As divergências políticas entre os Estados Unidos e a China impediram esta última de participar do programa da Estação Espacial Internacional; os chineses então resolveram construir uma para eles. O primeiro módulo (Tiangong 1, ou "Palácio Celestial") foi colocado em órbita em setembro de 2011, com a previsão de ficar dois anos no espaço, servindo para o treinamento de astronautas e preparação da construção de uma estação mais definitiva.
Em 16 de julho uma equipe de três astronautas decolou do espaçoporto de Jiuquan na nave Shenzhou 9 e fez o primeiro acoplamento de uma nave tripulada com o módulo Tiangong1. O vídeo abaixo, da televisão chinesa, mostra a entrada dos astronautas no módulo Tiangong:
Treze dias depois os astronautas desligaram a nave Shenzhou do Tiangong e voltaram à Terra, descendo no deserto da Mongólia.
O vídeo abaixo, também da televisão chinesa, mostra a chegada da nave:
Enquanto os Estados Unidos, atingido o fim do ciclo de vida dos ônibus espaciais, cuja aposentadoria os deixou dependentes das caronas nas espaçonaves russas Soyuz (ironicamente chamadas "União") para o acesso dos seus astronautas à Estação Espacial Internacional, cortam cada vez mais o orçamento da NASA, desativaram o projeto Constellation de voltar à Lua em 2925 e passaram a apostar nos recursos das empresas privadas para o desenvolvimento e operação das naves de transporte à orbita baixa, os chineses preparam a construção de sua estação, que deve ter seu primeiro módulo lançado em 2015, planejam colocar astronautas na Lua entre 2025 e 2030 e em Marte entre 2040 e 2060.
À medida em que o programa espacial chinês toma impulso, e avaliando o progresso econômico que a China tem conseguido nos últimos anos, parece bem provável que ela se torne o país líder da exploração espacial dentro de poucas décadas.
Um engenheiro americano lançou a idéia, que à primeira vista pode parecer absurda, de mudar radicalmente os rumos do programa espacial americano e partir para a construção, em vinte anos, de uma nave espacial parecida com a "Enterprise" da série Viagem nas Estrelas, a um custo aproximado de um trilhão de dólares. Parece loucura? Pois ele argumenta que o programa Apollo, durante sua duração, custou perto de meio por cento do PIB americano a cada ano, e que a nave que ele propõe custaria pouco mais de metade disso, 0,27 por cento do PIB durante trinta e cinco anos.
Ele produziu um site com um programa bastante bem fundamentado e estimativas detalhadas de custo para a produção da primeira nave e, depois dela, da produção de uma nova nave a cada trinta e três anos, incorporando a cada geração os progressos tecnológicos que forem sendo alcançados nesse período.
Fotografia: Paramount Pictures
A nave Enterprise funcionaria como um laboratório espacial, tomando o lugar da Estação Espacial, que pode ter que ser abandonada já em 2020, como uma plataforma de carga e como uma nave de exploração. A primeira nave seria capaz de atingir Marte em noventa dias de viagem, com propulsores de tecnologia já conhecida. E depois, quem sabe, continuar "where no man has gone before"?
Vale a pena dar uma olhada no site do engenheiro (em inglês) para ver até onde ele chegou nos seus estudos:
http://www.buildtheenterprise.org/
Um blog de conversas sobre assuntos variados. Mano é o apelido de infância de Wilson Baptista Júnior.
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29/06/2012
26/06/2012
O governo incentiva o uso da gasolina, em detrimento do álcool e do país
Para poder aumentar um pouco o preço da gasolina que a Petrobrás cobra das distribuidoras sem aumentar o preço para os consumidores, o governo zerou esta semana a CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico - incidente sobre a gasolina. A notícia de redução de imposto aparentemente é boa para os consumidores brasileiros, mas não é boa para o Brasil.
A CIDE, incidente sobre a importação e comercialização no mercado interno de combustíveis líquidos, foi criada em 2001 para "pagamento de subsídios a preços ou transportes de álcool combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo; financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; e financiamento de programas de infraestrutura de transportes".
Em 2002 a incidência de sua taxa sobre a gasolina era vinte e três vezes superior à incidência sobre o álcool combustível de mesmo volume, o que representava um incentivo real ao uso do álcool, com todas as suas vantagens ambientais.
De 2003 a 2012 a CIDE, que representava 25% do preço da gasolina e do óleo diesel, foi progressivamente reduzida para não aumentar os preços ao consumidor; estava em 2,7% até a semana passada e agora foi reduzida a zero. Com isto, o governo veio diminuindo gradativamente, até acabar, essa fonte de recursos para investimentos em infraestrutura de transportes e em projetos ambientais, e reduzindo cada vez mais, pelo desequilíbrio cada vez maior nos preços comparativos, o consumo do álcool combustível e consequentemente o incentivo para sua produção, ao mesmo tempo em que veio incentivando, pela manutenção de um preço artificialmente baixo, o consumo dos combustíveis fósseis com todos os seus prejuízos ambientais, e o aumento da quantidade de veículos em circulação, na contramão das deficiências da infraestrutura de que estes mesmos veículos precisam para circular.
Com o virtual congelamento do preço da gasolina o seu consumo aumentou substancialmente, o que, aliado à falta de investimentos na produção, refino e distribuição do petróleo, faz com que o Brasil importe cada vez mais derivados de petróleo - em 2001 importamos dezoito bilhões de litros, em 2010 vinte e sete bilhões.
