-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

02/06/2012

O ministro Mantega e o PIB

Confrontado com o resultado de apenas  0,2% de crescimento do PIB brasileiro no primeiro trimestre, o ministro Mantega afirmou que, no segundo semestre, as medidas tomadas pelo governo para estimular a economia já terão mostrado efeito, e que está confiante de que, apesar do primeiro trimestre ruim, no segundo semestre conseguiremos atingir o índice de 4% a 4,5% de crescimento, que é o que ele gostaria que atingíssemos durante o ano todo.
Bom, se conseguirmos chegar a 4,5% no quarto trimestre, com praticamente zero no primeiro, poderemos esperar um crescimento anual em torno de 2% ou muito pouco mais.
Acontece que as medidas de estímulo ao crédito tomadas agora pelo governo dificilmente chegarão a ter o mesmo impacto das tomadas dois anos atrás. Por um lado porque o comprometimento da renda das famílias  brasileiras já está muito elevado, em parte justamente por causa deste estímulo anterior ao crédito, e por outro porque os bancos estão mais seletivos para conceder crédito porque a inadimplência também está elevada.
Além disso, o efeito da liberalização de crédito não é linear ao longo do tempo, a maioria dos bens não se compram todos os anos. As famílias que compraram TV de tela grande, novos fogões, geladeiras, máquinas de lavar há dois anos não vão comprá-los de novo este ano.
O ministro fez uma brincadeira,  dizendo que esperava que com as medidas de estímulo aos investimentos que estão sendo tomadas os industriais brasileiros "deixassem aflorar o animal que têm dentro", querendo dizer que a timidez dos empresários tem freado o crescimento do setor. Pena que isso não possa passar de uma brincadeira. Não é por timidez que os empresários não investem, é porque as perspectivas de mercado não os animam suficientemente face às dificuldades de infraestrutura e de custos tributários.
A indústria brasileira de modo geral está operando com capacidade ociosa, porque a demanda atual não exige toda a sua capacidade. 
É preciso lembrar ao ministro que o Brasil nesse período perdeu duas posições no ranking mundial de competitividade, onde seu desempenho já estava longe de ser brilhante.
Quando um empresário quer investir, ele sabe muito bem que os resultados não são imediatos; investimento industrial depois de decidido demanda prazo para projeto, para construção, para compra de máquinas e equipamentos aqui ou no mercado externo, para treinamento de mão de obra, antes que os produtos possam ser colocados no mercado e o dinheiro gasto comece a retornar. O empresário investe hoje para suprir a demanda de amanhã, e para isso ele precisa ter uma razoável certeza de que essa demanda ainda vai existir e se manter quando o investimento estiver completado. Que não é exatamente o que ele vê num cenário de crise mundial.

O ministro disse também que espera que as empresas estatais aumentem o ritmo de investimentos, que geram estímulo à economia, porque o governo central tem muito pouca folga orçamentária para investir ele mesmo. Parece muito bom. Só que isso é também declarar que o governo central não vai poder aumentar os investimentos na infraestrutura de que mesmo as estatais dependem para funcionar melhor. Disse o ministro que para poder fazer as medidas anunciadas de desoneração tributária, o governo teve que fazer um arrocho fiscal, mas o problema aí  é que esse arrocho não foi feito nas despesas de custeio, é mais fácil e mais rápido fazê-lo reduzindo e adiando investimentos. Mas isso a médio e longo prazo é uma medida suicida.
E, nisso tudo, estivemos falando de mercado interno. Porque num cenário onde a China (nosso maior cliente externo) e os outros BRICs estão reduzindo o crescimento, e a Europa como um todo estagnada dentro de uma crise, se nos lembrarmos de que o PIB brasileiro tem sido puxado principalmente pelas exportações de commodities, fica muito difícil acreditar mesmo em 2% de crescimento anual.
Ministro Mantega, não estou querendo aqui desacreditar suas boas intenções, nem as do resto do governo, nem fazer pouco das dificuldades que enfrentam. Mas volto a dizer: Sem arrumar a casa, cortando os gastos e os desperdícios do governo, priorizando os investimentos em educação, saúde, infraestrutura e segurança, fazendo uma reforma tributária sensata,  não vai ter jeito. Economia não tem milagres. Tem momentos favoráveis, que não duram para sempre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para comentar, por favor escolha a opção "Nome / URL" e entre com seu nome.
A URL pode ser deixada em branco.
Comentários anônimos não serão exibidos.