da irresistível compulsão de Dickens em criar desfiles inteiros de personagens inesquecíveis e da sua magnífica fúria contra a injustiça. Já nos identificamos com o Oliver sempre querendo e pedindo mais, com o valente e sobrevivente Ardiloso, com o Pip apaixonado por alguém e/ou algo muito além do seu alcance. Somos primos distantes dessas criaturas todas, escritas em outra época e em outro lugar e nos percebemos um "poucachinho" melhor depois de as ter lido e conhecido.
Outro abraço para você
Moacir,
ResponderExcluirvocê e os leitores sabem que, como editor, geralmente não comento suas franquias antes do final, para evitar a tentação de dar spoilers. Mas nesse post tenho que saudar um velho amigo cujas histórias povoaram minha vida desde a infância, com o David Copperfield das prateleiras de minha mãe, passando pela aventura de suspense da História em Duas Cidades, e depois por todo o seu maravilhoso universo até vir desembocar num livro triste, deprimente até, mas (não vou comentar aqui porquê) muito atual para nós que é o Bleak House.
O velho contador de histórias de Gads Hill Place é um daqueles cujas histórias vão melhorando à medida em que o tempo passa e a gente busca de novo nas estantes os velhos amigos para imergir mais uma vez naquela atmosfera única de uma Londres antiga cujos personagens são descritos com uma vivacidade, uma força e, mesmo para os mais vilões entre eles, um carinho que poucos escritores conseguiram nos passar. E que acabou fazendo de um deles, Ebenezer Scrooge, um personagem de todas nossas infâncias, leitores ou não de Dickens, o avô escocês do Pato Donald Scrooge McDuck, para nós o Tio Patinhas de tantos quadrinhos.
Não vou falar dos personagens, nem do escritor, que isso você está fazendo, e bem. Obrigado por esse reencontro, e um abraço do Mano.
Wilson,
ExcluirViva os nossos velhos amigos que desde as nossas infâncias fizeram as nossas existências tão mais ricas! Entre eles mora, com certeza, e em lugar de honra o “ velho contador de histórias de Gads Hill Place” que a gente não cansa jamais de revisitar por tantas razões e entre elas os seus “ personagens descritos com uma vivacidade, uma força e, mesmo para os mais vilões entre eles, um CARINHO que poucos escritores conseguiram nos passar.”
Bravo!
Você, como diz a juventude, “disse tudo!” e acaba de sintetizar magistralmente Charles Dickens. Mas então, aqui entre nós e baixinho, apesar de entender perfeitamente o Senhor Editor, preferia nessa longa Conversa poder encontrar mais amiúde um companheiro de caudalosas leituras que fala a minha língua - mesmo cometendo spoilers “em seguidinho” (rsrs) - do que conviver com o seu silêncio, sempre sensato e justo e sorridente, mas nem por isso menos silêncio :) "Obrigado por esse reencontro".
Abração
Olá Moacir,
ResponderExcluirFico fascinada com sua escrita, sua memória e sua paixão.
Aula sobre Dickens e sua obra! Como você interpreta os personagens, indo fundo nas suas "almas fundas". Levando junto, lógico, o escritor e sua época: "É como se, para Dickens, não houvesse na vida ocasião mais importante do aquele movimento no qual o garoto dá lugar ao homem".
Charles Dickens sempre me traz á mente um ambiente um pouco escuro. Como o quarto de Miss Havishan, os esconderijos dos pequenos ladrões, as cenas portuárias.
Tenho pensado em dar Dickens para meu neto,agora, no seu aniversário de quatorze. Mas tenho medo de ser o momento errado e ele tomar antipatia do livro e do autor. Aconteceu comigo com o Pequeno Príncipe, sua raposinha, sua flor e o chapéu recheado de elefante. Poesia pura que não me serviu na época (acho que tinha uns seis anos) e talvez nem me sirva agora. Pena!