O resultado final disso tudo, então, embora pareça bom para o consumidor, acaba sendo também ruim para ele, que convive com um trânsito cada vez mais saturado, com uma poluição cada vez maior e com um país cada vez mais despreparado para enfrentar as demandas do seu crescimento.
A CIDE, incidente sobre a importação e comercialização no mercado interno de combustíveis líquidos, foi criada em 2001 para "pagamento de subsídios a preços ou transportes de álcool combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo; financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; e financiamento de programas de infraestrutura de transportes".
Em 2002 a incidência de sua taxa sobre a gasolina era vinte e três vezes superior à incidência sobre o álcool combustível de mesmo volume, o que representava um incentivo real ao uso do álcool, com todas as suas vantagens ambientais.
De 2003 a 2012 a CIDE, que representava 25% do preço da gasolina e do óleo diesel, foi progressivamente reduzida para não aumentar os preços ao consumidor; estava em 2,7% até a semana passada e agora foi reduzida a zero. Com isto, o governo veio diminuindo gradativamente, até acabar, essa fonte de recursos para investimentos em infraestrutura de transportes e em projetos ambientais, e reduzindo cada vez mais, pelo desequilíbrio cada vez maior nos preços comparativos, o consumo do álcool combustível e consequentemente o incentivo para sua produção, ao mesmo tempo em que veio incentivando, pela manutenção de um preço artificialmente baixo, o consumo dos combustíveis fósseis com todos os seus prejuízos ambientais, e o aumento da quantidade de veículos em circulação, na contramão das deficiências da infraestrutura de que estes mesmos veículos precisam para circular.
Com o virtual congelamento do preço da gasolina o seu consumo aumentou substancialmente, o que, aliado à falta de investimentos na produção, refino e distribuição do petróleo, faz com que o Brasil importe cada vez mais derivados de petróleo - em 2001 importamos dezoito bilhões de litros, em 2010 vinte e sete bilhões.
O resultado final disso tudo, então, embora pareça bom para o consumidor, acaba sendo também ruim para ele, que convive com um trânsito cada vez mais saturado, com uma poluição cada vez maior e com um país cada vez mais despreparado para enfrentar as demandas do seu crescimento.
21/06/2012
Impacto ambiental da geração de energia solar
Respondendo à pergunta do José Augusto, no seu comentário no post anterior sobre a geração eólica de energia, os impactos ambientais da geração de eletricidade a partir da luz solar podem ser de dois tipos:
Primeiro (e comum a todos os tipos de geração de energia) é o impacto ambiental relativo à fabricação das instalações de produção de energia. No caso dos painéis solares, para os painéis fotovoltaicos de silício estima-se que em regiões ensolaradas a energia gasta na sua fabricação pode ser recuperada num prazo aproximado de dois anos. Então a partir de dois anos o balanço energético já é positivo.
Existem também possíveis impactos relativos ao manuseio e processamento dos materiais utilizados na fabricação dos painéis, mas esses são análogos aos da maioria das operações industriais.
Segundo, o impacto relativo à sua operação. Para os painéis instalados em telhados de casas e de edifícios, não existe impacto de uso de terreno; já nas instalações maiores deve ser considerado o impacto ecológico da ocupação do terreno pelos painéis, que conforme o seu tipo podem gerar de 20 a 60 megawatts por quilômetro quadrado de superfície. Para reduzir este impacto deve-se considerar a localização dos painéis em terrenos já ambientalmente degradados. Conforme o tipo de geração existe também o consumo de água, para instalações que trabalham convertendo a energia solar em vapor para acionamento de geradores.
De modo geral, os impactos da geração solar de energia são bem inferiores aos das outras formas de geração.
Instalação de energia solar no estado de Nevada - foto U.S. Department of Energy
Alguns links pesquisados:
http://www.ucsusa.org/clean_energy/our-energy-choices/renewable-energy/environmental-impacts-of.html
http://renewableenergyindex.com/solar/environmental-impact-of-solar-panels
http://www.voiceofsandiego.org/science/article_37811382-9d69-5936-adeb-5db1395225e3.html
http://greenliving.nationalgeographic.com/positive-negative-effects-solar-energy-2684.html
Primeiro (e comum a todos os tipos de geração de energia) é o impacto ambiental relativo à fabricação das instalações de produção de energia. No caso dos painéis solares, para os painéis fotovoltaicos de silício estima-se que em regiões ensolaradas a energia gasta na sua fabricação pode ser recuperada num prazo aproximado de dois anos. Então a partir de dois anos o balanço energético já é positivo.
Existem também possíveis impactos relativos ao manuseio e processamento dos materiais utilizados na fabricação dos painéis, mas esses são análogos aos da maioria das operações industriais.
Segundo, o impacto relativo à sua operação. Para os painéis instalados em telhados de casas e de edifícios, não existe impacto de uso de terreno; já nas instalações maiores deve ser considerado o impacto ecológico da ocupação do terreno pelos painéis, que conforme o seu tipo podem gerar de 20 a 60 megawatts por quilômetro quadrado de superfície. Para reduzir este impacto deve-se considerar a localização dos painéis em terrenos já ambientalmente degradados. Conforme o tipo de geração existe também o consumo de água, para instalações que trabalham convertendo a energia solar em vapor para acionamento de geradores.
De modo geral, os impactos da geração solar de energia são bem inferiores aos das outras formas de geração.
