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18/03/2019

De livros e distâncias


imagem www.amazon.com

Moacir Pimentel
Quando o Editor do Blog me sugeriu que escrevesse sobre o filme 84, Charing Cross Road – um roteiro adaptado do livro homônimo da escritora Helene Hannf – e que teve no Brasil o título de Nunca te Vi, Sempre te Amei, confesso que fiquei em dúvida. Não é fácil definir porque esse filme é bom: se é por causa do roteiro, da atuação, da direção, dos contrastes entre duas cidades e culturas diversas nas quais ele rola e/ou da “tensão” entre as personalidades tão diferentes dos seus protagonistas.
Mas eu me diverti tanto rascunhando essa resenha que ela se prolongará, quando o filme acabar, pelas belezas de Londres, a cidade dos sonhos da autora americana, descrita por ela tanto nas páginas de 84, Charing Cross Road quanto no seu segundo livro, de nome A Duquesa de Bloomsbury, que eu terminei lendo para me sentir menos órfão da Helene quando o filme acabou. A pergunta é: você assistiu esse filme?
Se sua resposta for “sim”, entenderá porque ele merece muita conversa. Se for “não” e se você gosta de livros, se acredita que eles revelam muito sobre o mundo e aqueles que o habitam, não deixe de ver. Se você admira os atores do elenco – Anthony Hopkins, Anne Bancroft e Judi Dench - assista-o! Se você tem respeito pela palavra escrita e afeto pela leitura, não perca esse filme. Se você gosta de uma boa história não tem como não apreciar 84 Charing Cross Road.
É claro que, como os bonequinhos de O Globo, há quem aplauda o filme de pé e quem adormeça durante a segunda cena, pois trata-se de um “romance epistolar”. Isso mesmo: o enredo é sobre uma troca de cartas. Só que graças à sua escrita fácil, concisa e elegante, tais cartas afetuosamente elaboradas ao longo de mais de vinte anos refletem os anseios, sonhos, sentimentos, necessidades, alegrias e tristezas de duas pessoas que se conheciam intimamente sem nunca terem se encontrado.
Naturalmente que uma história sobre a amizade estreita e real, porém a longa distância, entre dois bibliófilos entusiasmados - a escritora Helene Hannf de Nova York e o alfarrabista londrino Frank Doel - só poderia resultar em um filme lento e relaxante. Tudo bem que, na nossa era pós moderna de sexo fácil nas relações da vida real e de sexo constante nas telas, um filme que narra uma looooonga correspondência durante a qual um sentimento platônico se desenvolveu gradualmente entre duas pessoas que nunca se encontram pessoalmente, é mesmo...”bizarro”, como diz a juventude (rsrs)
Mas se você está pensando que nenhum tema poderia ser menos excitante e/ou cinematográfico do que cartas, permita que lhe diga que, por um milagre da escrita, da atuação e da direção, essa trama literária foi transformada em um enredo bonito enquanto as trocas de teclas entre os dois protagonistas gradualmente se tornam mais pessoais, embora se saiba, desde sempre, que isso não está realmente nos levando para nenhum tipo de “ação”, para nada além de uma troca de ideias e pensamentos, e que o relacionamento quase romântico que se segue nunca se desenvolverá além do estado epistolar (rsrs) Mas não importa.
Porque os personagens são desconcertantes e calorosamente reais - mesmo em se considerando que a autora tenha tomado algumas liberdades poéticas na elaboração do seu mito pessoal – e o roteiro é astuto o suficiente para nos revelar, ao fim e ao cabo, o sentido verdadeiro da correspondência.
Já ouvi de muita gente boa que o filme é por demais “livresco” com o que, suponho, queiram dizer que é chato e cansativo. Mas afinal, o que há de errado com Dona Literatura? Com uma história de amor na qual os quase amantes não se encontram? Com uma protagonista diferente de todas que já conhecemos, uma romântica borbulhante e cáustica que amou sua Nova York adotada, a sua Inglaterra literária sonhada e, acima de tudo, as palavras? Qual é o problema com livros, esses refúgios especiais contra as pressões diárias que sofremos?
Talvez “84” seja um filme para “velhinhos em formação”, para quem gosta de velhas livrarias empoeiradas, de sebos e do atendimento e da cortesia impecáveis que os funcionários da livraria londrina Marks & Co demonstravam a Helene Hanff mesmo ela estando do outro lado do Atlântico.
fotografias Moacir Pimentel

Tais casas onde moram livros e gente que gosta deles têm um charme pitoresco e nelas experimentamos a total cumplicidade de seus habitantes no crime delicioso que é gostar de bobices como livros antigos, livros bonitos, livros usados e lidos não se sabe por quantas pessoas. É disso que se trata!
Esse filme tenta nos fazer entender o que é um livro de segunda mão, explorando os sentimentos do livreiro e da sua cliente, um em Londres e a outra em Nova York, nos fazendo participar da caça, da perseguição e do prazer da captura de belos e raros exemplares, etapas que nunca podem ser exatamente planejadas e/ou previstas, e compartilhar a comunhão que se segue à posse do livro desejado com todos aqueles que leram as suas páginas antes de nós.
Bem sei que nem todos apreciam, como eu, a literatura epistolar, a leitura das cartas alheias, muitas vezes íntimas, trocadas por personalidades de tempos e lugares tão diversos dos nossos. São páginas que nos dão a oportunidade de transitar por histórias de amor e amizade, de nos inteirar de relações profissionais, de participar de viagens fabulosas e de experiências singulares, de desbravar territórios intermediários entre o documento e a ficção, entre a literatura e a história, só que no ritmo pausado das conversas, testemunhando lances de humor e momentos de lirismo.

