Ana Nunes
Nossos
corpos estão macios
e o seu
cheiro tão bom!
Seu
calor me agasalha na insônia
sem
você saber.
Seu
cabelo branco e macio faz cócegas
nas
mãos que acariciam.
Sua
pele lisa aceita beijos
e seus
pés se oferecem
quando
os meus os procuram.
Minhas
mãos deslizam por suas costas curvas
e as
suas no meu rosto
fazem
festinhas aprendidas no caminho.
E minha
cabeça cansada
tem
refúgio no seu peito largo.
Nos
desejamos na calma
e na
risada
e
brincamos como jovens velhos.
Nos
recebemos.
Encontro
paz no seu corpo tranquilo.
E
guardo meus sonhos
ao lado
dos seus.
Nossas
teimosias velhas conhecidas
se
espreitam
e se
entendem no silêncio.
Uma
cede
e a
outra aguarda.
As
xícaras quentes de café amigo
se
divertem no café das quatro ou cinco
ou
seis, não importa.
São
encontros camaradas.
Esquecemos
datas como esta
e rimos
delas, agora.
E além
de tudo
temos
netos na nossa caminhada.
Ana
ResponderExcluirChorei de emoção com seu texto tão cheio do mais puro amor!
A mais linda declaração de amor que já li! Chorei emocionada!
ResponderExcluirQuerida Tingó,
ExcluirFiquei sensibilizada com a sua mensagem. Voltei nela algumas vezes para conferir se eu tinha escrito tanto.
Publicar escritos e mostrar desenhos é como exibir entranhas.
Gratidão imensa.
Ana e Mano, parabéns por esta vida tão bem vivida. E obrigada por fazerem parte da minha vida.
ResponderExcluirQuerida Tita,
ExcluirComo sempre é muito bom te ver por aqui. Séria, contida, verdadeira!
E tão carinhosa!
Muito obrigada.
Atē mais.
As belas palavras, frases, parágrafos, a essência de um tema ou poesia precisam ser escritas por quem não só tem talento, mas também tenha a devida sensibilidade para transcrever seus sentimentos, de forma que sejam reverenciados, admirados e aplaudidos a inteligência e a emoção do autor, que nos comoveram!
ResponderExcluirEm meu juízo, a experiência do ser humano é a sua maior conquista.
Os filósofos que deixaram inúmeros livros sobre o empirismo e foram notáveis as suas contribuições à humanidade, afirmavam que o conhecimento sobre o mundo vem apenas da experiência sensorial (os sentidos), a ponto que o método indutivo (verdade geral) afirma que a ciência como conhecimento só pode ser derivada a partir dos dados da experiência.
Bom, mas o assunto é a poesia da Aninha, e a homenagem que presta ao seu aniversário de casamento.
E, mais uma vez, Aninha nos brinda com a sua experiência, sentimentos, sensibilidade, talento, ao se referir à comemoração de mais um ano ao lado do Mano, e o quanto lhe faz bem este amor de longo tempo.
Não mais uma paixão avassaladora, não, daquelas que somem na outra semana, mas um amor perene, verdadeiro, sólido, que proporcionou ao casal ter filhos e netos, e beirando meio século juntos.
A poesia que a Ana nos apresentou tem esses ingredientes, amor, carinho, experiência, talento, para escrever o que pensa sobre esse tempo que vive ao lado do seu marido; o alvo de reconhecimento pela sua felicidade; a segurança que a união lhe trouxe, coroada pelos filhos e netos como bênçãos divinas, em face da relação tão intensa, íntima e poderosa entre ambos.
Nada no mundo é mais prodigiosa, significante, compensadora, importante, que a união do homem com a mulher.
Dois seres diferentes que se completam como uma engrenagem perfeita.
Claro, o mecanismo precisa de manutenção, pois se desgasta. No entanto, a relação humana se preserva, enaltece, torna-se unidade, exatamente ao contrário do metal cujo tempo é o inimigo, e a quantidade de vezes que a engrenagem é colocada para funcionar.
No casamento, o amor é o certificado de garantia para a vida de ambos e, o tempo, quanto mais estiverem juntos aperfeiçoa e mantém a relação sempre necessária para o casal, onde um depende do outro, ambos se amparam, se ajudam, tornam-se cúmplices, e a intimidade é absoluta, vigorosa, abundante, tornando-se cada um dependente do outro, pois a fonte onde bebem do precioso líquido que dá vida à junção de dela com ele, encontra-se no momento que estão sós.
(continua)
Deitados, assistindo TV, no almoço, no jantar, no cafezinho, embaixo das cobertas, na insaciável busca do corpo da esposa ou do esposo e garimpados com profundidade, com maestria, com desejos que somente a experiência de um casamento longevo proporciona.