Instalação de energia solar no estado de Nevada - foto U.S. Department of Energy
Alguns links pesquisados:
http://www.ucsusa.org/clean_energy/our-energy-choices/renewable-energy/environmental-impacts-of.html
http://renewableenergyindex.com/solar/environmental-impact-of-solar-panels
http://www.voiceofsandiego.org/science/article_37811382-9d69-5936-adeb-5db1395225e3.html
http://greenliving.nationalgeographic.com/positive-negative-effects-solar-energy-2684.html
18/06/2012
A energia eólica é mais limpa... mas também mata.
Uma das fontes alternativas de energia consideradas mais limpas são as "fazendas de vento", onde grandes turbinas movidas pelo vento movimentam geradores para produzir eletricidade. O uso da energia dos ventos vem se expandindo cada vez mais pelo mundo, e deve se tornar um dos principais modos de geração à medida em que se tenta substituir o uso de combustíveis fósseis.
Mas um aspecto de que pouco se tem falado na grande imprensa é que as turbinas eólicas matam uma considerável quantidade de pássaros, seja pelas colisões entre eles e as pás das turbinas, que acontecem principalmente com os pássaros predadores e os pássaros migratórios, seja pelo seu "efeito espantalho", onde sua presença perturba o movimento normal dos pássaros, isolando umas das outras partes do seu ecossistema, ou ainda pela perturbação sonora que pode influir no alcance de seu canto e na sua reprodução.
Um estudo do U.S. Fish and Wildlife Service, citado em http://www.abcbirds.org/abcprograms/policy/collisions/pdf/Bird_mortality_estimate_032212.pdf estima que em 2009 as turbinas americanas matavam quase meio milhão de pássaros por ano, o que, com os projetos de aumentar a participação da energia eólica na matriz energética americana com o aumento das vinte mil turbinas em operação em 2009 para mais de cem mil turbinas em 2030, pode resultar numa mortalidade muito maior.
Os pássaros predadores, como os falcões, as corujas e as águias, são particularmente afetados pelas colisões com as pás das turbinas porque o seu instinto de perseguir qualquer coisa que se mova nos ares faz com que eles se aproximem delas em vez de se afastarem.
Já os pássaros migratórios são mais vulneráveis porque a melhor localização das turbinas, no caminho dos ventos dominantes, corresponde também aos melhores caminhos para eles voarem.
O vídeo abaixo, do U.S. Fish and Wildlife Service, mostra uma águia sendo atingida e morta pelas pás de uma turbina.
Isto não quer dizer que as turbinas sejam as maiores vilãs das mortes de pássaros. Um número muito maior deles morre a cada ano ao colidirem com as fachadas envidraçadas dos edifícios das grandes cidades, ou ao serem atropelados por automóveis nas rodovias, ou pelos efeitos ambientais da construção das grandes barragens que são a outra fonte, supostamente limpa, de energia elétrica.
O que eu quero aqui é chamar a atenção dos leitores para o fato de que, como diz o adágio, "não existe almoço grátis". Também no caso da energia eólica existem impactos ambientais que é preciso tomar providências para reduzir o mais possível. Providências que já vêm sendo estudadas, como situar as turbinas foras das rotas de migração de pássaros, iluminar as pás para evitar colisões noturnas, equipar as "fazendas de vento" com radares que detectam a aproximação dos grandes grupos de pássaros em migração e desligam as turbinas para dar tempo que eles passem, situar as fazendas preferencialmente em áreas que pela sua ocupação já estejam degradadas ambientalmente em termos do habitat dos pássaros, e assim por diante.
Mas um aspecto de que pouco se tem falado na grande imprensa é que as turbinas eólicas matam uma considerável quantidade de pássaros, seja pelas colisões entre eles e as pás das turbinas, que acontecem principalmente com os pássaros predadores e os pássaros migratórios, seja pelo seu "efeito espantalho", onde sua presença perturba o movimento normal dos pássaros, isolando umas das outras partes do seu ecossistema, ou ainda pela perturbação sonora que pode influir no alcance de seu canto e na sua reprodução.
Um estudo do U.S. Fish and Wildlife Service, citado em http://www.abcbirds.org/abcprograms/policy/collisions/pdf/Bird_mortality_estimate_032212.pdf estima que em 2009 as turbinas americanas matavam quase meio milhão de pássaros por ano, o que, com os projetos de aumentar a participação da energia eólica na matriz energética americana com o aumento das vinte mil turbinas em operação em 2009 para mais de cem mil turbinas em 2030, pode resultar numa mortalidade muito maior.
Os pássaros predadores, como os falcões, as corujas e as águias, são particularmente afetados pelas colisões com as pás das turbinas porque o seu instinto de perseguir qualquer coisa que se mova nos ares faz com que eles se aproximem delas em vez de se afastarem.
Já os pássaros migratórios são mais vulneráveis porque a melhor localização das turbinas, no caminho dos ventos dominantes, corresponde também aos melhores caminhos para eles voarem.
O vídeo abaixo, do U.S. Fish and Wildlife Service, mostra uma águia sendo atingida e morta pelas pás de uma turbina.
Isto não quer dizer que as turbinas sejam as maiores vilãs das mortes de pássaros. Um número muito maior deles morre a cada ano ao colidirem com as fachadas envidraçadas dos edifícios das grandes cidades, ou ao serem atropelados por automóveis nas rodovias, ou pelos efeitos ambientais da construção das grandes barragens que são a outra fonte, supostamente limpa, de energia elétrica.