Já li cartas fantásticas como, por exemplo, as do escritor Ernest Hemingway para suas mulheres e amigos, as de Vincent van Gogh para seu irmão Theo e vice versa, as das pintoras Frida Kahlo e Georgia O’Keefe para seus amantes Diego Rivera e Alfred Stieglitz, as dos escritores James Joyce e Machado de Assis, as dos poetas John Keats e Fernando Pessoa etc, etc, etc. Fiquei viciado (rsrs)

Porém esse filme trata das cartas trocadas por pessoas reais e comuns, desconhecidas, de suas pretinhas entre as datas e assinaturas, divertidas, pungentes, sinceras ao descrever tanto seu amor pelos livros quanto o seu dia a dia. De como, entre outubro de 1949 e dezembro de 1968, o alfarrabista Frank Doel forneceu à roteirista Helene Hannf os autores do seu encanto e os raros livros que ela amava mais que tudo na vida. É comovente pensar que a seis mil e quinhentos quilômetros de distância um do outro o casal de amigos perseverou e se correspondeu sem intervalos durante todos esses anos.

É justamente pela sua simplicidade que essa correspondência seduz e gera interesse. Quem leu o livro percebe que o filme consegue a proeza de ser absolutamente leal, sem se tornar maçante ou de forma alguma entediante, às cartas trocadas por esses dois, que tanto se parecem com qualquer um de nós que os lemos e/ou assistimos, alternando os parágrafos de suas cartas e os trechos literários recitados com seus diálogos cotidianos.

A narração através de imagens dessa longa amizade é simples e seu brilho mora no desempenho inspirado e cheio de nuances dos atores e nos seus ambientes, sejam as ruas agitadas de Nova York e da bela Londres ou a pacífica livraria ou as mansões empoeiradas, onde Frank vai à caça de livros antigos.
Na França, 84, Charing Cross Road manteve seu título original em inglês, em Portugal foi exibido como A Carta do Adeus e nos países de língua espanhola se chamou La Carta Final. Seu nome brasileiro de Nunca Te Vi, Sempre Te Amei não é, penso eu, uma tradução incorreta, embora apenas parcial, da parte positiva da palavra escrita na relação do casal de amigos do século passado e, se pararmos para pensar mais detidamente, nas interações no atual mundo virtual e digital, no éter, essa recente ampliação do território que nos faz tão nós mesmos: o contato com o outro.
Esse “outro” que, diferentemente daquilo que cogitou Descartes no seu subjetivismo de pré-moderno –” Penso, logo existo”! - também nos molda, constrói e amplia e inventa. Ou seja: Você me pensa, logo existo! Deletar esse “você” aí, o tão falado “outro” é um eficaz caminho de autoanulação. Não fora por Frank e Helene terem dado o ar das graças deles nas caixas de correio um do outro, uma parte muito importante e rica das vidas de ambos não teria acontecido. E daí?
Daí que nós não saberíamos o quanto ambos apreciavam alguns de nossos autores prediletos, nem perceberíamos que Helene e Frank não se corresponderam para mudar as próprias vidas, que já estavam completas, mas foram se transformando pela força das próprias palavras cheias de calor porque não sabiam ser secos, ser pela metade, mas tentavam “ser por inteiro”- como ensina o maior poeta lusitano - em cada pequena coisa que faziam, inclusive em uma simples carta.
O certo é que, sem algazarra, os personagens crescem diante de nossos olhos graças às pequenas cartas que se escreviam e aos grandes livros que devoravam e tudo isso, neles e em nós, sulca terra fértil, forma novos mundos, qualquer coisa que a luz não conhecia até então. Por isso esse filme é fantástico.
Eu assisti Nunca te Vi, Sempre te Amei pela primeira vez em 1987. Naquele ano foram lançados dois filmes que narravam histórias de homens casados e mulheres solteiras. 84, Charing Cross Road era um deles. E o outro? Quanta diferença! Foi um sucesso retumbante e era sobre uma agressiva e liberada e loura executiva – a Glenn Close - que tem uma noite de tórrido sexo com um sujeito bem casado e devotado à belíssima esposa – o Michael Douglas - que, no entanto, sozinho na cidade e depois de tomar umas e outras, resolveu experimentar mais ação, se dando ao luxo da adrenalina de uma “inofensiva” caça primitiva. Só que deu tudo errado porque a moça gostou muuuuito e gamou e pirou e tentou se matar, sequestrou, invadiu, tentou assassinar todo o elenco e chegou a fazer um strogonoff do coelho de estimação da família às voltas com uma doentia... Atração Fatal!
Bombou e é claro que eu gostei – e se já não o fosse teria me convertido em um marido fiel (rsrs) - mas não me lembro mais dos nomes de nenhum dos personagens. Porque Atração Fatal é diversão na veia enquanto que “84” é aprendizado. Apesar do grande Bandeira nos ensinar que “os corpos se entendem muito melhor do que as almas”, aquilo que o filme nos s-o-l-e-t-r-a e desenha é que mesmo que nunca se encontrem pessoalmente, os humanos conseguem, através da escrita e da leitura, saber como os outros são por dentro.
Ninguém duvida que essas duas almas se entendiam, embora a Helene tenha chegado no número 84 da Rua Charing Cross tarde demais para o Frank. Esse é um filme de mosaico delicado no qual os sentimentos são mascarados pelo humor -cáustico dela e sutil dele - enquanto que a poesia e a filosofia são verbalizadas caudalosamente e tudo isso se passa apenas nas idas e vindas de missivas entre a Inglaterra e os EUA.
Nos seus noventa minutos não há qualquer pitada de pirotecnia e de efeitos especiais, nenhuma perseguição seguida de assassinato, nada de pegas de carros, de troca de tiros ou de explosões de qualquer espécie, não tem mistério a ser desvendado ou crime a ser solucionado, não rola nem um segundo de paixão, de traição, de ciúme, inexiste o clássico triângulo amoroso e não acontece nenhuma tragédia. Sexo, então, é igual a zero! Não tem hard rock, drogas, catástrofes, pânico, epidemia, violência, traumas de infância. Nada disso! Não parece muito promissor, não é mesmo? (rsrs)
Na telona as mudanças ocorrem apenas com a passagem natural do tempo na vida dos personagens, sem heróis nem vilões, sem mocinhos nem bandidos, sem suspense nem depressão, apenas duas pessoas vivendo as suas vidas e envelhecendo e cuidando uma da outra.
E, no entanto, o filme funciona e o público se identifica com os seus anti-heróis, que o atravessam calmamente dentro da livraria londrina empoeirada e/ou dos seus pequenos apartamentos, com breves incursões nas casas e vidas abafadas dos coadjuvantes. Talvez porque os personagens sejam, de fato, muito humanos e, portanto, muito parecidos nas suas vidinhas de nada com aqueles que os assistem no escurinho do cinema ou no conforto do sofá. Mesmo assim a descoberta do microcosmo da vida privada de cada um deles é uma experiência interessante.
É fascinante desvendar essa impetuosa, independente e batalhadora americana que escreve de uma forma eloquente, vivaz, apaixonada, quase furiosa, para um sereno, tranquilo e cinzento senhor londrino que, por sua vez, responde às cartas da moça de um jeito profissional, comercial e cortês enquanto lhe envia os seus sonhos de consumo: livros velhos! É divertido testemunhar a Helene transformando em uma aquarela multicor a cinzentice do alfarrabista.
imagens pininterest.com / youtube