ResponderExcluirSe o físico não tem mais as formas belas de antes, que ocasionava suspiros impublicáveis porque lascivos, agora é a mente que fascina; a lembrança do tempo passado juntos que enriquece a intimidade; as incontáveis vezes que se amaram como náufragos à procura de algo para não afundar, nadando um no corpo do outro sofregamente, agora é calmamente lembrado no porto seguro que encontraram após o longo período ora tendo a correnteza a favor ora nadando contra para não serem levados para a queda d’água, a imensa cachoeira que os separaria para sempre.
Deitados, à noite, quando pensam sobre balanço da existência em comum, contabilizando as obras realizadas com o casamento, o saldo positivo se encontra no aconchego, no dormir de “conchinha”, no cheiro dela ou dele, nas mãos deslizando ousadamente pelos corpos, nos lábios unidos em beijos intermináveis, o prazer alcançado com inigualável satisfação, então o descanso.
Os sonhos também são os mesmos:
A ansiosa espera pela noite seguinte, onde haverá de novo o garimpo à procura do que ainda está escondido, que não foi sentido, que não foi mencionado, que não foi revelado, que não se sabe até o que pode ser. Sabe-se, apenas, que a manutenção deste casamento maravilhoso está na surpresa que um pode causar ao outro, pois são infinitas as maneiras que a criatividade obtém através do prazer, dos murmúrios intensos, porém discretos, atenuados com beijos ou pequenas risadas lembrando que os filhos poderão acordar.
Mas, eles cresceram, constituíram as suas famílias, saíram do ninho dos pais.
Entretanto, é quando meio século de casamento atinge o ápice, a felicidade plena, o prazer inigualável, a satisfação incomparável, pois os amantes não têm mais impedimentos em suas manifestações como antes; não existem mais preocupações com filhos que possam acordar; os velhos pais, os avós, conquistaram, finalmente, o topo das emoções e sentimentos que somente o amor entre um homem e uma mulher pode proporcionar, o êxtase pleno, a intimidade nunca antes tão desnudada, tão profunda, pois são apenas ele e ela.
A alcova se transforma em uma passarela, e tendo a cama como palco.
Dançam, pulam, podem falar alto, caminhar pelados pela casa, sexo no sofá, um dando banho no outro, carícias na cozinha, briga de travesseiros, assistirem um filme picante, e fazerem comidinhas para depois do amor ... fazendo amor!
Aninha, a tua poesia vou usá-la ao final deste ano quando completarei 50 anos de casado com a Marli.
E, de certa forma, antecipei como será a minha festa com ela, quando ficaremos sozinhos depois da comemoração (que a Marli não saiba das minhas intenções, pois dirá que farei fiasco)!
Para encerrar, quase quarenta anos atrás, o nosso filho caçula tomava banho, fiscalizado por mim e depois secado pela mãe, óbvio.
A discussão era entre ele e o primogênito, cujo tema era o casamento.
O mais velho, em atitude típica da idade, alegava que jamais iria casar.
O mais novo, pragmático, com a sua imaginação muito próxima de onde estava, contestou o irmão:
- Dedé, eu vou casar!
- Eu não. E por que tu queres casar?
- Porque, Dedé, quem é que vai te alcançar a toalha depois do banho??!!
A cada vez que vou tomar banho ainda berro:
- Marli, me alcança a toalha!
- Eu não, tu não és criança. Sai do banheiro e vai buscá-la, tá pensando o quê??!
Também tem isso, aos 50 anos de casado.
Parabéns, Aninha, por mais esta postagem esplêndida, sensacional, que tão bem descreve uma relação tão importante quando feliz entre vocês dois, tu e o Mano.
Abração.
Saúde, muita saúde junto aos teus amados!
Olá Chicão,
ExcluirVerdadeiro post seu comentário. E muito verdadeiras suas reflexões, um filósofo natural da vida nascido em outros de vidas seculares!
"O amor é lindo" mas não é fácil. Ficar juntos então nem se fala. Requer muito querer. E bota querer nisso! E ainda tem a manutenção atenta ao primeiro barulhinho. E muitos cuidados com as correntezas (principalmente nos dias aguados de hoje)!
O amor é grande mas a natureza é forte! (rsrsrs)
Seu filho mais novo é muito prático. Parece-me que saiu ao pai.
E vivam eles! Os filhos!
E vivam os netos que vieram deles!
Obrigada sempre.
Até mais.
Prezada Autora Sra. ANA NUNES,
ResponderExcluirSua Poesia "Aniversário de Casamento", em que a Esposa homenageia o Esposo, é um verdadeiro Cântico dos Cânticos, maravilhosa.
Sua "Gravura em Metal, ponta seca (ANA NUNES)", sugestiva e de muito Bom Gosto.
Os Descendentes, especialmente os Netos, se sentem amados e valorizados, pois Eles fecham com Chave de Ouro, a delicada Poesia.