O que eu quero aqui é chamar a atenção dos leitores para o fato de que, como diz o adágio, "não existe almoço grátis". Também no caso da energia eólica existem impactos ambientais que é preciso tomar providências para reduzir o mais possível. Providências que já vêm sendo estudadas, como situar as turbinas foras das rotas de migração de pássaros, iluminar as pás para evitar colisões noturnas, equipar as "fazendas de vento" com radares que detectam a aproximação dos grandes grupos de pássaros em migração e desligam as turbinas para dar tempo que eles passem, situar as fazendas preferencialmente em áreas que pela sua ocupação já estejam degradadas ambientalmente em termos do habitat dos pássaros, e assim por diante.
09/06/2012
West with the Night
Wilson Baptista Junior
Faz
muito tempo (uns vinte anos), passeando pelas prateleiras de um sebo, eu
encontrei um livro e o trouxe para casa.
O
livro (que, pelo que eu saiba, não foi traduzido para o português) é a história
de uma menina inglesa que com quatro anos de idade, em 1906, foi levada pelo
seu pai para morar numa fazenda na África Oriental Inglesa, no país que hoje se
chama Quênia.
A
pequena Beryl cresceu vendo o pai transformar a selva numa fazenda de produção
de trigo e de criação de cavalos de corrida. Cresceu brincando com os meninos
da tribo dos Nandi Murani dos Masai, e tratada por eles como uma igual aprendeu
a caçar como os Masai caçam, correndo descalça e usando uma lança.
Quando
ela tinha dezessete anos uma longa seca destruiu as plantações de trigo da
região, e seu pai teve que vender a fazenda e todos os seus bens para honrar os
contratos de fornecimento de trigo que tinha assinado e que se recusou a quebrar.
Foi então para o Peru tentar recomeçar a vida, mas Beryl não quis ir com ele,
preferiu ficar na África e foi ganhar a vida trabalhando como treinadora de
cavalos de corrida.
No
seu livro ela conta como mais tarde aprendeu a voar e se tornou a primeira mulher
piloto profissional da África, os seus vôos transportando passageiros e
correspondência e ajudando os caçadores brancos que organizavam safaris (quem
tiver lido o livro de Karen Blixen “A Fazenda Africana”, ou assistido o filme
baseado nele, “Entre Dois Amores”, com Meryl Streep e Robert Redford - no filme
Beryl, que foi amiga de Karen na vida real, aparece como uma garota chamada
Felicity - vai se lembrar dos dois personagens masculinos principais, o barão
Bror van Blixen, marido de Karen, e o inglês Dennis Finch-Hatton, namorado
dela. Os dois são os caçadores profissionais que aparecem no livro de Beryl,
que teve a delicadeza de não escrever, talvez porque não considerasse
importante para o assunto, que ela também foi namorada deles. Aliás, em nenhum
lugar do seu livro ela fala de sua vida sentimental, apesar de ter sido casada
três vezes e de ter tido vários outros namorados).
Beryl
foi a primeira piloto a fazer sozinha a travessia do Atlântico do oeste para o
leste, voando da Inglaterra para a América do Norte, em 1936, contra os ventos
dominantes, no sentido contrário do vôo de Lindbergh. Depois voltou para a
África, construiu uma carreira de sucesso como treinadora de cavalos de
corrida, e lá morreu aos oitenta e quatro anos, em 1986.
O
livro dela é apaixonante; não vou falar aqui de sua qualidade literária,
prefiro dar a palavra a Ernest Hemingway, alguém que certamente conhecia bem a
África e melhor ainda o ofício de escritor. Hemingway escreveu numa carta a seu
editor Maxwell Perkins, recomendando que ele lesse o livro:
“Ela
escreveu tão bem, e tão maravilhosamente bem, que estou completamente
envergonhado de mim mesmo como escritor. Senti-me como se eu fosse simplesmente
um carpinteiro das palavras, que pega simplesmente o que lhe dão pra trabalhar
e vai pregando os pedaços e às vezes consegue fazer um chiqueiro razoável. Mas
ela é capaz de escrever dando voltas em torno de todos nós que nos consideramos
escritores”.
“West
with the Night” foi publicado em 1942; depois, talvez pela época pouco favorável,
não foi reimpresso e caiu no esquecimento até 1983, quando foi afinal republicado e se transformou num
sucesso.
A capa do livro |
Mas se eu
comecei a contar esta história toda para vocês não foi por causa do livro, foi
por causa de uma coisa interessante que descobri quando o abri chegando em casa
- a pessoa que deu esse exemplar para
seu primeiro dono ou dona escreveu uma dedicatória, numa letra feminina e
delicada, sem dizer de quem nem para quem - apenas os primeiros e os últimos
versos do Quarto Motivo da Rosa, de Cecília Meireles:
“Não te aflijas
com a pétala que voa
também é ser,
deixar de ser assim
...
e por perder-me
é que vão me lembrando,
por
desfolhar-me é que não tenho fim”.
Sempre que me
lembro dessa dedicatória fico imaginando porque quem deu o livro escolheu esses
versos, porque não colocou o seu nome nem o do presenteado, e porque o
presente, com uma dedicatória que talvez tenha querido dizer tanto, foi parar
no sebo onde o encontrei em 1992, nem tantos anos assim depois de ter sido dado
(porque a sua edição já é a décima terceira depois de sua primeira reimpressão
em 1983).
E como só quem
deu o livro e quem o recebeu é que
sabem, e provavelmente não vão nunca ler esta história aqui no blog, nós, eu e
vocês leitores, não vamos nunca ficar sabendo.
07/06/2012
Boas intenções, perigo na atuação
Notícia publicada no jornal "O Globo" nos diz que o governo estuda elevar a carga tributária sobre os produtos cuja cadeia de produção não observa mecanismos de sustentabilidade.