Esse enredo é um exemplo de como o cinema pode explorar o movimento das almas, as marés dos personagens através de suas atividades e preocupações cotidianas em diferentes momentos da vida. O filme não persegue a glória e foge do drama e em vez disso leva o espectador para o prazer tranquilo da comunicação humana e, assim como acontece quando uma boa conversa acaba, fica-se com saudade quando rolam os créditos.
À falta de grandes acontecimentos, Nunca Te Vi Sempre Te Amei conversa sobre literatura e alguns fatos minúsculos e muitas coisas pequenas e mostra tudo isso com uma sensibilidade a toda prova, em um trabalho cativante que muito nos faz pensar, ainda mais hoje, nessa era virtual de trocas digitais, do que fez quando foi lançado, há trinta anos atrás.
Não, 84 Charing Cross Road não é Indiana Jones ou Casablanca, mas isso não quer dizer que essa história não nos ofereça aventura e/ou encantamento: o filme tem qualidades excepcionais. Ele poderia ser definido como o melhor já realizado sobre os livros e a leitura. Não que haja muita concorrência nessa categoria (rsrs) pois a sensação silenciosa de se perder em um livro é algo difícil de traduzir no cinema.
Mas “84” conseguiu subir os degraus da fama e fez furor como prosa, peça de teatro, seriado nas telinhas e filme nas telonas e foi capaz de pegar leitores e espectadores pelo pé ao descrever sensações e emoções, escondidas atrás da inteligência de uma trama que, a rigor, não seria capaz de dar origem sequer a uma crônica. Exatamente como a vida da maioria das pessoas.
Confesso que enquanto revia o filme para poder rascunhar esse artigo, de saída me senti muito idoso (rsrs) Lembrei das cartas que escrevi para a minha então namorada e para minha saudosa mãe, lá da Ásia, nos últimos anos da década de 70 e nos primeiros da seguinte como se as tivesse enviado há séculos atrás. Note que embora o enredo desse filme tenha começado há pouco mais de meio século, ele trata de coisas muito esquisitas, muito antigas, quase pré-históricas, já superadas pela tecnologia de hoje: livros e cartas e romantismo. Coisas de velho!
É claro que o filme adquiriu novos sentidos depois do advento da era digital, na qual muitos questionam o futuro dos livros reais face à concorrência dos eletrônicos. Em tempos digitais, ninguém mais quer saber de discos, de filmes, de livros, de bobices físicas, que só ocupam espaço e juntam poeira. Está tudo na “nuvem”.
Quem precisa colocar uma carta no Correio para uma livraria, encomendando um livro? Fala sério! Hoje terminamos comprando versões digitais para ler no computador mais próximo. O problema é que não dá para trocar figurinhas e virar amigo de infância dos funcionários da Estante Virtual (rsrs) Porém e paradoxalmente, as pessoas continuam se correspondendo. De fato, talvez hoje elas se escrevam, embora taquigraficamente, ainda mais do que em 1949, quando Helene Hanff datilografou a primeira das centenas de cartas para o seu livreiro inglês.
imagem www.bellmorelibrary.org