Parabéns e nossas Saudações.
Olá Flávio,
ExcluirSeu Cântico dos Cânticos me "tirou da casinha"! Nunca mesmo esperei tanto. Mas se meu escrito lhe trouxe essa lembrança, fico encantada!
Obrigada de coração!
Até mais.
Bonito este amor maduro!
ResponderExcluirEsta cumplicidade entre vcs
Eu admiro Ana, sua capacidade de colocar em palavras a sua história de uma vida a dois
Obrigada pela emoção que passou e desejo que possam viver sempre este lindo amor
Um beijo
Querida prima,
ExcluirObrigada por esse seu olhar generoso sobre a vida minha e do Mano. Você,que me acompanha desde muito antes de ele aparecer no escuro do cinema nos procurando. Lembra, Les Parapluies de Cherburg (...for a thousand summers I will wait for you...)?
Gratidão sempre!
1) Bela poesia, ótimas reflexões.
ResponderExcluir2) O sentimento é maior do que as palavras.
3) Parabéns à dupla Ana e Wilson. O Criador muito os abençoe !
Olá Antonio,
ExcluirObrigada pelos seus comentário e elogios.
O sentimento é sempre maior que as palavras mas às vezes elas chegam bem perto, como o maravilhoso "Funeral Blues" de W.H.Auden. E, às vezes, até os versos de pé quebrado.(rsrs)
Carinhosamente, até mais.
Caríssima Donana,
ResponderExcluirÉ quase impossível comentar suas lindas gravura e poesia porque a senhora disse TUDO que um cara gostaria de ouvir da companheira. Para começo de conversa, é claro, parabenizo o casal pela bela data! Tudo bem que já não comemoremos os aniversários de namoro e é bem verdade que “sem brincadeira, cafés amigos e riso” não teríamos o que festejar. Mas deixar escorrer em branco esse dia seria um pecado cabeludo porque "os jovens velhos" tivemos muita sorte de encontrar o amor certo na hora certa e muito jogo de cintura para dar e receber e assim conservá-lo pela estrada a fora até hoje quando nossas “ teimosias” já aprenderam "a ceder enquanto a outra aguarda"! Essas pretinhas irão direto para a pasta das “favoritas” (rsrs)
Guardo na memória fragmentos de muitos poemas de amor. Como esquecer o melancólico madrigal no qual o Bandeira suspira “o que adoro em ti, lastima-me e consola-me: o que eu adoro em ti é a vida!”? Ou o Camões se queixando de que “para tão longo amor é tão curta a vida” ou poetando a superação do indivíduo ao falar do "não querer mais que bem querer"? Pensei no amor amigo do mineirim Drummond que "tanto mais velho quanto mais amor" porém mando-lhe hoje, para uma boa conversa, a sua colega Adélia Prado:
"Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva."
“Até sempre mais”
Olá Moacir,
ResponderExcluirDe tanto verso fiquei prosa! Como não ficar se no seu comentário encontro Bandeira, Camões e Drummond? E de quebra "minha colega Adélia Prado"?
É demais para uma velhinha só. E com versos de pé colado.
Fico sem palavras.
Fico encantada.
Viro fada e viro bruxa.
Para sempre grata.
Ana,
ResponderExcluirOs versos da sua prosa vão falando em rimas sem aquela quantidade (chata) exigida pelas regras que inventaram para a poesia. E você foi, como é a sua cara - que eu nunca (ainda) vi -, descumprindo as normas inventadas certamente por quem nunca viveu um amor como o seu. Afinal, que regras servem para o amor a não ser amar com todas as suas consequências imperdoáveis e inigualáveis?
Ninguém é capaz de dizer ao mar até onde ele pode ir. Muito menos de impor limites ao amor, apenas criar fantasias para fugir dele. Ficar é para os fortes e a recompensa é um mar de segredos incomparáveis, só vivendo-os para entender.
Sorte de quem ama para dizer tanto. Sorte de que ama para ouvir tanto. Sorte de um amor que atravessa o tempo sem firulas, sem dribles, sem enfeites, apenas com gols. Que podem ser contra ou a favor, porque a vida é esse jogo no qual ora se grita ora se sussurra. E tudo se explica, tudo vale a pena quando o epílogo é "Eu te amo!".
Heraldo,
ResponderExcluirSuas palavras tão bonitas, gentis e carinhosas foram mais do que a chuva na janela, o frescor da madrugada e o copinho puderam dar conta.
Ficou mesmo sem resposta o que não fez pergunta e ainda disse muito.
Obrigada pelo mar sem limites, os gritos e sussurros e os gols não planejados.
Um dia a gente se vê face to face para conferir. E vai ser muito bom, tenho certeza.
Até lá.
Até mais.