A justificativa é fazer com que o poluidor (no caso o produtor) pague pelos danos ambientais que causa.
Como me dizia sempre a minha mãe, repetindo as sábias palavras de São Bernardo de Clairvaux, "de boas intenções o inferno está cheio".
É indiscutível que hoje nós, produtores ou consumidores, ignoramos ou levamos muito pouco em consideração o verdadeiro custo, não escriturado, da produção, distribuição e uso de bens e mercadorias em termos do que podemos chamar de "gasto ambiental". Quando dizemos que um automóvel elétrico, por exemplo, não é poluidor, consideramos apenas que compramos combustível fóssil para andar nele, mas não levamos em conta que a eletricidade gasta para recarregar suas baterias pode estar sendo produzida numa usina térmica, que ela sim gasta combustível fóssil, ou numa usina nuclear, com seus riscos e sua poluição a longuíssimo prazo.
Quando trocamos um eletrodoméstico, ainda funcionando bem, por outro mais moderno e de menor consumo, também deixamos de levar em consideração se os impactos ambientais causados por sua produção são menores ou maiores do que a economia de eletricidade que ele trará.
Quando compramos um alimento produzido num estado distante ou em outro país, em vez de comprarmos um produzido mais perto de nossas casas, pagamos pelo seu custo de transporte mas ignoramos o custo ambiental deste transporte.
É a sociedade inteira quem paga por estes custos que os cidadãos, em geral, não sabem quais são, nem muitas vezes que existem, e nem sabem bem a quem deveriam ser debitados.
É perfeitamente justo que estes "custos invisíveis" devam ser considerados e que paguemos por eles de uma maneira mais equitativa.
Mas o perigo reside em tentar fazer esta distribuição pelo aumento de impostos.
Sabemos que, pela própria estrutura de nosso estado, de cada real que pagamos de impostos para que alguma coisa seja feita pelo governo uma grande parte é consumida no processo de seu pagamento, cobrança, distribuição e chegada até a sua aplicação, e principalmente pelo custeio deste processo em termos de custos com pessoal e de estrutura para a sua administração.
E, dentro do nosso atual modelo orçamentário, não podemos nem ao menos ter a certeza de que o que sobra deste dinheiro vá ser realmente aplicado para a finalidade para a qual foi pago.
Não estou nem falando aqui em termos de corrupção e desvio de verbas, mas basta que os leitores leiam o noticiário da imprensa para perceberem que infelizmente também isso deverá ser somado ao custo de qualquer novo imposto.
Então o perigo está em que os impostos que se criarem para pagamento dos danos ambientais vão custar certamente bem mais do que que será realmente aplicado para mitigar estes danos.
O caminho deveria ser o inverso: os custos ambientais já existem hoje e todos nós já estamos pagando por eles, então o que deveria ser feito é reduzir os impostos daqueles que trabalharem para reduzir estes custos, com a contrapartida de uma redução equivalente nos preços dos insumos e produtos ao longo da cadeia produtiva que venha a beneficiar os compradores dos produtos sustentáveis.
Sabemos perfeitamente, pela comparação com os países mais desenvolvidos, que a nossa carga tributária é incompatível com o nível dos serviços públicos que a sociedade recebe.
Enquanto não conseguirmos uma relação mais próxima entre o que pagamos de impostos e o que o Brasil recebe em troca temos é que lutar contra qualquer elevação destes impostos.
A justificativa é fazer com que o poluidor (no caso o produtor) pague pelos danos ambientais que causa.
Como me dizia sempre a minha mãe, repetindo as sábias palavras de São Bernardo de Clairvaux, "de boas intenções o inferno está cheio".
É indiscutível que hoje nós, produtores ou consumidores, ignoramos ou levamos muito pouco em consideração o verdadeiro custo, não escriturado, da produção, distribuição e uso de bens e mercadorias em termos do que podemos chamar de "gasto ambiental". Quando dizemos que um automóvel elétrico, por exemplo, não é poluidor, consideramos apenas que compramos combustível fóssil para andar nele, mas não levamos em conta que a eletricidade gasta para recarregar suas baterias pode estar sendo produzida numa usina térmica, que ela sim gasta combustível fóssil, ou numa usina nuclear, com seus riscos e sua poluição a longuíssimo prazo.
Quando trocamos um eletrodoméstico, ainda funcionando bem, por outro mais moderno e de menor consumo, também deixamos de levar em consideração se os impactos ambientais causados por sua produção são menores ou maiores do que a economia de eletricidade que ele trará.
Quando compramos um alimento produzido num estado distante ou em outro país, em vez de comprarmos um produzido mais perto de nossas casas, pagamos pelo seu custo de transporte mas ignoramos o custo ambiental deste transporte.
É a sociedade inteira quem paga por estes custos que os cidadãos, em geral, não sabem quais são, nem muitas vezes que existem, e nem sabem bem a quem deveriam ser debitados.
É perfeitamente justo que estes "custos invisíveis" devam ser considerados e que paguemos por eles de uma maneira mais equitativa.
Mas o perigo reside em tentar fazer esta distribuição pelo aumento de impostos.
Sabemos que, pela própria estrutura de nosso estado, de cada real que pagamos de impostos para que alguma coisa seja feita pelo governo uma grande parte é consumida no processo de seu pagamento, cobrança, distribuição e chegada até a sua aplicação, e principalmente pelo custeio deste processo em termos de custos com pessoal e de estrutura para a sua administração.