Note que, em um mundo de plugados, a palavra “carta” passa a descrever a maior parte do que postamos através de zzzzzzapps, mensagens de texto, postagens no Facebook, e-mails etc. Praticamente todos hoje em dia trocam teclas. O filme da década de 80, consequentemente, perdeu um pouco de seu glamour, pelo contraste com a vida virtual que agora conhecemos.
Porém, antes da internet, e antes das passagens aéreas se tornarem acessíveis a boa parte das pessoas, havia sim o romance epistolar, o amor que se alimentava, durante longo tempo, meramente de palavras escritas a mão em epístolas cuidadosamente redigidas em blocos de papel de carta, que desapareceram das papelarias por total desuso.
Ou seja, quando vimos o filme pela primeira vez, esses amores antigos e escritos eram ainda credíveis, pois geralmente não se transformavam logo em contatos de primeiro grau já que a distância o impedia. Fala-se muito, hoje, em romances que se desenvolveram através de contatos pela internet. Conheço os personagens de alguns desses amores que podem ser descritos como “transatlânticos”. Mas isso, hoje, não importa tanto, porque a internet e as viagens reduziram as distâncias. Assim, o romance epistolar pela internet logo se transforma em um namoro normal, presencial, ou termina. 
Não acho que o virtual substitua ou iguale-se ao concreto, nem que o amor e a amizade idealizados substituam os afetos construídos e consolidados na real. Mas o fato é que o virtual já é real entre nós, já se fez concretude e portanto acredito que sentimentos verdadeiros possam brotar em quaisquer paisagens exigindo sempre as mesmas coisas para se fortalecerem: afinidades, compreensão e divergências, o território no qual o respeito mútuo é praticado.
Tudo bem que a web não é um mar de rosas e nessas paragens nem tudo é crível e benéfico e civilizado, mas fazer o quê? O espírito humano se projeta em todas as coisas que o homem faz, cheias das vulnerabilidades e das deformidades que o atormentam e/ou o deliciam. Se não fosse a internet, seria outra a paisagem que ensejaria o mesmo efeito final: as consequências, para o bem e para o mal, da interação humana.
Porém... se menos gente vai hoje às agências dos Correios e mais gente tem à sua disposição a rede mundial para trocar mensagens, por mais convenientes que elas sejam, não chegam aos pés de uma boa carta à moda antiga. E o fato é que podem mudar os meios e a linguagem mas os livros e as cartas vão existir sempre porque a comunicação sempre foi o fundamento de todas as relações humanas. Fazer contato é da nossa natureza!
A nossa espécie simplesmente tem a bendita mania de dar trela para estranhos. Bem que tentamos nos bastar mas não conseguimos: sempre precisamos e precisaremos de gente, gostamos de gente, quanto mais estranha for ou quanto menos estranhos nos fizer sentir que somos, melhor! É apenas humana essa fome de conhecer pessoas e as paisagens delas, esse apetite de entender as nossas próprias imagens, a fissura de ver, tocar, cheirar e comer da vida um quase tudo.
O homem é a espécie mais bem sucedida na Terra, evolutivamente, por causa justamente da sua natureza social. Simplesmente herdamos essas habilidades de comunicação e cooperação, as qualidades mais importantes para a sobrevivência em nosso passado evolutivo. Nenhum outro ser vivo sobre a Terra tem a capacidade de se conectar, de colaborar de maneira tão refinada quanto os humanos.
Essa mente humana “social” é cientificamente defendida, inclusive, pela descoberta dos tais “neurônios espelhos” que permitem aos bichos homens experimentar a empatia e identificar-se com outros humanos. É por isso que lemos romances, vamos ao teatro, assistimos filmes, acompanhamos seriados, escrevemos cartas, rascunhamos posts e comentários e postamos no “Face” (rsrs)
Enquanto houver humanos nesse mundo estranhos começarão novas conversas, se conhecerão e então novas relações positivas e/ou negativas surgirão dependendo do tempo, da interação e da comunicação, que desempenha um papel vital na vida humana, não apenas facilitando o processo de compartilhamento de informações em todos os campos do conhecimento, mas também ajudando-nos a desenvolver relacionamentos com pessoas de todas as latitudes, a expressar nossas ideias e sentimentos e, ao mesmo tempo, a entender a emoção e os pensamentos alheios.
Portanto uma das mensagens de Nunca Te Vi, Sempre Te Amei é que a importância da comunicação não pode ser subestimada e que o seu aprendizado é essencial para melhorar e alargar as nossas vidas. Esse filme é sobre como pessoas que nunca poderemos encontrar - como Charles Dickens e Tolstoi e Guimarães Rosa e Machado de Assis e Helene Hanff - podem enriquecer nossas vidas.
Na era da Internet, esta história tem uma voz particularmente significativa porque o amor à palavra escrita é intrínseco ao tecido da narrativa. Foi esse amor, capturado tão agudamente nas cartas que Helene e Frank trocaram, aquilo que tocou os corações de milhões em todo o mundo. Como dizia Helene:
“E, pelo menos nesse momento, eu não trocaria as centenas de livros que li pelos poucos que eu conheço quase de cor”.
Continuaremos a conversar sobre a lenta aquisição da coleção de livros usados da escritora e essa “correspondência comercial” cheia de vida, humor e humanidade que rolou desde a austeridade do pós-guerra até o auge dos Swinging Sixties – viva o rock ‘n’ roll ! – no próximo capítulo da resenha.  

20 comentários:

  1. Mônica Silva18/03/2019, 08:46

    Amei o seu artigo mas em 1987 eu era uma adolescente e já tinham inventado o telefone e nunca recebi uma carta de amor kkk Desculpe mas também não assisti Nunca te Vi, Sempre te Amei. Pretendo suprir a lacuna cultural ainda hoje porque sou uma romântica incurável que namorou muito, casou e descasou, mas que continua em busca não de uma alma gêmea mas de boa companhia. Eu acho que a net é uma ferramenta importantíssima para o trabalho e a troca de informação e que não é mais um espaço separado. Virou uma coisa normal, parte da realidade, um lugar onde todo mundo faz novas amizades. Não existem pessoas perfeitas nem na net nem no barzinho da esquina, ansiedade e carência são péssimas conselheiras na real e no virtual e quanto mais bem resolvido for alguém mais chances terá de se divertir e descobrir pessoas legais. Finalmente se não fossem os sebos eu não teria tido condição de comprar livros didáticos e me formar e foi em um deles que encontrei um dos grandes amigos da minha vida, meu Machado de Assis querido que me ensinou pela escrita, 'como as pessoas são por dentro'. Obrigada e me aguarde depois da pipoca!

