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02/03/2019

Heidegger e o Protestantismo

Martin Heidegger - fotorafia de Willy Praghe (Wikimedia)


Antonio Rocha
Antes de inclinar-se para o estudo e a pesquisa do Zen-Budismo, o pensador alemão aproximou-se da religião protestante.
Nascido em lar católico, seu pai era o sineiro, zelador e coroinha da paróquia local, Heidegger (1889 - 1976), chegou a ir para o seminário jesuíta, mas não foi ordenado na Companhia de Jesus, preferiu a cátedra de filosofia.
Em 1917 casou com a protestante (luterana) Elfride Petri. Talvez a esposa tenha ajudado um pouco, visto que, dois anos mais tarde, ao nascer o primeiro filho não batizaram a criança conforme o costume católico.
Elfride escreveu ao bispo da cidade explicando os motivos de não batizar o menino e entre outras afirmou:
“O meu marido já não possui a sua crença religiosa e eu também não a encontrei (...) Lemos, conversamos, refletimos e rezamos, muito em conjunto, chegando, só agora à conclusão de que ambos pensamos de forma protestante” (página 111).
O pensador Edmund Husserl, professor de Martin Heidegger, na ocasião escreveu:
“A minha influência filosófica tem, certamente, algo de revolucionário; evangélicos tornam-se católicos, católicos tornam-se evangélicos. Contudo, não pretendo catolizar ou evangelizar: nada mais quero do que conduzir a juventude à seriedade radical de um pensamento que evita ocultar e violar os ideais determinantes e necessários para todo o pensamento racional (...) não exercitei qualquer influência na conversão para o protestantismo, de Heidegger e Oxner, se bem que veja isto de bom grado na qualidade de cristão livre (...) quer dizer “protestante adogmático” (páginas 119 e 120).
Maiores detalhes o leitor encontra no ótimo livro Martin Heidegger – A Caminho Da Sua Biografia, de Hugo Ott, publicado no ano 2000, em Lisboa, pela editora Instituto Piaget, 366 páginas.
O autor, Hugo Ott, é professor de História da Economia e História da Sociologia na Universidade de Freiburg, justamente onde Heidegger estudou.
Renomados teólogos protestantes da atualidade, em diversos países, investigam e admiram o pensamento de Heidegger.



6 comentários:

  1. Wilson Baptista Junior03/03/2019, 09:12

    Mestre Antonio,
    lembro-me de ter lido em algum lugar que Heidegger, pouco antes de morrer, de alguma maneira se reconciliou com o catolicismo, tanto que foi enterrado em um cemitério católico (na Alemanha, parece, ainda havia esta separação). Será verdade?

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  2. 1)Oi Mano, vou procurar saber, depois falo.

    2)Obrigado sempre pelo espaço que aqui publico.

    3) Tudo de bom a todos (as).

    4)Eu estou no CarnavaLivros, CarnavaLeituras, CarnavaLendo...

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  3. Olá Antonio budista,
    Desculpe a demora do comentário mas tenho tido uns probleminhas de saúde. Nada grave.
    Gostei muito do texto. Se eu fosse mãe hoje certamente não batizaria os meus filhos. Gostaria de criá-los sem rótulos e deixar essa escolha para eles mesmo. Penso que se a gente cria os filhos no respeito, honestidade e justiça estamos dentro de qualquer princípio religioso, sem os vícios do credo escolhido.
    Você teve esse privilégio com sua filha, não é? Parabéns.
    Obrigada.

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    1. 1) Sim Ana, minha filha não foi batizada em nenhum credo. Quando ela estava com 12 anos, por livre e espontânea vontade escolheu ser batizada no Budismo. Claro que nós ficamos felicíssimos, os três. Depois também casou no Budismo, idem.

      2)Estou devendo comentários ao blog, perdoe-me o sr. Editor.primeiro andei em Brasília e agora estou voltando hoje de Teresópolis. Quando viajo costumo tirar férias da web.

      3) Tudo de bom para todos.