E, dentro do nosso atual modelo orçamentário, não podemos nem ao menos ter a certeza de que o que sobra deste dinheiro vá ser realmente aplicado para a finalidade para a qual foi pago.
Não estou nem falando aqui em termos de corrupção e desvio de verbas, mas basta que os leitores leiam o noticiário da imprensa para perceberem que infelizmente também isso deverá ser somado ao custo de qualquer novo imposto.
Então o perigo está em que os impostos que se criarem para pagamento dos danos ambientais vão custar certamente bem mais do que que será realmente aplicado para mitigar estes danos.
O caminho deveria ser o inverso: os custos ambientais já existem hoje e todos nós já estamos pagando por eles, então o que deveria ser feito é reduzir os impostos daqueles que trabalharem para reduzir estes custos, com a contrapartida de uma redução equivalente nos preços dos insumos e produtos ao longo da cadeia produtiva que venha a beneficiar os compradores dos produtos sustentáveis.
Sabemos perfeitamente, pela comparação com os países mais desenvolvidos, que a nossa carga tributária é incompatível com o nível dos serviços públicos que a sociedade recebe.
Enquanto não conseguirmos uma relação mais próxima entre o que pagamos de impostos e o que o Brasil recebe em troca temos é que lutar contra qualquer elevação destes impostos.
02/06/2012
Será que ela vai renascer?
Tem muita gente por aí que, como eu, ainda se lembra com saudade da antiga Berlineta Interlagos da Willys, versão brasileira da Alpine, fabricada no Brasil com motor do Renault Gordini, ganhadora de muitas provas por aqui e sonho de consumo da rapaziada daquela época que gostava de carros velozes.
Pois a Renault francesa apresentou agora, como carro conceito, uma versão atualizada da original, para comemorar os seus cinquenta anos, só que com algumas pequenas diferenças, como um motorzinho de 400 cavalos, e suspensão, câmbio e freios para aguentar o bicho.
Vejam abaixo um vídeo da Renault, mostrando a berlineta andando no circuito de Mortefontaine.
Pois a Renault francesa apresentou agora, como carro conceito, uma versão atualizada da original, para comemorar os seus cinquenta anos, só que com algumas pequenas diferenças, como um motorzinho de 400 cavalos, e suspensão, câmbio e freios para aguentar o bicho.
Vejam abaixo um vídeo da Renault, mostrando a berlineta andando no circuito de Mortefontaine.
O ministro Mantega e o PIB
Confrontado com o resultado de apenas 0,2% de crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre, o ministro Mantega afirmou que, no segundo semestre, as medidas tomadas pelo governo para estimular a economia já terão mostrado efeito, e que está confiante de que, apesar do primeiro trimestre ruim, no segundo semestre conseguiremos atingir o índice de 4% a 4,5% de crescimento, que é o que ele gostaria que atingíssemos durante o ano todo.
Bom, se conseguirmos chegar a 4,5% no quarto trimestre, com praticamente zero no primeiro, poderemos esperar um crescimento anual em torno de 2% ou muito pouco mais.
Acontece que as medidas de estímulo ao crédito tomadas agora pelo governo dificilmente chegarão a ter o mesmo impacto das tomadas dois anos atrás. Por um lado porque o comprometimento da renda das famílias brasileiras já está muito elevado, em parte justamente por causa deste estímulo anterior ao crédito, e por outro porque os bancos estão mais seletivos para conceder crédito porque a inadimplência também está elevada.
Além disso, o efeito da liberalização de crédito não é linear ao longo do tempo, a maioria dos bens não se compram todos os anos. As famílias que compraram TV de tela grande, novos fogões, geladeiras, máquinas de lavar há dois anos não vão comprá-los de novo este ano.
O ministro fez uma brincadeira, dizendo que esperava que com as medidas de estímulo aos investimentos que estão sendo tomadas os industriais brasileiros "deixassem aflorar o animal que têm dentro", querendo dizer que a timidez dos empresários tem freado o crescimento do setor. Pena que isso não possa passar de uma brincadeira. Não é por timidez que os empresários não investem, é porque as perspectivas de mercado não os animam suficientemente face às dificuldades de infraestrutura e de custos tributários.
A indústria brasileira de modo geral está operando com capacidade ociosa, porque a demanda atual não exige toda a sua capacidade.
É preciso lembrar ao ministro que o Brasil nesse período perdeu duas posições no ranking mundial de competitividade, onde seu desempenho já estava longe de ser brilhante.
Quando um empresário quer investir, ele sabe muito bem que os resultados não são imediatos; investimento industrial depois de decidido demanda prazo para projeto, para construção, para compra de máquinas e equipamentos aqui ou no mercado externo, para treinamento de mão de obra, antes que os produtos possam ser colocados no mercado e o dinheiro gasto comece a retornar. O empresário investe hoje para suprir a demanda de amanhã, e para isso ele precisa ter uma razoável certeza de que essa demanda ainda vai existir e se manter quando o investimento estiver completado. Que não é exatamente o que ele vê num cenário de crise mundial.
O ministro disse também que espera que as empresas estatais aumentem o ritmo de investimentos, que geram estímulo à economia, porque o governo central tem muito pouca folga orçamentária para investir ele mesmo. Parece muito bom. Só que isso é também declarar que o governo central não vai poder aumentar os investimentos na infraestrutura de que mesmo as estatais dependem para funcionar melhor. Disse o ministro que para poder fazer as medidas anunciadas de desoneração tributária, o governo teve que fazer um arrocho fiscal, mas o problema aí é que esse arrocho não foi feito nas despesas de custeio, é mais fácil e mais rápido fazê-lo reduzindo e adiando investimentos. Mas isso a médio e longo prazo é uma medida suicida.