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:03

      Mônica,
      Que pena que você jamais trocou cartas de amor e que bom que o Bruxo do Cosme Velho, que escrevia com tanta ironia e decifrava em seus personagens tantos de nossos enigmas, é um dos seus amigos de cabeceira.
      Quanto a Nunca te Vi, Sempre te Amei confesso que, por se tratar de um filme da década de 80, ao escrever essa resenha tive receio que muita gente boa pudesse não tê-lo visto. Por isso comecei devagar teclando sobre os sebos, os livros antigos, os contatos pela internet onde uma boa amizade precisa de mais do que "likes" para surgir e se fortalecer: necessita de ideias, opiniões, perguntas e respostas, concordância e divergência respeitosa, de conversa.
      Talvez um dos objetivos desse post tenha sido deixar a juventude com vontade de assistir o filme (rsrs) Eu ficaria muuuito feliz se você, depois de fazê-lo, compartilhasse conosco as suas impressões.
      "Obrigado!" e abração

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  2. Flávia de Barros18/03/2019, 10:25

    Moacir,
    Faz tanto tempo que assisti este pequeno grande filme sobre uma verdadeira amizade que acho melhor ver de novo para poder saborear nos mínimos detalhes os seus artigos que parecem leves e engraçados mas são profundos. Concordo com a maioria das colocações que você fez sobre a necessidade que temos de expressão e a importância da comunicação e sou de opinião que a tecnologia é uma benção e que as amizades virtuais são boas porque podemos aprender com pessoas diferentes fora dos nossos meios e radares. Mas tem gente que exagera e se perde no celular e no computador e eu não troco as minhas amizades de infância por nada no mundo.
    Um abraço para você

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:14

      Flávia,
      Sim, por favor, assista de novo o filme: ele merece! Dizem que as grandes obras de arte deveriam ser revisitadas a cada década porque, embora devagar, o bicho-homem amadurece (rsrs)
      Mas de saída você acertou na mosca: trata-se de um "pequeno/grande" filme sobre dois verdadeiros amigos. E a amizade, seja presencial ou real, exige tempo: não se confia de pronto no conhecido do Carnaval, nem no autor das pretinhas do outro lado do Atlântico ou da tela (rsrs) Por isso nada é mais reconfortante do que o afeto e o abraço dos nossos velhos companheiros de infância, de escola, de faculdade, que nos conhecem de trás para frente e de cor e salteado porque participaram de todos os bons e maus momentos das nossas jornadas.
      Quanto à net para mim ela está valendo, principalmente, enquanto herdeira da caneta e do papel. Mas o fato é que hoje todos nós a usamos para fazer pesquisas, compras online, e-banking, download de jogos, livros, filmes e músicas. Bem sei que tem uma galera viciada, eternamente plugada, avessa ao ar livre e à interação social. Dizem que a web está nos roubando a memória e nos deixando preguiçosos porque torna as coisas fáceis demais. Juram de pés juntos que estamos emburrecendo pois em vez de pensar passamos a jogar tudo no Google, a pressionar o botão do enter e a acreditar nas oitocentas mil respostas sem checar nenhuma. Como tudo na vida a internet tem benefícios e desvantagens e nela a dica é manter o equilíbrio. Não há que abandonar completamente a tecnologia e voltar à Idade da Pedra para não desenvolver Alzheimer, nem passar o dia inteiro driblando a solidão com os "amigos" do Face.
      Outro abraço para você

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  3. Lea Mello Silva18/03/2019, 11:03

    Moacir

    nos tempos atuais é difícil falar deste filme
    Lembro que gostei muito e quero rever
    Os atores são dois monstros sagrados e o filme deve muito a eles
    Perto das preferências atuais fica difícil os mais jovens entenderem a beleza deste filme
    Como era bom receber cartas, ver a letra da pessoa que escrevia
    De certa forma me fez pensar em como é bom ter este blog e ter esta convivência com vcs
    Um abraço

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:20

      Prezada Lea,
      Vou começar pelo fim: sim temos sorte de ter esse espaço onde vamos nos conhecendo devagarinho e descobrindo que não estamos sozinhos nesse ou naquele pensamento ou no contrário deles (rsrs) Por aqui quem entra nas Conversas, quem nos lê , quem é lido por nós, o que lemos nas leituras que fizeram de nós, a variedade de temas e escritas, tudo isso é muito enriquecedor.
      Concordo que é difícil, sim, para a juventude que não vivenciou, como nós, a alegria que é reconhecer a caligrafia amada no envelope sem precisar olhar o remetente, entender " a beleza desse filme" e a delicadeza da troca de cartas. Mas creio que os jovens são capazes sim de apreciar esse enredo porque somos todos, não importa se jovens ou velhos, capazes de empatia, de nos imaginarmos nos sapatos alheios, de compreender e até sentir a emoção dos outros. E porque o filme convence graças, em grande parte, à atuação soberba dos seus "monstros sagrados".
      Espero continuar merecendo a sua leitura e comentários nos próximos "capítulos" do filme.
      Muito obrigado e um grande abraço

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  4. Márcio P. Rocha18/03/2019, 15:48

    Depois da Primeira Noite de um Homem acho que não perdi nenhum dos filmes da Brancoft, apesar dos títulos 'bizarros', rs. Nunca te vi, Sempre te Amei é um dos clássicos de uma geração que ainda cultua o prazer da leitura.Talvez a história tenha agradado tanto justamente por ser simples e real, sem nenhuma das fórmulas pré-fabricadas de sucesso que costumam fazer a alegria dos expectadores. Quando todos estavam fazendo filmes cada vez mais complexos e surpreendentes, este mostrava que a simplicidade é o mais difícil e agradável dos resultados. Sobre os namoros na web penso que para os jovens que cresceram com ela não faz a menor diferença se começam na praia, na balada ou nos apps de paquera que aliás funcionam por faixa etária,rs.