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  4. Moacir Pimentel06/03/2019, 16:05

    Antonioji,
    Acho complicado misturar fé e filosofia, até porque a fé é a ausência de dúvidas e não são as certezas que movem a filosofia. Além disso da lavra de Heidegger li muito pouco e mesmo assim para passar de ano. Da dificílima leitura de "Ser e Tempo" ficou-me além da noção do Dasein/ ser-no-mundo, a grata impressão de que o filósofo evoluíra o “cogito” de Descartes ao argumentar sobre a alteridade - o Mitsein /ser-com - defendendo que não podemos existir independentemente de nossa relação com os outros e que ela é mais uma questão de humor e apetite e menos de contemplação racional. Beleza!
    Nada em "Ser e Tempo" sugere que a questão da existência ou inexistência de Deus tivesse para Heidegger relevância filosófica. No entanto é público e notório que, na década de 30, ele passou a usar o termo "deus" para se referir a figuras heroicas e "restauradoras do sagrado" que despertariam o mundo para a poética e a filosofia e iniciariam um "evento transformador na história do Ser" antes de mergulhar na paisagem mais obscura de seu pensamento: o seu infame envolvimento com o nazismo.
    Para mim a questão, portanto, não é se o cara foi católico ou protestante, nem se flertou com o taoismo e o zen-budismo na sua crítica à metafísica ocidental mas, como perguntou o grande Habermas, "como pôde o maior filósofo do século XX ter sido nazista?"
    Dá para engolir que um pen-sa-dor possa ter glorificado os alemães como o “povo herdeiro”, reafirmado as grandeza e habilidade do Führer, confirmado seus preconceitos contra os judeus, aos quais passou a atribuir, sem grandes rodeios, a culpa pela própria extinção nas câmeras de gás? É possível entender o filósofo que fez a apologia ao Partidão do alto de sua cátedra de Filosofia e se perfilou do lado da barbárie defendendo “a verdade intrínseca do nacional-socialismo”? É possível desculpar o professor e reitor que colaborou com os poderosos de plantão, perseguindo e denunciando colegas, recusando-se a graduar alunos por motivos raciais e políticos e participando da generalizada repressão cultural nazista? Pode a filosofia ser contaminada pela política e a vida estar em tamanho desacordo com a ética?
    Gostaria de conhecer a sua opinião.
    Abraço

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    1. 1) Salve amigo, foram ótimas as suas colocações. Só respondo agora, pois estou lendo hoje, 10/03/19, voltando de Teresópolis.

      2)Meu interesse em Heidegger é que percebi/entendi, desde cedo, ele como um Teólogo que elaborou uma Filosofia complicadíssima e nesse emaranhado compreendi que ele tinha um pé na Ásia, então enveredei por aí.

      3)Vejo o tema do Nazismo em Heidegger como o grande erro que muitas boas cabeças cometem. Sendo nacionalista ele ficou iludido com o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Alemanha e sua pregação. Filiou-se ao partido e foi indicado pelo próprio Hitler como Reitor da Universidade de Freiburg. Segundo li, dois anos depois ele afastou-se da política, desligou-se da universidade e foi morar em uma cabana(uma casa simples) na Floresta Negra e era constantemente vigiado pelas SS e o Serviço Secreto, pois não entendiam como uma pessoa tão importante estava afastando-se do Nazismo.

      4) Mas a vida lhe pregou uma peça... ele apaixonou-se pela judia, sua aluna, a filósofa Hanna Arendt, tiveram um caso, a mulher descobriu, Hanna conseguiu fugir para os EUA, mas enquanto estavam vivos comunicavam-se através de cartas e a brilhante ex-aluna visitou-o algumas vezes. A mulher aceitava as visitas "acadêmicas e filosóficas".

      5)Essa história dava um filmaço, mas até hoje ninguém se interessou, que eu saiba.

      6)Ou seja, amigo Pimentel, essa vida humana é tão curiosa/misteriosa e todos temos as nossas maluquices, fraquezas, contradições; é assim que eu leio Heidegger, interpretando-o com o Budismo.

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