E, nisso tudo, estivemos falando de mercado interno. Porque num cenário onde a China (nosso maior cliente externo) e os outros BRICs estão reduzindo o crescimento, e a Europa como um todo estagnada dentro de uma crise, se nos lembrarmos de que o PIB brasileiro tem sido puxado principalmente pelas exportações de commodities, fica muito difícil acreditar mesmo em 2% de crescimento anual.
Ministro Mantega, não estou querendo aqui desacreditar suas boas intenções, nem as do resto do governo, nem fazer pouco das dificuldades que enfrentam. Mas volto a dizer: Sem arrumar a casa, cortando os gastos e os desperdícios do governo, priorizando os investimentos em educação, saúde, infraestrutura e segurança, fazendo uma reforma tributária sensata, não vai ter jeito. Economia não tem milagres. Tem momentos favoráveis, que não duram para sempre.
Bom, se conseguirmos chegar a 4,5% no quarto trimestre, com praticamente zero no primeiro, poderemos esperar um crescimento anual em torno de 2% ou muito pouco mais.
Acontece que as medidas de estímulo ao crédito tomadas agora pelo governo dificilmente chegarão a ter o mesmo impacto das tomadas dois anos atrás. Por um lado porque o comprometimento da renda das famílias brasileiras já está muito elevado, em parte justamente por causa deste estímulo anterior ao crédito, e por outro porque os bancos estão mais seletivos para conceder crédito porque a inadimplência também está elevada.
Além disso, o efeito da liberalização de crédito não é linear ao longo do tempo, a maioria dos bens não se compram todos os anos. As famílias que compraram TV de tela grande, novos fogões, geladeiras, máquinas de lavar há dois anos não vão comprá-los de novo este ano.
O ministro fez uma brincadeira, dizendo que esperava que com as medidas de estímulo aos investimentos que estão sendo tomadas os industriais brasileiros "deixassem aflorar o animal que têm dentro", querendo dizer que a timidez dos empresários tem freado o crescimento do setor. Pena que isso não possa passar de uma brincadeira. Não é por timidez que os empresários não investem, é porque as perspectivas de mercado não os animam suficientemente face às dificuldades de infraestrutura e de custos tributários.
A indústria brasileira de modo geral está operando com capacidade ociosa, porque a demanda atual não exige toda a sua capacidade.
É preciso lembrar ao ministro que o Brasil nesse período perdeu duas posições no ranking mundial de competitividade, onde seu desempenho já estava longe de ser brilhante.
Quando um empresário quer investir, ele sabe muito bem que os resultados não são imediatos; investimento industrial depois de decidido demanda prazo para projeto, para construção, para compra de máquinas e equipamentos aqui ou no mercado externo, para treinamento de mão de obra, antes que os produtos possam ser colocados no mercado e o dinheiro gasto comece a retornar. O empresário investe hoje para suprir a demanda de amanhã, e para isso ele precisa ter uma razoável certeza de que essa demanda ainda vai existir e se manter quando o investimento estiver completado. Que não é exatamente o que ele vê num cenário de crise mundial.
O ministro disse também que espera que as empresas estatais aumentem o ritmo de investimentos, que geram estímulo à economia, porque o governo central tem muito pouca folga orçamentária para investir ele mesmo. Parece muito bom. Só que isso é também declarar que o governo central não vai poder aumentar os investimentos na infraestrutura de que mesmo as estatais dependem para funcionar melhor. Disse o ministro que para poder fazer as medidas anunciadas de desoneração tributária, o governo teve que fazer um arrocho fiscal, mas o problema aí é que esse arrocho não foi feito nas despesas de custeio, é mais fácil e mais rápido fazê-lo reduzindo e adiando investimentos. Mas isso a médio e longo prazo é uma medida suicida.
E, nisso tudo, estivemos falando de mercado interno. Porque num cenário onde a China (nosso maior cliente externo) e os outros BRICs estão reduzindo o crescimento, e a Europa como um todo estagnada dentro de uma crise, se nos lembrarmos de que o PIB brasileiro tem sido puxado principalmente pelas exportações de commodities, fica muito difícil acreditar mesmo em 2% de crescimento anual.
Ministro Mantega, não estou querendo aqui desacreditar suas boas intenções, nem as do resto do governo, nem fazer pouco das dificuldades que enfrentam. Mas volto a dizer: Sem arrumar a casa, cortando os gastos e os desperdícios do governo, priorizando os investimentos em educação, saúde, infraestrutura e segurança, fazendo uma reforma tributária sensata, não vai ter jeito. Economia não tem milagres. Tem momentos favoráveis, que não duram para sempre.
01/06/2012
Uma notícia má e duas boas
Passado o susto causado pela interpretação errada do calendário maia, que fez muita gente acreditar que o mundo ia acabar ainda este ano, agora temos uma nova data sendo anunciada para um evento de enormes proporções envolvendo a Terra.
A notícia má é que essa de agora é uma previsão científica bastante respeitável; uma colisão entre nossa galáxia, a Via Láctea, e a galáxia de Andrômeda; as notícias boas são que isso só deve acontecer daqui a bastante tempo, e que ainda que pareça incrível há uma boa probabilidade da Terra sobreviver ao evento.