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:28

      Márcio,
      Esse screenplay é um exemplo de como o cinema pode explorar, sem perder bilheteria, gente como a gente, o cotidiano, a simplicidade da vida que insistem em complicar. Mas creio que se o Frank e a Helene e as suas cartas não fossem tão opostos pelos vértices - semelhantes apenas no amor à palava escrita - a história não teria tanta graça e encanto. A ausência da personalidade e das pretinhas tranquilas de Frank Doel, aprimorando o temperamento e a sagacidade mercuriais da moça, fica evidente no livro que ela escreveu em seguida - a Duquesa de Bloomsbury - sobre sua viagem a Londres que não chega aos pés de 84, Charing Cross Road.
      Quanto aos "apps de paquera" por faixa etária , confesso que fiquei curioso e, é claro, joguei no Google. Gostei especialmente do nome de um deles: "Coroa Metade" (rsrs) Boa sorte na empreitada!

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  5. Olá Moacir,
    Como é bom ganhar um presente! Mesmo que não seja meu.
    Esperei tanto por essa franquia e ela já começou agradando a todas as expectativas. Adoro esse filme! Adoro esses atores! Adoro essa estória e adoro suas "pretinhas"!
    O curioso é que pela primeira vez nessas conversas você diz ter se sentido velho, que o filme talvez seja para velhinhos em formação. E todos os meus pensamentos começaram a partir daí. Porque sempre vejo o filme, e vejo de novo, e de novo com tal embevecimento que nunca me dei conta das diferenças do hoje.
    Fiquei curiosa sobre o que o filme pode significar, ou não significar, para os jovens.
    Soará estranho como a velha máquina de escrever Smith-Corona do meu avô soa para o meu pequeno neto? Um bicho das mais priscas eras?
    Meus filhos ainda me escreveram cartas. Tenho-as guardadas nas letras tão queridas! Depois quando sairam de casa, e foram morar longe, era por email.
    Começamos a namorar muito cedo o Mano e eu. Ainda estava no colégio, 16 anos, e a irmã dele era minha colega de sala. E apesar de nos encontrarmos sempre (nessa época tão antiga tinha dia certo para namorar...) trocávamos bilhetes todo dia com ela de correio. E era tão bom! E assim foi ao looooongo do casamento. Tenho bilhetes lindos que falam de estrelas, de pai grávido preocupado velando meu sono, também mágoas espalhadas em letras. Um pouco de tudo.( porque não somos casal margarina).
    Glamour, um pouco de glamour por favor! Amar ainda as cartas, sentir saudade de envelope subscrito em letras conhecidas, isso é saudosismo? Tenho medo de ficar uma velhinha saudosista (obra de Satã). Também tenho medo de vir a ler livro de papel escondida ou ser correr o risco de ser velhinha obsoleta.
    Fiquei sabendo que vem escrita muito boa pela frente. Melhor que hoje? Duvido!
    No valor das letras, no calor do filme,
    até sempre mais.

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    Respostas
    1. Em tempo, acho que sou mais M.Pimentel que Descartes: " Você me pensa, logo existo". Que maravilha!

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    2. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:40

      Caríssima Donana,
      "Que maravilha!" são os seus impagáveis comentários! Note que assisti esse filme pela primeira vez com 32 anos e que tenho 64 recém completados. Com certeza hoje o corpo já não acompanha a cabeça branca como antigamente mas os neurônios ainda dariam conta de outro século. Pense em um desequilíbrio! (rsrs) E embora Nunca te Vi, Sempre te Amei continue nos encantando da mesma maneira, o mundo mudou e nós com ele e, diante da telona, a conversa com o filme é outra.
      Rejeito o cogito do prezado René simplesmente porque o cara não cogitava o outro. Como é que pode? Quase a totalidade do que a senhora é depende de alguém: neta, filha, irmã, sobrinha, prima, namorada, mulher, amante, nora, cunhada, mãe, avó, sogra, amiga, aluna, leitora. Convenhamos que em meio a essa rede de laços de afeto, compromissos, responsabilidades,brincadeiras, expectativas, cartas e bilhetes na geladeira, visões tão variadas dos nossos múltiplos pedaços, de tanta gente nos pensando, é complicado discernir o que verdadeiramente somos.
      Mas esse papo "cabeça" já está "pra lá de Marraquexe". Chega! Viva o glamour, viva o saudosismo, viva as belas e inteligentes cartas, os filmes "singelos" e todos os valentes "velhinhos em formação" que seguem em frente para o que der e vier erguendo nas mãos os seus livrinhos de papel mas surrando sem piedade os seus teclados.
      "Até sempre mais"

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  6. Moacir, você sabe que eu não costumo comentar antes do final da publicação das suas "franquias", para evitar que por algum descuido meu eu deixe escapar um "spoiler" para os leitores. Mas o assunto desta provoca alguma consideração preliminar :)
    Eu ainda vivi um pouco do tempo das cartas e dos bilhetes escritos à mão com canetas de tinta, das longas esperas pelas respostas das pessoas de além mar, da imaginação tentando antecipar o que conteriam. Das compras de livros por cartas cuidadosamente escritas às editoras estrangeiras, que chegavam em longamente esperados pacotes cheios de selos e quando eram abertos nos traziam, ainda que por pouco tempo, o aroma das terras distantes. De raro em raro, nas longas esperas pelos curtos momentos de telefonemas pelos cabos submarinos.
    Depois, é claro, o passar do tempo e o vício profissional trocaram minhas canetas e os teclados das minhas máquinas de escrever pelos terminais dos computadores e transformaram meus escritos nos emails do começo da internet, e depois nessa rede imensa e instantânea que transformou o mundo no quintal de todos nós que podemos ter acesso a ela.
    Mas me sobrou ainda um resto de saudade que me faz gostar muito, muito mesmo, desse filme que fala das conversas e do encontro em desencontro da escritora americana e do livreiro britânico, da ponte que as pretinhas dos dois estenderam sobre o Atlântico Norte no tempo em que dias e noites de navios ou muitas horas de voo eram precisas para leva-las de um lado para o outro, de um coração para o outro.
    Que bom que vamos ler as suas pretinhas sobre ele, que despertarão, com certeza, boas lembranças em quem o assistiu e a vontade de fazê-lo em quem ainda não.