Não me julgue mal, mas esses personagens maus capazes de alguma alegria e bondade, bem no fundo, de Dickens me lembram persongens de John Steinbeck, suas prostitutas,seus ratos e homens.
Tchau moleque ardiloso, você corre sim pelas ruas de Londres, hoje com seus tênis bem amaciados nas férias, e ontem com suas pretinhas nos dedos e os livros nos dias chuvosos.
"Por favor, senhor, eu quero um pouco mais".
Atē sempre mais.
Caríssima Donana,
ExcluirBem... para a memória recomendo-lhe sardinhas assadas na brasa, vinho tinto diário, exercício físico, “traduções”, palavras cruzadas, jogo dos sete erros, quebra-cabeças, carteado, muuuuitos projetos e velhas e novas paixões (rsrs) E só o seu netinho nos poderá esclarecer se essa é a hora certa para conhecer Charles Dickens que não, não me traz à mente a escuridão mas o claro/ escuro da vida, tão bem descrito por ele em Grandes Esperanças: "Era um daqueles dias de março em que o sol brilha quente e o vento sopra frio: quando é verão na luz e inverno na sombra." (rsrs)
A impressão que eu tenho é que o prezado Charles tinha talento - isso , infelizmente, não se ensina! - e que sempre desejou “um pouco mais” de mingau e de vida (rsrs) Apesar das realidades sombrias e terríveis que descreveu , apesar de nos contar tanto sobre a tristeza, a miséria, a doença, a maldade e a opressão no mundo cruel ele seguia em frente confiante em uma vida melhor e sempre entusiasmado inventando um fluxo incessante de humanidade que insinuou-se permanentemente em nossa imaginação, povoando nossas paisagens mentais. Ele viveu a sua e outras milhares de vidas plenamente e sua abrangente compreensão da condição humana nos presenteou com alguns dos personagens mais tocantes da literatura, milagres de humor e caracterização que continuam vivos hoje mesmo depois de quase dois séculos desde que foram inventados.
“Até sempre mais”
Grande Dickens! Mas afinal era para os leitores permanecerem tranquilos na zona de conforto, porque o sistema que o escritor condenava já está se movendo na direção da necessária mudança, ou estariam os leitores sendo chamados por ele à ação, para darem um jeito no sistema?
ResponderExcluirMárcio,
ExcluirA leitura que faço é que Charles Dickens acreditava no potencial ético e político da literatura e usou a ficção de maneira eficaz para criticar abusos econômicos, sociais e morais da era vitoriana. Ele fez da sua escrita em fascículos um trampolim para debater as reformas das condições econômicas e sociais que considerava injustas mas sem que suas observações e críticas o tornassem um revolucionário e/ou um defensor da tutela estatal, do suposto dever do Estado de intervir na vida dos indivíduos, da necessidade de pastoreio de uma sociedade de gente supostamente auto suficiente (rsrs) Penso que Dickens percebia que a moralidade dos comportamentos sociais deve ser ditada pelo anseio de se viver em liberdade e pela repulsa contundente de se viver sob opressão.
O fato é que sua escrita ajudou a turbinar a conscientização social do público leitor e contribuiu para uma série de reformas legais, incluindo a abolição da prisão por dívidas, uma faxina nos tribunais, uma melhor gestão das prisões criminais, restrições à pena de morte, o fim do trabalho infantil e da Lei dos Pobres.
Obrigado por participar!
1) O belo artigo do Pimentelji me fez lembrar de um pensamento de Charles Dickens que faz parte dos meus estudos espirituais:
ResponderExcluir2) "Se alguem me ofender, procurarei elevar tão alto a minha alma, de forma que a ofensa não consiga me alcançar!"
3) Não sou melhor do que ninguém, estou apenas aprendendo...
Prezado Autor Sr. MOACIR PIMENTEL,
ResponderExcluirAdmiramos sua magnífica resenha do grande Escritor Inglês CHARLES DICKENS, o segundo maior criador de Personagens da Literatura Inglesa depois do imortal WILLIAM SHAKESPEARE.