Há quase um século os cientistas já sabiam que Andrômeda e a Via Láctea, que são duas galáxias de formato quase idêntico, vinham se aproximando uma da outra, atraídas pela força da gravidade que atua sobre as suas massas e sobre a invisível matéria escura do espaço entre elas. Mesmo depois que as medições de Edwin Hubble demonstraram a expansão do universo, com as galáxias se afastando cada vez mais umas das outras, estas duas, por sua proximidade, continuaram destinadas a se encontrarem um dia. Só não se sabia exatamente como nem quando seria este encontro, se uma passaria pela outra, se raspariam uma na outra ou se colidiriam frontalmente. Isso dependia da amplitude do movimento tangencial de Andrômeda, que visto da Terra deveria aparecer como um movimento para o lado. Só que até recentemente não tínhamos telescópios suficientemente poderosos para mostrar este movimento, e muito menos para medi-lo com precisão.
Agora, de acordo com os astrônomos da NASA, as medições mais recentes feitas através das imagens captadas pelo telescópio espacial Hubble (que tem este nome em homenagem a Edwin Hubble) durante um período de sete anos confirmam que as duas galáxias, que estão se aproximando a uma velocidade atual de mais de 400.000 quilômetros por hora, vão colidir frontalmente daqui a aproximadamente quatro bilhões de anos.
Esta colisão vai fazer com que as duas galáxias, e mais uma galáxia bem menor, a Triângulo (M33) que acompanha o movimento de Andrômeda, se misturem e as duas maiores formem eventualmente uma só galáxia elíptica, em vez do formato espiral espiral que elas têm atualmente.
As distâncias envolvidas são tão grandes que a colisão e reformação das galáxias deve demorar mais uns dois bilhões de anos...
(Vídeo: NASA)
No vídeo acima (que pode demorar um pouco a carregar) vocês podem ver uma simulação da colisão, com o tempo decorrido mostrado no lado direito da tela.
Os astrônomos calculam que, como as distâncias entre as estrelas individuais são muito grandes, provavelmente o nosso sistema solar será preservado, embora seja jogado bem mais para a borda da galáxia do que sua posição atual na Via Láctea.
De qualquer modo, daqui a cinco bilhões de anos o Sol, tendo consumido todo o seu hidrogênio e se tornado quente o bastante para começar a queimar o hélio, já deverá ter se transformado numa estrela gigante vermelha e incinerado a Terra. Eu de minha parte espero sinceramente que por essa altura a raça humana já tenha há muito tempo dominado as viagens interestelares e se espalhado pelo universo afora.
O link para a notícia da NASA está aqui: http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2012/31may_andromeda/
A notícia má é que essa de agora é uma previsão científica bastante respeitável; uma colisão entre nossa galáxia, a Via Láctea, e a galáxia de Andrômeda; as notícias boas são que isso só deve acontecer daqui a bastante tempo, e que ainda que pareça incrível há uma boa probabilidade da Terra sobreviver ao evento.
Há quase um século os cientistas já sabiam que Andrômeda e a Via Láctea, que são duas galáxias de formato quase idêntico, vinham se aproximando uma da outra, atraídas pela força da gravidade que atua sobre as suas massas e sobre a invisível matéria escura do espaço entre elas. Mesmo depois que as medições de Edwin Hubble demonstraram a expansão do universo, com as galáxias se afastando cada vez mais umas das outras, estas duas, por sua proximidade, continuaram destinadas a se encontrarem um dia. Só não se sabia exatamente como nem quando seria este encontro, se uma passaria pela outra, se raspariam uma na outra ou se colidiriam frontalmente. Isso dependia da amplitude do movimento tangencial de Andrômeda, que visto da Terra deveria aparecer como um movimento para o lado. Só que até recentemente não tínhamos telescópios suficientemente poderosos para mostrar este movimento, e muito menos para medi-lo com precisão.
Agora, de acordo com os astrônomos da NASA, as medições mais recentes feitas através das imagens captadas pelo telescópio espacial Hubble (que tem este nome em homenagem a Edwin Hubble) durante um período de sete anos confirmam que as duas galáxias, que estão se aproximando a uma velocidade atual de mais de 400.000 quilômetros por hora, vão colidir frontalmente daqui a aproximadamente quatro bilhões de anos.
Esta colisão vai fazer com que as duas galáxias, e mais uma galáxia bem menor, a Triângulo (M33) que acompanha o movimento de Andrômeda, se misturem e as duas maiores formem eventualmente uma só galáxia elíptica, em vez do formato espiral espiral que elas têm atualmente.
As distâncias envolvidas são tão grandes que a colisão e reformação das galáxias deve demorar mais uns dois bilhões de anos...
No vídeo acima (que pode demorar um pouco a carregar) vocês podem ver uma simulação da colisão, com o tempo decorrido mostrado no lado direito da tela.
Os astrônomos calculam que, como as distâncias entre as estrelas individuais são muito grandes, provavelmente o nosso sistema solar será preservado, embora seja jogado bem mais para a borda da galáxia do que sua posição atual na Via Láctea.
De qualquer modo, daqui a cinco bilhões de anos o Sol, tendo consumido todo o seu hidrogênio e se tornado quente o bastante para começar a queimar o hélio, já deverá ter se transformado numa estrela gigante vermelha e incinerado a Terra. Eu de minha parte espero sinceramente que por essa altura a raça humana já tenha há muito tempo dominado as viagens interestelares e se espalhado pelo universo afora.
O link para a notícia da NASA está aqui: http://science.nasa.gov/science-news/science-at-nasa/2012/31may_andromeda/
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