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:49

      Wilson,
      Na minha tribo de cariocas/nordestinos/ portugueses as cartas e os pacotes e as "prendas" e os selos foram constantes até o começo do terceiro milênio digitalizado. Mas aquela imensa alegria que brilha nos olhos da Helene ao receber as encomendas, eu experimentei mesmo na Ásia, ou melhor dizendo, nas Postas Restantes de suas grandes cidades, onde ia de coração apertado recolher minha correspondência e encontrava sempre montes de cartas e revistas e jornais e livros e fotos enviados por minha saudosa mãe e pela avó dos meus netos.
      Era bom demais!
      Já me acostumei com à sua política anti-spoilers, afinal cresci ouvindo que não devemos "banalizar os prazeres" (rsrs) Mas fiquei muito feliz com as belas "considerações preliminares" porque sem as suas sugestões e colaboração essa franquia não teria sido.
      Muito obrigado e abração

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  7. Alexandre Sampaio19/03/2019, 07:22

    Pimentel,
    Vou acompanhar com muito gosto a resenha deste filme inesquecível que assisti com minha mulher quando ainda namorávamos no portão da casa dela. Pode ser que seja coisa de velho, citando, mas tenho saudade de quando a vida passava devagar, de não ter celular e computador, internet e nuvem e de ter que ficar na lista de espera da locadora para poder ver os Oscars. Parabéns!

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:53

      Sampaio,
      Compartilho com você a sensação de que a vida, de repente, acelerou, de que o tempo hoje passa correndo por nós e que tentamos dar a ele um ritmo menos cruel recordando o passado. Só que também tenho a vaga impressão de que diante do familiar o tempo parece se contrair e de que, em vez, diante do novo ele se expande. Note que na juventude, tínhamos uma experiência absolutamente nova, subjetiva ou objetiva, a cada hora do dia. A apreensão era vívida, a adrenalina constante, a curiosidade uma outra pele. Daí as nossas lembranças daquela época serem tão emocionantes, tão reais. O fato é que, seja porque for, todos gostamos de, vez por outra, voltar ao passado e de nos enrolarmos nele como um cobertor quente, que cobre todas as incógnitas frias do amanhã e todas as realidades duras do hoje. E o certo é que Nunca te Vi, Sempre e Amei continua um filmaço e que terei muito gosto de ler as ótimas "recordações" que ele lhe traz.
      Obrigado e abração

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  8. Flávio José Bortolotto19/03/2019, 19:29

    Tudo o que o excelente Escritor Sr. MOACIR PIMENTEL escreve, é prazeroso de se ler.
    Mesmo essa Crônica de "Livros e Distâncias" sobre o Livro e depois Filme "84 Charing Cross Road", Livro que ainda não li e filme que ainda não vi, escrita pelo Sr. MOACIR PIMENTEL, se me tornou de agradável leitura.
    Talvez porque gostemos de Literatura e frequentemos Lojas de Livros usados, tivemos muita curiosidade em ler o que o Sr. MOACIR PIMENTEL escreveu, e como sempre fomos brindados com ótima Leitura.

    Abração.

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 09:56

      Prezado Bortolotto,
      Não tem como não sentir falta, nessas nossas trocas de conhecimentos e vivências, dos seus comentários pontuados de temperança e generosidade. Que bom lê-lo de novo e saber que apreciou o post. Se você gosta de literatura e de livros usados, por favor, volte e acompanhe a resenha desse belo filme que espero um dia você venha a assistir.
      Muito obrigado e abração

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  9. Francisco Bendl20/03/2019, 08:55

    Pois esta é a diferença entre mim, leitores, comentaristas e articuladores deste extraordinário Conversas do Mano:
    A minha falta de intelectualidade, cultura, conhecimentos, quando comparada em situações como esta, sobre as impressões de um filme com dois atores notáveis, que, no entanto, não me motivaram a vê-lo, lamento.

    O texto de Pimentel é sensacional e nada contra as suas impressões, pelo contrário, digno de aplausos.
    Aliás, neste aspecto, Pimentel tem plena consciência da excelência do que produz, da qualidade de seus artigos, da sua importância no blog, e do quanto contribui para nossos conhecimentos mediante suas publicações a respeito de arte, suas viagens, seu estilo de apresentar os notáveis trabalhos que produz.
    Refiro-me ao enredo do filme, algo inverossímil, muito fantasioso a meu ver, evidentemente!

    Curiosamente, na última vez que Pimentel abordou outro filme, tivemos um debate muito interessante sobre o seu enredo, onde a minha posição era contrária aos elogios mencionados, e fomos longe em nossas posições. Pois, agora, e não quero ser do contra, por favor, eu apenas me manifesto quanto ao filme em si, que o considero irreal, produzido para que dois dos maiores expoentes atores à época, a maravilhosa Bancroft e o notável Hopkins, mostrassem seus talentos e capacidades de interpretação!