A gente lê com prazer, do começo ao fim, "O contador de histórias" e aprende muito de CHARLES DICKENS e sua vasta Obra, na bem elaborada visão do Sr. MOACIR PIMENTEL, Viajante do Mundo e também excelente Escritor.
Li alguma coisa de CHARLES DICKENS quando ainda bastante jovem e como tinha a mania de tentar ler sempre no original quando era Inglês, Francês ou Espanhol, para aperfeiçoar a leitura nessas Línguas, e naqueles tempos não tinha Internet e os Dicionários deixavam muito a desejar, perdi muito das sutilezas e ironias deste grande Mestre da Escrita.
Na época muito imaturo, achei que CHARLES DICKENS exagerava muito na emocionalidade dos Personagens, contrastava demais os Bons com os Maus e minha simpatia foi para o Americano SAMUEL CLEMMENS o MARK TWAIN. Hoje, mais maduro, vejo que não.
Parabéns, e um Abração.
Prezado Bortolotto,
ExcluirPenso que os personagens de Dickens são credíveis porque não há um que seja igual a outro, embora às vezes tenham mais de nós do que deles mesmos. Mas concordo com você que o valor essencial e a verdade dos escritos do romancista escapam sim de muitos leitores, mesmo os mais cuidadosos, simplesmente porque ele apresenta sua verdade impulsiva e apaixonadamente, em cores dramáticas e variadas demais para serem compreendidas em todos os seus aspectos e nuances, mesmo depois de muitas releituras.
Não se pode esquecer que Dickens foi um grande ator, um amante do teatro, um mestre refinado das projeções dramáticas e galantes. É como se ele interpretasse papéis teatrais nos seus romances, o que não é o menor de seus traços shakespearianos.
As criaturas de Dickens podem até nos parecer exageradas e caricaturais mas não estão jamais equivocadas. Não há nenhum livro em que ele perca o senso de direção e propósito, o interesse pelas questões sociais, a originalidade e a liberdade de escrever como bem quis diante das contingências e circunstâncias.
Quanto ao Samuel Clemmens, você lê em ótima companhia: tinha razão Hemingway ao afirmar que toda a Literatura Americana nascera de um livro chamado Huckleberry Finn (rsrs)
Obrigado pela boas palavras e abração
Pimentel,
ResponderExcluirNão tenho palavras para lhe dizer o quanto é agradável esta leitura sobre Charles Dickens, um escritor realmente fora de série, cujos romances têm temas e valores universais capazes de emocionar pessoas de qualquer parte do mundo. Parabéns!
Sampaio
ExcluirDickens nos diz coisas sobre nós mesmos, à medida que retrata traços de personalidade e hábitos que nos são por demais familiares (rsrs) Os especialistas chamam tais similitudes, tais dramas em que nos reconhecemos de "temas universais" porque sim, eles poderiam rolar em quaisquer latitudes. O problema é conseguir escrever sobre "o melhor e o pior de nós", como disse a Flávia, com a mesma energia efervescente e a livre inventividade do Charles.
Obrigado e abração
Agrada-me em Dickens a sua sensibilidade quanto à miséria londrina, a fome entre as crianças, o modo de vida deprimente como viviam, permanentemente pedindo esmolas.
ResponderExcluirDiante da situação econômica pobre onde moravam, e nada recebendo como auxílios para se sustentar e suas famílias, do mesmo modo pai, mãe e irmãos doentes morando em cortiços, o célebre escritor se notabiliza por histórias de ficção como se fossem verdades, a realidade de Londres nas primeiras décadas do século XIX.
Evidente que Oliver Twist deveria terminar bem, pois abordava crianças, os seus sofrimentos e ausência de futuro.
Caso Dickens quisesse ser famoso em seus livros, a criança – o herói permanente – não poderia ter um fim trágico. Que fosse dramática, miserável, injusta, mas o fim deveria ser auspicioso, sob pena de um pessimismo inaceitável e atroz!