    Na minha época, e lá se vão mais de 50 anos, escrever cartas era não só comum como a única opção existente para que as pessoas se comunicassem, haja vista a dificuldade de se ter um telefone.
    Morando em Brasília, evidente que, pelo menos uma vez por mês, havia a obrigação de dar notícias aos parentes no Sul.
    (continua)

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  10. Francisco Bendl20/03/2019, 08:56

    Quando conheci a Marli – e ela tem algumas dessas cartas guardadas ainda -, eu me debruçava em enviar cartas com mais de 30/40 páginas, onde eu me declarava de maneira melosa, através de palavras hoje em completo desuso, arcaicas, rebuscadas.

    Claro que eu imaginava ser a quantidade de adjetivos registrados uma forma de mencionar o meu amor pela mulher amada, pois quando de serviço no quartel, tempo que eu ficava 24 horas de plantão, tempo não era problema.

    Mas, havia uma relação existente, real. Eu conhecia meus parentes, a Marli, sabia que os veria de novo, e as cartas eram registros de sentimentos, de saudade, de amor por essas pessoas, que também se correspondiam comigo. Havia sempre aquela expectativa do reencontro, de abraçar, beijar, de ver quem se amava e cuja ausência nos impelia então a escrever as tais cartas.

    Admito que a comunicação hoje seja a culpada pela perda de uma das maneiras mais significativas que o ser humano teve de se corresponder com outras pessoas, principalmente de quem gostava, de quem amava.
    Se, anteriormente, nos esforçávamos para registrar nossa saudade, de modo que a correspondência amenizasse os dias que se teria pela frente para o esperado encontro, atualmente a eletrônica quebrou este encantamento, abolindo as distâncias, pois podemos conversar vendo a pessoa através da tela de telefones ou de computadores!

    Aboliu-se em definitivo a criatividade, o romantismo, a manutenção de sentimentos que nos motivavam a ler, a consultar dicionários para descobrir palavras novas e que enalteceriam a mensagem que enviávamos para quem queríamos manter as relações amorosas e/ou amistosas.

    NO ENTANTO, conhecíamos a pessoa do outro lado, sabíamos para quem nos dirigíamos, tínhamos suas imagens na memória, logo, nossas cartas não eram para pessoas absolutamente desconhecidas, que sequer se sabia a sua aparência, elas eram reais, tinham rostos, corpos, vozes ...

    No caso do filme, trata-se de um homem e uma mulher desconhecidos um do outro, aproximados por cartas que trocaram por vinte anos, portanto, um amor exclusivamente idílico, puro, platônico, imaginário.
    A pergunta se faz necessária, nessas alturas:
    Amar alguém de que forma, se não se conhece a pessoa? Se nunca foi vista? Como seria de aparência? Haveria atração imediata ou rejeição quando se conhecessem?

    O filme deve ter sido lírico, absolutamente subjetivo, em consequência destituiu exatamente o motivo decisivo para alguém se apaixonar, a aparência da mulher ou do homem, se agradaria aos olhos ou não, se haveria correspondência nos olhares, a cor do cabelo, altura, modo de se expressar, o conjunto físico de uma pessoa que nos atrai de imediato.

    Não havendo esses fatores determinantes para se amar qualquer pessoa, o filme se tornaria para mim inverossímil, então, apesar da propaganda favorável à sua qualidade e tema abordado não fui assisti-lo, muito menos tratei de procurá-lo nas locadoras.

    Evidente que deve ter sido uma excelente película, ainda mais protagonizada por dois atores memoráveis, mas não haveria nexo, não continha razão, não existia motivo para o amor que o filme quis transmitir, a meu ver.

    Certamente, se eu tivesse lido o comentário de Pimentel à época de quando lançado, eu iria ao cinema.
    Mas, Pimentel não teceu a sua crítica na ocasião e, conforme eu entendia o relacionamento humano do homem para a mulher, amar sem conhecer seria impossível, algo irreal, uma fantasia.

    Aplaudo entusiasticamente mais este artigo do nosso mestre de artes.
    Seus textos são irrepreensíveis, reitero.
    Eu apenas não vi o filme e não encontrei razões para vê-lo, mediante minhas ponderações acima.

    Um forte e fraterno abraço, meu amigo.
    Saúde, muita SAÚDE!

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    1. Moacir Pimentel21/03/2019, 10:06

      Prezado Bendl,
      As suas pretinhas elogiosas hoje nos revelam onde - e para quem! - surgiram os adjetivos na sua escrita (rsrs) Obrigado pelos que aqui me cabem! Não percebi os seus comentários como " do contra" nem como uma crítica a Nunca te Vi, Sempre te Amei: isso seria impossível porque você não viu o filme! Mas sim como uma exposição dos seus motivos para não ter assistido quando do seu lançamento tantos anos atrás um enredo que, ao fim e ao cabo, nos revela o calor genuíno de uma grande amizade. Embora ela lhe pareça "irreal" trata-se de uma história real: a escritora Helene Hannf e o livreiro Frank Doel existiram e o enredo foi ditado pelo conteúdo literal das belas cartas que efetivamente eles trocaram entre 1949 e 1968.
      Quanto à motivação de Mel Brooks ao comprar os direitos autorais do livrinho de cem páginas de nome 84, Charing Cross Road para filmá-lo é simples: ele era o marido da Anne Brancroft, que queria porque queria fazer o papel da Helene, que já tinha feito um sucesso retumbante como prosa, na ribalta e na televisão. Quanto às suas pertinentes questões sobre a paixão física e o amor à distância - "Amar alguém de que forma, se não se conhece a pessoa? Se nunca foi vista? Como seria de aparência? Haveria atração imediata ou rejeição quando se conhecessem?" - elas serão o tema do próximo capítulo da franquia.É que você pensa mais depressa do que eu consigo escrever (rsrs)
      Espero que durante as futuras conversas você possa, finalmente, ver um pouco do filme.
      Abração

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