Sem eu querer fazer comparação alguma, evidente, mas apenas resgatando uma história com a mesma essência e final feliz, menciono O Conde de Monte Cristo, que foi preso injustamente, sofre, padece mas, ao final, compensa a saga que foi a sua vida.
Claro Alexandre Dumas (pai) se baseou em François-Pierre Picaud, pois assim como Dickens, inteligente e criativamente usou a pobreza londrina com as crianças como pano de fundo para contar as suas histórias.
Aprecio literaturas que invadem o aspecto humano, ainda mais quando derivadas de personagens sofridos, injustiçados ou que sentem remorsos pelos males que fizeram, e se debatem com suas consequências em lutas poderosas e excepcionais!
Dumas, assim como Dickens, mesmo 20 anos depois, aborda a hipocrisia da sociedade, seus falsos valores, princípios, pois o objetivo é o dinheiro, em detrimento do ser humano, o enaltecimento do preconceito social, as diferenças a segregação nesse aspecto.
E nada mais nos deixa apreensivo, sentido, sensibilizado, que uma criança passando fome e morrendo de doenças.
Neste particular, o Brasil não está distante de Londres do século retrasado, não.
Existem milhões de crianças com fome, na miséria, na pobreza, sem esperança, sem futuro, sofrendo, padecendo, vivendo de pequenos roubos e esmolas.
Lamento que não temos um Dickens entre nós, que escrevesse a respeito dessa desumanidade, desse desprezo e abandono por aqueles que, falsa e hipocritamente, alegam preocupar-se com o “social”, mas permitem criminosamente que as nossas crianças sejam mortas inapelavelmente pela irresponsabilidade governamental e desta sociedade, que também gosta de viver de aparências.
Parabéns ao Pimentel por mais esta resenha que fez de um dos mais célebres escritores do mundo.
Abração.
Saúde, muita.
Prezado Bendl,
ExcluirÉ claro que a forte consciência social de Dickens e o seu profundo compromisso com os excluídos foram oriundos de suas experiências traumáticas na infância, mas o fato é que o cara tinha coração e sensibilidade e empatizou com as vítimas do sistema. Em Pickwick ele defendeu a reforma prisional, em Oliver Twist chamou a atenção para a exploração de órfãos e o trabalho infantil, em Bleak House atacou o sistema judicial, em Tempos Difíceis destacou as terríveis condições de vida das classes trabalhadoras e antecipou questões sobre legislação antipoluição, planejamento urbano inteligente, saneamento, medidas de saúde e segurança no chão das fábricas e um sistema educacional humano.
Note que o cérebro humano gosta mais de "estórias" que de filosofias e sermões e mandamentos e que não foi à toa que as religiões passaram a conversar com seus rebanhos através de parábolas. Então aquela cena na qual o menino Oliver, desesperado de fome e imprudente de miséria, se levanta e avança de prato e colher na mão, e diz “por favor, senhor, quero um pouco mais” , apelou fortemente à consciência vitoriana. Dickens desafiou de forma genial a narrativa dos poderosos de então, mostrando cabalmente que as tais “casas de trabalho” eram tentativas fracassadas de resolver o problema das crianças orfãs e/ou abandonadas.
É discutível se as soluções para problemas sociais devem ser buscadas na ficção, mas com certeza a obra de Charles Dickens foi uma das produções literárias mais socialmente conscientes e liberais - no melhor sentido dessa palavra! – e reformistas de sua época. Esse cara ajudou a criar tanto a opinião pública quanto a vontade política que hoje garantem ao Reino Unido o décimo quarto maior índice de Desenvolvimento Humano do vasto mundo.
Obrigado pelo comentário, saúde e um abraço
Antoniusji
ResponderExcluirA sua bela escolha das pretinhas do Dickens me fizeram recordar do poema Ítaca de Constantino Kavafis.
(...)
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Poseidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Poseidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
(...)
Namastê!